Obsolescência programada é o nome dado à vida curta de um bem ou produto projetado de forma que sua durabilidade ou funcionamento se dê apenas por um período reduzido.[1] A obsolescência programada faz parte de um fenômeno industrial e mercadológico surgido nos países capitalistas nas décadas de 1930 e 1940 conhecido como “descartalização”. Faz parte de uma estratégia de mercado que visa garantir um consumo constante através da insatisfação, de forma que os produtos que satisfazem as necessidades daqueles que os compram parem de funcionar, tendo que ser obrigatoriamente substituídos de tempos em tempos por mais modernos.
“Não importa se o modelo ainda funciona e atende plenamente às necessidades do usuário, mas precisamos criar na mente das pessoas a idéia de que é um modelo ultrapassado, obsoleto...”, Frase de uma grande corporação justificando seu mais recente lançamento.”
Há em nossos dias uma espécie de planejamento antecipado, que determina a vida útil de cada bem durável que adquirimos, o que quer dizer, que já saem da linha de montagem das fábricas, com o dia do seu fim decretado, quando deverá ser substituído por um modelo igual em utilidade, mas diferente em estilo.
De modo algum isto quer dizer que o modelo anterior não sirva mais, ou não mais esteja atendendo as necessidades do usuário, trata-se apenas de uma obsolescência planejada, onde o objetivo por trás da campanha é promover a ideia de que o modelo anterior é antiquado.
Basta mudar um pouco o estilo do desenho do mesmo, ou lançar um novo padrão de cores, ou acrescentar algum item sem utilidade nenhuma, de modo que possa facilitar à campanha publicitária, em sua nova abordagem.
Talvez mesmo o grande sonho das indústrias de produção em massa, fosse um material capaz de ser programado, para se autodestruir quando a campanha para promover o modelo mais recente estivesse no ar. Mas enquanto isso não é possível, a máquina de vendas, cada vez mais eficiente na sua estratégia de convencer o consumidor de que este precisa estar sempre atualizado, a cada temporada se supera. Se um produto funciona e se torna popular em consumo, está aberto o caminho para as atualizações sem fim, onde o novo se torna velho logo que o consumidor o tem em mãos. Eis uma frase de um gerente de novos produtos, de uma grande indústria de bens de massa, e que sintetiza bem o que pensam do consumo:”O estilo, é capaz de destruir completamente o valor de um novo modelo, embora sua utilidade permaneça a mesma”.
Uma indústria não considera seus lucros uma realização, e estes servem apenas de referência para a próxima meta que seus vendedores deverão ultrapassar. Se vender é o único propósito na existência de uma corporação, a corporação em si, que é uma manifestação em concreto e aço dos seus donos, na verdade tem no objetivo de vida desses donos, seu objetivo. A despeito do bem estar social que argumentam promover, não fossem os lucros obtidos com suas vendas, fechariam suas portas e o tal bem estar social seria ignorado. Vivem para obter lucro e nada mais, os funcionários são apenas os meios que usarão para atingirem suas metas de vendas, e pudessem viver sem eles, assim o fariam. Se vender é seu objetivo principal, obter lucro é sua motivação. O pensamento é singular entre elas, ninguém combinou nada entre si, todas buscam uma coisa apenas, vender, e vender cada vez mais.
Conhecedores que são da natureza do homem, sabem como criar novas necessidades que poderão ao longo do tempo, se transformarem em outras e serem indefinidamente modificadas, atualizadas por assim dizer. É como um vício que depois de condicionar o indivíduo, precisa ser reciclado periodicamente para que ele não desenvolva resistência. Há em nossos dias um culto ao consumo como nunca se viu antes na história recente do homem. Já ao nascer, mesmo sendo incapaz de pronunciar uma palavra sequer, é a criança um consumidor voraz que movimenta uma indústria bilionária em todas as partes do mundo. Os senhores das vendas investem pesado no lado emocional dos pais, e assim criam seus primeiros consumidores, mesmo sendo eles incapazes de decidir sobre o que deverão ou não comprar. Sobre isso trataremos depois numa matéria específica.
Muitas das necessidades dos nossos dias, foram criadas a partir de necessidade nenhuma. De olho na eterna insatisfação humana, da infinita necessidade que tem de preenchimento para o seu grande vazio que não consegue explicar, logo a indústria do consumo viu uma oportunidade singular de ajudá-lo nessa busca, que para a satisfação de todos, nunca terá fim. Melhor assim, é a garantia de que estarão sempre dispostos a consumirem seus produtos, mesmo que precisem renová-los periodicamente, o que parece uma ideia melhor ainda.
Se o homem não sabe o que fazer para se livrar da angústia existencial, se ainda por cima desconhece seus objetivos de vida, se não consegue preencher seu enorme vazio que mais parece um saco sem fundo, estão em boas mãos. A indústria do consumo tem todas as respostas que eles procuram, e como não sabem exatamente o que procuram, basta que lhes digam o que é, e aceitarão de bom grado. Então a indústria do consumo pode afirmar: Nós lhe daremos o que procuram, lhes diremos como devem viver e porque vivem, atenderemos todas as suas necessidades, e se não tiverem, claro, nós as criaremos.
Quando a indústria do entretenimento para o público infantil, criou centenas de filmes para promover seus produtos, um novo mercado passou a existir. A ideia de criar fantasias completas em forma de heróis, em desenho animado, era grandiosa e fantástica, e se desse certo, teriam pela frente um mercado que antes era quase ignorado. E deu certo.
Primeiro criariam as séries em filmes de desenho animados, que tem um grande poder de prender a atenção das crianças, que seriam distribuídos às estações de televisão de todo o mundo, a custos tão incrivelmente baixos que seria quase impossível que recusassem. O argumento para promover tais seriados, era passar a ideia de que teriam um conteúdo educativo, ou edificante, para as crianças do mundo inteiro.
Mas havia um problema, pois ainda, nas televisões do mundo afora, não havia a cultura dos programas infantis diários, com as apresentadoras infantis e todo o circo em volta delas como vemos hoje, e que serviria de pano de fundo para a exibição desses filmes. Eles não apenas distribuíram os modelos de funcionamento de tais programas mundo afora, como também financiaram muitos deles, tornando viável sua exibição, e assim puderam exibir seus desenhos, suas vitrines animadas para promover uma indústria milionária que estava prestes a surgir.
Não estavam sozinhos, pois logo outros segmentos viram naquela iniciativa a oportunidade de criarem novos nichos de mercado, como o de produtos alimentícios, roupas, e uma variedade de itens, que as crianças, nunca antes sequer sonharam um dia consumir. Assim, a criança ganhou um perfil que antes, no mundo do consumo, pertencia apenas aos adultos. Brinquedos, alimentos, roupas, publicações especiais, colônias de férias, pacotes de viagens, linhas especiais de cartões de crédito, poupança programada, fundos de investimentos para financiar estudos no futuro, aparelhos eletrônicos especialmente projetados para o público infantil, enfim, uma oferta tão vasta de produtos, como nunca se viu antes.
Criaram até um estilo de vida próprio para cada faixa etária infantil, determinando como deveriam se vestir, o que deveriam consumir, e tantos outros modelos de comportamento que deveriam adotar, e a intenção foi uma só, usar tudo isso para dar vazão ao que saia das suas linhas de produção, e garantir um mercado consumidor sempre crescente.
Há uma transformação evidente nas formas de consumo, e o tempo de duração de cada produto que chega ao mercado, tem o firme propósito de preparar o caminho para o seu sucessor. Já chega às prateleiras das lojas, com seu tempo de vida estimado, determinado, não o tempo de vida útil do bem, mas o tempo em que seus consumidores deverão trocar de modelo. É uma abordagem psicológica, e mesmo que o objeto esteja em perfeitas condições de uso, psicologicamente a máquina de vendas irá se encarregar de torná-lo indesejado na mente do consumidor, tornando-o obsoleto, ultrapassado. É uma obsolescência planejada, e um produto abrirá caminho para os muitos modelos que virão no seu lastro.
A cor da moda, se antes se limitava à indústria do vestuário feminino, há muito tempo seu domínio se estendeu às outras áreas. Os objetos mudam de cor de acordo com as estações do ano, e quando meia dúzia de consultores, os principais acionistas por trás dessa gigantesca indústria de criar novas manias de consumo, se reúnem para decidir o que não é estético, e o que é estético no modo de vida das pessoas, estes também já determinam quanto tempo essa nova tendência, a ideia deverá permanecer em evidência na mente do público. Em quanto tempo deverão mudar outra vez o consciente de toda uma coletividade.
Mas um produto não precisa ser de fato novo para tornar um outro obsoleto, e de fato a maioria não o é. Basta a inclusão de um pequeno detalhe no produto, uma mudança dos padrões de cores, a inclusão de um item desnecessário, e depois a máquina de promoção de vendas, irá se empenhar em convencer os infelizes consumidores, que são de fato infelizes se insistem em continuar com o modelo antigo.
A euforia coletiva parece ser o caminho mais curto para a rápida disseminação de uma ideia, que é a força de venda que existe por trás de cada produto que hoje chega ao mercado consumidor. Eles promovem uma ideia, um conceito abstrato em forma de produto, e assim, o infeliz consumidor adquire um produto esperando obter outra coisa, que é o conceito por trás da coisa.
As mensagens promocionais são claras e promovem a ideia do sucesso fácil, e há uma intenção deliberada de incutir na mente do consumidor, que a simples identificação do mesmo com aquele produto, ou linha de produtos, o torna importante, superior, lhe confere um certo poder sobre os demais. Mas, o maior trunfo dessa máquina de convencer pessoas a comprar, está em criar novos hábitos antes inexistentes. E criada a dependência, abre-se o caminho para futuras e sempre constantes vendas. Assim, o consumidor não compra apenas um produto, ele precisa ser convencido de que está levando para casa muito mais que um simples objeto ou utilitário.
Promovem a ideia de que aquela compra é na verdade um investimento, uma conquista que proporcionará ao seu possuidor muitas vantagens, além da satisfação em poder adquirir tal produto. Sim, um produto para ser eficiente em sua abordagem, precisa ser desejado por todos. Para que seja desejado, deverá estar sempre associado aos desejos mais ocultos dos seres humanos, que são, desejo de riqueza, de fama e sucesso, de ser desejado como pessoa, de ser idolatrado, o que no final se resume ao desejo de sentir-se de alguma forma importante no mundo onde vive.
http://sitededicas.uol.com.br/opiniao_08_11_2006.htm