Eu não me envergonho de corrigir os meus erros e mudar de opinião,
porque não me envergonho de raciocinar e aprender.
Alexandre Herculano foi um importante escritor, historiador e jornalista português do século XIX, considerado um dos principais introdutores do Romantismo em Portugal.
Nasceu em Lisboa em 28 de março de 1810, em uma família de classe média.
Estudou no Colégio dos Oratorianos entre 1820 e 1825.
Não chegou a frequentar a universidade devido a dificuldades financeiras familiares.
Matriculou-se na Aula de Comércio em 1830 e fez um curso de Diplomática.
Estudou francês, inglês e alemão por conta própria.
Em 1831, envolveu-se em uma revolta liberal fracassada, que o obrigou a se exilar na Inglaterra e França.
Retornou a Portugal em 1832 e participou na guerra civil ao lado dos liberais.
Começou a publicar poesia na década de 1830, com obras como "A Voz de Propheta" (1832).
Fundou a revista Panorama em 1837, onde publicou contos históricos.
Tornou-se bibliotecário real no Palácio da Ajuda em 1837.
Publicou romances históricos como "Eurico, o Presbítero" (1844) e "O Monge de Cister" (1848).
Escreveu a "História de Portugal" (1846-1853), uma obra historiográfica rigorosa e influente.
Publicou "História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal" (1854-1859).
Casou-se em 1866 e retirou-se para sua quinta em Val-de-Lobos, perto de Santarém.
Faleceu em 13 de setembro de 1877 em Val-de-Lobos.
Alexandre Herculano é reconhecido como um dos mais importantes escritores e historiadores portugueses do século XIX, tendo contribuído significativamente para o desenvolvimento do Romantismo e da historiografia moderna em Portugal.
Durante o exílio na Inglaterra e França entre 1831-1832, Herculano teve contato mais próximo com a literatura romântica europeia.
Em Rennes, França, frequentou a biblioteca pública, onde pôde ler obras de autores como Thierry, Victor Hugo e Lamennais, que influenciaram seu pensamento.
O exílio fortaleceu suas convicções liberais e seu engajamento político.
Ao retornar a Portugal em 1832, Herculano se alistou no exército liberal, participando ativamente na guerra civil portuguesa.
A experiência do exílio influenciou temas recorrentes em sua obra literária, como o sentimento de desenraizamento e a reflexão sobre a identidade nacional.
Seus romances históricos, como "Eurico, o Presbítero", foram influenciados por sua vivência no exterior e contato com o romantismo europeu.
O contato com historiadores e pensadores europeus durante o exílio impactou sua metodologia como historiador, levando-o a adotar uma abordagem mais rigorosa e crítica em obras como "História de Portugal".
O exílio foi, portanto, um período formativo crucial para Herculano, ampliando seus horizontes intelectuais e literários, e moldando sua visão política e historiográfica que se refletiriam em toda sua obra posterior.
"A Voz do Profeta" (1836): Este poema, escrito logo após seu retorno do exílio, reflete fortemente as ideias liberais e o engajamento político que Herculano desenvolveu durante sua estadia na Inglaterra e França.
"Eurico, o Presbítero" (1844): Considerada uma de suas obras mais importantes, foi influenciada pelo contato de Herculano com o romantismo europeu durante o exílio. O tema do desenraizamento e a reflexão sobre identidade nacional, presentes neste romance, podem ser relacionados à sua experiência no exterior.
"O Monge de Cister" (1848): Assim como "Eurico", este romance também apresenta elementos do romantismo europeu com o qual Herculano teve contato mais próximo durante seu exílio.
"História de Portugal" (1846-1853): A abordagem metodológica mais rigorosa e crítica adotada por Herculano nesta obra foi influenciada pelo contato com historiadores e pensadores europeus durante seu exílio.
"História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal" (1854-1859): O tratamento crítico dado a este tema controverso também reflete a influência do pensamento liberal e da historiografia europeia que Herculano conheceu mais profundamente no exílio.
O exílio de Herculano, embora breve, teve um impacto duradouro em sua perspectiva intelectual e política, refletindo-se em sua produção literária e historiográfica subsequente. As obras mencionadas acima demonstram como essa experiência moldou seu estilo romântico, sua abordagem histórica e seu engajamento com questões de identidade nacional e liberalismo.
"A Voz do Profeta" (1836): Esta obra, escrita logo após o retorno de Herculano do exílio, é mencionada como um testemunho do seu descontentamento com a situação política em Portugal. O texto reflete fortemente as ideias liberais e o engajamento político que Herculano desenvolveu durante sua estadia na Inglaterra e França.
Artigos em "O Panorama": Após seu retorno do exílio, Herculano tornou-se redator deste semanário ilustrado em 1837. É provável que tenha usado esta plataforma para expressar suas críticas ao regime político vigente, embora não tenhamos detalhes específicos sobre os artigos.
"História de Portugal" (1846-1853): Embora escrita anos após seu exílio, esta obra historiográfica de Herculano contém críticas à forma como o poder era exercido em Portugal. Ele usa uma abordagem mais rigorosa e crítica, influenciada por sua experiência no exterior, para analisar a história política do país.
"História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal" (1854-1859): Nesta obra, Herculano aborda um tema controverso da história portuguesa, provavelmente utilizando uma perspectiva crítica moldada por suas experiências de exílio e seu pensamento liberal.
É importante notar que o exílio de Herculano, embora breve, teve um impacto duradouro em sua perspectiva intelectual e política. Suas obras subsequentes, mesmo que não diretamente relacionadas ao período de exílio, frequentemente refletiam as ideias liberais e a visão crítica que ele desenvolveu durante esse tempo
Oposição ao democratismo: Herculano era um liberal moderado que se opunha fortemente às tendências mais democráticas do setembrismo. Ele "sempre manteve forte hostilidade ao princípio da soberania popular".
Crítica à "paixão da democracia": Mesmo 30 anos após a publicação de "A Voz do Profeta", Herculano continuava a criticar a democracia por conduzir à "anulação do indivíduo diante do estado", seja através do "despotismo das multidões" ou do "despotismo dos césares do plebiscito".
Descontentamento com a "populaça": Em "A Voz do Profeta", Herculano expressou seu descontentamento com a "populaça" em ascensão, refletindo sua oposição às tendências mais populares do setembrismo.
Rejeição do "direito divino da soberania popular": Herculano considerava ilegítima tanto a soberania régia quanto a soberania popular baseadas em direito divino. Ele via a soberania como um fato, não um direito.
Oposição ao princípio da soberania popular: Herculano "sempre manteve forte hostilidade ao princípio da soberania popular".
Crítica à "paixão da democracia": Ele opunha a "paixão da liberdade" à "paixão da democracia", criticando esta última por levar à "anulação do indivíduo diante do estado".
Temor do "despotismo das multidões": Herculano via a soberania popular como potencialmente levando ao "despotismo das multidões" ou ao "despotismo dos césares do plebiscito".
Defesa de um sistema representativo limitado: Ele acreditava que a sociedade deveria ser representada moderadamente através das elites ilustradas, mediante voto censitário e eleições indiretas.
Visão da soberania como restrição de direitos: Herculano via a soberania como uma "negação, porque restrição, nos seus efeitos, do direito absoluto".
Preferência por um liberalismo moderado: Inspirado por Guizot, Herculano defendia um liberalismo moderado, em contraste com tendências mais democráticas.
Em suma, Herculano era um defensor dos direitos civis e do governo representativo, mas se opunha fortemente à igualdade política plena e à soberania popular irrestrita, temendo que estas levassem ao despotismo da maioria ou ao cesarismo.
Herculano rejeitava tanto o "direito divino da soberania régia" quanto o "direito divino da soberania popular". Ele via ambos como ilegítimos.
Para Herculano, a soberania não era um direito, mas um fato necessário para a realização da sociabilidade humana.
Ele via a soberania como uma "negação" ou "restrição" do direito absoluto individual. As condições da soberania deveriam ser determinadas apenas por "motivos de conveniência prática" e dentro dos "limites precisos da necessidade".
Herculano considerava que qualquer soberania fora desses limites era "ilegítima e monstruosa".
Ele equiparava a tirania exercida por muitos (a maioria) sobre um indivíduo à tirania exercida por um indivíduo sobre muitos. Para ele, ambas eram igualmente "abomináveis".
Herculano afirmava: "Que a tirania de dez milhões se exerça sobre o indivíduo, que a de um indivíduo se exerça sobre dez milhões, é sempre a tirania, é sempre uma coisa abominável".
Em suma, Herculano via a soberania como um fato necessário, mas que deveria ser estritamente limitada para evitar se transformar em tirania. Ele rejeitava tanto o despotismo de um monarca quanto o que via como possível tirania da maioria em uma democracia absoluta, defendendo um equilíbrio que protegesse os direitos individuais.