Descobrimentos

Era dos Descobrimentos

Era dos descobrimentos (ou das Grandes Navegações) é a designação dada ao período da história que decorreu entre o século XV e o início do século XVII, durante o qual os europeus exploraram intensivamente o globo terrestre em busca de novas rotas de comércio. Os historiadores geralmente referem-se à “era dos descobrimentos” como as explorações marítimas pioneiras realizadas por portugueses e espanhóis entre os séculos XV e XVI,1 2 que estabeleceram relações com África, Américas e Ásia, em busca de uma rota alternativa para as “Índias”, movidos pelo comércio de ouro, prata e especiarias. Estas explorações no Atlântico e Índico foram seguidas por outros países da Europa, França, Inglaterra e Países Baixos, que exploraram as rotas comerciais portuguesas e espanholas até ao Oceano Pacífico, chegando à Austrália em 1606 e à Nova Zelândia em 1642. A exploração europeia perdurou até realizar o mapeamento global do mundo, resultando numa nova mundivisão e no contacto entre civilizações distantes, alcançando as fronteiras mais remotas muito mais tarde, já no século XX.

A era dos descobrimentos marcou a passagem do feudalismo da Idade Média para a Idade Moderna, com a ascensão dos estados-nação europeus. Durante este processo, os europeus encontraram e documentaram povos e terras nunca antes vistas. Juntamente com o Renascimento e a ascensão do humanismo, foi um importante motor para o início da modernidade, estimulando a pesquisa científica e intelectual. A expansão europeia no exterior levou ao surgimento dos impérios coloniais, com o contacto entre o Velho e o Novo Mundo a produzir o chamado “intercâmbio colombiano” (Columbian Exchange), que envolveu a transferência de plantas, animais, alimentos e populações humanas (incluindo os escravos), doenças transmissíveis e culturas entre os hemisfério ocidental e oriental, num dos mais significativos eventos globais da ecologia, agricultura e cultura da história.

Entre os mais famosos exploradores deste período, destacam-se Cristóvão Colombo (pela descoberta da América), Vasco da Gama (do caminho marítimo para a Índia), Pedro Álvares Cabral (do Brasil), John Cabot, Yermak, Juan Ponce de León, Fernão de Magalhães, Willem Barents, Abel Tasman, Vicente Yáñez Pinzón e Willem Jansz.

Antecedentes (1241-1439)

Os europeus tinham conhecimentos remotos sobre o continente Asiático, vindos de relatos parciais, muitas das vezes obscurecidos por lendas, ainda dos tempos das explorações de Alexandre o Grande e dos seus sucessores. Outra fonte eram relatos árabes do tempo da ocupação cristã da Palestina e dos reinos cristãos da altura das cruzadas. Pouco era conhecido para lá da Anatólia e do mar Cáspio, regiões bárbaras nos limites, sítios dos últimos cristãos “civilizados”. O continente africano era conhecido parcialmente, não se conhecendo o seu limite a Sul, ou sequer se haveria esse limite, existindo apenas relatos de grandes reinos africanos para lá do Sahara, sendo o conhecimento real dos europeus das costas mediterrânicas e pouco mais, já que o bloqueio árabe não permitia explorações mais aprofundadas, senão o dos contactos com os escravos negros vendidos na Europa. O conhecimento das costas africanas atlânticas era remoto e provinha essencialmente de mapas antigos e de relatos de um tempo estranho e distante em que os romanos chegaram a explorar a Mauritânia. Do mar Vermelho, sabia-se da sua existência e pouco mais, sendo que só com o desenvolvimento dos laços comerciais das repúblicas marítimas italianas, Génova e Veneza principalmente, se começou a verdadeira exploração dessa zona.

Viagens medievais por terra

O prelúdio para a Era dos Descobrimentos foi uma série de expedições que atravessaram Eurásia por terra na Baixa Idade Média.3 Embora os mongóis tivessem ameaçado a Europa com a pilhagem e destruição, os estados mongóis também unificaram grande parte da Eurásia. A partir de 1206, a Pax Mongolica permitiu criar rotas comerciais e vias de comunicação que se estendiam desde o Médio Oriente até à China.4 Uma série de europeus aproveitaram para explorar o Oriente. Estes eram maioritariamente italianos, pois o comércio entre a Europa e o Médio Oriente era então quase totalmente controlado por comerciantes das Repúblicas marítimas - Génova, Veneza e Ragusa. A estreita relação dos italianos com o Levante suscitou uma grande curiosidade e interesse comercial sobre os países situados a oriente.

O primeiro desses viajantes foi Giovanni da Pian del Carpine, que viajou para a Mongólia e de volta entre 1241-1247.4 O viajante mais famoso, porém, foi o veneziano Marco Pólo que na sua obra “As Viagens” relatou as suas viagens em toda a Ásia entre 1271-1295, descrevendo ter sido um convidado da Dinastia Yuan na corte de Kublai Khan. A sua obra foi lida por toda a Europa e tornou-se num dos grandes mananciais de informação na época. De 1325-1354, um estudioso marroquino de Tânger, Ibn Battuta, viajou do Norte de África ao Sul da Europa, Médio Oriente e Ásia, tendo chegado à China. Após regressar, ditou o relato destas viagens a um estudioso que conhecera em Granada, a Rihla, ( “A viagem”),5 única e então pouco divulgada fonte de informação sobre suas aventuras. Em 1439, Niccolò Da Conti publicou um relato das suas viagens à Índia e ao Sudeste Asiático.

Estas viagens tiveram contudo pouco efeito imediato: o Império Mongol desmoronou-se quase tão rápido como se formara fazendo com que as rotas para o Oriente se tornassem muito mais difíceis e perigosas. A epidemia de peste negra do século XIV também bloqueou as viagens e o comércio.6 e a ascensão da agressiva e expansionista do Império Otomano, que em 1453 viria a tomar Constantinopla, limitou ainda mais as rotas terrestres para a Ásia.

Exploração marítima no Atlântico

Do século VII ao século XV, a República de Veneza e vizinhas repúblicas marítimas detiveram o monopólio do comércio europeu com o Médio Oriente. O comércio de seda e de especiarias, envolvendo incensos, ervas, drogas e ópio, tornou estas cidades-Estado do Mediterrâneo fenomenalmente ricas.

As especiarias estavam entre os mais caros e procurados produtos da Idade Média: eram usadas na medicina13 que enfrentava guerras e epidemias constantes, em rituais religiosos, como cosméticos, na perfumaria, bem como aditivos alimentares e conservantes 14 . Eram todas importadas da Ásia e de África: comerciantes muçulmanos descendentes de navegadores árabes iemenitas e omanis dominavam as rotas no Oceano Índico, batendo as regiões de origem no Extremo Oriente e transportando-as para empórios comerciais na Índia, como Calecute, e daí para oeste, por Ormuz no Golfo Pérsico, e Jidá no Mar Vermelho. Daí, por rotas terrestres, eram transportadas para as costas mediterrânicas. Mercadores venezianos faziam a distribuição pela Europa até a ascensão do Império Otomano, que viria a tomar Constantinopla em 1453, barrando aos europeus importantes rotas combinadas marítimas e terrestres, elevando o preço dos produtos para valores astronómicos.

Forçados a reduzir as suas actividades no mar Negro, e em guerra com Veneza, os mercadores da República de Génova, voltaram-se para o comércio norte Africano de trigo, azeite (valorizado também como fonte de energia) e na busca de prata e ouro. Os europeus tinham um défice constante de metais preciosos15 , pois a moeda seguia um caminho: saía da europa para pagar o comércio oriental de que agora estavam cortados. As minas europeias estavam esgotadas16 , e a falta de moeda levou ao desenvolvimento de um sistema bancário complexo para gerenciar os riscos envolvidos no comércio.17 Navegando entre o norte de África e os portos de Bruges (Flandres) e Inglaterra, genoveses e florentinos estabeleceram então comunidades em Portugal, que beneficiou da iniciativa empresarial e experiência financeira destes rivais da República de Veneza.

Explorações após o Infante D. Henrique (1460-1488)

Em 1460, Pêro de Sintra atingiu a Serra Leoa. Em Novembro desse ano faleceu o infante D. Henrique e, em 1469, dadas as poucas receitas da exploração, Afonso V, Rei de Portugal concedeu o monopólio do comércio no golfo da Guiné ao mercador lisboeta Fernão Gomes, contra uma renda anual de 200.000 réis.25 Segundo João de Barros, ficava aquele “honrado cidadão de Lisboa” com a obrigação de continuar as explorações, pois o exclusivo do comércio era garantido com “condição que em cada um destes cinco anos fosse obrigado a descobrir pela costa em diante cem léguas, de maneira que ao cabo do seu arrendamento desse quinhentas léguas descobertas”26 ».

Este avanço, do qual não há grandes pormenores, terá começado a partir da Serra Leoa, onde já haviam chegado Pêro de Sintra e Soeiro da Costa. Com a colaboração de navegadores como João de Santarém, Pedro Escobar, Lopo Gonçalves, Fernão do Pó e Pedro de Sintra, Fernão Gomes fê-lo mesmo para além do contratado: com o seu patrocínio, os portugueses chegaram ao Cabo de Santa Catarina, já no Hemisfério Sul. João de Santarém e Pêro Escobar exploraram a costa setentrional do Golfo da Guiné, atingindo a “mina de ouro” de Sama (actualmente Sama Bay), a costa da Mina, a de Benin, a do Calabar e a do Gabão e as ilhas de São Tomé e Príncipe e de Ano Bom. Quando as expedições chegaram a Elmina na Costa do Ouro em 1471,27 encontraram um florescente comércio local de ouro de aluvião.

Em 1474, D. Afonso V entregou ao seu filho, o príncipe D. João, futuro D. João II, a organização das explorações por terras africanas, que assim passaram da iniciativa privada para a coroa. Este fez o reconhecimento de toda a costa até à região do padrão de Santo Agostinho. Em 1483, Diogo Cão chegou ao rio Zaire e dois anos depois, numa segunda viagem, até à serra Parda.

Em 1487, D. João II enviou Afonso de Paiva e Pêro da Covilhã por terra em busca do Preste João e de informações sobre a navegação e comércio no Oceano Índico. Nesse mesmo ano, Bartolomeu Dias, comandando uma expedição com três caravelas, atingiu o cabo da Boa Esperança. Estabelecia-se assim a ligação náutica entre o Atlântico e o oceano Índico. O projecto para o caminho marítimo para a Índia foi delineado por D. João II como medida de redução dos custos nas trocas comerciais com a Ásia e tentativa de monopolizar o comércio das especiarias. A juntar à cada vez mais sólida presença marítima portuguesa, D. João almejava o domínio das rotas comerciais e expansão do reino de Portugal que já se transformava em Império. Porém, o empreendimento não seria realizado durante o seu reinado. Seria o seu sucessor, D. Manuel I que iria designar Vasco da Gama para esta expedição, embora mantendo o plano original.

Colombo chega às “Índias Ocidentais” (1492)

As quatro viagens de Cristovão Colombo 1492-1503

O Reino de Castela (precursor de Espanha) rival de Portugal, foi um pouco mais lento a começar a explorar o Atlântico. Apenas no final do século XV, após a unificação das coroas de Castela e Aragão e uma vez concluída a reconquista, os espanhóis se mostraram empenhados na procura de novas rotas comerciais e na expansão. A coroa de Aragão fora um potentado marítimo do Mediterrâneo, controlando territórios no leste da Espanha, sudoeste da França e ilhas principais como Maiorca, Sicília e Malta, o Reino de Nápoles e a Sardenha, em domínios que se estendiam até a Grécia. Em 1492, os reis católicos conquistaram o reino mouro de Granada que vinha fornecendo mercadorias africanas através de tributo a Castela, e decidiram financiar a expedição do genovês Cristovão Colombo - que por duas vezes, em 1485 e 1488, se apresentara ao rei D. João II de Portugal, sem sucesso - “na esperança de desviar o comércio de Portugal com África e daí com o Oceano Índico, chegando à Ásia viajando para oeste.”28

Navegando para a coroa espanhola, Cristóvão Colombo partiu de Palos de la Frontera em 3 de agosto de 1492, com três pequenas embarcações: a nau Santa Maria e as caravelas Niña e Pinta. A 12 de outubro de 1492, Cristóvão Colombo chegou ao que chamou as “Índias ocidentais”, um ilhéu das Bahamas a que deu o nome de São Salvador. Continuando a navegar acostou em Cuba (segundo os próprios cubanos29 o nome é derivado da palavra Taíno, “cubanacán”, significando “um lugar central”) e chegou ao Haiti a que deu o nome de Hispaniola. Supondo de ter chegado à Índia deixou uma pequena colônia e regressou à Europa. Na segunda viagem em 1493, avistou as Antilhas e abordou a Martinica. Rumou depois para o norte e alcançou Porto Rico. Foi a Hispaniola, onde a pequena colônia tinha sido arrasada pelos indígenas. Tendo ali deixado outro contingente de homens, navegou para o ocidente e chegou à Jamaica. Nessa viagem fundou Isabela, atual Santo Domingo, na República Dominicana, a primeira povoação europeia no continente americano.

Os espanhóis ficaram inicialmente decepcionados com as suas descobertas - ao contrário de África ou da Ásia, as ilhas do Caribe pouco comércio permitiam. As ilhas tornaram-se assim o foco de esforços de colonização. Só mais tarde, quando o interior do continente foi explorado, é que que a Espanha encontraria a riqueza que tinha procurado na forma de prata e ouro abundante.

Nas Américas, os espanhóis encontraram uma série de impérios tão grandes e populosos como os da Europa. No entanto, pequenos corpos dos conquistadores espanhóis com grandes exércitos de ameríndios, conseguiu vencer estes estados. Os mais notáveis dos estados conquistados foram o império asteca no México (conquistado em 1521) e o império inca no Peru (conquistado em 1532). Durante este tempo, as pandemias de doenças como a varíola europeia devastaram as populações indígenas. Uma vez a soberania espanhola estabelecida, a exploração centrou-se na extração e exportação de ouro e prata.

O Tratado de Tordesilhas (1494)

Depois da chegada de Colombo às “Índias Ocidentais”, uma divisão da zona de influência tornou-se necessária para evitar futuros conflitos entre espanhóis e portugueses.30 Isto foi resolvido em 1494, com a assinatura sob egide papal do Tratado de Tordesilhas que “dividia” o mundo entre as duas potências da época, Portugal e Espanha.[vago]

Imediatamente após o regresso de Colombo, em 1493, os reis católicos tinham obtido do papa Alexandre VI a bula pontifícia Inter caetera afirmando que todas as terras a oeste e sul de um meridiano 100 léguas a oeste dos Açores ou das ilhas de Cabo Verde deveriam pertencer à Espanha e, mais tarde, incuindo todos territórios da Índia. Não mencionava Portugal, que não podia reivindicar terras recém-descobertas nem sequer a leste desta linha. O rei D. João II de Portugal não ficou satisfeito com o acordo, sentindo que este lhe dava pouca margem - impedindo-o de chegar à Índia, seu objectivo principal. Negociou então directamente com o rei Fernando de Aragão e a rainha Isabel de Castela para mover esta linha para oeste, permitindo-lhe reivindicar todas as terras recém-descobertas a leste do mesmo.31

No Tratado de Tordesilhas de 1492 os portugueses “recebiam” todos os territórios fora da Europa a leste de um meridiano que corria 270 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, o que dava o controlo sobre a África, Ásia e leste da América do Sul (Brasil). Aos espanhóis foram atribuídos todos os territórios a oeste dessa linha, ainda quase totalmente desconhecidos, e que se revelaram ser principalmente a parte ocidental do continente americano e as ilhas do oceano Pacífico.

O Novo Mundo (1497-1507)

Só uma pequena parte da área dividida pelo Tratado de Tordesilhas havia sido vista pelos europeus, sendo dividida apenas no papel. Imediatamente após a primeira viagem de Colombo vários exploradores navegaram na mesma direção. Em 1497, Giovanni Caboto, também um italiano, obteve uma carta-patente do rei Henrique VII de Inglaterra. Partindo de Bristol, provavelmente apoiado pela associação local “Society of Merchant Venturers”, Caboto cruzou o Atlântico mais a norte, esperando que a viagem fosse mais curta32 e aportou algures na América do Norte, possivelmente na Terra Nova.

Em 1499, João Fernandes Lavrador foi licenciado pelo rei de Portugal33 e, juntamente com Pêro de Barcelos, pela primeira vez avistou o Labrador, que lhe foi concedido e nomeado em sua homenagem. Após regressar possivelmente foi para Bristol, navegando em nome da Inglaterra.34 Praticamente ao mesmo tempo, entre 1499-1502, os irmãos Gaspar e Miguel Corte Real exploraram e nomearam as costas da Gronelândia e da Terra Nova. Ambas as explorações foram assinaladas no planisfério de Cantino de 1502.

As “verdadeiras Índias”, o Brasil e a América

Em 1497, cumprindo o projecto do seu antecessor de encontrar uma rota para as Índias, o recém-coroado rei D. Manuel I de Portugal enviou uma frota exploratória para este. Em Julho 1499 espalhou-se a notícia de que os portugueses tinham chegado às “verdadeiras Índias”, como constava numa carta imediatamente enviada pelo rei Português aos Reis Católicos um dia após a chegada da celebrada frota.35

Ao mesmo tempo que Colombo embarcava em duas novas viagens para explorar a América Central entrando em conflito com a coroa espanhola, uma segunda grande armada Portuguesa foi enviada para a Índia. A frota de treze navios e cerca de 1.500 homens partiu de Lisboa em 9 de Março de 1500. Comandada por Pedro Álvares Cabral, incluia uma tripulação experiente, incluindo os peritos Bartolomeu Dias, Nicolau Coelho e escrivão Pêro Vaz de Caminha. Para evitar a calmaria ao largo da costa do Golfo da Guiné, navegaram na direcção sudoeste, numa grande “volta do mar”. Em 21 de Abril, avistaram uma montanha que nomearam “monte Pascoal”, em 22 de Abril desembarcaram na costa, e no dia 25 de Abril toda a frota velejou para um porto que chamaram “Porto Seguro”. Cabral tendo percebido que a nova terra estava a leste da linha de Tordesilhas, logo enviou um emissário a Portugal com a importante notícia, acreditando que as recém-descobertas terras eram uma ilha, que denominou “Ilha de Vera Cruz”. Alguns historiadores defendem que os portugueses já sabiam da existência do bojo formado pela América do Sul ao realizar a chamada manobra de “volta do mar”, por isso a insistência do rei D. João II em mover para oeste a linha de Tordesilhas, afirmando que o desembarque no Brasil pode não ter sido acidental.36

A convite do rei D. Manuel I de Portugal, Américo Vespúcio37 - um florentino que trabalhara para uma dependência do banco Medici em Sevilha desde 1491 equipando as frotas oceânicas, e que por duas vezes viajara às Guianas com Juan de la Cosa ao serviço da Espanha38 - participou como observador nas primeiras viagens exploratórias à América do Sul entre 1499 e 1502, expedições que se tornaram amplamente conhecidas na Europa depois de dois relatos que lhe são atribuídos, publicados entre 1502 e 1504.

Depressa se percebeu que Colombo não tinha chegado à Ásia, mas sim ao que era visto pelos europeus como um Novo Mundo: as Américas. A América foi assim nomeada pela primeira vez em 1507 pelos cartógrafos Martin Waldseemüller e Matthias Ringmann, provavelmente inspirada em Américo Vespúcio,39 o primeiro Europeu a sugerir que as terras recém-descobertas não eram Índia, mas um “Novo Mundo” ou “Mundus Novus”40 , o título em latim do documento baseado nas cartas de Vespúcio a Lorenzo di Pierfrancesco de Médici, que então se havia se tornado muito popular na Europa.41

Exploração interior das Américas: os conquistadores espanhóis

Enquanto os portugueses obtinham enormes ganhos no Oceano Índico, os espanhóis investiram em explorar o interior da América em busca de ouro e recursos valiosos. Os membros destas expedições, os “conquistadores”, provinham de uma variedade de origens incluindo artesãos, comerciantes, clero, pequena nobreza e escravos liberados. Geralmente forneciam o seu próprio equipamento em troca de uma participação nos lucros, não tendo ligação directa com o exército real, nem sequer formação ou experiência profissional militar.58

Rumores de ilhas desconhecidas a noroeste de Hispaniola haviam chegado a Espanha em 1511. O rei Fernando II de Aragão estava interessado em prosseguir as explorações e, em 1512, como recompensa a Ponce de León por explorar Porto Rico desafiou-o a procurar estas novas terras: tornar-se-ia governador das terras descobertas, mas teria de financiar toda a exploração.59 Com três navios e cerca de 200 homens, Léon partiu de Porto Rico em Março de 1513. Em Abril avistaram terra nomeando-a La Florida acreditando ser uma ilha, pela paisagem verdejante e porque era Páscoa (dita em Espanha a Florida), tornando-se creditado como o primeiro europeu a desembarcar no continente nas costas Norte Americanas. O local de chegada é disputado entre St. Augustine, Ponce de León Inlet e Melbourne Beach. Navegaram para o sul e a 8 de Abril encontraram uma corrente tão forte que os fez recuar: foi o primeiro encontro com a Corrente do Golfo, que viria a tornar-se a principal rota para os navios que deixavam as “Índias” espanholas com destino à Europa.60 Exploraram ao longo da costa atingindo Biscayne Bay, Dry Tortugas e numa tentativa de circundar Cuba para retornar, atingiram a Grand Bahama.

Cortés: exploração do México e conquista do Império Asteca (1519-1521)

Em 1517, o governador de Cuba Diego Velázquez de Cuéllar ordenou a uma frota para explorar a Península do Iucatão. Atingiram a costa onde Maias os convidaram a aportar, mas foram atacados durante a noite e apenas um resquício da tripulação voltou. Velázquez enviou então outra expedição liderada por seu sobrinho Juan de Grijalva, que navegou ao longo da costa para sul até Tabasco, território asteca. Em 1518 Velázquez atribuiu ao prefeito da capital de Cuba, Hernán Cortés, o comando de uma expedição para segurar o interior do México mas, devido a uma antiga disputa entre ambos, revogou o alvará.

Em Fevereiro de 1519 Cortés avançou ainda assim, num acto de rebelião aberta. Com cerca de 11 navios, 500 homens, 13 cavalos e um pequeno número de canhões que chegou à península de Iucatão, em território maia, [66] reivindicando-o para a coroa espanhola. De Trinidad avançou para Tabasco e venceu uma batalha contra os nativos. Entre os vencidos estava La Malinche, sua futura amante, que conhecia as línguas náuatle (asteca) e maia, tornando-se uma valiosa intérprete e conselheira. Através dela, Cortés soube do rico Império Asteca.

Em Julho os seus homens tomaram Veracruz e Cortés colocou-se sob as ordens directas do novo rei Carlos I de Espanha61 . Aí Cortés pediu uma audiência com o imperador asteca Montezuma II, que foi repetidamente recusada. Seguiram então para Tenochtitlán e no caminho estabeleceram alianças com diversas tribos. Em Outubro, acompanhados por cerca de 3.000 Tlaxcaltecas marcharam para Cholula, a segunda maior cidade da região central do México. Para instilar o medo nos astecas que os aguardavam ou (como Cortés afirmaria mais tarde) por preterem dar um exemplo, ao temer a traição nativa, massacraram milhares de membros desarmados da nobreza reunidos na praça central e parcialmente queimaram a cidade.

Chegando a Tenochtitlan com um grande exército, a 8 de Novembro foram pacificamente recebidos por Montezuma, que deliberadamente deixou Cortés entrar no coração do império asteca, na esperança de conhecê-los melhor para esmagá-lo mais tarde.62 O imperador presenteou-os pródigamente com ouro, que os seduziu a saquear grande quantidade. Nas suas cartas a Carlos I, Cortés afirmou ter sabido que era considerado pelos astecas um emissário da divindade Quetzalcóatl (serpente emplumada) ou a própria divindade- uma opinião contestada por alguns historiadores modernos.63 Mas logo souibe que os seus homens na costa tinha sido atacados, e decidiu tornar Moctezuma refém no seu palácio, solicitando-lhe a jurar fidelidade a Carlos I.

O governador Velasquez enviara outra expedição, conduzida por Pánfilo de Narváez, para se opor a Cortés, chegando ao México em Abril de 1520 com 1.100 homens. Cortés deixou Tenochtitlán com 200 homens e seguiu para enfrentar Narvaez, que venceu, convencendo seus homens a acompanhá-lo. Em Tenochtitlán um dos tenentes de Cortés cometeu um massacre no templo principal, desencadeando a revolta. Cortés voltou rapidamente e propôs um armistício, procurando o apoio de Moctezuma, mas o imperador asteca foi apedrejado até à morte pelos seus próprios súbditos. Cortés fugiu durante a chamada Noite Triste, escapando por um triz enquanto a retaguarda era massacrada. Grande parte do saque perdeu-se durante essa fuga em pânico. Depois de uma batalha em Otumba chegaram a Tlaxcala, tendo perdido 870 homens. Prevalendo com o apoio de aliados e reforços de Cuba, Cortés sitiou Tenochtitlán e capturou seu governante Cuauhtémoc em 1521. À medida que o Império Asteca terminava reivindicou a cidade para a Espanha, renomeando-a Cidade do México.

Pizarro: exploração do Peru e da conquista do Império Inca (1524-1532)

A primeira tentativa de explorar a costa oeste da América do Sul foi feita em 1522 por Pascual de Andagoya, tendo chegado a Rio San Juan (Colômbia), onde populações locais lhe descreveram um território rico em ouro junto a um rio chamado “Pirú”. Andagoya adoeceu e regressou ao Panamá, onde espalhou a notícia sobre o “Pirú” como o lendário El Dorado. Este relato, juntamente com o sucesso de Cortés, chamaram a atenção de Pizarro.

Francisco Pizarro tinha acompanhado Balboa na travessia do istmo do Panamá. Em 1524 formou uma parceria com o padre Hernando de Luque e o soldado Diego de Almagro para explorar o sul e dividir os lucros, apelidando a iniciativa “Empresa del Levante”. Pizarro comandava, Almagro proporcionava apoio militar e alimentos, Luque seria responsável pelas finanças e outras disposições.

Em Setembro partiu a primeira de três expedições à conquista do Peru com cerca de 80 homens e 40 cavalos. A expedição foi um fracasso chegando à Colômbia onde sucumbiram ao mau tempo, fome e conflitos com habitantes locais hostis. Os nomes de locais conferidos ao longo da rota - Puerto Deseado (porto desejado), Puerto del hambre (porto da fome) e Puerto quemado (porto queimado)- testemunham essas dificuldades. Dois anos depois, seguiu uma segunda expedição com cerca de 160 homens, com a autorização relutante do governador do Panamá. Ao chegar do Rio San Juan separaram-se: Pizarro ficou a explorar as costas pantanosas e Almagro buscou reforços. O piloto de Pizarro navegou para sul além do Equador, onde capturou um barco de Tumbes. Para sua surpresa transportava têxteis, cerâmica e o muito desejado ouro, prata e esmeraldas, tornando-se o foco da expedição. Depois de uma viagem difícil, enfrentando ventos e correntes, atingiram Atacames onde encontraram uma grande população sob domínio Inca, mas de aspecto tão agressivo que não aportaram.

Decidiram que Pizarro ficaria abrigado perto da costa, enquanto Almagro e Luque voltavam ao Panamá para buscar mais reforços com o ouro encontrado como prova. O novo governador rejeitou uma terceira expedição e mandou dois navios trazer todos de volta. Quando chegaram a Isla de Gallo, Pizarro traçou uma linha na areia, dizendo: “Ali está o Peru com suas riquezas; Aqui, o Panamá e sua pobreza. Escolha, cada homem, o que melhor o torna um castelhano corajoso.” Treze decidiram ficar tornando-se conhecidos como “los trece de la Fama” (os treze famosos). Construíram um barco avançando até La Isla Gorgona, onde permaneceram sete meses até à chegada de provisões.

No Panamá, o governador concordou com um navio para trazer de volta Pizarro e abandonar completamente a expedição. Almagro e Luque aproveitaram a oportunidade para se juntar Pizarro. Navegaram para sul e, em Abril de 1528, atingiram o noroeste do Peru na região de Tumbes, onde foram recebidos calorosamente pelos Túmpis. Dois dos homens de Pizarro relataram riquezas incríveis, incluindo decorações a ouro e a prata na casa do chefe. Viram pela primeira vez lhamas a que Pizarro chamou “pequenos camelos”. As populações chamaram aos espanhóis “Filhos do Sol” pela sua pele clara e armaduras brilhantes. Decidiram então regressar ao Panamá para preparar uma expedição final. Antes navegaram para o sul através de territórios por eles nomeados, como Cabo Blanco, porta de Payta, Sechura, Punta de Aguja, Santa Cruz, e Trujillo, atingindo pela primeira vez 9ºsul.

Na primavera de 1528, Pizarro partiu para Espanha, onde teve uma audiência com o rei Carlos I que, ao ouvir sobre as suas expedições em terras descritas como muito ricas em ouro e prata e prometeu apoiá-los. Pizarro convenceu então muitos amigos e parentes a participar: seus irmãos Hernando, Juan e Gonzalo Pizarro e também Francisco de Orellana, que viria a explorar o rio Amazonas, assim como seu primo Pedro Pizarro. Quando a expedição partiu no ano seguinte levava três navios, cento e oitenta homens e 27 cavalos.

Desembarcaram perto do Equador e após lutar com os Punian, navegaram para Tumbes, encontrando o local destruído. Avançaram no interior onde estabeleceram o primeiro assentamento espanhol no Peru, San Miguel de Piura. Um dos homens voltou com um enviado Inca e um convite para um encontro. Os Incas estavam em guerra civil e Atahualpa descansava no norte do Peru perto de Cajamarca, após derrotar o seu irmão Huascar. Caminharam dois meses até Atahualpa. Este, porém, recusou a presença espanhola, dizendo que não “seria tributário de ninguém.” Havia menos de 200 espanhóis a 80.000 soldados incas, mas Pizarro atacou o exército inca na Batalha de Cajamarca. Os espanhóis foram vitoriosos e prenderam Atahualpa na chamada sala de resgate. Apesar de cumprir sua promessa de encher uma sala com ouro e duas de prata, foi condenado pelo assassinato de seu irmão e conspirar contra Pizarro, e foi executado.

Em 1533, Pizarro invadiu Cuzco com tropas locais e escreveu ao rei Carlos I: “Esta cidade é a maior e mais bela já vista neste país ou em qualquer lugar nas Índias ... tem belos edifícios que seriam notáveis, mesmo em Espanha. “ Depois de selar a selado a conquista do Peru, Jauja no Vale de Mantaro foi criada como capital provisóriado Peru em 1534. Mas por ser muito distante do mar, nas montanhas Pizarro fundou a cidade de Lima em 1535, o que considerou um dos atos mais importantes da sua vida.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Era_dos_Descobrimentos

Questões

1.Qual a relação da Era dos Descobrimentos com o início da Modernidade? E o que o conceito de Columbian Eschange tem haver com o conceito de Globalização?

2. Enumere os conhecimentos dos Europeus sobre a Ásia e a África antes de 1439?

3.Diga o que foi a Pax Mongólica e o que aconteceu após seu fim?

4.Quais as contribuições de Giovani Del Carpine, Marco Polo, IbnBattuta e Niccoló da Conti?

5.Quais as principais consequências para as navegações a Queda de Constantinopla em 1453 ocasionou? 

6.Bartolomeu Dias chega a Índia em 1487. Qual a importância disso?

7.Quem financiou a viagem de Cristóvão Colombo? O que ele ecnontrou nas “Índias”? E, o que os espanhóis encontrarm lá?

8.Após Colombo, se deflagrou uma verdadeira corrida pelas “Índias”. Diga o que foi o Tratado de Tordesilhas e por qual Papa foi ratificado?

9.Após 1492 quais foram os principais enviados para novas descobertas e por que foram enviados?

10.Quem nomeou a América com esse nome e porquê?

11.Quem eram os “conquistadores”? E que tipo de acordo Fernando II de Aragão fez com Ponce de Léon?

12. Quais os maiores feitos de Hernan Cortez?

13. Quais os maiores feitos de Francisco Pizarro?