Heurística

Heurística é um método ou processo criado com o objetivo de encontrar soluções a um problema. É um procedimento simplificador (embora não simplista) que, em face de questões difíceis envolve a substituição destas por outras de resolução mais fácil a fim de encontrar respostas viáveis, ainda que imperfeitas. Tal procedimento pode ser tanto uma técnica deliberada de resolução de problemas, como uma operação de comportamento automática, intuitiva e inconsciente .

Na primeira forma é uma alternativa rápida e semi-intuitiva ao raciocínio lento e elaborado, que às vezes funciona razoavelmente bem se utilizada dentro de suas limitações. Mas que geralmente induz a vieses e erros graves e recorrentes quando realizada em sua 2ª forma, ou utilizada além de seu escopo.

Etimologia

Heurística tem origem no termo grego εὑρίσκω, que significa “encontrar” ou “descobrir”. Tem a mesma origem da palavra eureca (εὕρηκα), que significa “encontrei”.

Uso gramatical

A palavra heurística aparece em mais de uma categoria gramatical:

Como substantivo, identifica a arte ou a ciência do descobrimento.

Quando aparece como adjetivo, refere-se a coisas mais concretas, como estratégias heurísticas, regras heurísticas ou silogismos e conclusões heurísticas.

Aplicabilidade

A capacidade heurística é uma característica humana que do lado positivo pode ser descrita como a arte de descobrir e inventar ou resolver problemas mediante a experiência (própria ou observada), somada à criatividade e ao pensamento lateral ou pensamento divergente. Como descrito acima, seja de forma deliberada ou não, heurísticas são procedimentos utilizados quando um problema a ser encarado é por demais complexo ou traz informações incompletas.

De forma inconsciente é praticada sem que muitas vezes os indivíduos se deem conta do processo. No geral, pode ser considerada como um atalho aos processos mentais, sendo assim uma medida que preserva e conserva energia e os recursos mentais. A heurística pode funcionar efetivamente na maioria das circunstâncias em que é aplicada conscientemente.

Do lado negativo, é um processo geralmente aplicado de forma automática, inconsciente e portanto sujeito a inúmeros vieses e padronização de erros. Um exemplo de atalho mental aplicado desta forma é o julgamento de um indivíduo com base no estereótipo do grupo ao qual pertence, o que em geral resulta em erros sistemáticos.

Por ser uma forma automática, é muito difícil mesmo para profissionais experientes, monitorá-la e às vezes até evitá-la (inclusive quando estão conscientes dela), dada à naturalidade com que, quando somos confrontados com questões de resolução difícil, perguntas e respostas heurísticas mais fáceis, vem à mente. Especialmente se associadas a outras heurísticas ao longo do tempo, como a do Afeto.

Tipos de heurística

Dentre as duas formas (positiva e negativa) descritas acima, existem vários tipos de heurísticas conhecidas e catalogados, aplicadas em várias situações. Entre as principais estão:

Heurísticas de Julgamento; processos de julgamentos ou previsões parciais baseados em similaridade e enquadramento, muitas vezes sem se dar conta disso.

Heurística do Afeto; processo no qual as pessoas deixam que suas simpatias, antipatias e afinidades pessoais determinem suas crenças e ações.7

Heurística 3D ou de ilusão de óptica; processo automático de substituição quando por ex. se interpreta um objeto bidimensional por um tridimensional.8

Heurística de Disponibilidade; processo de julgar a frequência de dados segundo a facilidade com que similaridades vêm à mente, dada à limitada capacidade de manter concentração/atenção e empreender considerável esforço mental ao mesmo tempo.

Heurística de Avaliabilidade; processo no qual as tomadas de decisão são feitas e mudam conforme o quadro dado. Por ex. um julgamento ou tomada de decisão mediante avaliação conjunta dos elementos/fatores envolvidos tende a ser diferente de uma decisão tomada baseada numa avaliação isolada dos mesmos elementos.

Heurísticas de Polya

A popularização do conceito se deve ao matemático George Pólya com seu livro “A arte de resolver problemas”. Estudando muitos testes matemáticos de sua juventude, quis saber como os matemáticos chegavam a estas conclusões. O livro contém a classe heurística da prescrição que tentou ensinar aos seus alunos de matemática. Quatro exemplos extraídos do livro ilustram o conceito:

Se não puder compreender um problema, monte um esquema;

Se não puder encontrar a solução, tente fazer um mecanismo inverso para tentar chegar à solução (engenharia reversa);

Se o problema for abstrato, tente propor o mesmo problema num exemplo concreto;

Tente abordar primeiro um problema mais geral (o paradoxo do inventor: o propósito mais ambicioso é o que tem mais possibilidade de sucesso).

As técnicas heurísticas não asseguram as melhores soluções, mas somente soluções válidas, aproximadas; e não raro não é possível justificá-las de imediato em termos estritamente lógicos a validade do resultado.

É útil neste respeito recordar a distinção entre três tipos de estratégias para a definição dos problemas:

Busca às cegas,

Estratagema heurístico; baseado na intuição real ou percebida (consciente ou inconsciente) e

Busca racional; usando um sistema ou forma de raciocínio, explicável do ponto de vista lógico formal.

As heurísticas de Polya são procedimentos estratégicos deliberados,11 do tipo que utilizam conscientemente a intuição, sendo seus usuários em geral conscientes de suas limitações.

Referências

Kahneman, Daniel “Rápido & Devagar; Duas Formas de Pensar” Ed. Objetiva 2012; pág. 127 ISBN 9788539003839

Taleb, Nassim “Antifragile; Things that Gain from disorder” (em inglês) Random House 2012, pág. 11 Penúltimo Parágrafo ISBN 9780679645276

Ibidem Kahneman 2012 páginas 136 e 166

a b c d Ibidem Kahneman 2012

a b c Ibidem Taleb 2012

Lewicki, Saunders & Minton “Fundamentos da Negociação” McGraw-Hill 2001 - pág.148, 3º parágrafo ISBN 0072312858

Ibidem Kahneman 2012, pág.133

Ibidem Kahneman 2012, págs.129 à 131

Ibidem Kahneman 2012, págs 165-66

Ibidem Kahneman 2012, Parte 4 - Capítulo 33

Ibidem Kahneman 2012, pág.127 penúltimo parágrafo

http://pt.wikipedia.org/wiki/Heur%C3%ADstica