Roma Antiga

Roma Antiga

 

 

Os estruscos

 A origem dos etruscos permanece uma incógnita, embora existam várias teorias a respeito. Duas delas são as que têm maior peso:

A teoria orientalista, proposta por Heródoto, que crê que os etruscos vieram da Lídia, (na atual Turquia) por volta do século XIII a.C. Para demonstrá-lo os seus defensores baseiam-se nas supostas características orientais da sua religião e costumes, bem como que se tratava de uma civilização muito original e evoluída comparada com os seus vizinhos. Segundo Heródoto, depois de um período de dificuldades e grande fome (vinte anos), um rei confiou ao filho, Tirreno, a missão de levar o seu povo para uma terra produtiva. Estes lídios conseguiram chegar à Itália e foram denominados de Tirrenos. Os elementos míticos dessa lenda, a fome, a partida para um lugar desconhecido, eram comuns neste gênero de relatos.

A teoria de autoctonia, proposta por Dionísio de Halicarnasso, que considerava os etruscos como oriundos da península Itálica. Para argumentá-la, esta teoria explica que não há indícios de que a civilização etrusca tenha se desenvolvido em outros lugares e que o estrato lingüístico é mediterrâneo e não oriental. Em suas Antiguidades Romanas (livro I, capítulo 25) Halicarnasso considera que "(...)o povo etrusco não emigrou de parte alguma e sempre esteve aqui"..

Outra teoria, já descartada, foi a de uma origem "nórdica", defendida em finais do século XIX e primeira metade do século XX. Era baseada somente em parafonias, na similitude da sua autodenominação (rasena) com a denominação que os romanos deram a certos povos celtas que habitavam a Norte dos Alpes, no atual Leste da Suíça e Oeste da Áustria: réticos.

A teoria atualmente mais fundamentada de certa forma sintetiza as de Heródoto e Dionísio de Halicarnasso: considera-se, por vários traços culturais (por exemplo, os alfabetos), um forte influxo cultural derivado de alguma migração procedente de sudoeste de Anatólia, mais precisamente desde o território que os gregos chamaram Karya (Cária), tal influxo cultural ter-se-ia estendido sobre povos autóctones situados na que atualmente é a Toscana. Talvez as respostas se encontrem na Cultura de Villanova, representada por cerca de 100 tumbas encontradas na povoação de Villanova de Castenaso, em Bolonha, possíveis antecedentes da cultura etrusca. Por volta do século VII a.C. existiam doze cidades-estado independentes que se atribuem a Tarcão, filho ou irmão de Tirreno.

A tese da origem oriental dos etruscos é a mais conhecida na Antiguidade, tanto que os poetas latinos, principalmente Virgílio, designam frequentemente os etruscos pelo nome de Lydi.

A região onde prosperaram, entre o Arno e o Tibre se chama Toscana por causa do nome que tinham em latim, Tusci. O mar que banha a costa da região se chama Tirreno, termo derivado de Tirrenoi, como os gregos denominaram os etruscos.

Até o século VIII a.C., a Toscana era povoada por cidades de cabanas humildes que indicam a vida modesta de sua população. Talvez por isso, o fascínio pela busca da origem de um povo de língua incomparável e que vivia com refinamento.

Por volta de século IX a.C. (c.a. 850 a.C.), os etruscos já estavam estabelecidos na região da Etrúria, entre os rios Arno e Tibre, a oeste e sul da cadeia dos Apeninos. Nos três séculos posteriores, difundiram seus domínios submetendo os povos locais, ocupando vastas áreas da planície do rio e fundaram cidades que existem até hoje. Em direção ao sul, tomaram Roma - então um aglomerado de aldeias - e transformaram-na em uma cidade cercada de muros. Acredita-se que os Tarquínios - uma dinastia de reis etruscos - governaram Roma por volta de 616 a.C. a 509 a.C..

Durante o processo de expansão, os etruscos atingiram até a região da Campânia, onde fundaram Cápua que, desde o início do século VI a.C., representou um centro comercial capaz de rivalizar com as colônias gregas vizinhas: Cuma e Neápolis (Nápoles). Por volta de 540 a.C., aliados aos cartagineses, derrotam os Fócios da Córsega. Essa vitória assegurou-lhes o controle da ilha e marcou o apogeu da expansão territorial.

Entretanto, os etruscos foram expulsos de Roma pelos latinos em 509 a.C.; tiveram sua fronteira destruída pelos gregos de Siracusa e Cuma em 476 a.C. Em 424 a.C., perderam a Campânia para os samnitas e, logo a seguir, o vale do rio Pó foi ocupado pelos celtas. Em 396 a.C., com a tomada de Veios, os romanos incorporaram ao seu território o que restava da Etrúria.

 

 Roma

Denomina-se Roma Antiga a civilização que surgiu de uma pequena comunidade agrícola fundada na península Itálica no século VIII a.C.

Localizada ao longo do mar Mediterrâneo e centrada na cidade de Roma, tornou-se um dos maiores impérios do mundo antigo.[1]

Em seus séculos de existência, a civilização romana passou de uma monarquia para uma república oligárquica, até se transformar em um império cada vez mais autocrático. O Império Romano chegou a dominar o Sudoeste da Europa Ocidental, Sudeste da Europa/Bálcãs e toda a bacia do Mediterrâneo através da conquista e assimilação.

Devido à instabilidade política e econômica interna e às migrações dos povos bárbaros, a parte ocidental do império, incluindo a Itália, Hispânia, Gália, Britânia e África, dividiu-se em reinos independentes no século V. Esta desintegração é o marco que historiadores usam para dividir a Antiguidade da Idade Média.

O Império Romano do Oriente, governado a partir de Constantinopla, surgiu depois que Diocleciano dividiu o império em 286 e sobreviveu a essa crise. Compreendia a Grécia, Balcãs, Ásia Menor, Síria e Egito. Apesar da posterior perda da Síria e do Egito para o Império Árabe-Islâmico, o Império Romano do Oriente continuou existindo por mais outro milênio, até que seus restos foram finalmente anexados pelo emergente Império Otomano. Este estágio oriental, cristão e medieval do império é geralmente chamado de Império Bizantino pelos historiadores.

A civilização romana é muitas vezes agrupada na "antiguidade clássica" com a Grécia Antiga, uma civilização que, junto com a civilização etrusca e as muitas outras civilizações que os romanos conquistaram e assimilaram, inspirou grande parte da cultura da Roma Antiga. A Roma antiga contribuiu grandemente para o desenvolvimento do direito, governo, guerra, arte, literatura, arquitetura, tecnologia, religião e da linguagem no mundo ocidental e sua história continua a ter uma grande influência sobre o mundo de hoje.

Os antigos povos que habitavam a região do Lácio, os latinos, pequeno povo de camponeses indo-europeus vindo da Ásia do centro da Europa, nas proximidades de Roma, desenvolveram uma economia baseada na agricultura e nas atividades pastoris. A sociedade, nesta época, era formada por patrícios (nobres proprietários de terras) e plebeus (comerciantes, artesãos e pequenos proprietários). O sistema político era a monarquia: a cidade era governada por um rei, originalmente de origem latina, porém os últimos reis do período monárquico foram de origem etrusca.

Os romanos deste período eram politeístas, venerando deuses semelhantes aos dos gregos (embora com nomes diferentes). Os gregos também influenciavam, juntamente com os etruscos, as primeiras formas de arte realizadas pelos romanos deste período.

Conforme a versão lendária da fundação de Roma, relatada em diversas obras literárias romanas, tais como a Ab Urbe condita libri (literalmente, "desde a fundação da Cidade"), de Tito Lívio, e a Eneida, do poeta Virgílio, Eneias, príncipe troiano filho de Vénus, fugindo de sua cidade, destruída pelos gregos, chegou ao Lácio e se casou com uma filha de um rei latino.

Seus descendentes, Rómulo e Remo, filhos de Reia Sílvia, rainha da cidade de Alba Longa, com o deus Marte, foram jogados por Amúlio, rei da cidade, no rio Tibre. Mas foram salvos por uma loba que os amamentou, tendo sido, em seguida, encontrados por camponeses. Conta ainda a lenda que, quando adultos, os dois irmãos voltaram a Alba Longa, depuseram Amúlio e em seguida fundaram Roma, em 753 a.C. A data tradicional da fundação (21 de abril de 753 a.C.) foi convencionada bem mais tarde por Públio Terêncio Varrão, atribuindo uma duração de 35 anos a cada uma das sete gerações correspondentes aos sete mitológicos reis. Segundo a lenda, Rômulo matou o irmão e se transformou no primeiro rei de Roma.

 

 

MONARQUIA ROMANA (753A.C. - 509A.C)

 

Reino de Roma, também designado como monarquia romana ou período régio, é a expressão utilizada por convenção para definir o estado monárquico romano desde a sua origem (21 de abril de 753 a.C.) até a queda da realeza em 509 a.C.. A documentação deste período é precária e até mesmo os nomes dos reis são incertos, citando-se apenas os reis lendários, apresentados nas obras de Virgílio (Eneida) e Tito Lívio (Ab Urbe condita libri). Suas origens são imprecisas, se bem parece claro que foi a primeira forma de governo da cidade, um dado que a arqueologia e a linguística parecem confirmar.

Segundo a tradição lendária, Roma foi governada por sete reis.[a] Os antigos atribuem a cada soberano uma inovação para a formação das instituições romanas: Rômulo (r. 753–717 a.C.) fundou a cidade e raptou as sabinas; Numa Pompílio (r. 717–673 a.C.) criou as instituições religiosas, os sacerdócios e os ritos; Túlio Hostílio (r. 673–642 a.C.) destruiu Alba Longa; Anco Márcio (r. 640–616 a.C.) fundou a colônia de Óstia; Tarquínio Prisco (r. 616–579 a.C.) realizou grandes trabalhos de construção em Roma; Sérvio Túlio (r. 578–535 a.C.) dividiu a sociedade romana em classes censitárias; e Tarquínio, o Soberbo (r. 534–509 a.C.) representou o típico tirano romano.

O rei (rex) acumulava funções executivas, judiciais, legislativas e religiosas. A ratificação de leis era feita pela Assembleia das cúrias, composta por todos os cidadãos em idade militar (até 45 anos), e o senado, ou "conselho de anciões", atuava como conselho régio e escolhia novos reis. Na fase final da realeza, a partir do fim do século VII a.C., Roma foi dominada pelos etruscos. Eles influenciaram os romanos tanto no plano cultural (disseminação do uso de túnicas, práticas religiosas e culto a novos deuses), como no plano material (ampliação do comércio e criação de canais de drenagem para secagem de pântanos locais).

As crônicas tradicionais, que chegaram até a atualidade através de autores como Tito Lívio, Plutarco, Dionísio de Halicarnasso entre outros, contam que houve uma sucessão de sete reis. A cronologia tradicional, narrada por Marco Terêncio Varrão, mostra que foram 243 anos de duração total para estes reinados, isto é, há uma média de 35 anos por reinado (muito maior que qualquer dinastia documentada), ainda reavaliada atualmente, desde o trabalho de Barthold Georg Niebuhr. Os reinados dos primeiros monarcas levantam grandes dúvidas aos historiadores, devido à sua grande duração média e ao fato de alguns parecerem estar arredondados.

 

 

Mito da Fundação de Roma

Na Eneida de Virgílio e na Ab Urbe condita libri de Tito Lívio, Eneias, filho da deusa Vênus foge de Troia com seu pai Anquises, seu filho Ascânio e os sobreviventes da cidade. Com este realiza diversas peregrinações que o levam, por fim, ao Lácio, na Itália, onde é recebido pelo rei local, Latino, que oferece a mão de sua filha, Lavínia. Isto provoca a fúria do rei dos rútulos, Turno, um poderoso monarca itálico que havia se interessado por ela. Uma terrível guerra entre as populações da península eclode e como resultado, Turno é morto. Eneias, agora casado, funda a cidade de Lavínio em homenagem a sua esposa. Seu filho, Ascânio, governa na cidade por trinta anos até que resolve se mudar e fundar sua própria cidade, Alba Longa.

Cerca de 400 anos depois, o filho e legítimo herdeiro do décimo-segundo rei de Alba Longa, Numitor, é deposto por um estratagema de seu irmão Amúlio. Para garantir o trono, Amúlio assassina os descendentes varões de Numitor e obriga sua sobrinha Reia Sílvia a tornar-se vestal (sacerdotisa virgem, consagrada a deusa Vesta), no entanto, esta engravida do deus Marte e desta união foram gerados os irmãos Rômulo e Remo (nascidos em março de 771 a.C. Como punição Amúlio prende Reia em um calabouço e manda jogar seus filhos no rio Tibre. Por milagre o cesto onde estavam as crianças acaba se atolando em uma das margens do rio no sopé do monte Palatino onde são encontrados por uma loba que os amamenta; próximos às crianças estava um pica-pau, ave sagrada para os latinos e para o deus Marte, que os protege. Tempos depois, um pastor de ovelhas chamado Fáustulo encontra os meninos próximo ao pé da Figueira Ruminal (Ficus Ruminalis), na entrada de uma caverna chamada Lupercal. Ele os recolhe e leva-os para sua casa onde são criados por sua mulher Aca Laurência.

Rômulo e Remo crescem junto dos pastores da região praticando caça, corrida e exercícios físicos; saqueavam as caravanas que passavam pela região à procura de espólio. Em um dos assaltos, Remo é capturado e levado para Alba Longa. Fáustulo, então, revela a Rômulo a história de sua origem. Este parte para a cidade de seus antepassados liberta seu irmão, mata Amúlio, repõe Numitor no trono e dá a sua mãe todas as honrarias que lhe eram devidas. Percebendo que não teriam futuro na cidade, os gêmeos decidem partir da cidade junto com todos os indesejáveis para então fundarem uma nova cidade no local onde foram abandonados. Rômulo queria chamá-la Roma e edificá-la no Palatino, enquanto Remo desejava nomeá-la Remora e fundá-la sobre o Aventino. Como forma de decidir, foi estabelecido que se deveria indicar através dos auspícios, quem seria escolhido para dar o nome à nova cidade e reinar depois da fundação. Tal gerou divergência entre os espectadores o que originou uma acirrada discussão entre os irmãos que terminou com a morte de Remo. Uma versão alternativa afirma que, para surpreender o irmão, Remo teria escalado o recém-construído pomério quadrangular da cidade e, tomado em fúria, Rômulo tê-lo-ia assassinado.

 

 

Sociedade

 A base social romana eram as gentes (clãs), associações de parentesco entre famílias que acreditavam descender de ancestrais comuns que, de modo a expressar sua relação, utilizavam o mesmo nome. Nestas condições, cada membro de um gente (o "gentil") possuía dois nomes, um pessoal (prenome; p. ex. Marco, Cneu, Tito) e um gentilício (nome; por exemplo Márcio, Névio, Tácio);[c] devido a autonomia evidência que as gentes possuíam no contexto social, especula-se que existam desde antes da formação do Estado romano. Cada família que compunha a gente era controlada por um respectivo pater familias que exercia poder absoluto (in potestate) sobre sua propriedade, animais, escravos, filhos e mulher; baseado em seu poder (patria potestas), o pater famílias tinha o direito de matar ou vender qualquer membro de sua família, a representava em suas relações com outras famílias e com a comunidade e efetuava os ritos e sacrifícios em honra aos antepassados e deuses. Desse modo, mesmo adultos, seus filhos não adquiriam autonomia legal até a morte do pater familias, quando por direito próprio eram considerados patres familiarum.

A partir do termo pater foi cunhado o termo patrício, nome da camada social dominante em Roma. Esta camada ostentava maior número de rebanhos, terras e escravos, da mesma forma que a eles era legado o direito a exercer funções públicas, militares, religiosas, jurídicas e administrativas; por vezes apropriavam-se das ager publicus, terras que pertenciam ao governo. Abaixo dos patrícios estava a clientela (singular: cliente), classe constituída por plebeus, escravos libertos, estrangeiros ou filhos ilegítimos que associavam-se aos patrícios prestando-lhes diversos serviços em troca de auxílio econômico e proteção social. Esta relação entre patrícios e a clientela baseava-se principalmente em conotações morais, ao invés de legais, uma vez que o clientes gozava da "confiança" (fides) de seus senhores. A clientela tinha entre suas obrigações o cultivo de parte das terras dos patrícios, bem como prestações de serviços militares. Quanto maior fosse o número de clientes sob proteção de um patrício, maior era seu prestígio social e político.

Os plebeus (de plebs, multidão) eram camponeses, pequenos agricultores, artesãos e comerciantes. No período monárquico, os plebeus não possuíam direitos políticos embora estivessem sujeitos a carga tributária e a obrigações militares. Era proibido o casamento entre plebeus e patrícios para evitar a mistura de ambas as classes sociais. No limiar da pirâmide social romana estavam os escravos que eram vencidos de guerra ou plebeus endividados. No caso dos plebeus, a escravidão podia ocorrer de duas formas. A primeira ocorria quando uma família empobrecida vendia os seus próprios filhos, na condição de escravos. A segunda era uma forma de pagamento de dívidas, ou seja, o devedor, impossibilitado de saldar suas dividas, podia se tornar escravo do credor. Eram vistos como instrumentos de trabalho, sendo considerados como propriedade de seu senhor, podendo ser vendidos, trocados, alugados ou castigados. Como escravo, a pessoa não detinha nenhum direito, como o de se casar, deslocar-se de um lugar para outro, participar das assembleias e tomar decisões. Durante a monarquia eram pouco numerosos.

As mulheres romanas, as matronas (matronae), tinham direito de possuir propriedade, ser educadas e participar mais ativamente de atividades sociais, como os banquetes e campanhas eleitorais.

 Os principais grupos sociais que se construíram em Roma eram os patrícios, os clientes, os plebeus e os escravos.

 •Patrícios: eram grandes proprietários de terras, rebanhos e escravos. Desfrutavam de direitos políticos e podiam desempenhar altas funções públicas no exército, na religião, na justiça ou na administração. Eram os cidadãos romanos.

•Clientes: eram homens livres que se associavam aos patrícios, prestando-lhes diversos serviços pessoais em troca de auxílio econômico e proteção social.

   Constituíam ponto de apoio da dominação política e militar dos patrícios.

•Plebeus: eram homens e mulheres livres que se dedicavam ao comércio, ao artesanato e aos trabalhos agrícolas. Apesar da conotação do nome, havia plebeus ricos.

•Escravos: Representavam uma propriedade, e, assim, o senhor tinha o direito de castigá-los, de vendê-los ou de alugar seus serviços. Muitos escravos também eram eventualmente libertados.

 

Estatuto social

De acordo com o jurista Gaio, a principal distinção entre pessoas no direito romano dava-se entre cidadãos livres (liberi) e escravos (servi). O estatuto jurídico dos cidadãos livres podia ainda ser precisado de acordo com a sua cidadania. Durante o início do Império, só um número limitado de homens é que tinha pleno direito à cidadania romana, o que lhes permitia votar, candidatar-se a eleições e serem ordenados sacerdotes. A maior parte dos cidadãos tinha apenas direitos limitados, tendo, no entanto, direito a proteção jurídica e outros privilégios que eram vedados àqueles que não tinham cidadania. Os homens livres que viviam no interior do império, mas que não eram considerados cidadãos, tinham o estatuto de peregrini, ou não-romanos. Em 212 a.C., através do Édito de Caracala, o imperador Carcala alarga o direito de cidadania a todos os habitantes do império, revogando e revendo todas as leis que distinguiam cidadãos de não-cidadãos.

 

Estatuto da mulher

Ao longo da República e durante o Império, as mulheres romanas livres eram consideradas cidadãs, embora não pudessem votar, ocupar cargos políticos ou servir no exército. A mulher romana conservava o apelido de solteira (nomen) ao longo da vida. Na maior parte das vezes, os filhos escolhiam o apelido do pai, embora no período imperial pudessem também manter o apelido da mãe.

A forma arcaica de casamento cum manum, pelo qual a mulher era sujeita à autoridade do marido, caiu em desuso durante o período imperial. Uma mulher casada continuava a ser proprietária dos bens que levava para o casamento.

Tecnicamente, mesmo após a mudança para a residência do marido, continuava ainda sob a autoridade do pai, e só quando o pai morria é que se emancipava em termos legais. Este princípio constituía um dos factores do relativo grau de independência das mulheres romanas em comperação com outras culturas da antiguidade e até à idade moderna. Embora tivesse que responder perante o pai em assuntos jurídicos, a mulher romana era livre para gerir a vida quotidiana e o marido não tinha qualquer poder jurídico sobre ela. Embora fosse motivo de orgulho social ter casado apenas uma vez, o estigma social em relação ao divórcio ou ao segundo casamento era praticamente inexistente.

A mulher romana podia possuir propriedade, realizar contratos e concretizar negócios, incluindo manufatura, transportes e empréstimos bancários, sendo também comum financiarem obras públicas, indicativo da posse a administração de fortunas consideráveis. As mulheres tinham os mesmos direitos que os homens em relação a heranças, caso o pai morresse sem deixar um testamento. O direito a possuir e gerir propriedade, incluindo os termos do seu próprio testamento, proporcionavam à mulher romana uma enorme influência sobre os filhos, mesmo em adultos.

Parte do programa de Augusto para restaurar a tradição moral e a ordem social, a legislação moral tentou regular a conduta da milher enquanto forma de promover os valores da família.O adultério, que durante a República tinha sido do foro privado, foi criminalizado/ e definido enquanto ato sexual ilícito (stuprum) que ocorra entre um homem e Na época de Augusto, cerca de 35% dos habitantes da província de Itália eram escravos/ A escravatura era uma instituição complexa e de utlidade económica que sustentava a estrutura social romana. Nas cidades, os escravos podiam exercer diversas profissões, entre as quais professores, médicos, cozinheiros e contabilistas, embora a maioria realizasse apenas tarefas pouco qualificadas. A indústria e a agricultura dependiam da mão de obra escrava. Fora de Itália, os escravos constituíam em média entre 10 a 20% da população. Embora a escravatura tenha diminuido nos séculos III e IV, permeneceu parte integrante da sociedade romana até ao século V até desaparecer gradualmente ao longo dos séculos VI e VII, a par do declínio dos centros urbanos a da desintegração do complexo sistema.

A legislação sobre escravatura era bastante complexa. Perante a lei romana, os escravos eram considerados propriedade e não tinham personalidade jurídica. Um escravo podia ser sujeito a formas de castigo corporal vedadas a cidadãos, serem explorados sexualmente, torturados e executados sumariamente. Em termos jurídicos, um escravo uma mulher casada não podia ser violado, uma vez que a violação só podia ser exercida sobre pessoas livres; um violador de um escravo teria de ser acusado pelo dono por danos materiais. Os escravos não tinham direito a contrair matrimónio, embora por vezes fossem reconhecidas uniões e pudessem casar no caso de ambos serem libertados.

No seguimento das Guerras Servis, a legislação tentou limitar a ameaça de rebeliões de escravos através da limitação da dimensão dos grupos de trabalho e da perseguição a escravos fugitivos.

Tecnicamente, um escravo não podia possuir propriedade, embora um escravo que realizasse negócios pudesse ter acesso a um fundo ou conta individual (peculium), da qual podia dispor livremente. Os termos desta conta variavam em função da relação de confiança entre o proprietário e o escravo. Um escravo com aptidão para os negócios podia ter autonomia considerável para realizar lucros e gerir outros escravos.[861 Dentro de uma residência ou de uma oficina, era comum a existência de uma hierarquia entre escravos, em que um deles administrava os restantes.

Com o decorrer dos séculos, os escravos foram ganhando cada vez maior proteção jurídica, incluindo o direito de apresentar queixa em relação aos amos. Um contrato de compra podia ter uma cláusula que determinasse que o escravo não podia ser destinado a prostituição, já que grande parte dos prostitutos e prostitutas eram escravos. O crescimento do comércio de escravos eunucos durante o fim do século I promoveu legislação que proibia a castração de um escravo contra a sua vontade.

A escravatura romana não tinha por base discriminação racial. Durante a expansão republicana, período em que se dá a generalização da escravatura, a principal fonte de escravos eram prisioneiros de guerra das mais diversas etnias. A conquista da Grécia levou para Roma um grande número de escravos extremamente qualificados e instruídos. Os escravos eram também trocados em mercados e por vezes vendidos por piratas. Entre outras fontes de escravos estão o abandono infantil e a auto-escravização entre os mais pobres. Os vernae, pelo contrário, eram escravos filhos de uma mãe escrava que nascessem e crescessem nessa propriedade. Embora não tivessem qualquer proteção jurídica em particular, o dono que maltratasse ou não cuidasse dos seus vernae era mal visto pela sociedade, já que estes eram considerados parte da sua familia, podendo até ser filhos dos homens livres da família.

Os escravos bem sucedidos podiam ser acapazes de acumular dinheiro suficiente para comprar a sua liberdade ou serem libertados pelos serviços prestados. A manumissão tornou-se tão frequente que, no século II a.C., uma lei limitou o número de escravos que um proprietário podia libertar.

 

 

Libertos

Ao contrário das cidades-estado gregas, Roma permitia que os escravos libertos se tornassem cidadãos, tendo inclusive direito ao voto.[961 Um escravo que conseguisse a libertas era denominado um libertus ("pessoa liberta," fem. liberta) em relação ao seu antigo amo, o qual se tornava então o seu patrão (patronus). No entanto, as duas partes continuavam a ter obrigações habituais e jurídicas entre si. A classe social dos libertos era denominada libertini, embora mais tarde os termos libertus e libertinus fossem usados indistintamente.[971 Um libertinus não podia ocupar cargos na administração pública ou no sacerdócio de estado, embora pudesse exercer sacerdócio no culto imperial. Um liberto não podia também casar com uma mulher de uma família da ordem senatorial ou ele próprio fazer parte dessa ordem de forma legítima, embora durante o início do império os libertos ocupassem lugares cimeiros na administração.[981

 

 

Religião

A religião na Roma Antiga engloba as práticas e crenças que os romanos viam como suas, assim como os diversos cultos importados para Roma ou praticados pelo povo ao longo das províncias. Os romanos viam-se a si próprios como profundamente religiosos, atribuindo o seu bem-sucedido domínio regional à sua boa relação com os deuses (pax deorum). A religião arcaica que se acredita ter sido herdada dos primeiros reis de Roma constituiu a fundação do mos maiorum, ou "tradição", vista como central na identidade romana. Não existia qualquer princípio análogo à separação Igreja-Estado. Os lugares de sacerdote na religião do estado eram preenchidos pelas mesmas pessoas que ocupavam lugares na administração pública e, durante o período imperial, o pontifex maximus era o próprio imperador.

A religião romana era prática e contratual, baseada no princípio do do ut es ("dou-te aquilo que possas oferecer"). A religião dependia do conhecimento e da prática correta da oração, dos rituais e do sacrifício, e não da fé ou de dogmas, embora a literatura latina conserve alguma especulação em relação ao divino e à sua relação com a vida humana. Para o cidadão comum, a religião era parte do quotidiano.[ 1011 Cada residência tinha um altar doméstico, no qual se faziam as orações e eram oferecidas libações. As cidades eram pontuadas por altares de bairro e locais sagrados, como nascentes de água e cavernas. Apuleio descreveu a influência quotidiana da religião, através da observação da forma como as pessoas

que passavam por um local de culto faziam um voto ou ofereciam alguns frutos, ou então sentando-se apenas. O calendário romano era organizado em função das comemorações religiosas. Durante o período imperial, havia 135 dias do ano dedicados a festividades religiosas e jogos (ludi).

Durante a crise republicana, a religião do estado adaptou-se de forma a apoiar o novo regime de imperadores. Enquanto primeiro imperador romano, Augusto justificou a novidade da governação por parte de uma única pessoa com um vasto programa de revivalismo e reformas religiosas. Os votos públicos, anteriormente feitos para a

segurança da república, foram então direcionados para o bem-estar do imperador. O culto da personalidade alargou significativamente as práticas de veneração dos ancestrais e do génio, a divindade tutelar de cada indivíduo. Antes de morrer, um imperador podia-se tornar uma divindade de estado mediante votação no senado. O culto imperial, influenciado pela religião helenística, tornou-se uma das principais formas de Roma anunciar a sua presença nas províncias, cultivando em toda a extensão do império a lealdade e partilha da mesma identidade cultural. O precedente cultural nas províncias orientais facilitou a rápida disseminação do culto imperial, alargando-se a regiões tão longínquas como a atual Arábia Saudita. A rejeição da religião do Estado tornou-se sinónimo de traição ao imperador, facto que esteve na origem do conflito de Roma com os primeiros cristãos, já que os romanos viam o cristianismo enquanto uma nova forma de ateísmo e um novo superstitio.

Uma das características da religião romana é o grande número de divindades a que prestavam culto. À medida que os romanos alargavam o seu domínio no Mediterrâneo, a sua política consistia na assimilação de divindades e cultos dos povos conquistados, e não na sua erradicação.  Uma das formas de Roma promover a estabilidade entre os seus diversos povos foi através do apoio das suas diferentes heranças religiosas, construindo templos destinados a divindades locais e que enquadravam estas diferentes práticas religiosas na hierarquia da religião romana. As várias incrições por todo o império registam a reverência em paralelo de divindades romanas com divindades locais. No apogeu do Império, eram adoradas em Roma divindades internacionais, cujo culto tinha sido difundido para as mais remotas províncias, entre elas Cibele, Ísis, Epona e os deuses do monismo solar, como Mitra e Sol divino. Uma vez que os romanos nunca foram obrigados a adorar apenas um único deus ou culto, a tolerância religiosa nunca representou um problema, da forma em que o é para sistemas monoteístas.

As religiões de mistério, que ofereciam aos iniciados salvação após a morte, eram uma questão de escolha pessoal, praticada de forma complementar aos rituais familiares e à participação na religião pública. No entanto, os mistérios envolviam secretismo e juramentos exclusivos, o que os conservadores romanos viam com suspeição e características de magia, conspiração e atividade subversiva. Foram feitas tentativas esporádicas de suprimir seitas que aparentavam ameaçar a unidade e moral tradicionais, algumas delas de forma brutal. Na Gália, foram feitas tentativas de controlar o poder dos druidas, inicialmente através da proibição dos cidadãos romanos em pertencer à ordem e depois através da proibição do druidismo por completo. No entanto, ao mesmo tempo as tradições celtas foram reinterpretadas no contexto da teologia imperial, dando origem a uma nova religião galo-romana e estabelecendo o precedente para o culto Ocidental enquanto forma de identidade regional romana.

O rigor monoteísta do Judaísmo colocava dificuldades à política de tolerância religiosa romana, obtida através de compromisso e de isenções excepcionais. A religião judaica, ao contrário da cristã, era considerada legítima (religio licita). No entanto, quando os conflitos políticos e religiosos se tornaram irreconciliáveis despoletaram-se várias revoltas entre judeus e romanos. O cerco de Jerusalém em 70 d.C. esteve na origem do saque ao templo da cidade e da dispersão do poder político judaico.

O Cristianismo surgiu na província da Judeia no primeiro século d.C. enquanto seita religiosa judaica. A religião espalhou-se gradualmente

até Jerusalém, estabelecendo inicialmente centros importantes em Antioquia e Alexandria, e a partir daí por todo o império. As perseguições oficiais foram muito poucas e esporádicas, e a maior parte dos martírios ocorreu por iniciativa de autoridades locais.

Durante o início do século IV, Constantino tornou-se o primeiro imperador a se converter ao Cristianismo, dando assim início à era de hegemonia cristã. O imperador Juliano realizou uma breve tentativa de reavivar as religiões tradicionais e helenística e de afirmar o estatuto especial do Judaísmo. No entanto, em 391 e durante o governo de Teodósio I, o Cirstianismo torna-se a religião estatal de Roma, excluindo todas as outras. A partir do século II, os Padres da Igreja começam a condenar todas as diferentes práticas religiosas praticadas no império, denominando-as coletivamente por "pagãs". Ao mesmo tempo, são rejeitados apelos à tolerância religiosa por parte de tradicionalistas e o monoteísmo cristão torna-se uma das características do domínio imperial. Todos os hereges e não cristãos estavam sujeitos a ser perseguidos ou a ser excluídos da vida pública. No entanto, as práticas cristãs foram influenciadas por grande parte da hierarquia religiosa romana e por muitos aspetos dos rituais romanos, tendo ainda muitas destas práticas sobrevivido através de festivais e tradições locais cristãs.

 

 

Direito romano

Os tribunais romanos possuíam jurisdição para deliberar sobre processos que envolvessem cidadãos romanos em todos o império, embora houvesse poucos funcionários para impôr a lei de forma uniforme entre as províncias. A maior parte dos territórios do império oriental tinha já implementados códigos de direito e procedimentos jurídicos. Regra geral, a política romana consistia em respeitar a mos regionis, a "tradição local" ou "leis da terra", vendo-as como fonte de precedentes jurídicos e fonte de estabilidade social. A compatibilidade entre o direito romano e o direito local era vista como reflexo da Ius gentium, a lei das gentes ou direito internacional, comum e habitual entre todas as comunidades humanas. Quando determinados aspetos das leis provinciais entravam em conflito com as leis ou costumes romanos, podiam ser feitos apelos aos tribunais romanos, tendo o imperador autoridade para promulgar uma decisão final.

A ocidente, o direito tinha sido administrado numa base tribal e o direito à propriedade privada pode ter constituído uma novidade da era romana, sobretudo entre os povos celtas. O direito romano facilitava a aquisição de riqueza por parte da elite pró-romana, a qual via vantagens nos seus novos privilégios enquanto cidadãos do império. O alargamento da cidadania de forma universal a todos os habitantes do Império em 212 exigiu a aplicação uniforme do direito romano, substituíndo os códigos de direito locais que eram aplicados a não cidadãos. A tentativa de Diocleciano em estabilizar o Império após a crise do terceiro século incluiu duas compilações jurídicas notáveis em apenas quatro anos, o Codex Gregorianus e o Codex Hermogenianus, destinadas a auxiliar os administradores de província a implementar padrões jurídicos consistentes.

Uma notável contribuição romana à cultura ocidental ocorreu no campo do direito. De fato, o direito romano permanece até hoje entre os fundamentos do direito contemporâneo.

Como quase tudo em Roma, as leis surgiram para dar uma solução prática aos problemas criados pelas lutas entre os grupos sociais e pelas guerras de conquista. Afinal, Roma dominava um vasto e variado mosaico de povos, unidos por vínculos econômicos, políticos e culturais. Criar normas jurídicas que permitissem a coexistência de tão diferentes costumes e tradições tornou-se uma necessidade.

O direito romano desenvolveu-se gradualmente, tendo como ponto de partida a Lei das Doze Tábuas (450 a.C. Posteriormente, aprimorou-se com as leis votadas pelas assembleias, com os decretos do senado e teve sua completa sistematização no período do império. Compunha-se de três grandes ramos:

 

•O ius civile (Direito civil), aplicável apenas aos cidadãos de Roma.

•O ius gentium (Direito das gentes ou dos estrangeiros), conjunto de normas comuns ao povo romano e aos povos conquistados.

•O ius naturale (Direito natural), que representava o aspecto filosófico do direito. Baseava-se na ideia de que o ser humano é, por natureza, portador de direitos que devem ser respeitados.

 

Com as invasões bárbaras, embora inicialmente as tribos continuassem a reconhecer suas leis nativas, elas foram fortemente influenciadas pelo direito romano e gradualmente o incorporaram também.

O direito romano, particularmente o Corpus Juris Civilis coletado por ordem de Justiniano I, é a base antiga no qual o direito civil moderno de alguns países se apóia. Em contraste, a Common law (lei comum) é baseada na lei germânica.

O sistema romano-germânico é o sistema jurídico mais disseminado no mundo, baseado no direito romano, tal como interpretado pelos glosadores a partir do século XI e sistematizado pelo fenômeno da codificação do direito, a partir do século XVIII. Pertencem à família romano-germânica os direitos de toda a América Latina, de toda a Europa continental, de quase toda a Ásia (exceto partes do Oriente Médio) e de cerca de metade da África.

 

 

 

Impostos

O valor de impostos coletados no império correspondia a 5% do produto interno bruto romano. A taxa de imposto comum sobre rendimentos individuais variava entre 2 e 5%. O direito contributivo era confuso e conflituoso e determinava um sistema complexo de impostos diretos e indiretos, alguns pagos em dinheiro e outros em géneros. Os impostos podiam ser específicos de eterminada província, podiam incidir apenas sobre determinado tipo de propriedades, como a pesca ou salinas ou podiam ainda ser aplicados apenas durante determinado intervalo de tempo.[1561 A coleta de impostos era justificada também pela necessidade de manutenção do exército, pelo que os contribuintes tinham direito a um reembolso quando o exército capturava despojos ou excedentes. Em regiões pouco monetarizadas eram aceites pagamentos em géneros, particularmente daquelas que eram capazes de fornecer cereais ou bens para os campos militares.

A principal fonte da receita fiscal proveniente de impostos diretos eram os cidadãos, os quais pagavam imposto per capita e pelos seus terrenos, com base na sua produção ou na capacidade produtiva. O código previa exceções; por exemplo, os agricultores egípcios podiam estar isentos dependendo do ciclo de cheias do rio Nilo. As obrigações fiscais eram determinadas pelos censos, os quais exigiam que cada chefe de família se apresentasse perante o administrador encarregado e indicasse a constituição da sua família e as propriedades que possuía adequadas a agricultura ou habitação.

Uma das principais fontes de impostos indiretos era a portoria, o rendimento obtido em alfândegas e portagens sobre importações e exportações, inclusive entre províncias. Existiam também impostos especiais sobre o comércio de escravos. Augusto instituiu uma taxa de 4% sobre a venda de escravos, cujo encargo Nero transferiu do comprador para os comerciantes, inflacionando o preço. Um proprietário que libertasse um escravo pagava uma taxa de liberdade, calculada em 5% do seu valor (vicesima libertatis). Era ainda cobrado um imposto de 5% a todos os cidadãos romanos acima de determinadas posses que deixassem uma herança a outras pessoas que não a sua família próxima. Os impostos sobre bens do estado e 1% dos valores de leilão revertiam a favor do fundo de pensão militar (aerarium militare).

As taxas de imposto reduzidas ajudaram a aristrocracia romana a acumular riqueza, a qual igualava ou excedia a receita do próprio governo central. Por vezes, um imperador repunha o tesouro do estado através da apreensão das propriedades dos imensamente ricos. A recusa no pagamento de impostos por parte dos mais abastados foi um dos factores que contribuiu para o colapso do Império.

 

 

PIB e distribuição de riqueza

A estimativa do produto interno bruto da economia romana difere entre os vários historiadores/ Nos anos de amostragem de 14, 100 e 150 d.C., as estimativas do PIB variam entre 166 e 380 HS. Estima-se que o PIB per capita da província de Itália tenha sido de 40 a 66% superior à média do Império, devido às transferências fiscais das províncias e à concentração do rendimento da elite no centro do império. Segundo o modelo económico de Scheidel-Friesen, o rendimento anual total gerado no império ascende a cerca de 20 mil milhões HS, dos quais cerca de 5% são coletados pelos governos locais e central. Os 1,5% mais ricos recebiam cerca de 20% da distribuição de riqueza. Outros 20% eram distribuídos por 10% da população de classe média. A maioria da população produzia mais de metade do rendimento anual, embora vivesse numa economia de subsistência.

 

Infraestrutura

"A extraordinária grandeza do Império Romano se manifesta sobretudo em três coisas: os aquedutos, as estradas pavimentadas, e a rede de esgotos." Dionísio de Halicarnasso, Ant. Rom. 3.67.5

Os romanos notabilizaram-se como pioneiros na engenharia e construção de sofisticadas infraestruturas como canalizações, aquedutos, estradas e pontes. As obras estenderam-se por todo o império, cujo sucesso se deveu em grande parte à extensa rede viária. Além do saneamento básico, as infraestruturas incluíam equipamentos como termas, fóruns, teatros, anfiteatros e monumentos.

 

 

Vida urbana e rural

Na Antiguidade, as cidades eram vistas como territórios que fomentavam a civilização ao serem apropriadamente desenhadas, ordenadas e adornadas. Augusto levou a cabo uma vasto programa de construção em Roma, financiou obras de arte pública que expressavam a nova ideologia imperial e reorganizou a cidade em bairros (vici) administrados a nível local, com serviço de polícia e bombeiros. Um dos focos de arquitetura monumental foi o Campo de Marte, uma área descoberta nos arredores do centro que anteriormente estava destinada a desportos equestres e exercício físico dos jovens. Foram aí construídos o Ara Pacis e o obelisco de Montecitorio, importado do Egito, o qual formava o ponteiro (gnómon) de um monumental relógio solar. Dotado de jardins públicos, o Campo de Marte tornou-se uma das principais atrações de Roma.

O planeamento das cidades romanas e o estilo de vida urbano foram influenciados pela civilização grega de períodos anteriores. Na parte oriental do império, o domínio romano veio acelerar o desenvolvimento de cidades que já de si tinham um acentuado carácter helenístico. Algumas cidades, como Atenas, Afrodisias, Éfeso e Gérasa, modificaram alguns aspetos da arquitetura e planeamento urbano em conformidade com os cânones imperiais, embora exprimindo também a sua identidade individual e proeminência regional/ Nas áreas mais ocidentais do império, habitadas por povos de língua celta, Roma encorajou o desenvolvimento de centros urbanos planificados, dotados de templos, foruns, fontes monumentais e anfiteatros. Estas novas cidades eram muitas vezes projetadas perto de, ou no próprio local, de assentamentos muralhados preexistentes (oppida). A urbanização no norte de África expandiu as cidades gregas e púnicas ao longo da costa.

A rede de cidades ao longo do território imperial (coloniae, municipia, civitates ou, no termo grego, polis) era um elemento de coesão durante a Pax Romana. Os romanos dos séculos I e II d.C. eram encorajados pela propaganda imperial a absorver os valores do tempo de paz/ Muitas das características associadas à cultura imperial, como o culto público, jogos e banquetes cívicos, competições para artistas, oradores e atletas, assim como a grande maioria da arte e dos edifícios públicos, eram financiados por privados, cujas despesas em benefício da comunidade ajudavam a justificar o seu poder económico e privilégios jurídicos e provinciais.

Até mesmo o polemicista Tertuliano declarou que o mundo do século II era mais ordeiro e culto do que em épocas anteriores: "Por todo o lado existem casas, por todo o lado existem pessoas, por todo o lado a res publica, a causa do povo, por todo o lado existe vida."O declínio das cidades e da vida cívica no século IV, quando as classes abastadas já não eram capazes de financiar a obra pública, foi um dos sinais da dissolução iminente do império.

Na cidade de Roma, grande parte da população residia em edifícios de apartamentos de vários pisos (insulae), os quais ofereciam muito pouca segurança em relação a incêncios. Os equipamentos públicos, como as termas (termae), sanitários (latrinae) e fontanários de água potável, assim como o entretenimento de massas, destinavam-se principalmente ao cidadão comum que residia nas insulae.

As termas públicas tinham função higiénica, social e cultural/ Os banhos eram o foco de socialização quotidiana no fim da tarde e antes do jantar. As termas romanas têm por característica uma série diferentes salas que ofereciam banhos comunitários em três temperaturas diferentes, os quais podiam ser complementados por diversos serviços, como salas de exercício e treino, sauna, spa de exfoliação (no qual a pele era massagada com óleos, removidos com um estrígil), campo de jogos ou ainda uma piscina exterior. As termas era aquecidas por hipocausto: o pavimento estava assente sobre condutas nas quais circulava ar quente. Embora algumas termas oferecessem instalações segregadas pera homens e mulheres, o banho nu misto entre sexos era relativamente comum. As termas públicas faziam parte da cultura urbana por todas as províncias, embora a partir do fim do século IV as termas comunitárias tenham começado a dar lugar aos banhos privados. Os cristãos eram aconselhados a frequentar as termas por razões higiénicas e de saúde, e não por prazer, embora fossem também aconselhados a não frequentar os jogos públicos, os quais estavam integrados nos festivais religiosos que consideravam "pagãos".

As famílias abastadas de Roma geralmente possuíam duas ou mais habitações; uma moradia urbana (domus, plural domüs) e pelo menos uma casa de campo (villa) na província. A domus era uma moradia unifamiliar privada, a qual podia incluir termas privadas (balneum). Embora alguns dos bairros de Roma tivessem uma maior concentração de moradias abastadas, as classes superiores não viviam em enclaves segragados e pretendiam que as suas casas fossem visíveis e acessíveis. O atrium era o espaço de recepção, no qual o chefe de família (paterfamilias) recebia clientes e visitas todas as manhãs, desde amigos igualmente abastados a dependentes carenciados que recebiam esmola. Era também palco dos rituais religiosos das famílias, no qual estavam presentes altares e imagens dos respetivos ancestrais. As habitações urbanas situavam-se geralmente em caminhos públicos movimentos, pelo que os rés-do-chão voltados para a rua eram muitas vezes arrendados para lojas (tabernae). Para além de uma pequena horta, a qual nas insulae podia ser substituída por floreiras, as habitações urbanas tinham geralmente um jardim formal enquadrado por um peristilo.

Pelo contrário, a villa correspondia a uma evasão do alvoroço urbano, retratada na literatura enquanto símbolo de um estilo de vida que equilibra o apreço pela arte e cultura (otium) com o apreço pela natureza e o ciclo agrícola. As villas situavam-se geralmente em centros de produção agrícola ou em regiões balneares ao longo da costa. Idealmente, teriam uma vista sobre a região envolvente, cuidadosamente enquadrada pelo desenho arquitetónico.

O programa de reabilitação urbana de Roma, levado a cabo por Augusto, e o crescimento da população para um milhão de habitantes, foi acompanhado pela nostalgia da vida rural manifestada na arte. A poesia enaltecia o quotidiano idealizado de agricultores e pastores. O interior das habitações eram muitas vezes decorados com pinturas de jardins, fontes, paisagens, motivos vegetalistas, e animais, em particular aves e espécies marinhas, as quais eram retratadas com tal precisão que os arqueólogos contemporâneos conseguem por vezes identificar as espécies.

O governo central tinha um papel interventivo no fomento da produção agrícola. A produção de alimentos tinha a máxima prioridade na organização do território. As quintas de maior dimensão (latifundia) alcançaram uma economia de escala tal que eram capazes de suster a vida urbana e a divisão do trabalho própria de econimias avançadas. Os pequenos produtores eram beneficiados com a criação de mercados locais em cidades e centros de comércio. Em praticamente todo o território imperial se praticavam diversas técnicas agrícolas avançadas, como a rotação de culturas ou a selecção artificial, e era comum a introdução de novas espécies entre províncias, como a ervilha e a batata na Britânia.

A manutenção do fornecimento sustentado de alimentos para a cidade de Roma tornou-se um dos principais tópicos de discussão política no fim da República, época em que o Estado implementou um subsídio pago em cereais (annona) a todos os cidadãos que se registassem para tal. Este subsídio era atribuído a 200 000-250 000 homens adultos em Roma e correspondia a 33 kg por mês, o que totalizava 100 000 toneladas de trigo, proveniente principalmente da Sicília, norte de África e Egito. O subsídio tinha um custo de pelo menos 15% da receita fiscal do estado, mas melhorou significativamente as condições económicas e familiares entre as classes mais desfavorecidas, o que favoreceu também as classes mais abastadas ao impulsionar o consumo de vinho e azeite produzido nas grandes propriedades agrícolas. O subsídio de cereais tinha também um valor simbólico: não só afirmava o papel do imperador enquanto benfeitor universal, como o direito de todos os cidadãos a ter uma parte do lucro do processo de conquista. O anonna, os equipamentos públicos e os espetáculos de entretenimento mitigavam as de outra forma precárias condições de vida das classes desfavorecidas e minimizavam a agitação social. No entanto, o humorista Juvenal via a política de panem et circenses como símbolo da ausência de liberdade política na república.

 

 

Instituições políticas

 O termo latino senātus é derivado de senex, que significa "homem velho". Portanto, senado significa, literalmente, "conselho de anciãos". Sua origem possivelmente provém da estrutura tribal das comunidades do Lácio nas quais muitas vezes havia um conselho aristocrático de anciãos tribais. As famílias romanas primitivas eram denotadas gentes ou clãs que eram governadas por um patriarca, o "pai" (pater). Quando estas primeira famílias agregaram-se para formar Roma os patriarcas das principais gentes foram selecionados para participar de um conselho de anciãos (o futuro senado). Com o tempo, contudo, reconheceram a necessidade de um único líder, levando-o a eleger um rei (rex) e investir nele seu poder soberano. Quando o rei morria, o poder seria naturalmente revertido para eles. O senado tinha três responsabilidades principais: funcionava como repositório definitivo para o poder executivo, conselheiro do rei e como corpo legislativo em sintonia com o povo de Roma. Os senadores romanos reuniam-se em um templo (templum) ou qualquer outro local que havia sido consagrado por um funcionário religioso (áugure).

Durante a monarquia a mais importante função do senado foi a de selecionar novos reis. O período entre a morte de um rei e a eleição do próximo era conhecida como interregno. Quando um rei morria, um membro do senado (o inter-rei) indicava um candidato para substituí-lo. No primeiro interregno, ocorrido após o sumiço de Rômulo, o senado, que então era composto por cem homens, dividiu-se em dez decúrias, cada uma regida por um decurião que exerceu a função de inter-rei por cinco dias. Por um ano os decúrios alternaram-se no poder até que o novo rei foi aclamado. Após o senado dar sua aprovação inicial do candidato, ele era formalmente eleito pelo povo e, em seguida, receberia a aprovação final do senado. Assim, apesar do rei ser oficialmente eleito pelo povo, efetivamente a decisão era do senado. O mais significativo papel do senado além das eleições reais era a de conselho consultivo do rei. Apesar do rei não estar limitado pelo conselho senatorial, o crescente prestígio do senado fez seu conselho cada vez mais imprudente. Tecnicamente, o senado poderia fazer leis, apesar de que seria incorreto ver os decretos do senado como legislação em sentido moderno. Apenas o rei poderia decretar novas leis, embora muitas vezes envolvesse tanto o senado quanto a assembleia curial (assembleia popular) no processo. No entanto, o rei era livre para ignorar qualquer decisão que o senado tivesse aprovado.

 

Assembleias legislativas

 As assembleias legislativas foram as principais instituições. Uma delas, a assembleia das cúrias, embora tivesse alguns poderes legislativos, possuía apenas direito de ratificar simbolicamente decretos emitidos pelo rei. As funções de outra, a "Assembleia calada" (comitia calata), eram puramente religiosas. Nesse período todos os cidadãos de Roma, ou seja, indivíduos em idade militar (até 45 anos), eram divididos num total de 30 cúrias, as unidades básicas de divisão nas duas assembleias populares. Os membros de cada cúria votariam, e aí a maioria determinava como que a cúria votaria antes da assembleia.

A assembleia das cúrias (comitia curiata) foi a única assembleia popular com algum significado político durante o Reino de Roma. O rei presidia a assembleia, e submetia decretos para a assembleia ratificar. Um inter-rei presidia a assembleia durante os períodos intercalares entre reis. Após a seleção de um novo rei e a aprovação inicial do senado ser concebida, o inter-rei realizava a eleição formal antes da assembleia das cúrias. O novo rei interpretava os auspícios (presságios dos deuses), e caso estes fossem favoráveis, eram concedidos poderes legais (a lex curiata de imperio) ao candidato. Nas Calendas (primeiro dia do mês) e nas Nonas (quinto ou sétimo dia do mês), esta assembleia se reunia para ouvir anúncios. Apelações ouvidas pela assembleia curial muitas vezes tratavam de questões relativas ao direito familiar.

Durante dois dias fixos na primavera, agendava-se a assembleia para testemunhos de vontades e adorações. Todas as outras reuniões não tinham datas pré-fixadas e eram realizadas conforme necessário. Ela também tinha jurisdição sobre a admissão de novas famílias para uma cúria, a transferência de família entre duas cúrias, bem como a transferência de indivíduos plebeus para o estado patrício (ou vice-versa), ou a restauração da cidadania a um indivíduo. A assembleia geralmente decidia tais questões sob a presidência de um pontífice máximo. Uma vez que a assembleia era principalmente uma assembleia legislativa, era (teoricamente) responsável por ratificar leis. No entanto, a rejeição de tais leis pela assembleia não impedia sua promulgação. Em algumas ocasiões a assembleia das cúrias reafirmou a autoridade legal de um rei, e por vezes ratificou a decisão de ir para a guerra.

A Assembleia calada (comitia calata) foi a mais antiga assembleia romana. Reunia-se no Capitólio e era convocada pelas assembleias das cúrias e/ou das centúrias. A assembleia tinha a função de inaugurar o rei das coisas sagradas (rex sacrorum) ou qualquer flâmine ou vestal. Ocasionalmente o povo era convocado para as reuniões que tratavam casos como o detentatio sacrorum, ou seja, situações onde um indivíduo renunciava o culto de seu gente e, através da adoção, prática muito corriqueira com finalidade de estabelecer-se laços entre os gentes, adotava o culto de seu novo gente. o povo tinha participação nominal na assembleia.

 

Magistraturas executivas

 Durante o reino de Roma, o rei era a principal magistratura executiva. Ele era o chefe executivo, sumo sacerdote, chefe legislador, juiz supremo, e comandante em chefe do exército. Seus poderes repousavam na lei e precedência legal, e ele só poderia receber esses poderes através do processo político de uma eleição democrática. Na prática, ele não tinha restrições reais em seu poder. Quando rebentava uma guerra, ele tinha a competência exclusiva para organizar as tropas, selecionar líderes para o exército, e conduzir a campanha como bem entendesse. Ele controlava todos os bens em poder do Estado, tinha a competência exclusiva para dividir a terra e os espólios de guerra, era o principal representante da cidade na relação com os deuses ou os líderes de outras comunidades, e podia decretar unilateralmente qualquer nova lei. De acordo com o historiador Salústio, o grau de autoridade legal (imperium) detido pelo rei romano era conhecido como legitimum imperium. Isso provavelmente significa que a única restrição sobre o rei era a mos maiorum. Isso, por exemplo, sugere (mas não exige) que ele deveria consultar o senado antes de tomar decisões.

Enquanto o rei podia declarar guerra unilateralmente, por exemplo, ele normalmente preferia ter essas declarações ratificadas pela assembleia popular. Além disso, ele normalmente não decidia questões que tratavam do direito familiar romano, antes deixava a assembleia popular decidir essas questões. Enquanto o rei tinha poder absoluto sobre os julgamentos criminais e civis, provavelmente ele só atuou em processos em seu estágio inicial (in iure), encaminhando em seguida o caso para um de seus assistentes (um juiz; em latim: iudex) para decisão. Nos casos penais mais graves, o rei podia remeter o processo para o povo, reunido em assembleia popular, para julgamento. Além disso,o rei costumava receber consentimento dos outros sacerdotes antes de introduzir novas divindades.

Às vezes, ele apresentava seus decretos tanto à assembleia popular quanto ao senado para uma ratificação cerimonial, mas a rejeição de seus decretos não impedia a promulgação dos mesmos. O rei escolhia vários oficiais para ajudá-lo e concedia unilateralmente os seus poderes. Quando o rei deixava a cidade, um prefeito urbano (praefectus urbi) presidia a cidade em seu lugar. O rei também tinha dois questores como assistentes gerais, enquanto vários outros oficiais, os duúnviros perduliões (duumviri perduellionis), auxiliavam-o durante os casos de traição. Na guerra, o rei comandava ocasionalmente apenas a infantaria, e delegava o comando da cavalaria para um de seus guarda-costas pessoais, o tribuno dos céleres (tribunus celerum). Segundo algumas teorias, a partir do século VI a.C., com a decadência do sistema monárquico, os reis foram substituídos por mestres do povo (magistri populi) vitalícios (ditador) na conduta executiva.

 

Reis romanos

As crônicas tradicionais, que chegaram até a atualidade através de autores como Tito Lívio, Plutarco, Dionísio de Halicarnasso, etc., contam que houve uma sucessão de sete reis. A cronologia tradicional, narrada por Marco Terêncio Varrão, mostra que foram 243 anos de duração total para estes reinados, isto é, há uma média de 35 anos por reinado (muito maior que qualquer dinastia documentada), ainda reavaliada atualmente, desde o trabalho de Barthold Georg Niebuhr. Os gauleses, liderados por Breno, saquearam Roma após a vitória na Batalha do Ália em 390/387 a.C., de forma que todos os registros históricos da cidade foram destruídos, incluindo aqueles de fases mais antigas. Assim, as fontes posteriores, referentes ao período mais antigo, têm de ser analisadas com cautela, por terem sido escritas séculos depois dos eventos.

Os reinados dos primeiros monarcas levantam grandes dúvidas aos historiadores, devido à sua grande duração média e ao fato de alguns parecerem estar arredondados em torno dos 40 anos de duração. Este dado curioso, que se destaca ainda mais quando comparado com os reinados da atualidade, em que a esperança de vida é maior, era explicado nas tradições romanas devido a que a maioria dos reis havia sido parente de seu predecessor. Não obstante, é mais provável que somente os últimos reis tenham existido realmente, e por enquanto ainda não foram descobertas evidências históricas referentes aos primeiros.

 

 

Rômulo

 Rômulo foi não só o primeiro rei de Roma, como também seu fundador, junto a seu gêmeo Remo. No ano 753 a.C., ambos começaram a construir a cidade junto ao monte Palatino[59], quando, segundo a lenda, Rômulo matou Remo por ter atravessado sacrilegamente o pomério.[60] Após a fundação da urbe (cidade), Rômulo convidou criminosos, escravos fugidos e auxiliares para darem auxílio na nova cidade, chegando assim a povoar cinco das sete colinas de Roma. Para conseguir esposas para seus cidadãos, Rômulo convidou os sabinos a um festival, onde raptou as mulheres sabinas e as levou a Roma. Após a conseguinte guerra com os sabinos, Rômulo uniu os sabinos e os romanos sob o governo de uma diarquia junto com o líder sabino Tito Tácio.

Rômulo dividiu a população de Roma entre homens fortes e aqueles não aptos para combater. Os combatentes constituíram as primeiras legiões romanas; embora o resto tenha se convertido em plebeus de Roma, Rômulo selecionou cem dos homens de linhagem mais alta como senadores. Estes homens foram chamados pais e seus descendentes seriam os patrícios, a nobreza romana. Após a união entre romanos e sabinos, Rômulo agregou outros cem homens ao senado. Sob o reinado de Rômulo se estabeleceu também a instituição dos áugures como parte da religião romana, assim como a assembleia das cúrias. Rômulo dividiu o povo de Roma em três tribos: romanos (ramnes), sabinos (tícios) e o resto (lúceres). Cada tribo elegia dez cúrias (comunidade de varões), fornecendo também 100 cavaleiros (celeres) e 1000 soldados de infantaria (milites) cada uma, formando assim a primeira legião de 300 ginetes e 3 000 infantes; ocasionalmente podia convocar uma segunda legião em caso de urgência. Estes contingentes tribais eram comandados pelos tribunos militares (tribuni militum) e tribunos de cavalaria (tribuni celerum).

Depois de 38 anos de reinado, Rômulo havia travado numerosas guerras, estendendo a influência de Roma por todo o Lácio e outras áreas circundantes. Pronto seria recordado como o primeiro grande conquistador e como um dos homens mais devotos da história de Roma. Após sua morte aos 54 anos de idade, foi divinizado como o deus da guerra Quirino, honrado não só como um dos três deuses principais de Roma.

 

Numa Pompílio

 Numa Pompílio, de origem sabina, foi o sucessor de Rômulo. Relutante quanto ao cargo, foi convencido por seu pai com a alegação de que estaria servindo a vontade dos deuses. Recordado por sua sabedoria, seu reinado foi marcado pela paz e prosperidade. Numa reformou o calendário romano, ajustando-o para o ano solar e lunar, adicionando também os meses de janeiro e fevereiro até completar os doze meses do novo calendário. Instituiu numerosos rituais religiosos romanos (p. ex. a Agonália) e designou novos sacerdócios: os sálios (salii) para adorar Marte e um flâmine maior (flamen maioris) como sacerdote supremo de Quirino, o flâmine quirinal (flamen quirinalis). Organizou o território circundante de Roma em distritos, para uma melhor administração, e repartiu as terras conquistadas por Rômulo entre os cidadãos, organizando a cidade em grêmios e ofícios.

Numa foi recordado como o mais religioso dos reis, mesmo acima do próprio Rômulo. Sob seu reinado se erigiram templos a Vesta e Jano, se consagrou um altar no Capitólio ao deus da fronteira Término, e se organizaram os flâmines, as vestais e os pontífices de Roma, assim como o Colégio de Pontífices. A tradição conta que durante o governo de Numa um escudo de Júpiter caiu do céu com o destino de Roma escrito nele. O rei ordenou fazer onze cópias do mesmo, que foram reverenciadas como sagradas pelos romanos. Como homem bondoso e amante da paz, Numa semeou ideias de piedade e de justiça na mentalidade romana. Durante seu reinado, as portas do Templo de Jano estiveram sempre fechadas, como mostra de que não havia empreendido nenhuma guerra ao longo de seu mandato. Após 43 anos de reinado, a morte de Numa ocorreu de forma pacífica e natural.

 

Túlio Hostílio

 Túlio Hostílio, de origem latina, foi o sucessor de Numa Pompílio. Muito parecido a Rômulo quanto a seu caráter guerreiro, era completamente oposto a Numa em sua falta de atenção com os deuses. Túlio fomentou várias guerras contra Alba Longa, Fidenas e Veios, que granjearam a Roma novos territórios e maior poder. Foi durante o reinado de Túlio que Alba Longa foi completamente destruída, sendo toda a população escravizada e enviada a Roma. Desta forma, Roma se impôs à sua cidade materna como poder hegemônico do Lácio.[76] Apesar de sua natureza beligerante, Túlio Hostílio selecionou um terceiro grupo de indivíduos que chegaram a pertencer à classe patrícia de Roma, eleito entre todos aqueles que haviam chegado a Roma buscando asilo e uma nova vida. Também erigiu um novo edifício para albergar o senado, a Cúria Hostília.

Em seu reinado o rei envolveu-se em tantas guerras que descuidou sua atenção das divindades, o que levou, segundo sustentam as lendas, a que uma praga se abatesse sobre Roma, que afetou muitos romanos, incluindo o próprio rei. Quando Túlio solicitou ajuda a Júpiter, o deus respondeu como um raio que reduziu a cinzas tanto o monarca como sua residência. Seu reinado chegou ao fim após 32 anos de duração.

 

Anco Márcio

 Com a morte de Túlio Hostílio, os romanos elegeram o sabino Anco Márcio, um personagem pacífico e religioso. Era neto de Numa Pompílio e, como seu avô, apenas estendeu os limites de Roma, lutando em defesa dos territórios romanos quando foi preciso. Durante seu reinado fortificou o monte Janículo, na margem ocidental do rio Tibre, para assim garantir maior proteção à cidade por este flanco, também construindo a primeira ponte de Roma, a Ponte Sublícia, assim como a primeira prisão romana, a Prisão Mamertina. Outras das obras do rei foram a construção do porto romano de Óstia na costa do Tirreno, assim como as primeiras fábricas de salga, aproveitando a rota fluvial tradicional do comércio de sal (via Salária) que abastecia os agricultores sabinos.

A extensão da cidade de Roma foi incrementada devido à diplomacia exercida por Anco, permitindo a união pacífica de várias aldeias menores através de alianças. Graças a este método, conseguiu o controle dos latinos, realojados no Aventino, consolidando assim a classe plebeia de Roma. Todavia, ainda são evidentes os conflitos entre romanos e latinos durante seu reinado.[80] Após 24 anos de reinado, morreu possivelmente de morte natural, como seu avô, sendo recordado como um dos grandes pontífices de Roma. Foi o último dos reis latino-sabinos de Roma.

 

Tarquínio Prisco

 Tarquínio Prisco foi o quinto rei de Roma, e o primeiro de origem etrusca, presumivelmente de ascendência coríntia. Após emigrar a Roma, obteve o favor de Anco, que o adotou como seu filho. Ao ascender ao trono, combateu em várias guerras vitoriosas contra sabinos e etruscos, dobrando assim o tamanho de Roma e obtendo grandes tesouros para a cidade.[82] Uma de suas primeiras reformas foi adicionar cem novos membros ao senado, procedentes das tribos etruscas conquistadas, pelo que o número de senadores ascendeu a um total de trezentos.[83] Também ampliou o exército, duplicando o número de efetivos até 6 000 infantes e seiscentos ginetes.[84] Além disso, a ele é creditada a criação dos Jogos Romanos.

Tarquínio Prisco utilizou o grande butim obtido em suas campanhas militares para construir grandes monumentos em Roma, dos quais destaca-se o grande sistema de esgoto na cidade, a Cloaca Máxima (cujo fim era drenar as águas de pequenos córregos que tendiam a estagnar nos vales situados entre as colinas de Roma para o rio Tibre), o Fórum Romano e o Circo Máximo, um grande estádio que albergava carreiras de cavalos e que contava com um templo-fortaleza sobre a colina do Capitólio, consagrado a Júpiter.[85] Tarquínio foi assassinado após 38 anos de reinado pelos filhos de seu predecessor, Anco Márcio. Seu reinado é recordado por haver introduzido os símbolos militares romanos e os cargos civis, assim como pela celebração do primeiro triunfo romano.

 

Sérvio Túlio

Sérvio Túlio, genro de Tarquínio Prisco, assumiu o trono e, como seu predecessor, travou várias guerras vitoriosas contra os etruscos. O butim adquirido foi utilizado para o financiamento das primeiras muralhas que cercavam as sete colinas romanas sobre o pomério, as chamadas muralhas servianas, assim como um templo dedicado a Diana na colina do Aventino.

No âmbito bélico Sérvio Túlio introduziu novas táticas militares, aos moldes etruscos e gregos, e empenhou-se em tornar o exército romano mais disciplinado e basicamente composto de infantaria pesada, a exemplo das falanges hoplitas gregas. Seu exército, composto por 6 000 infantes e 600 ginetes, era formado de homens com quantidade mínima de bens chamados adsíduos (adsidui), de modo a diferenciá-los dos proletários (proletarii), os pobres da sociedade que compunham a infra classem ("classe inferior") e que não tinham direito a participar do exército.[90] No âmbito social desenvolveu uma nova constituição para os romanos, com maior atenção às classes cidadãs. Instituiu o primeiro censo da história, dividindo a população de Roma em cinco classes censitárias, criando também a Assembleia das centúrias. Utilizou também o censo para dividir a cidade em quatro "tribos" urbanas (tribus urbanae), baseadas em sua localização espacial dentro da cidade, e o restante do território romano em 16 tribos rurais (tribus rusticae) estabelecendo a assembleia tribal (comitia tributa).

As reformas de Sérvio supuseram uma grande mudança na vida romana: o direito a voto foi estabelecido com base na riqueza econômica, pelo qual grande parte do poder político permaneceu reservado às elites romanas. Contudo, no tempo de Sérvio, as classes mais desfavorecidas foram gradualmente favorecidas, para desta forma obter maior apoio por parte dos plebeus, razão pela qual sua legislação pode definir-se como insatisfatória para a classe patricial. O grande reinado de 44 anos de Sérvio Túlio terminou com seu assassinato em uma conspiração urdida por sua própria filha Túlia e seu marido Tarquínio, seu sucessor no trono.

 

 

Tarquínio, o Soberbo

 O sétimo e último rei de Roma foi Tarquínio, o Soberbo. Filho de Prisco e genro de Sérvio, Tarquínio também era de origem etrusca. Usou a violência, o assassinato e o terror para manter o controle sobre Roma como nenhum rei anterior havia utilizado, revogando inclusive muitas das reformas constitucionais que haviam estabelecido seus predecessores. Sua melhor obra para Roma foi a finalização do templo de Júpiter, iniciado por seu pai Prisco;[93] chamou o escultor etrusco Vulca de Veios para produzir a estátua de Júpiter do templo.

Tarquínio aboliu e destruiu todos os santuários e altares sabinos da rocha Tarpeia, enfurecendo desta forma o povo romano.[93] O ponto crucial de seu reinado tirânico sucedeu quando permitiu a violação de Lucrécia, uma patrícia romana, por seu filho Sexto Tarquínio. Um parente de Lucrécia e sobrinho do rei Lúcio Júnio Bruto (antepassado de Marco Júnio Bruto), convocou o senado que decidiu a expulsão de Tarquínio no ano 509 a.C. Tarquínio pode ter recebido então ajuda do lars Porsena que, não obstante, ocupou Roma para seu próprio benefício.[e] Tarquínio fugiu em seguida para a cidade de Túsculo e posteriormente para Cumas, onde morreria no ano 495 a.C.[95] Esta expulsão supostamente pôs fim à influência etrusca tanto em Roma como no Lácio e levou ao estabelecimento de uma constituição republicana.

Após a expulsão de Tarquínio, o senado decidiu abolir a monarquia, convertendo Roma em uma república no ano 509 a.C.[97] Lúcio Júnio Bruto e Lúcio Tarquínio Colatino, sobrinho de Tarquínio e viúvo de Lucrécia, se converteram nos primeiros cônsules[p] do novo governo de Roma.[98] Neste mesmo ano, durante a embaixada de membros da família real em Roma, um estratagema conhecido como Conspiração Tarquiniana foi planejado por patrícios e membros do senado que eram apoiantes da monarquia tombada; entre os participantes do golpe estavam os filhos de Bruto, Tito Júnio Bruto e Tibério Júnio Bruto.[99] O estratagema, contudo, mostrou-se falho, e os conspiradores foram condenados a morte.

 

 

Fim da Monarquia e começo da República

 O período entre a fundação de Roma e a expulsão de seu último rei durou dois séculos e meio. Tendo começado, como outras cidades do Lácio, como um simples refúgio de pastores, o assentamento no Palatino expandiu-se até dominar todo o círculo das sete colinas. Lentamente, em paralelo com esse crescimento interno, uma sucessão de conquistas levou as fronteiras às duas margens do Tibre, até ao mar Tirreno, a uma longa faixa do Lácio, desde Óstia até Circeios, e desde a fronteira sabina e às terras altas dos volscos. Devido à política liberal, houve um constante fluxo de novos colonizadores, que trouxeram força e conhecimentos à comunidade. Com o passar do tempo, a presença dessa nova população, fora do círculo privilegiado dos fundadores, trouxe problemas que foram superados e contribuíram para a formação de legisladores e estadistas entre as classes dirigentes. Assim, após mais de dois séculos de existência, em 509 a.C., terminou o período real e a República Romana inicia-se sem que se verifique qualquer ruptura violenta das tradições.

Um dos principais fatores que sustentam a transição gradual é o grande contingente etrusco que habitava Roma no fim do reino. Um dos povos que mais influenciou Roma neste período, importaram para a cidade diversos elementos como o fasces (feixe de varas e machados que simbolizava o imperium dos reis), os jogos, os triunfos, certas práticas cultuais e cerimoniais, as túnicas, os deuses e as artes (arquitetura, cerâmica de búcaro, artes decorativas). Em 509 a.C., quando o senado destitui Tarquínio do trono e em seu lugar elegeu dois magistrados, inicialmente chamados de pretores e depois de cônsules, não se verifica uma expulsão maciça dos etruscos; tal característica da Roma arcaica de absorver os imigrantes também é atestada em muitas cidades etruscas onde pode-se há contingentes gregos, latinos e itálicos.[94] Seja como for, com o fim do poder dos monarcas, os cônsules restauraram os trezentos membros do senado que haviam sido reduzidos sob Tarquínio e iniciaram seu mandato sob supervisão dos senadores que durante a república adquiriram plenos poderes de decisão dos assuntos do Estado e, até o advento do império, seriam a força atuante na política da Roma Antiga.

Os últimos reis romanos, ao contrário de seus antecessores, basearam sua posição no apoio popular e desafiaram o poder e os privilégios dos aristocratas. Para tanto, tal como os tiranos gregos, levaram a cabo uma ambiciosa política exterior, fomentaram as artes e empreenderam grandes projetos arquitetônicos. Além disso, tentaram legitimar sua posição atribuindo-se um especial e pessoal favor dos deuses (Sérvio Túlio alegou parentesco com Fortuna) e adotaram um governo de caráter populista; autores como Tim Cornell afirmam que as reformas de Sérvio Túlio se enquadram nesse âmbito. O caráter populista e aristocrático do regime dos últimos reis é confirmado pela posterior atitude romana com respeito à autoridade monárquica. Na República, a simples ideia de rei provocava profunda repulsa, uma vez que ia em desencontro com a ideologia aristocrática da classe dominante. Assim, dentre os membros da oligarquia rural, havia o horror de que um deles tentasse situar-se acima de seus iguais ao defender as necessidades das classes baixas e por isso ganhasse o apoio delas; Espúrio Mélio, Marco Mânlio Capitolino e os irmãos Graco foram executados pela acusação de monarquismo (regnum).

 

 

 

 

A REPÚBLICA ROMANA (509 A.C.-27 A.C)

 

 

República Romana foi um período da antiga civilização romana onde o governo operou como uma república. Começou com a queda da monarquia, tradicionalmente datada cerca de 509 a.C., e sua substituição pelo governo chefiado por dois cônsules, eleitos anualmente pelos cidadãos e aconselhados pelo senado. Uma complexa constituição gradualmente foi desenvolvida, centrada nos princípios de uma separação dos poderes e de freios e contrapesos. Exceto em tempos de terrível emergência nacional, ofícios públicos foram limitados por um ano, de modo que, em teoria ao menos, nenhum indivíduo exercesse poder absoluto sobre seus concidadãos.

A sociedade foi hierárquica. A evolução da constituição da República Romana foi pesadamente influenciada pela luta entre os patrícios, aristocratas proprietários de terra, que traçaram sua ancestralidade no início da história do Reino de Roma, e os plebeus, os cidadãos muito mais numerosos. Com o tempo, as leis que deram aos patrícios direitos exclusivos de acesso aos mais altos ofícios foram revogadas e enfraquecidas, e as principais famílias plebeias tornaram-se membros plenos da aristocracia. Os líderes da república desenvolveram uma forte tradição e moralidade que exigia serviço público e patrocínio na paz e na guerra, tornando os sucessos políticos e militares indissociáveis.

Durante os primeiros dois séculos de sua existência a república expandiu-se através de uma combinação de conquista e aliança, da Itália central para a península Itálica inteira. Pelo século seguinte, incluía o Norte da África, a península Ibérica, Grécia, e o que é hoje o sul da França. Dois séculos após isso, em direção ao fim do século I a.C., incluía o resto da moderna França, e muito do Mediterrâneo Oriental. Por esta altura, apesar das restrições tradicionais e legais da república contra qualquer aquisição individual de poderes políticos permanentes, a política foi dominada por um pequeno número de líderes romanos, com suas alianças pontuadas por uma série de guerras civis. O vencedor de uma destas guerras civis, Otaviano (mais tarde conhecido como Augusto) reformou a república como um principado, com ele mesmo como o "primeiro cidadão" (príncipe; princeps). O senado continuou a sentar e debater. Magistrados anuais foram eleitos como antes, mas as decisões finais em assuntos de política, guerra, diplomacia e nomeações foram privilégios de Augusto através de seu manejo de um número de separados poderes simultaneamente. Um de seus muitos títulos foi imperator do qual o título "imperador" derivou, e é costumeiramente chamado o primeiro imperador romano.

A República Romana nunca foi restaurada, mas também nunca foi formalmente abolida (o termo res publica continuou a ser usado para referir-se ao aparato do Estado), assim a data exata da transição para o Império Romano é um assunto de interpretação. Historiadores variadamente propuseram a nomeação de Júlio César como ditador perpétuo em 44 a.C., a derrota de Marco Antônio na Batalha de Ácio em 31 a.C., e a concessão de poderes extraordinários para Otaviano sob o primeiro assentamento e sua adoção do título de Augusto em 27 a.C., como o evento que define o fim da república.

 

História política

 

Era patrícia (509–367 a.C.)

 

De acordo com a lenda, Tarquínio, o Soberbo foi derrubado em 509 a.C. por um grupo de nobres liderado por Lúcio Júnio Bruto. Diz-se que Tarquínio fez uma série de tentativas para retomar o trono, incluindo a Conspiração Tarquiniana, a guerra com Veios e Tarquinia e finalmente a guerra entre Roma e Clúsio, todas infrutíferas. A monarquia histórica, como a lenda sugere, foi provavelmente derrubada rapidamente, mas as mudanças constitucionais que ocorreram imediatamente após possivelmente não foram tão extensas como sugerido. A mais importante mudança talvez seja do chefe executivo. Antes, um rei era eleito pelos senadores para um mandato vitalício. Agora, dois cônsules eram eleitos pelos cidadãos para um mandato anual.[5] Cada cônsul verificaria seu colega, e o mandato limitado deles possibilitava que fossem acusados se abusassem dos poderes de seu ofício. Os poderes políticos consulares, quando exercidos conjuntamente, não foram diferentes daqueles do antigo rei.

Em 494 a.C., a cidade estava em guerra com duas tribos vizinhas. Os soldados plebeus recusaram-se a marchar contra o inimigo, e em vez disso se separaram para o monte Aventino. Os plebeus exigiram o direito de eleger seus próprios oficiais. Os patrícios concordaram, e eles retornaram ao campo de batalha. Os plebeus chamaram seus novos oficiais "tribunos da plebe". Os tribunos teriam dois assistentes, chamados "edis da plebe". De 375 a.C. a 371 a.C., a república experimentou uma crise constitucional durante a qual os tribunos da plebe usaram seus votos para impedir a eleição de magistrados seniores. Em 367 a.C., uma lei foi aprovada, na qual exigiu-se a eleição de ao menos um edil plebeu cada ano. Em 443 a.C., o censor foi criado, e em 366 a.C., o pretor. Também em 366 a.C., edil curul foi criado.

Logo após a fundação da república, a assembleia das centúrias tornou-se a principal assembleia legislativa. Nesta assembleia, magistrados foram eleitos, e leis foram aprovadas.[9] Durante o século IV a.C., uma série de reformas ocorreu, especialmente depois das sucessivas secessões da plebe. O resultado delas foi que qualquer lei aprovada pela assembleia da plebe teria toda a força da lei.[10] Isto deu aos tribunos, que presidiam a assembleia da plebe, um caráter positivo pela primeira vez, uma vez que, antes destas leis, o único poder que mantinham foi do veto.

 

Conflitos das ordens (367–287 a.C.)

 

Os plebeus viviam uma crise em decorrência do endividamento. De acordo com Tito Lívio, essa crise foi acelerada após o saque de Roma pelos gauleses ca. 390-387 a.C. Contínuos protestos eclodiram, dentro os quais o liderado por M. Mânlio que, embora patrício, aliou-se aos plebeus, cujas dívidas ajudou a pagar com sua fortuna. Ao longo do século os distúrbios sociais tornaram-se frequentes e desencadearam desordens, como aquelas de 378 a.C., e a anarquia de 370 a.C. Em decorrência do crescente descontentamento da classe plebeia, uma série de leis foram promulgadas com a finalidade de tratar a situação. A lei Licínia Sêxtia de 367 a.C. serviu para acelerar o pagamento de dívidas e impôs um limite à acumulação de terras públicas (ager publicus) por cada pater familias, bem como o número e ovelhas e gado que podia pastar nelas enquanto outras, promulgadas em 357, 352 e 347 a.C., tentaram reduzir e regularizar os tipos de juros. Pouco depois, em 342 a.C., a lei Genúcia determinou a ilegalidade de empréstimos a juros e em 326 a.C., a escravidão por dívidas (nexo), foi suprimida.

Após o edil plebeu ter sido criado, os patrícios criaram o edil curul. Depois do consulado ter sido aberto aos plebeus em 367 a.C., os plebeus foram capazes de manter tanto a ditadura (356 a.C.) como a censura (351 a.C.). Plebiscitos de 342 a.C. colocaram limites nos cargos políticos; um indivíduo podia manter apenas um ofício de cada vez, e dez anos deviam decorrer entre o fim de seu mandato oficial e sua reeleição. Em 337 a.C., o primeiro pretor plebeu foi eleito. Durante estes anos, os tribunos e os senadores ficaram cada vez mais próximos. O senado percebeu a necessidade de usar os oficiais plebeus para atingir seus objetivos. Para conquistar os tribunos, os senadores deram a eles uma grande quantidade de poder e os tribunos começaram a se sentir sujeitados ao senado. Com a aproximação dos senadores e tribunos, os senadores plebeus foram frequentemente capazes de assegurar o tribunato para membros de suas próprias famílias. Com o tempo, o tribunato tornou-se um trampolim para cargos mais altos.

Em meados do século IV a.C., a assembleia da plebe promulgou a lei Ovínia. Durante o início da república, apenas cônsules nomeavam novos senadores. A lei Ovínia, contudo, deu este poder aos censores. Ela também exigiu que o censor nomeasse qualquer magistrado recém-eleito para o senado. Por este momento, os plebeus já estavam mantendo um número significativo de cargos magisteriais. Assim, o número de senadores plebeus provavelmente aumentou rapidamente. Contudo, permaneceu difícil para um plebeu entrar no senado se ele não era de uma família de políticos conhecidos, como a nova aristocracia plebeia emergente.[20] A antiga nobreza existiu pela força da lei, porque apenas patrícios foram autorizados a ficar em altos cargos. A nova nobreza existiu devido à organização da sociedade. Como tal, apenas uma revolução poderia derrubar esta nova estrutura.

Por 287 a.C., a condição econômica do plebeu médio tornou-se miserável. O problema parece ter sido centrado em torno da dívida generalizada. Os plebeus exigiram assistência, mas os senadores se recusaram a deliberar a situação deles. O resultado foi a última secessão plebeia. Os plebeus se separaram para o monte Janículo. Para o fim da secessão, Quinto Hortênsio foi nomeado ditador e uma lei (a lei Hortênsia), que pôs fim à exigência a qual os senadores patrícios deviam concordar antes que qualquer projeto de lei pudesse ser considerado pela assembleia da plebe. Esta não foi a primeira lei a exigir que um ato da assembleia popular tivesse a mesma força da lei. A assembleia popular adquiriu este poder durante uma modificação da original lei Valeriana em 449 a.C. O significado desta lei foi, de fato, que ela roubou dos patrícios a última arma que tinham contra os plebeus e, como resultado, o controle do Estado caiu, não para os ombros dos eleitores, mas para a nova nobreza plebeia. Os plebeus finalmente conseguiram igualdade política com os patrícios. Contudo, a condição da classe plebeia média não mudou. Um pequeno número de famílias plebeias alcançou a mesma posição que as antigas famílias aristocráticas patrícias sempre tiveram, mas os novos aristocratas plebeus tornaram-se desinteressados na condição da classe plebeia média como os antigos aristocratas patrícios tinham sempre feito.

 

Supremacia da nova nobreza (287-133 a.C.)

 

 A lei Hortênsia foi a solução da última grande questão política desta época. Nenhuma mudança política importante ocorreu entre 287 a.C. e 133 a.C. As importantes leis deste momento foram promulgadas pelo senado. De fato, os plebeus estavam satisfeitos com a posse do poder, mas não se preocuparam em usá-lo. O senado foi supremo durante este momento porque o período foi dominado por questões de política estrangeira e militar. Nas décadas finais desta era, muitos plebeus ficaram mais pobres. As longas campanhas militares forçaram os cidadãos a deixarem suas fazendas para lutar, enquanto suas propriedades caíram em desuso. A aristocracia rural começou a comprar fazendas falidas a preços promocionais. Como os preços das commodities caíram, muitos fazendeiros já não podiam mais operar suas fazendas com lucro.[28] O resultado foi a falência total de muitos agricultores. Massas de plebeus desempregados logo começaram a inundar Roma e, assim, as fileiras das assembleias legislativas. A pobreza deles geralmente levou-os a votar para a candidato que lhes oferecesse mais. Uma nova cultura de dependência estava emergindo, na qual cidadãos olhariam por qualquer líder populista por auxílio.

 

Dos Gracos a Júlio César (133–49 a.C)

 

Os Gracos

 Tibério Graco foi eleito tribuno em 133 a.C. Ele tentou aprovar uma lei que limitaria a quantidade de terra que qualquer indivíduo poderia possuir. Os aristocratas, que estavam a perder uma grande quantia em dinheiro, foram opositores ferrenhos a esta proposta. Tibério apresentou esta lei a assembleia popular, mas a lei foi vetada por um tribuno chamado Marco Otávio. Tibério então usou a assembleia popular para contestar Otávio. A ideia que um representante do povo deixaria de sê-lo quando agisse contra os desejos do povo era contra a teoria constitucional romana. Se levada à sua conclusão lógica, esta teoria removeria todas as restrições constitucionais sobre a vontade popular, e colocaria o Estado sob o controle absoluto de uma temporária maioria popular. Sua lei foi promulgada, mas Tibério foi assassinado com 300 de seus associados, quando pôs-se à reeleição para o tribunato.

O irmão de Tibério, Caio Graco, foi eleito tribuno em 123 a.C. O objetivo de Caio Graco era enfraquecer o senado e fortalecer as forças democráticas. No passado, por exemplo, o senado eliminaria rivais políticos através da criação de comissões judiciais especiais ou por meio de um senatus consultum ultimum ("decreto supremo do senado"). Ambos os dispositivos permitiam ao senado contornar os direitos ordinários devido a direitos processuais que todos os cidadãos tinham. Caio proibiu as comissões judiciais, e declarou o senatus consultum ultimum como inconstitucional. Caio então propôs uma lei que garantia cidadania a aliados italiotas. Esta última proposta não foi popular com os plebeus e ele perdeu muito de seu apoio. Ele cadidatou-se a um terceiro mandato em 121 a.C., mas foi derrotado e então morto por representantes do senado com 3 000 de seus partidários no monte Capitolino, em Roma. Embora o senado tenha mantido o controle, os Gracos fortaleceram a influência política dos plebeus.

 

Populares e optimates

 Em 118 a.C., o rei Micipsa da Numídia morreu. Foi sucedido por dois filhos legítimos, Aderbal e Hiempsal I, e um ilegítimo, Jugurta. Micipsa dividiu seu reino entre seus três filhos. Jugurta, contudo, voltou-se contra seus irmãos, matando Hiempsal I e expulsando Aderbal da Numídia. Aderbal fugiu para Roma em busca de assistência, e inicialmente ela mediou a divisão do país entre os dois irmãos. Posteriormente, Jugurta renovou sua ofensiva, levando-o a uma longa e inconclusiva guerra com os romanos. Ele também subornou vários comandantes romanos, e ao menos dois tribunos, antes e durante a guerra. Seu inimigo, Caio Mário, um legado de uma família provincial virtualmente desconhecida, retornou da guerra na Numídia e foi eleito cônsul em 107 a.C. sobre as objeções dos senadores aristocráticos. Mário invadiu a Numídia e levou a guerra a um rápido fim, capturando Jugurta no processo. A aparente incompetência do senado, e o brilho de Mário, teria sido posto em plena exibição. O partido dos populares aproveitou esta oportunidade, aliando-se com Mário.

Vários anos depois, em 88 a.C., um exército romano foi enviado para acabar com um poder asiático emergente, o rei Mitrídates VI do Ponto. O exército, contudo, foi derrotado. Um dos antigos questores de Mário, Sula, foi eleito cônsul no ano, e foi ordenado pela senado para assumir o comando da guerra contra Mitrídates. Mário, um membro do partido dos populares, fez um tribuno revogar o comando de Sula na guerra contra Mitrídates. Sula, um membro do partido aristocrático (optimates), trouxe seu exército de volta para a Itália e marchou sobre Roma. Ele estava tão nervoso com o tribuno de Mário que aprovou uma lei destinada a enfraquecer permanentemente o tribunato. Ele então retornou para sua guerra contra Mitrídates. Com sua partida, os populares sob Mário e Lúcio Cornélio Cina tomaram controle da cidade.

Sula logo fez paz com Mitrídates. Em 83 a.C., retornou para Roma, superou toda a resistência, e recapturou a cidade. Ele e seus partidários, em seguida, mataram muitos dos partidários de Mário. Sula, tendo observado os resultados violentos das reformas populares radicais, foi naturalmente conservador. Como tal, procurou fortalecer a aristocracia, e por extensão, o senado. Fez-se ditador, aprovou uma série de reformas constitucionais, demitiu-se da ditadura, e serviu um último mandato como cônsul. Morreu em 78 a.C.

 

Pompeu, Crasso e a conspiração de Catilina

 Em 77 a.C., o senado enviou um dos antigos tenentes de Sula, Cneu Pompeu Magno, para acabar com uma revolta na Hispânia. Por 71 a.C., Pompeu retornou para Roma após ter completado sua missão. Cerca do mesmo tempo, outro dos antigos tenentes de Sula, Crasso, teve que controlar a revolta de Espártaco e dos gladiadores/escravos na Itália. Após o regresso deles, Pompeu e Crasso encontraram os populares ferozmente atacando a constituição de Sula. Eles tentaram forjar um acordo com os populares. Na condição de desmantelarem os componentes mais abomináveis da constituição, ambos foram eleitos cônsules em 70 a.C.

Cerca de 66 a.C., um movimento para usar meios constitucionais, ou ao menos pacíficos, para resolver a situação de várias classes começou. Após vários fracassos, os líderes do movimento decidiram usar todos os meios que fossem necessários para realizar os objetivos deles. O movimento se uniu sob um aristocrata chamado Lúcio Sérgio Catilina. O movimento estava baseado na cidade de Fésulas, que foi um viveiro natural de agitação agrária. Os descontentes do campo estavam para avançar sobre Roma, e serem auxiliados por um levante dentro da cidade. Após assassinar os cônsules e muitos dos senadores, Catilina seria livre para aprovar suas reformas. A conspiração foi colocada em movimento em 63 a.C. O cônsul do ano, Cícero, interceptou mensagens que Catilina havia enviado numa tentativa de recrutar mais membros. Como resultado, os principais conspiradores em Roma (incluindo ao menos um cônsul anterior) foram executados por autorização (de constitucionalidade duvidosa) do senado, e o levante planejado foi interrompido. Cícero então enviou um exército, que cortou as forças de Catilina em pedaços.

O resultado mais importante da conspiração de Catilina foi que os populares tornaram-se desacreditados. Os 70 anos anteriores testemunharam uma gradual erosão dos poderes senatoriais. A natureza violenta da conspiração, em conjunção com a habilidade do senado em interrompê-la, foi importante para reparara imagem do senado.

 

Primeiro Triunvirato

 Em 62 a.C., Pompeu retornou vitorioso da Ásia. O senado, eufórico por seus sucessos contra Catilina, recusou-se a ratificar os acordos que ele havia feito. Pompeu, na verdade, tornou-se impotente. Assim, quando Júlio César retornou de seu governo na Hispânia em 61 a.C., ele achou fácil fazer um acordo. César e Pompeu, junto com Crasso, estabeleceram um acordo privado, agora conhecido como Primeiro Triunvirato. Sob o acordo, os arranjos de Pompeu seriam ratificados. César seria eleito cônsul em 59 a.C., e então serviria como governador da Gália por cinco anos. A Crasso foi prometido um consulado futuro.

César tornou-se cônsul em 59 a.C. Seu colega, Marco Calpúrnio Bíbulo, foi um aristocrata extremo. César submeteu as leis que ele tinha prometido a Pompeu para as assembleias. Bíbulo tentou obstruir a promulgação destas leis, e assim César usou meios violentos para assegurar a promulgação. César foi então feito governador de três províncias. Ele facilitou a eleição do antigo patrício Públio Clódio Pulcro para o tribunato em 58 a.C. Clódio começou a privar os inimigos senatoriais de César dos dois líderes mais obstinados deles, Catão, o Jovem e Cícero. Clódio foi um opositor de Cícero, pois o último tinha testemunhado contra ele em um caso de sacrilégio. Clódio tentou Cícero a executar cidadãos sem julgamento durante a conspiração de Catilina, resultando em um exílio auto-imposto de Cícero e o incendiamento de sua casa em Roma. Clódio aprovou uma lei que forçou Catão a liderar uma invasão do Chipre que manteria-o fora de Roma por alguns anos. Clódio também aprovou uma lei para expandir o subsídio parcial de grãos aos cidadãos para uma distribuição totalmente livre.

Clódio formou grupos armados que aterrorizaram a cidade e posteriormente começaram a atacar os seguidores de Pompeu, que em resposta fundou grupos de contra-ataque liderados por Tito Ânio Papiano Milão. A aliança política do triunvirato estava desmoronando. Domício Enobarbo correu para o consulado em 55 a.C., prometendo tomar o comando de César. Posteriormente, o triunvirato foi renovado em Luca. A Pompeu e Crasso foi prometido o consulado de 55 a.C., e o mandato de César como governador foi estendido por cinco anos. Crasso liderou uma expedição malfadada com legiões lideradas por seu filho, o tenente de César, contra o Império Parta. Isto resultou em sua derrota e morte na batalha de Carras. Finalmente, a esposa de Pompeu, Júlia, que foi filha de César, morreu no parto. Este evento cortou o último laço remanescente entre Pompeu e César. Começando no verão de 54 a.C., uma onde de corrupção política e violência varreu Roma. Este caos alcançou um clímax em janeiro de 52 a.C., quando Clódio foi assassinado em batalha por Tito Milão. Em 1 de janeiro de 49 a.C., um agente de César apresentou um ultimato ao senado. O ultimato foi rejeitado, e o senado então passou uma resolução que declarou que se César não entregasse seus exércitos até julho daquele ano, seria considerado um inimigo da república. No meio tempo, os senadores adotaram Pompeu como o nome campeão deles contra César. Em 7 de janeiro de 49 a.C., o senado aprovou um senatus consultum ultimum, que investiu Pompeu com poderes ditatoriais. O exército de Pompeu, contudo, era composto largamente de recrutas não treinados. Em 10 de janeiro, César cruzou o rio Rubicão com seu exército veterano (em violação das leis romanas) e marchou em direção a Roma. O rápido avanço de César forçou Pompeu a fugir para a Grécia. César entrou na cidade sem oposição.

 

O período de transição (49-29 a.C)

Ditadura de Júlio César

 Com Pompeu derrotado e a ordem restaurada, Júlio César queria conseguir o controle incontestável sobre o governo. Os poderes que deu a si mesmo foram mais tarde assumidos por seus sucessores imperadores. César manteve a ditadura e o tribunato, e alternou entre o consulado e o proconsulado. Em 48 a.C., César recebeu poderes tribunícios perpétuos. Isto fez sua pessoa sacrossanta, deu a ele o poder do veto no senado, e permitiu-lhe dominar a assembleia popular. Em 46 a.C., César recebeu poderes censoriais,[54] que usou para preencher o senado com seus próprios partidários. César então elevou a composição do senado para 900. Isto roubou o prestígio da aristocracia senatorial, e tornou-a cada vez mais subserviente a ele. Enquanto as assembleias continuaram a se encontrar, ele apresentou todos os candidatos para eleição e todas as leis para promulgação. Assim, as assembleias tornaram-se impotentes e foram incapazes de opôr-se a ele.

Próximo do fim de sua vida, César começou a se preparar para uma guerra contra o Império Parta. Uma vez que sua ausência em Roma limitaria sua habilidade de instalar seus próprios cônsules, ele aprovou uma lei que o permitiu nomear todos os magistrados em 43 a.C., e todos os cônsules e tribunos em 42 a.C. Isto transformou os magistrados de representantes do povo para representantes do ditador.

César foi assassinado em 15 de março de 44 a.C. O assassinato foi liderado por Caio Cássio e Marco Bruto. Muitos dos conspiradores foram senadores, que tinham uma variedade de motivações econômicas, políticas e pessoais para realizar o assassinato. Muitos estavam receosos que César logo ressuscitaria a monarquia e declararia a si próprio rei. Outros temiam perda de propriedade e prestígio com César realizando reformas agrárias em favor das classes sem-terra. Virtualmente todos os conspiradores deixaram a cidade após a morte de César com receio de retaliação. A guerra civil que se seguiu destruiu o que havia sido deixado da república. Apesar das facções terem redes de espionagem fortes, isso não ajudou Júlio Cesar a evitar o atentado efetuado pelo senado.

 

Segundo Triunvirato e ascensão de Otaviano

 Após o assassinato, Marco Antônio formou uma aliança com o filho adotivo e sobrinho-neto de César, Caio Otaviano. Junto com Marco Lépido, formaram uma aliança conhecida como segundo Triunvirato. Mantiveram poderes quase idênticos aos poderes que César havia mantido sob sua constituição. Como tal, o senado e as assembleias permaneceram impotentes, mesmo após César ter sido assassinado. Os conspiradores foram então derrotados na batalha de Filipos em 42 a.C. Posteriormente, contudo, Antônio e Otaviano lutaram um contra o outro numa última batalha. Antônio foi derrotado na batalha de Ácio em 31 a.C., e cometeu suicídio com seu amor, Cleópatra. Em 29 a.C., Otaviano retornou para Roma como um mestre incontestado do império e depois aceitou o título de Augusto - "Exaltado".

Em 27 a.C., após devolver ao senado a autoridade para com as legiões e as províncias, Otaviano recebeu o título de Augusto e príncipe (princeps), ou seja, de primeiro cidadão. Mesmo depois de ter recebido várias recusas de outros títulos por parte de Otaviano, conhecido a partir de então como Augusto, tais como o de ditador e o de cônsul vitalício, o senado concedeu-lhe o poder de imperium vitalício. Este último cedia a Augusto o controle sobre todas as legiões existentes na república, elevando-o ao posto de imperador, apesar de as instituições republicanas romanas continuarem existindo.

 

 

IMPÉRIO ROMANO (27 A.C – 476 D.C)

 

O império surgiu como consequência da desagregação da República e a consequente expansão romana. As conquistas permitiram o fortalecimento dos generais e consequentemente a disputa pelo poder culminando nos triunviratos.Segundo alguns historiadores, a população sob o domínio de Roma aumentou de 4 milhões em 250 a.C. para 60 milhões em 30 a.C., o que ilustra como Roma teve o seu poder ampliado nesse período, de 1,5% da população mundial, para 25%.

 Nos últimos anos do século II a.C., Caio Mário transformou o exército romano num exército profissional, no qual a lealdade dos soldados de uma legião era declarada ao general que a liderava e não à sua pátria. Este facto, combinado com as numerosas guerras que Roma travou nos finais da República (invasão dos cimbros e teutões, Guerra Social, a Primeira e Segunda Guerra Civil de Sula e as Guerras Mitridáticas, a culminar nas guerra civil do tempo de Júlio César e Augusto) favoreceu o surgimento de uma série de líderes militares (Lúcio Cornélio Sula, Pompeu, Júlio César), que, apercebendo-se da força à sua disposição, começam a utilizá-la como meio de obter ou reforçar o seu poder político.

 As instituições republicanas encontravam-se em crise desde o princípio do século I a.C., quando Sula quebrou todas as regras constitucionais ao tomar a cidade de Roma com o seu exército, em 82 a.C., para se tornar ditador vitalício em seguida. Sula resignou e devolveu o poder ao senado romano, mas no entanto, o precedente estava lançado.

 Esta série de acontecimentos culminou no primeiro triunvirato, um acordo secreto entre Júlio César, Pompeu e Crasso. Tendo este sido desfeito após a derrota de Crasso em Carras (atual Harã) (53 a.C.), restavam dois líderes influentes, César e Pompeu. Como Pompeu tomou o partido do senado, este declarou César "inimigo de Roma", ao que César respondeu, atravessando o Rubicão e iniciando a guerra civil. Tendo vencido Pompeu em Farsália (agosto 48 a.C.) e as restantes forças opositoras em Munda (45 a.C.), tornou-se efectivamente a primeira pessoa a governar unipessoalmente Roma, desde o tempo da monarquia. O seu assassinato pouco tempo depois (março 44 a.C.), às mãos dos conspiradores liderados por Marco Júnio Bruto e Caio Cássio Longino, terminou esta primeira experiência de governo unipessoal do Estado romano.

 Por esta altura, já a república tinha sido decisivamente abalada, e após a derrota final dos conspiradores, o surgimento do segundo triunvirato, entre Octaviano, Marco António e Lépido, e a sua destruição na guerra civil seguinte, culminando na decisiva Batalha de Áccio (31 a.C.), deixou Octaviano como a única pessoa com poder para governar individualmente Roma, tornando-se efectivamente no primeiro imperador romano, fundando uma dinastia (dinastia júlio-claudiana) que só a morte de Nero (68) viria a terminar.

 Uma vez que o primeiro imperador, Augusto, sempre recusou admitir-se como tal, é difícil determinar o momento em que o Império Romano começou. Por conveniência, coloca-se o fim da República Romana em 27 a.C., data em que Augusto adquire este cognome e em que começa, oficialmente, a governar sem parceiros. Outra corrente de historiadores coloca o princípio do império em 14, ano da morte de Augusto e da sua sucessão por Tibério.

 Nos meios académicos, discutiu-se bastante a razão pela qual a sociedade romana, habituada a cerca de cinco séculos de república, aceitou a passagem a um regime monárquico sucessório. A resposta centra-se no estado endêmico de guerra civil que se vivia nos anos prévios a Augusto e no longo reinado de quarenta e cinco anos que se seguiu, notável pela paz interna. Com a esperança de vida média em cerca de quarenta e cinco anos, à data da morte de Augusto, o cidadão romano médio não conhecia outra forma de governação e estava já preparado para aceitar um sucessor.

 

Governo central

Os poderes do imperador (seu imperium) existiam, ao menos em teoria, em virtude de seus "poderes tribunícios" (potestas tribunicia) e seus "poderes proconsulares" (imperium proconsulare). Em teoria, os "poderes tribunícios" (que eram similares àqueles do tribuno do povo na república tornavam a pessoa e ofício do imperador sacrossantos, e lhe davam autoridade sobre o governo civil romano, inclusive o poder de presidir e controlar o senado. Os poderes proconsulares (similar àqueles dos governadores militares, ou procônsules, na república) davam-lhe autoridade sobre o exército romano. Ele também tinha poderes que, na república, eram reservados ao senado romano e às assembleias romanas, inclusive o direito de declarar guerra, ratificar tratados e negociar com líderes estrangeiros.

O imperador também tinha autoridade para conduzir um conjunto de deveres que tinham sido conduzidos pelos censores, incluindo o poder de controlar os membros do senado. Adicionalmente, o imperador controlava a religião, uma vez que, como imperador, ele era sempre pontifex maximus e membro de cada uma das quatro maiores congregações. Enquanto estas funções eram claramente distinguíveis no início do império, com o tempo foram perdidas e o poder do imperador tornou-se menos constitucional e mais monárquico. Realmente, o maior apoio do poder do imperador era o exército. Pago pelo tesouro imperial, os legionários prestavam anualmente juramento de lealdade ao imperador, chamado sacramentum.

A morte de um imperador iniciava um período de incerteza e crise. Em teoria, o senado devia escolher o novo imperador, mas a maioria dos imperadores escolhia seu próprio sucessor, usualmente um membro de sua família. O novo imperador tinha que buscar um conhecimento de seu novo status e autoridade, de forma a estabilizar o cenário político. Nenhum imperador podia ter esperança de sobreviver, muito menos de reinar, sem a aliança e lealdade da guarda pretoriana e das legiões. Para assegurar sua lealdade, vários imperadores lhes pagavam o donativum, uma recompensa monetária.

Embora as assembleias romanas da época da república continuassem a existir depois da fundação do império, seus poderes foram todos transferidos ao senado, e assim os decretos senatoriais (senatus consultum) adquiriram total força de lei.

Em teoria, o imperador e o senado eram dois ramos iguais do governo, mas a autoridade real do senado era pequena e mais um meio de o imperador disfarçar seus poderes autocráticos sob um manto de republicanismo. Ainda que prestigiado e respeitado, o senado era uma instituição glorificada que tinha sido subtraída da maioria de seus poderes e ficava à mercê do imperador.

Muitos imperadores mostraram certo grau de respeito com esta antiga instituição, enquanto outros foram notórios por ridicularizá-la. Durante as sessões do senado, o imperador sentava entre os dois cônsules e usualmente atuava presidindo as sessões. Senadores mais prestigiados falavam antes dos demais, embora o imperador pudesse falar a qualquer tempo. Por volta do século III, o senado tinha sido reduzido a um órgão municipal glorificado.

Nenhum imperador poderia governar sem a ordem senatorial e sem a ordem equestre. A maioria dos postos importantes do governo era reservada para os membros dessas duas ordens aristocráticas. Era entre elas que governadores provinciais, comandantes de legiões e oficiais similares eram escolhidos. Estas duas classes eram hereditárias e majoritariamente fechadas a novos membros. Indivíduos de muito sucesso podiam entrar, mas esta era uma ocorrência rara. As carreiras dos jovens aristocratas eram influenciadas pelas suas conexões familiares e pelo favor dos patronos. Tão importante quanto habilidade, conhecimento ou competências, o patronato era considerado vital para uma carreira de sucesso e os postos mais altos requeriam o favor e a confiança do imperador.

Era esperado que os filhos de senadores seguissem o cursus honorum, um meio de ascensão, e as posições mais prestigiadas eram restritas somente a senadores. Também se esperava que um senador fosse rico; um dos requisitos básicos era a posse de doze mil áureos (cerca de 100 kg de ouro), uma quantia que seria aumentada nos séculos seguintes. Abaixo da ordem senatorial estava a ordem equestre. Os requisitos e postos reservados a esta classe, embora não tão prestigiados, ainda eram muito importantes. Alguns postos vitais, como o governo do Egito, eram proibidos aos membros da ordem senatorial e permitidos somente a membros da ordem equestre.

 

Governo provincial

Um território anexado pelo império tornava-se uma província em um processo de três etapas: fazer um registro das cidades, um censo da população e um levantamento da terra. Além disso, governo romano também registrava nascimentos e mortes, transações imobiliárias, impostos e processos jurídicos. Nos séculos I e II, o governo central de Roma enviou cerca de 160 funcionários por ano para governar áreas fora da península Itálica. Entre esses funcionários estavam os "governadores romanos": tanto magistrados eleitos em Roma, que em nome do povo romano administrava as províncias senatoriais, quanto governadores, geralmente da ordem equestre, que governavam o império em nome do imperador nas províncias fora do controle senatorial, principalmente o Egito romano. O governador tinha que estar acessível para as pessoas que ele governava, mas ele também podia delegar várias tarefas. Sua equipe, no entanto, era mínima: seus assistentes oficiais (apparitores), como lictores , arautos, mensageiros, escribas e guarda-costas; legados, tanto civis quanto militares, geralmente da ordem equestre, e amigos, que variavam em idade e experiência, também acompanhavam os governadores não oficialmente.

Outros oficiais romanos eram designados como supervisores das finanças públicas. Separar responsabilidade fiscal da justiça e da administração foi uma reforma da época imperial. Durante a república, os governadores provinciais e agricultores fiscais poderiam explorar as populações locais com mais liberdade em busca ganho pessoal. Os procuradores equestres, cuja autoridade era originalmente "extra-judicial e extra-constitucional", administravam a propriedade do Estado e grande parte da propriedade pessoal do imperador (res privata). Como os funcionários do governo romano eram poucos, um provincial que precisasse de ajuda em uma disputa legal ou em um processo criminal poderiam procurar qualquer romano identificado como possuidor de alguma capacidade oficial, como um procurador ou um oficial militar, ou até mesmo centuriões.

Durante e depois da Segunda Guerra Civil da República de Roma, Otaviano reduziu o enorme número de legiões (acima de 60) a um tamanho muito mais gerenciável e acessível. Várias legiões, particularmente aquelas de lealdade duvidosa, foram simplesmente dissolvidas. Outras legiões foram amalgamadas, um fato sugerido pelo título Gemina (gêmeo).

Em 9 d.C., tribos germânicas eliminaram três legiões na Batalha da Floresta de Teutoburgo. Este evento desastroso reduziu o número das legiões a 25. O total de legiões voltaria a aumentar posteriormente e nos próximos trezentos anos manteve-se por volta de trinta.

Augusto também criou a guarda pretoriana: nove coortes ostensivas para manter a paz pública, que foram guarnecidas na Itália. Melhor remunerados do que os legionários, a pretorianos também serviam menos tempo: em vez de servir o padrão de 25 anos dos legionários, eles se aposentavam após 16 anos de serviço.

Mesmo as auxilia (em português: apoio) não sendo tão famosas quanto as legiões, foram de grande importância para o império. Ao contrário dos legionários, os auxilia foram recrutados entre os não-cidadãos. Organizados em unidades menores com a força bruta dos coortes, recebiam pagamentos piores do que os dos legionários e depois de 25 anos de serviço eram recompensados com a cidadania romana, que também se estendia a seus filhos. De acordo com Tácito, havia tantos auxilias quanto legionários. Enquanto que neste momento havia 25 legiões de cerca de 5.000 homens cada uma, os auxilia tinham cerca de 125.000 homens, o que implica cerca de 250 regimentos auxiliares.A marinha romana (em latim: classis, lit. "frota".), não só ajudava no fornecimento e no transporte das legiões, mas também ajudaram na proteção das fronteiras nos rios Reno e Danúbio. Outra das suas funções era a proteção das rotas marítimas de comércio mais importantes contra a ameaça dos piratas. Por isso, patrulhava todo o Mediterrâneo, partes do Atlântico Norte (costa da Hispânia, Gália e Britânia) e teve também uma presença naval no mar Negro. No entanto, o exército foi considerado o ramo mais antigo e mais prestigiado das forças militares romanas.

 

 

O reinado de Augusto

 O reinado de Augusto é considerado por todos os historiadores como um período de prosperidade e expansão. A nova estrutura política criada por Augusto designa-se por "principado", sendo o chefe do império designado por princeps civium (o primeiro dos cidadãos) e ao mesmo tempo princeps senatus (o primeiro do senado). O termo princeps está na origem da palavra "príncipe", que não era o título do chefe do Estado. O título era "césar" e foi este que Augusto e seus sucessores adotaram.

 Augusto era também comandante-chefe do exército e decidia a guerra ou a paz e auto-nomeou-se "tribuno por toda a vida". Augusto, que não era especialmente dotado para a estratégia, mas tinha bons generais como Agripa na sua confiança, anexou oficialmente o Egito, que já estava sob domínio romano havia 40 anos, toda a península Ibérica, a Panónia, a Judeia, a Germânia Inferior e Superior e colocou as fronteiras do império nos rios Danúbio e Reno, onde permaneceram por 400 anos.

 O império que Augusto recebeu era vasto e heterogêneo, com várias línguas e vários povos. O grego era a língua mais falada nos territórios orientais, e o latim progredia pouco nestes territórios, mas nos territórios ocidentais era a língua mais falada. Augusto passou a tratar todos os habitantes do império como iguais e visitou várias zonas para verificar quais os problemas de cada província, assim estas floresceram e atingiram o máximo do seu desenvolvimento.

 A era de Augusto é mais pobremente documentada que o período republicano que o precedeu. Enquanto Lívio escreveu sua magistral história durante o reinado de Augusto, e sua obra cobriu toda a história romana até 9 a.C., somente sumários sobreviveram de sua cobertura da República tardia e do período de Augusto. Importantes fontes primárias deste período incluem:

 

Res Gestae Divi Augusti, a autobiografia (quase que um testamento político) de Augusto;

Historiae Romanae de Veleio Patérculo, um trabalho desorganizado que permanece como os melhores anais do período de Augusto.

Controversiae e Suasoriae de Sêneca, o Velho.

 

Embora registros primários deste período sejam poucos, trabalhos de poesia, legislação e engenharia deste período suprem importantes visões da vida romana. Arqueologia (incluindo a arqueologia marítima), pesquisas aéreas, inscrições em edifícios e moedas, têm também fornecido evidências valiosas sobre a economia e condições sociais e militares.

 Fontes secundárias da era de Augusto incluem Tácito, Dião Cássio, Plutarco, Suetônio com sua "Vidas dos Doze Césares". Flávio Josefo, com suas "Antiguidades Judaicas" é uma fonte importante para a Judeia, que se tornou província romana durante o reinado de Augusto.

 

Pax Romana

A Pax Romana, expressão latina para "A Paz Romana", é o longo período de relativa paz, gerada pelas armas e pelo autoritarismo, experimentado pelo Império Romano que iniciou-se quando Augusto, em 28 a.C., declarou o fim das guerras civis e durou até o ano da morte do imperador Marco Aurélio, em 180 d.C..

 Este termo enquadra-se historicamente nos dois primeiros séculos do Império Romano, instaurado em 27 a.C. por Otávio Augusto. Neste período, a população romana viveu protegida do seu maior receio: as invasões dos bárbaros que viviam junto às fronteiras, o limes.

 Pax Romana era uma expressão já usada na época, possuindo um sentido de segurança, ordem e progresso para todos os povos dominados por Roma. Tem maior expressão nas dinastias imperiais dos Flávios (68-96) e dos Antoninos (96-192). Plínio, o Velho realçava já a "imensa majestade da paz romana, essa dádiva dos deuses que parece ter trazido os Romanos ao mundo para o iluminar". De fato, a aventura conquistadora dos Romanos nasce com o fim das Guerras Púnicas (264 a.C.-146 a.C.), eliminado que estava o maior inimigo e potencial entrave para o domínio romano em torno do mar Mediterrâneo. As conquistas sucedem-se, da península Ibérica à Anatólia. Entre 58 a.C. e 51 a.C., a Gália é submetida por Júlio César, que submete também a Germânia renana.

 À data da morte de Júlio César(44 a.C.), Roma domina quase toda a bacia mediterrânica, que foi completamente conquistada até ao século II d.C., o mesmo acontecendo à província romana da Britânia (actual Inglaterra), no tempo de Cláudio, em 71, e às regiões danubianas - Récia, Panónia, Dácia, Nórica, e principalmente na época de Trajano, que chega mesmo à Mesopotâmia. Assim, Roma passa a dominar um vasto império, desde a fronteira da actual Escócia até ao Médio Oriente e do Danúbio ao Egito e a Marrocos.

 Os povos, línguas e costumes eram díspares, as tensões, focos de revolta e ameaças germânicas no limes eram frequentes. Tornava-se necessário, para além de romanizar, estabelecer e manter condições de tranquilidade e paz, para além de segurança e ordem pública. Para isso, o Império servir-se-ia do seu exército, cada vez mais profissional e formado a partir de recrutamentos um pouco por todo o território, regido por códigos e normas extremamente rígidos e dotado de uma organização, armamento e disciplina táctica nunca antes vistos, resultantes das influências dos povos submetidos (como os Macedónios, Cartagineses e Gregos).

 A instituição militar vê-se assim orientada para vários objectivos: para além da defesa fronteiriça - 9000 quilómetros de limes - contra incursões e pilhagens dos bárbaros, da fortificação de pontos estratégicos, construção de estradas e segurança pessoal das mais altas magistraturas imperiais, a manutenção da paz e da estabilidade no mundo romano cabiam-lhe como tarefa primordial e de grande importância em termos civilizacionais.

 Para além de transmitir elementos da cultura, religião e língua latina às regiões onde se fixavam as guarnições militares, bem como a criação de condições favoráveis para o desenvolvimento das economias locais, a sua presença impunha o respeito e a aceitação incondicional da soberania de Roma: a paz romana. Era uma paz armada e atingível apenas com a presença das legiões. Todavia, essa era a única forma de assegurar uma harmonia mínima e a articulação entre o poder imperial e as vastas regiões a governar, servindo de instrumento de apoio à execução de medidas de carácter administrativo, fiscal e judicial. O apoio e estímulo à colonização latina do império deve-se também, em grande parte, à presença militar romana, procurando construir-se as quintas, villae ou povoações junto aos aquartelamentos ou próximo de vias militares. As legiões eram assim a garantia de uma conjuntura necessária para o desenvolvimento material e a difusão da civilização romana.

 Uma alegoria da manutenção da pax romana é a prisão e condenação à morte da figura de Jesus Cristo, que, teria arrastado consigo multidões e se auto-intitulado "Rei dos Judeus", supostamente punha em perigo a paz e a estabilidade pretendidas por Roma naquela região, constituindo uma ameaça pública.

 Bem treinado e equipado, o exército romano era composto por um conjunto de legiões - cerca de 50 no tempo de Augusto, que depois as reduz para metade -, cada qual com cerca de 6000 homens, que eram colocadas estrategicamente nas regiões onde mais se impunha a sua presença. Assim, o império protegia e governava as províncias, permitindo que cada uma elaborasse e administrasse as suas leis e estatutos, à luz do direito romano e aprovadas pelo imperador, tendo em contrapartida de aceitar a fiscalidade romana e o seu controle militar. As províncias da península Ibérica, por exemplo, dependiam da VII Legião, sediada em Leon[necessário esclarecer], extremamente ativa e reforçada em virtude dos vários focos de insubmissão existentes, particularmente na Lusitânia e nas Vascongadas (atual País Basco).

 A paz romana foi um dos pilares da civilização romana e da sua difusão e implantação no mundo antigo, responsável pela ordem, tranquilidade, cumprimento da lei e, acima de tudo, da obediência e culto ao imperador.

 

Júlio-claudianos

 Os sucessores de Augusto são conhecidos como a "dinastia júlio-claudiana" (que inclui ele próprio), devido aos casamentos idealizados por ele entre a sua família, os Júlios, e os patrícios Cláudios. Nos primeiros anos do reinado de Tibério, não houve grandes mudanças políticas ou organizativas em relação aos princípios estabelecidos por Augusto. No entanto, com o passar do tempo, a instabilidade surgiu dentro da própria família imperial. Tibério tornou-se paranoico com possíveis conspirações e tentativas de golpe de estado, chegando, em 26, a retirar-se para a ilha de Capri de onde governou por procuração até ao fim da vida. Em consequência, mandou matar ou executar grande parte da sua família e senadores de destaque, provocando uma sensação de desconforto generalizada. O seu sucessor Calígula cresceu neste ambiente e mostrou-se um imperador igualmente instável. As perseguições tornaram-se norma e durante estes reinados muitas das tradicionais famílias romanas, e portanto, patrícias, chegaram ao fim devido a assassinatos e execuções que se prolongaram pelos reinados de Cláudio e Nero. Em 68, a classe política tinha chegado ao limite de resistência a tanta insegurança política. Depois de alguns erros estratégicos graves e de ter arruinado as finanças do estado em aventuras como a construção do seu palácio dourado, Nero é declarado um inimigo do estado e declarado fora da lei. Fugindo de Roma acompanhado apenas pelo seu secretário, o imperador suicidou-se antes de ser apanhado pela guarda pretoriana que ia em seu encalço. Com a sua morte, desaparecia a dinastia júlio-claudiana e Roma acabaria por encontrar alguma estabilidade política, mas não imediatamente.

 Na organização do Estado, pouco mudou em relação ao estabelecido por Augusto. Apenas Cláudio introduziu algumas reformas e procurou a prosperidade do império, talvez porque era já um homem maduro à data da sua ascensão ao trono. Cláudio foi ainda o responsável pela iniciativa da invasão romana das ilhas britânicas em 43, que se saldou pela adição de mais uma província ao império. Em 64, durante o reinado de Nero, Roma foi consumida por um violento incêndio (do qual o próprio imperador é muitas vezes erroneamente considerado culpado) e começaram as perseguições aos cristãos. Os júlio-claudianos foram eficazes em espalhar o culto imperial. Alguns deles, como Cláudio, foram deificados durante a sua vida e elevaram à dignidade divina muitos dos seus familiares (alguns subsequentemente assassinados).

 

Flavianos

 Uma das mais notáveis obras de engenharia clássica, o Coliseu de Roma, mandado erigir por Vespasiano, serviu para vários espectáculos, inclusive dramatizações de batalhas navais.

Depois do suicídio de Nero, Sérvio Sulpício Galba, um velho senador da antiga gente aristocrática Sulpícia, tornou-se imperador por nomeação senatorial. O seu reinado não começou bem. Durante a viagem da Hispânia para Roma, Galba não hesitou em espalhar o caos e a destruição pelas cidades que não lhe prestaram honras imperiais de imediato. Em Roma, substituiu grande parte das chefias militares e depressa se revelou tão paranoico como os seus antecessores. A sua recusa em conceder os prémios monetários às legiões e guarda pretoriana que o apoiaram serviu de impulsionador à organização de um golpe de Estado e, em janeiro de 69, Galba foi assassinado pelos pretorianos no Fórum Romano, juntamente com o seu sucessor designado. Em Roma, saudou-se Marco Sálvio Otão como novo imperador, mas no Reno as legiões aclamaram Aulo Vitélio que de imediato iniciou a marcha para Roma. Em abril, Vitélio derrotou Otão e tornou-se o único imperador, embora pouco tempo depois o exército estacionado na Judeia aclamasse o seu comandante Vespasiano como imperador. Durante a segunda metade do ano, todas as províncias foram-se declarando por Vespasiano e, então, Vitélio perdeu terreno. Finalmente, a 20 de dezembro, as tropas de Vespasiano entraram em Roma e assassinaram Vitélio. Vespasiano tornou-se então o único imperador e deu início à dinastia flaviana.

 Vespasiano mostrou ser um imperador responsável e razoável em comparação aos excessos perpetrados pelos júlio-claudianos. Apesar de ser um autocrata que pouca ou nenhuma importância política dava ao senado, Vespasiano procurou reorganizar o exército, as finanças do Estado e a sociedade romana. Aumentou os impostos, mas erigiu grandes obras, como o Coliseu de Roma conhecido na altura como "Anfiteatro Flaviano". Como antigo governador e general, Vespasiano sabia qual o melhor para as províncias e como manter o exército satisfeito, tudo condições indispensáveis para a estabilidade de um reinado. O seu filho, Tito, sucedeu-lhe em 79. Prometia ser um imperador à altura do seu pai, mas o seu breve reinado foi marcado por catástrofes. A 24 de agosto do mesmo ano, o vulcão Vesúvio destruiu as cidades de Pompeia e Herculano e, em 80, Roma foi de novo consumida por um incêndio. Em 81, Tito é sucedido pelo irmão Domiciano, que haveria de se mostrar pouco à altura das capacidades dos seus familiares. Assim, tal como na dinastia júlio-claudiana, o que começou por ser um período de prosperidade, depressa caiu em instabilidade política. Domiciano revelou-se tão paranoico como Calígula ou Nero e as atrocidades do seu reinado valeram-lhe o epíteto de pior imperador de todos os tempos.

 Quando em 96 Domiciano foi assassinado, Roma encontra-se bastante céptica quanto à validade do modelo dinástico e a sucessão imperial evoluiu para o conceito do mais apto. Esta mudança deu origem ao período dos cinco bons imperadores.

 

Antoninos: cinco bons imperadores

 Depois do assassinato de Domiciano, o senado nomeou Nerva como imperador romano. Apesar de ser já de meia idade e de não ter descendentes, Nerva era um homem considerado capaz, quer do ponto de vista militar quer do ponto de vista administrativo, mas sobretudo racional e confiável. A falta de filhos revelou ser uma vantagem, pois a sua sucessão foi determinada pelo valor do candidato e não por critérios familiares - embora já Trajano tenha sido formalmente adoptado por Nerva. Trajano, Adriano e Antonino Pio seguiram a mesma política de nomear o sucessor mais apto, o que resultou num período de estabilidade conhecido como os cinco bons imperadores. Durante o reinado destes cinco homens, Roma prosperou e atingiu o seu pico civilizacional, ao ponto de alguns analistas defenderem que o nível civilizacional alcançado durante este período só foi novamente alcançado na Inglaterra do século XVIII. Trajano foi o responsável pela extensão máxima do império em 117, ao estender a fronteira oriental até incluir a Mesopotâmia na alçada de Roma. O seu sucessor, Adriano, soube manter a enorme área do império e reconhecer que não valia a pena estendê-lo mais. Deu as conquistas por terminadas e construiu a muralha de Adriano no Norte de Inglaterra como símbolo do fim do império. Este período de manutenção, por oposição à conquista, ficou conhecido como a Pax Romana.

 O ciclo de prosperidade terminou quando Marco Aurélio designou, para sucessor, não o homem mais apto, mas o seu filho Cómodo, que se sabia pouco à altura do seu pai e seus antecessores. Como na dinastia júlio-claudiana (Nero) e flaviana (Domiciano), um período de prosperidade foi seguido por uma governação errática por um homem paranoico, neste caso Cómodo, que incentivaria a revolta dos seus súbditos. Cómodo foi assassinado em 192, mas o império caiu numa grave crise dinástica e social.

 

A crise do século terceiro (193–285)

 O fim do século II foi marcado por mais uma guerra civil de sucessão. Septímio Severo acabou por assegurar a coroa imperial e levar o império para um breve período de estabilidade. Os seus sucessores, no entanto, não tiveram a mesma sorte. Entre a morte de Severo em 211 e o início da tetrarquia em 285, o império teve 28 imperadores, dos quais apenas 2 faleceram por causas naturais (de peste). Contemporaneamente, estão registados 38 usurpadores romanos, dos quais muitos se tornaram imperadores de pleno direito. Para além da crise política endémica, o século III foi marcado pelo início das invasões dos povos bárbaros que habitavam as zonas fronteiriças do império.

 

Fim da era dourada

O reinado de Cómodo foi marcado por vários excessos, tendo sido terminado pelo seu assassinato a 31 de dezembro de 192; foi sucedido pelo seu prefeito do pretório, Pertinax, um homem de origem humilde e que, ao fim de escassos três meses como imperador, acabou por sua vez por morrer às mãos dos pretorianos. Seguiu-se uma situação caricata, em que a guarda pretoriana pôs o império em leilão, tendo este sido ganho por Dídio Juliano, ao oferecer um donativum maior (193).

 A situação não durou muito, pelo que nas províncias vários generais se declararam eles próprios imperadores (Clódio Albino na Gália, Pescénio Niger na Síria e Septímio Severo na Panónia), tendo sido Severo quem ganhou após alguns anos de guerra civil (197).

 

Os Severos

 Tendo-se tornado imperador, Septímio Severo tornou o império efectivamente numa monarquia militar, em mais um passo na direcção do Dominato; teve dois filhos, Caracala e Geta que, após a sua morte (211), digladiaram-se entre si, tendo Caracala assassinado Geta (Dezembro de 211).

 Caracala tornou-se desconfiado, tendo favorecido os soldados; foi morto por um membro da sua guarda, presumivelmente a mando do seu prefeito do pretório, Macrino, o qual se declarou imperador (217). Uma irmã da mulher de Septímio Severo, Júlia Mesa, conseguiu subornar uma legião e fazer com que declarassem o seu neto Heliogábalo, na verdade primo de Caracala, como seu filho e verdadeiro sucessor, tendo a revolta sido bem sucedida e Macrino morto (218).

 O reinado de Heliogábalo foi marcado por excessos que levaram a que a sua avó mudasse o seu apoio para um primo, Alexandre Severo e que Heliogábalo e sua mãe fossem mortos (março de 222).

 Sob Alexandre Severo o império prosperou mas começaram os primeiros problemas: invasão dos persas sassânidas (233), invasões de povos germânicos e o imperador, que preferia negociar a paz em troca de tributo do que travar a guerra, foi morto em Moguntiaco (março(?) de 235), junto com a sua mãe, por tropas revoltadas ao verem tanto ouro ser dado aos bárbaros.

 

Anarquia militar: os imperadores-soldados (235–285)

 Durante os cinquenta anos seguintes, o império sofreu usurpações, derrotas e fragmentação; imperadores seriam assassinados, mortos em batalha ou pelos seus rivais, num desespero para encontrar uma solução e por fim, surgiria o Dominato, a monarquia absoluta, a qual removeria os poucos traços republicanos que Roma ainda conservava, por forma a dar ao império um último fôlego.

 Após a morte de Alexandre Severo, o império caía uma vez mais nas mãos dos generais. Maximino, o Trácio foi proclamado imperador pelas tropas e durante três anos prosseguiu com a guerra, devastando os povos germânicos. Como este esforço militar exigia muito dinheiro, começaram a aumentar os abusos por parte dos funcionários imperiais em relação aos impostos.

 Em África esses abusos foram notórios e provocaram uma revolta (238). Os soldados proclamaram imperador o senador Gordiano, o qual associou o seu filho, Gordiano II, tendo o senado reconhecido a nomeação; Gordiano II foi morto numa batalha, e Gordiano I suicidou-se ao saber da notícia. Maximino Trácio, ao tentar dirigir-se a Roma para suprimir a revolta, deparou-se com resistência inesperada por parte da cidade de Aquileia, e os seus soldados, furiosos, mataram-no. O neto de Gordiano, Gordiano III, foi proclamado imperador e aceite por todos.

 Entretanto a situação do império complicava-se. No Oriente, Gordiano III combateu o Império Sassânida, mas foi derrotado e morto na Batalha de Misiche (244). O seu prefeito do pretório, Filipe, proclamou-se imperador.

 

Usurpadores e derrotas (244–253)

Filipe celebrou o milénio de Roma (247) com pompa e fausto. Mas a situação voltou a piorar. Generais nas províncias revoltaram-se e proclamaram-se imperadores. Ao tentar lidar com um deles, Décio, o comandante que Filipe despachara para lidar com a revolta, foi por sua vez proclamado imperador. Defronta Filipe em batalha e este foi morto pelas tropas (249).

 O novo imperador adoptou uma política dura e conservadora como forma de lidar com os problemas do império. Assim, perseguiu os cristãos e travou guerra contra os godos, na qual acabaria por ser derrotado e morto (251). Outros usurpadores ocuparam brevemente o trono durante este tempo. Em 253, Valeriano ascendeu por sua vez ao trono e, com ele, o império desceu ao seu ponto mais baixo.

 

Valeriano e Galiano

 Valeriano associou ao trono o seu filho Galiano, atribuindo-lhe a parte ocidental do império e reservando para ele a parte oriental. Durante este tempo, o império estava a ser invadido por vários povos, principalmente godos e alamanos, e ao mesmo tempo surgiam usurpadores. Em 260, Marco Cassiano Latínio Póstumo declarou-se imperador na Gália, dando origem assim ao Império das Gálias, ao qual Galiano, demasiado fraco, não pode opôr-se com eficácia. No Oriente, os persas avançaram, com alguma resistência de Valeriano no início, mas com o exército romano dizimado pela peste, tentou negociar a paz com rei sassânida Sapor I, apenas para se ver aprisionado, humilhado e mais tarde morto (260).

 O seu filho Galiano tentou manter a notícia da captura e morte do seu pai um segredo, mas apenas o conseguiu durante um ano. Por esta altura, desencadeou-se uma sequência de usurpações, em parte como resposta local às situações de necessidade perante as invasões, em parte como tentativa de dar solução aos problemas. Galiano, demasiado ocupado a derrotar usurpadores e invasores diversos, deixou que, no Ocidente, o Império das Gálias se desenvolva, e no Oriente, que o Império de Palmira se apodere de território romano, mas que Roma já não está em condições de defender.

 Aos poucos, a situação melhorou: Galiano conseguiu derrotar ou ver assassinados sucessivamente os seus rivais, reformou o exército e conseguiu uma grande vitória contra os bárbaros (268) antes de ser assassinado. No Oriente, o Império de Palmira, inicialmente sob o comando de Odenato, e mais tarde, da sua viúva, Zenóbia, conseguiu deter os persas, mas apoderou-se cada vez mais de território romano. Coube aos sucessores de Galiano recuperar e reunificar o império pela primeira vez em quinze anos.

 

Recuperação e estabilização (268–285)

A recuperação do império veio por fases: Cláudio II, o sucessor de Galiano, começou por infligir uma grande derrota aos godos (270) mas, atingido pela Peste de Cipriano, morreu antes de poder restaurar o império. Aureliano, o seu sucessor, será mais bem sucedido. Em quatro anos, reincorporou ao império as Gálias e derrotou Zenóbia, recuperando assim o Oriente. Sinal dos tempos, dotou Roma da sua primeira muralha desde as invasões gaulesas que haviam ocorrido há mais de 650 anos. Administrador duro e competente, estaria prestes a iniciar uma guerra contra os persas, quando é assassinado (275); com ele, pela primeira vez, os imperadores romanos são adorados como deuses em vida.

 Após alguns anos, em que o império mergulhou uma vez mais na anarquia e na invasão, surgiu um novo e eficaz imperador, Probo (r. 276–282), que conseguiu estabilizar a situação. Após o seu assassínio e os breves reinados de Caro e dos seus filhos, eis que surgiu o homem que enfim pôs ordem no império:Diocleciano (285).

 

Tetrarquia

 

Os Tetrarcas, escultura de pórfiro tomada de Constantinopla em 1204, durante a Quarta Cruzada. Atualmente em Veneza.

A Tetrarquia foi um sistema de governo criado pelo imperador romano Diocleciano, como forma de resolver sérios problemas militares e econômicos do Império Romano.

 Diocleciano dividiu o seu poder sobre o império entre os sectores orientais (pars Orientis) e ocidentais (pars Occidentis). Manteve o controle pessoal do sector leste e o seu colega Maximiano controlou o ocidente. Diocleciano não dividiu propriamente o poder com seu companheiro de armas Maximiliano, pois, na realidade, Diocleciano estava colocado em posição superior à de Maximiliano. A partir de então, o império passou a ter dois augustos, cada qual com exército, administração e capital próprios, embora Diocleciano continuasse a ser o chefe do Estado, representando a unidade do mundo romano.

 Em 305, Diocleciano retirou-se à vida privada e induziu Maximiano a fazer o mesmo.[2]

 

O império cristão

 A última prece dos mártires cristãos, por Jean-Léon Gérôme (1883).

O Império Romano passou a tolerar o cristianismo a partir de 313, com o Édito de Milão, assinado durante o império de Constantino I (do Ocidente) e Licínio (do Oriente), no mesmo dia em que ocorreu o casamento de Licínio com Flávia Júlia Constância, irmã do imperador do oriente. Com este édito, o cristianismo deixou de ser proibido e passou a ser uma das religiões oficiais do império.

 O cristianismo tornou-se a única religião oficial do império sob Teodósio I (r. 379–395) e todos os outros cultos foram proibidos. Inicialmente, o imperador detinha o controle da Igreja. A decisão não foi aceita uniformemente por todo o império; o paganismo ainda tinha um número muito significativo de adeptos. Uma das medidas de Teodósio I para que sua decisão fosse ratificada foi tratar com rigidez aqueles que se opuseram a ela. O massacre de Tessalônica devido a uma rebelião pagã deixa clara esta posição do imperador. Um dos conflitos entre a nova religião do império e a tradição pagã consistiu na condenação da homossexualidade, uma prática comum na Grécia antes e durante o domínio romano.

 

Divisão e fim

 A divisão do Império após a morte de Teodósio I, ca. 395 sobreposta às fronteiras modernas.{Império Romano do Ocidente.}} Império Bizantino.}}

O centro administrativo do império tendia a voltar-se mais para o Oriente, por múltiplas razões. Primeiro pela necessidade de defesa das fronteiras orientais; depois porque o oriente havia se tornado a parte econômica mais vital do domínio romano; por fim Roma era uma cidade rica de vestígios pagãos, o que agora era inconveniente num império cristão: seus edifícios, sua nobreza senatorial, apegada à religião tradicional. Assim Constantino decretou a construção de uma nova capital, nas margens do Bósforo, onde havia a antiga fortaleza grega de Bizâncio, num ponto de grande importância estratégica, nas proximidades de dois importantes setores da limes: a região do baixo Danúbio e a fronteira do Império Sassânida. A nova cidade, que recebeu o nome de Constantinopla, isto é, "cidade de Constantino", foi concebida como uma "nova Roma" e rapidamente tornou-se o centro político e econômico do Império. Sua criação teve repercussões também no plano eclesiástico: enquanto em Roma a Igreja Católica adquiriu mais autoridade, em Constantinopla o poder civil controlou a Igreja. O bispo de Roma pôde assim consolidar a influência que já possuía, enquanto em Constantinopla o bispo baseava seu poder no fato de ser bispo da capital e no fato de ser um homem de confiança do Imperador.

 Teodósio e o fim do império único

Teodósio I foi o último imperador a reinar sobre todo o império. Após sua morte em 395, seus dois filhos Arcádio e Honório herdaram as duas metades: Arcádio tornou-se governante no Oriente, com a capital em Constantinopla, e Honório tornou governante no Ocidente, com a capital em Mediolano (atual Milão), e mais tarde em Ravena. O Estado romano continuaria com dois diferentes imperadores no poder até o século V, embora os imperadores orientais se consideravam governantes do todo. O latim era usado nos documentos oficiais tanto, se não mais, que o grego. As duas metades eram nominalmente, cultural e historicamente, se não politicamente, o mesmo estado.

 Religião

Desde os tempos da fundação de Roma, havia a crença em muitos deuses. Ao longo dos séculos, os romanos assimilaram numerosas influências religiosas. No princípio, as divindades eram cultuadas nos lares e, com a consolidação do Estado, os deuses passaram a ser cultuados publicamente, com sacerdotes presidindo as cerimônias. Conquistada a Magna Grécia, os deuses romanos se confundiram com os gregos, aos quais foram atribuídos nomes latinos.

A expansão territorial e o advento do Império levaram à incorporação de cultos orientais, além daqueles de origem helenística. Os romanos cultuavam, por exemplo, o deus persa Mitra, o que incluía a crença em um redentor que praticava o batismo e a comunhão pelo pão e pelo vinho.

Na Judeia, uma das províncias romanas no Oriente, facções políticas locais se digladiavam em fins do século I a.C. De um lado, a aristocracia e os sacerdotes judeus aceitavam a dominação romana, pois os primeiros obtinham vantagens comerciais e os segundos mantinham o monopólio da religião. Entre as várias seitas judaicas que coexistiam na região, estavam a dos fariseus, voltados para a vida religiosa e estudo da Torá, e a dos essênios, que pregavam a vinda do Messias, um rei poderoso que lideraria os judeus rumo à independência. Nesse clima de agitação, durante o governo de Augusto, nasceu, em Belém, um judeu chamado Jesus.

Apegados ao monoteísmo, os cristãos não juravam o culto divino ao imperador, provocando reações violentas. As perseguições ocorreram em curtos períodos, embora violentos, na medida em que o culto divino ao imperador, estabelecido por Augusto mas formalizado por Domiciano, era aplicado nas províncias. Muitos foram perseguidos, outros morreram nas arenas, devorados por feras. Ao mesmo tempo, cada vez mais pessoas se convertiam ao cristianismo, especialmente pobres e escravos, que se voltavam para a Igreja por acreditarem na promessa de vida eterna no Paraíso.

Em 313, o imperador Constantino I fez publicar o Édito de Milão, que instituía a tolerância religiosa no império, beneficiando principalmente os cristãos. Com isso, recebeu apoio em sua luta para se tornar o único imperador e extinguir a tetrarquia. Em 361, assumiu o trono Juliano, o Apóstata, que tentou reerguer o paganismo, dando-lhe consistência ético-filosófica e reabrindo os templos. Três anos depois o imperador morreu e, com ele, as tentativas de retomar a antiga religião romana. Em 391, Teodósio I (379-395) oficializou o cristianismo nos territórios romanos e perseguiu os dissidentes. Após seu reinado, o império foi dividido em duas partes. Os filhos de Teodósio assumiram o poder: Arcádio herdou o Império Romano do Oriente, cujo centro político era Constantinopla (antiga Bizâncio, rebatizada em homenagem ao imperador Constantino, localizava-se onde hoje é a cidade turca de Istambul); a Honório coube o Império Romano do Ocidente, com capital em Roma. Conversão ao cristianismo

 

 

 

DECLÍNIO E QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE (395–476)

 

Invasões bárbaras no Império Romano

Teodósio I foi o último imperador a reinar sobre todo o império. Após sua morte em 395, seus dois filhos Arcádio e Honório herdaram as duas metades: Arcádio tornou-se governante no Oriente, com a capital em Constantinopla, e Honório tornou governante no Ocidente, com a capital em Mediolano (atual Milão), e mais tarde em Ravena.

O Estado romano continuaria com dois diferentes imperadores no poder até o século V, embora os imperadores orientais se consideravam governantes do todo. O latim era usado nos documentos oficiais tanto, se não mais, que o grego. As duas metades eram nominalmente, cultural e historicamente, se não politicamente, o mesmo Estado.

O Império Romano do Ocidente sofreu invasão dos povos bárbarose, já enfraquecido internamente, caiu em 476 com a deposição do imperador Rômulo Augusto. Outros reisestabeleceram-se em Roma, embora não mais usassem o título de "imperador romano".

O Império Oriental, com capital em Constantinopla, continuou a existir por quase mil anos, até 1453.

 

O declínio econômico

Durante o seu auge nos séculos I e II, o sistema econômico do Império Romano era o mais avançado que já havia existido e que viria a existir até a Revolução Industrial. Mas o seu gradual declínio, durante os séculos III, IV e V, contribuiu enormemente para a queda do império.

A massiva inflação promovida pelos imperadores durante a crise do terceiro século destruiu a moeda corrente, anulando a prática do cálculo econômico a longo prazo e consequentemente a acumulação de capital, que somada ao controle estatal da maioria dos preços teve efeitos desastrosos. Então, Roma começou a ter uma queda pelas demais expansões. A falta de condições financeiras e a falta de escravos para uso de mão-de-obra em todo o império geraram tais quedas.

Essas medidas tiveram consequências desastrosas pois, com quase todos preços artificialmente baixos, a lucratividade de qualquer empreendimento comercial foi anulada, resultando num colapso completo da produção e do comércio em larga escala e da relativa e complexa divisão do trabalho que existia durante a Pax Romana.

A população das cidades caiu por todo império devido ao colapso comercial e industrial. Enquanto o número de cidadãos (homens adultos e livres) durante o Principado em Roma era de 320 mil, em Constantinopla no século V havia apenas oitenta mil cidadãos (25% do número de cidadãos em Roma). Considerando que em Constantinopla existia um número menor de escravos, isso poderia resultar em uma população total cinco vezes menor. Os trabalhadores desempregados se fixaram no campo e tentaram produzir eles mesmos os bens que queriam, desmonetizando a economia e acabando com a divisão do

trabalho, ocorrendo uma drástica redução da produtividade da economia.

Esses fenómenos resultaram na criação do primitivo sistema feudal baseado na auto-suficiência de pequenos territórios economicamente independentes.

Com seu sistema económico destruído, a produção de armas e a manutenção de uma força militar defensiva se tornaram infinanciáveis, o que facilitou enormemente as invasões dos bárbaros.

 

O declínio cultural

Outra vertente que contribuiu para a sua queda foi a diversificação cultural que Roma se tornou após o contato com as colônias e com a naturalização dos bárbaros, fato que possibilitou à população insatisfeita duvidar da influência dos deuses nas decisões políticas, explicação que legitimava o poder do imperador.

O exército descobriu sua importância no sistema romano e passou a exigir status e melhores remunerações, exigências que o Império não tinha condições de corresponder. Razões tais nos levam a concluir que a queda do império foi ocasionada por fatores internos do próprio Império. É lógico que após a consumação do fato fica fácil analisar o problema, pois estamos fazendo o estudo retrospectivo, e na época do Império, apesar desses problemas terem sido alertados por alguns Senadores, não se podia prever com situações hipotéticas o que poderia acontecer, até porque quando esses problemas começaram a aparecer o Império estava em sua melhor fase.

 

O exército

Em última análise, Roma conquistou o seu império graças às forças das suas legiões. E os seus exércitos no baixo-império eram muito diferentes do que tinham sido na época da República e do alto império. Eram tropas inferiores sob todos os aspectos.

Para recrutar soldados recorria-se a vários métodos em simultâneo: voluntários, recrutamento por conscrição (e aí a influência dos grandes proprietários era determinante, pois não queriam perder os seus melhores homens e falseavam o sistema), hereditariedade, ou então rusga pura e simples até se preencher as necessidades. De fato, ao contrário do que se disse por muito tempo, o exército romano continuou a ser constituído por gente de dentro do império com excepção de algumas unidades: a barbarização dos quadros no Ocidente só se deu em meados do século V e mesmo assim a defesa local ficou sempre a cargo dos romanos, mantendo-se algumas unidades romanas ofensivas.

Quanto ao valor do soldado romano, poderia ter perdido algumas das suas qualidades, mas a realidade é que a guerra se modificou: raramente se travavam grandes batalhas entre exércitos regulares o que era muito caro para as frágeis estruturas financeiras do império tardio, mas sim emboscadas e guerrilha que exigia sobretudo flexibilidade e improvisação e menos automatismo nas formações.

Cabe ressaltar que o exército romano era uma força permanente, e não recrutada de acordo com as necessidades por algum tempo. Logo, para se manter um grande exército é preciso muito dinheiro e o Ocidente não o tinha, por causa do declínio econômico que se procedia desde o século III: apesar de ter espremido as províncias até levar à revolta dos camponeses, sobretudo na península Ibérica e Gália, os imperadores do Ocidente não conseguiram preservar o seu Estado. Poder-se-ia argumentar que o Cristianismo enfraquecera o patriotismo romano, mas essa é uma falsa questão; soldados romanos nunca passaram para o lado do inimigo externo. Entretanto, freqüentemente tendiam a

querer nomear um novo imperador, entrando em conflito contra outras legiões. Isso vinha acontecendo desde o fim da república, assim que terminou a conscrição por períodos limitados.

No princípio do século V, a maioria do exército romano era ainda constituída por romanos. À medida que os bárbaros foram entrando pelo império, começou-se a fazer acordos em que eles deveriam fixar-se num determinado território, recebendo terras e, em troca, ficando a serviço do imperador para lutar contra seus inimigos, nas tropas auxiliares. Portanto, essa situação de bárbaros a serviço de Roma já era comum.

No entanto, o recrutamento destes, costumava ser feito por indivíduos treinados, que eram ensinados a falar latim e equipados por oficiais romanos, tornando-se romanos indistinguíveis na geração seguinte. Na nova situação, eles vinham em enormes grupos com seus próprios líderes. A consequencia disso foi que as tribos foram, progressivamente, emancipando-se da tutela romana e formando seus próprios reinos.

Com relação às invasões, é importante notar que a região europeia do império passou a ser ocupada por povos nômades, de diferentes origens e em alguns casos, que realizavam um processo de migração, ou seja, sem a utilização de guerra contra os romanos. Vários desses povos foram considerados aliados de Roma.

 

O cristianismo

Uma das questões sociológicas muito debatidas ao longo da história é a questão de saber se o Cristianismo contribuiu ou não para a queda do Império Romano do Ocidente.

•Santo Agostinho, pensador e religioso cristão do século V, refutava esta conexão.

•Edward Gibbon e David Hume, propagadores da ideologia anti-religiosa do Iluminismo no século XVIII, foram da opinião contrária.

O Cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano em 380, com o imperador Teodósio I. O Império Romano do Ocidente cairia cerca de 100 anos depois. Entre os séculos II e III, séculos em que o Cristianismo ganhou cada vez mais adeptos entre os Romanos, o Império começou a sentir os sinais da crise: foi-se diminuindo o número de escravos, ocorreram rebeliões nas províncias, a anarquia militar e as invasões bárbaras.

Quando se fala em "sinais da crise" que estariam pretensamente relacionados ao cristianismo, na verdade se fala de um período extremamente conturbado, no qual o Império chegou a estar muito perto da derrocada. Por volta de 285, o imperador Diocleciano salvou o Império Romano do colapso, dando a ele um último fôlego. Tudo isso já ocorria numa época em que os cristãos eram somente uma minoria marginalizada.

A tentativa de responsabilizar o cristianismo pelos fortes problemas vividos em Roma durante os séculos II e III fica bastante enfraquecida quando se percebe que mesmo no início do século IV apenas cinco a sete por cento dos romanos tinham se tornado cristãos; quase todos eles na parte Oriental do império, exatamente o lado que permanecera mais forte e estruturado durante a crise.

Além disso, mesmo na época da queda definitiva de Roma, o lado oriental continuava sendo o mais cristianizado. E foi esse lado mais cristão que sobreviveu na forma posteriormente conhecida como Império Bizantino.

Se a Igreja tivera reticências ao serviço militar nos tempos da perseguição, a partir do momento que o império se tornou cristão considerava um crime grave alguém furtar-se ao seu dever. A pena por deserção no exército era ser queimado a fogo lento. A Igreja tornou-se fervorosamente patriótica e romana a ponto de desgostar um neo-pagão como o imperador Juliano, o Apóstata que achava que os cristãos só deviam poder ensinar coisas relacionadas com o cristianismo e não cultura clássica. De alguma maneira, aumentou a consistência do império.

Um outro argumento que se apresenta normalmente, é que enquanto o Império pagão fora tolerante, o cristianismo era intolerante perseguindo pagãos, cristãos considerados heréticos e judeus. Roma, de fato, fora no início do Cristianismo relativamente tolerante - se perseguira pontualmente grupos como os cristãos fora por motivos muito específicos. A recusa dos cristãos em aceitar o culto da divindade do imperador foi com toda probabilidade a base jurídica da perseguições que se seguiram. A devoção monoteísta dos cristãos e sua rejeição aos rituais tradicionais deram os motivos adicionais.

Depois das dificuldades do século III, vários imperadores procuraram centralizar mais o Estado, obter um maior controle dos cidadãos para que deste modo fosse mais fácil mobilizar recursos humanos e financeiros para defender o fragilizado império, e unificar o império em torno de uma ideologia. Com Constantino I tornou-se o cristianismo a religião a obter esse monopólio.

 

 

 

Exercícios:

1.        Quem foram os etruscos e qual a sua importância na formação dos romanos?

2.        Faça um pequeno resumo do  Mito de Fundação da  cidade de Roma.

3.        Diferencie em um quadro descritivo as etapas da Roma Antiga e suas datas de início e término (Monarquia, República e Império).

4.        Quais os principais grupos sociais que se construíram em Roma?

5.        Como surgiram os Patrícios?

6.        Como se dava as escravidão dos Plebeus?

7.        Quais os signifcado de ser uma mulher livre em Roma?

8.        Segundo o termo latino senãtus o que quer dizer Senado?

9.        Qual a função do Senado durante o período monárquico?

10.     A Assembléia legislativa era dividida em duas: A assembléia de Cúria (comitia curiata) e a assembléia calada (comitia calata). Diferencie-as em suas funções.

11.     Durante o período Monárquico quais seriam os papéis acumulados pelo Rei (rex) como magistrado executivo?

12.     O que era a mos maiorum?

13.     Faça um pequeno resumo das principais contribuições de cada um dos 7 Reis de Roma.

14.     Após a expulsão de Tarquímio como se deu a formação da república?

15.     Da Era patrícia à Supremacia da nova nobreza houveram uma série de conflitos internos, faça um resumo dos principais eventos.

16.     Como Pompeu e Crasso acabaram se tornando eleitos cônsules?

17.     O que foi o Primeiro Triunvirato? E como acabou levando ao fim da República?

18.     Como se deu a ascensão de Octaviano (Augusto) do Segundo Triunvirato ao início do Império?

19.     O que foi o período chamado Pax Romana e suas principais características?

20.     O que foi a Tetrarquia?

21.     Quais as principais diferenças do Governo Central e do Governo Provincial?

22.     Cite 5 aspectos da religião romana.

23.     Descreva como o cristianismo acabou se transformou a religião oficial do Império Romano.

24.     Quais as principais causas para o declínio do Império Romano? Qual a principal consequência advinda do seu fim?

Trabalho em Grupo

Dividam-se em 4 grandes grupos, cada um ficará responsável pela apresentação de uma Dinastia e seus Imperadores (somente os que tiverem links). 

Dinastia júlio-claudiana (27 a.C.-68 d.C.)

Augusto

Tibério

Calígula

Cláudio

Nero

Ano dos quatro imperadores (68-69)

Galba

Otão

Vitélio

Vespasiano

Dinastia flaviana (79-96)

Vespasiano

Tito flávio

Domiciano

Dinastia antonina (96-192)

Nerva

Trajano

Adriano

Antônio Pio

Marco Aurélio

Lúcio vero

Cômodo

TRABALHO Nº3

Roma Antiga:

O trabalho será dividido em vários assuntos do período histórico compreendido como Roma Antiga (753 a.c – 476 d.c). Será escolhido pelo aluno um dos assuntos que deverá ser primeiramente enquadrado no seu relativo período histórico descrito numa linha do tempo no ínicio do trabalho. Cada assunto deverá conter um resumo geral (o que foi), os fatos (o que acontece e por quê), principais key-players (jogadores-chave) e quais as consequências do evento (por causa do evento ocorreu uma outra sequência de eventos). Será necessário constar em todos os trabalhos as três seguintes questões respondidas: (Caso contrário o trabalho será anulado)

1.Que fatos e razões levaram o fim da Monarquia à criação da República? E quais os principais Key-players?

2.Que fatos e razões levaram o fim da República à criação do Império? E quais os principais Key-players?

3.Que fatos e razões levaram o fim do Império Romano do Ocidente? E quais os principais Key-players?

 Assuntos a serem escolhidos:

 1.Era patrícia (509–367 a.C.)

2.Conflitos das ordens (367–287 a.C.)

3.Primeira Guerra Latina (498-493 a.C.)

4.Invasão gaulesa de Roma

5.Guerras Samnitas

6.Guerra Latina

7.Guerra Pírrica

8.Guerras Púnicas

9.Guerras macedônicas

10.Guerras Servis

11.Guerra Social (91–88 a.C.)

12.Crise da República Romana

13.Julio césar

14.Pompeu

15.Segundo Triunvirato

Dinastia júlio-claudiana (27 a.C.-68 d.C.)

16.Augusto

17.Tibério

18.Calígula

19.Cláudio

20.Nero

21.Ano dos quatro imperadores (68-69)

Galba

Otão

Vitélio

Vespasiano

22.Dinastia flaviana (79-96)

Vespasiano

Tito flávio

Domiciano

23.Dinastia antonina (96-192)

Nerva

Trajano

Adriano

Antônio Pio

Marco Aurélio

Lúcio vero

Cômodo

25.Cristianismo Primitivo

26.Tetrarquia e a Divisão dos impérios

27.Declínio e o fim do Imperio Romano do Ocidente