Guilherme de Ockham

•As verdades de fé não são evidentes por si mesmas, nem são demonstráveis e nem aparecem

1.A Situação Histórica do Século XIV

Em contexto mais geral, com implicações de caráter socioeconômico, mas com conotações de evidente anticlericalismo, devemos recordar três revoltas populares: a Jacquerie, na França, a revolta dos pequenos artesãos de Ciompi, na Toscana, e a revolta dos Lollards, na Inglaterra. O objetivo leigo em relação à Igreja era o de subtrair-lhe todo poder temporal e submetê-la à autoridade do Estado no que se refere às questões mundanas. A salvação é fato interior e espiritual, não tendo necessidade de estrutura de bens e poder, o que, ao contrário, constitui forte impedimento, posicionando-se em contraste com as orientações do Evangelho. Significativa dessa espiritualidade con-testatária popular foi a longa controvérsia que, nos séculos XIII e XIV, dividiu a ordem franciscana em relação à questão da pobreza. Para alguns, os chamados “espirituais”, a fidelidade a essa virtude devia ser rigorosa, enquanto, para outros, podia ser flexível, porque se trataria de simples instrumento, sendo portanto adaptável às circunstâncias históricas da evangelização. Essa polêmica, porém, não se circunscrevia só à ordem franciscana, atingindo também a Igreja, convidada a livrar-se das vestes do poder e da riqueza.

Do ponto de vista mais propriamente cultural, o Trezentos vive à sombra das várias condenações de que foi objeto, a partir de fins do Duzentos, o aristotelismo averroísta e tomista, tanto em Paris como, sobretudo, em Oxford. Às condenações do bispo Estêvão Tempier, de 1277, que não tinham efeito fora da universidade e da diocese de Paris, seguiram-se no mesmo ano, em Oxford, por parte de Roberto Kilwardby, as proibições das teorias tomistas da geração, da passividade da matéria, da introdução de novas formas no corpo humano após a morte e da unidade da forma. Essas proibições foram reafirmadas e ampliadas em Oxford pelo franciscano John Peckham, em dezembro de 1284 e, depois, em abril de 1286.

Se, além dessas condenações, recordarmos as polêmicas entre os seguidores de Boaventura e Tomás e, depois, entre os partidários de Escoto e Tomás, não será difícil perceber a queda da tensão criadora que caracterizara o Duzentos e a crise em que se debatiam a razão e a filosofia, antes consideradas subsídios necessários à fé e agora freqüentemente transformadas em inúteis instrumentos de vãs disputas. Aliás, a dualidade entre filosofia e teologia, acentuada por Escoto em total benefício da segunda, no Trezentos se amplia ainda mais, em consonância com o clima de crescente dissolução da concepção unitária da sociedade humana, que se dividia sempre mais em temporal e espiritual — e, no que se refere ao espiritual, evidenciando queda do seu caráter popular e coletivo, porque sempre mais interior e individual.

2.Guilkerme de Ockham: a figura e as obras

A figura que mais do que qualquer outra representa as múltiplas instâncias com que se encerra a Idade Média e se abre o século XIV é o franciscano Guilherme de Ockham. Conhecido como “o príncipe dos nominalistas”, no passado ele era lembrado o mais das vezes como teórico de vãs sutilezas, privadas de qualquer contato com a realidade. Logo, porém, sua originalidade emergiu novamente nas várias vertentes do saber lógico, científico, filosófico e teológico. Além de suas contribuições lógicas, também se destacam suas teorias físicas e, sobretudo, a concepção do conhecimento físico de natureza especificamente empírica, bem como a separação entre a filosofia e a teologia; no campo político-religioso, a autonomia do aspecto temporal em relação ao espiritual, com suas conseqüências políticas e institucionais. O espírito “laico”, mas não “laicista”, se inicia com ele, porque, com sua doutrina e sua vida, ele encarna a incipiente afirmação dos ideais de dignidade de cada homem, do poder criador do indivíduo e da cultura em expansão, livre de censuras, idéias que a nova época do Renascimento desenvolverá.

Nascido no condado de Surrey, na aldeia de Ockham, a vinte milhas de Londres, pelo ano de 1280, Guilherme ingressou na ordem franciscana com pouco mais de vinte anos de idade. Realizou seus estudos universitários em Oxford, onde comentou as Sentenças de Pedro Lombardo, conseguindo o título de Baccalaureus sententiarum em 1318. Entre 1317 e 1324, escreveu a Lectura libri sententiarum, a Expositio aurea e a Ex-positio super physicam, como também a Ordinatio e os Quodlibetales. Em 1324, Ockham transferiu-se para o convento franciscano de Avignon, onde o papa João XXII o convocou para responder à acusação de heresia. Com efeito, o ex-chanceler da Universidade de Oxford redigira longa lista de pontos extraídos dos escritos de Ockham, considerados suspeitos de heresia. Depois de três anos de estudo, a comissão nomeada pelo papa para examinar os escritos condenou sete pontos como heréticos, trinta e sete como falsos e quatro como temerários. Nesse período Ockham concluiu suas obras maiores, a Summa logicae e o Tractatus de sa-cramentis.

Nesse meio tempo, sua posição se agravara ainda mais, porque na polêmica surgida no interior da ordem franciscana, sobre o problema da pobreza, Guilherme se alinhara com a ala intransigente, que rejeitava asperamente a orientação moderada do papa. Assim, prevendo severas sanções, em maio de 1328, Guilherme foge de Avignon e se abriga junto a Ludovico, o Bávaro, em Pisa, ao qual parece ter dito: Tu defendes me gladio, ego defendam te calamo. Seguindo o imperador, estabeleceu-se depois em Munique da Baviera, onde morreria em 1349, vítima de epidemia de cólera.

Durante esse período, no qual não escreveu mais sobre filosofia, produziu muitas obras polêmicas de tema político-religioso. Recordemos o Opus nonaginta diemm e o Compendium errorum papae Johannis XXII, onde defende um conceito rigoroso de pobreza contra a postura conciliatória do Pontífice; o Breviloquium de potestate papae e o Dialogus (originalmente em três partes, mas que chegou até nós incompleto), onde fala da possibilidade de depor o Papa no caso de ele tornar-se herético e das relações entre o Papa, o Concílio e o Imperador. Além disso, também o Tractatus de jurisdictione in causis matrimonialibus e o De imperatorum et pontificum potestate.

3.Independência da fé em relação à razão

Mais do que ninguém, Ockham tinha consciência da fragilidade teórica da harmonia entre razão e fé, bem como do caráter subsidiário da filosofia em relação à teologia. As tentativas de Tomás, Boaventura e Escoto no sentido de mediar a relação entre razão e fé com elementos aristotélicos ou agostinianos, através da elaboração de complexas construções metafísicas e gnosioló-gicas, pareciam-lhe inúteis e danosas. O plano do saber racional, baseado na clareza e evidência lógica, e o plano da doutrina teológica, orientado pela moral e baseado na luminosa certeza da fé, são planos assimétricos. Não se trata apenas de distinção, mas de separação. Escreve Ockham na Lectura sententiarum: “Os artigos de fé não são princípios de demonstração nem conclusões, e nem mesmo prováveis, já que parecem falsos para todos, ou para a maioria ou para os sábios, entendendo por sábios os que se entregam à razão natural, já que só de tal modo se entende o sábio na ciência e na filosofia”.

As verdades de fé não são evidentes por si mesmas, como os princípios da demonstração; não são demonstráveis, como as conclusões da própria demonstração; não são prováveis, porque parecem falsas para os que se servem da razão natural. O âmbito das verdades reveladas é radicalmente subtraído ao reino do conhecimento racional. A filosofia não é serva da teologia, que não é mais considerada ciência, mas sim um complexo de proposições mantidas em vin-culação não pela coerência racional, e sim pela força de coesão da fé.

5.O conhecimento intuitivo e conhecimento abstrato

O primado do indivíduo leva ao primado da experiência, na qual se baseia o conhecimento. A esse respeito, é necessário distinguir entre conhecimento não-complexo, relativo aos termos singulares e aos objetos que eles designam, e conhecimento complexo, relativo às proposições resultantes, compostas de termos. A evidência de uma proposição deriva da evidência dos termos que a compõem. Não havendo esta, não pode haver aquela.

Daí a importância do conhecimento não-complexo, que pode ser intuitivo e abstrativo.

7 A “navalha de Ockham” e a dissolução da metafísica tradicional

Nesse contexto de extrema fidelidade ao individual não é difícil captar as implicações do preceito metodológico, simples na enunciação, mas fecundo em conseqüências, assim formulado: “Não se deve multiplicar os entes se não for necessário” (Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem). Conhecido como a “navalha de Ockham”, esse cânon tornou-se arma crítica contra o platonismo das essências e contra os aspectos do aristotelismo em que se percebe mais a presença de elementos platônicos. Em rápida seqüência, vejamos como, na filosofia de Ockham, caem por terra os pilares da metafísica e da gnosiologia tradicional.

Tal seqüência de críticas à construção metafísica e gnosiológica com a qual Ockham se defronta nos sugere duas observações. Antes de mais nada, a “navalha de Ockham” abre caminho para um tipo de consideração “econômica” da razão, que tende a excluir do mundo e da ciência os entes e conceitos supérfluos, a começar pelos entes e conceitos metafísicos, que imobilizam a realidade e a ciência, configurando-se como norma metodológica que mais tarde seria definida como rejeição das “hipóteses ad hoc”. Por outro lado, tal crítica parte do pressuposto de que não é necessário admitir nada fora dos indivíduos, bem como, por fim, de que o conhecimento fundamental é o conhecimento empírico.

Navalha de Ockham. Com esta metáfora Ockham quer exprimir um princípio antiplatônico, segundo o qual não é necessário multiplicar os entes e construir um mundo ideal de essências: de fato, não é preciso ir além dos indivíduos.

8.A nova lógica

Em primeiro lugar, a separação clara entre lógica e realidade permite a Ockham tratar os termos como se fossem puros símbolos e relacioná-los entre si sem se ocupar da realidade designada. Desse modo, ele se posiciona em condições de oferecer uma impecável teoria da demonstração lógica, evidente e rigorosa em si mesma, porque constituída por puros símbolos. À luz dos resultados a que chegou a moderna lógica simbólica, sobretudo com a distinção entre “sintática” e “semântica”, é fácil perceber a genialidade dessa intuição.

A fidelidade à suposição lógica, em suas várias formas, induz a descartar expressões aproximativas e indicar com precisão aquilo de que se está falando, evitando assim danosas obstruções lingüísticas. Em suma, trata-se de construção lógica que põe ordem no pensamento, traz clareza à linguagem e exige realismo no saber.

9.O problema da existência de Deus

Juntamente com a construção metafísica da escolástica, Ockham obviamente derruba também toda uma série de pretensões da razão. Para ele, a verdadeira função do teólogo não é a de demonstrar pela razão as verdades aceitas por fé, mas sim, da altura daquelas verdades, demonstrar a insuficiência da razão. Desse modo, Ockham pensa instituir um conceito de razão mais rigoroso, reduzindo-a aos seus legítimos limites, ao mesmo tempo em que salvaguarda a especificidade e a alteri-dade (em relação à razão) das verdades de fé.

Os ditames da fé estão presentes como puros “dados” da Revelação na sua beleza original, sem os ouropéis da razão. Sua aceitação deve-se exclusivamente ao dom da fé. A fé é o fundamento da vida religiosa, assim como o é da verdade cristã. Enquanto o esforço da escolástica moveu-se na direção da conciliação entre fé e razão, com mediações e construções de diversas dimensões, o esforço de Ockham se orienta no sentido de derrubar tais mediações, apresentando como separados, mas com todo o seu peso, o universo da natureza e o universo da fé. Não mais intelligo ut credam, nem mais credo ut intelligam, e sim credo et intelligo.

10.Contra a Teocracia, a favor do pluralismo

Ockham foi um dos mais inteligentes intérpretes da decadência, na consciência coletiva, dos ideais e dos poderes universais encarnados pelas duas figuras teocráticas: o imperador e o pontífice romano. A defesa intransigente do “indivíduo” como única realidade concreta, a tendência de basear o valor do conhecimento na experiência direta e imediata, bem como a separação programática entre a experiência religiosa e o saber racional e, portanto, entre fé e razão, não podiam deixar de conduzi-lo à defesa da autonomia do poder civil em relação ao poder espiritual e, portanto, à exigência de profunda transformação da estrutura e do espírito da Igreja. Trata-se de projeto que, pelo que se pode ver a partir destes últimos elementos, atinge todos os fundamentos da cultura medieval, lançando os pressupostos da cultura humanista-renascentista.

Envolvido no conflito entre o papado e o império, Ockham pretende redimensionar o poder do pontífice e demitizar o caráter sagrado do império, interessado mais no primeiro do que no segundo.

Se o papa tivesse recebido de Cristo tal plenitude de poderes e se comportasse em conseqüência, submeteria a si todos os cristãos. Teríamos então uma escravidão pior do que a antiga, porque diria respeito a todos os homens. Trata-se então de uma tese não apenas contrária ao Evangelho, mas também às exigências fundamentais da convivência humana.

Na realidade, seu poder é limitado. O papa é ministrator, não dominator; deve servir, não sujeitar. Seu poder foi instituído em benefício dos súditos e não para que lhes fosse retirada aquela liberdade que está na base do ensinamento de Cristo. E tal poder não cabe ao papa, nem ao Concílio, porque ambos são falíveis. Não é o papa, nem o Concílio, e sim a Igreja, como comunidade livre de fiéis, que, no curso de sua tradição histórica, sanciona as verdades que constituem sua vida e seu fundamento. A que seria reduzida a presença do Espírito Santo na comunidade dos fiéis se a função de sancionar leis ou impor verdades coubesse ao papa e ao Concílio? A teocracia e a aristocracia não têm lugar na Igreja. E preciso abrir espaço para os fiéis, para todos os fiéis, membros efetivos da Igreja, cuja comunidade é a única à qual compete a infalibilidade.

Podemos perceber aí a aspiração à reforma, que se acentuaria ainda mais no século seguinte, até desembocar na distante Reforma protestante. Os germes foram lançados, mas seu florescimento não é prelúdio ao retorno à unidade medieval, e sim à afirmação daquele pluralismo que, primeiro com Wyclif e depois com Lutero, tornar-se-ia divisão e dispersão.

Com Ockham, a escolástica chega ao fim. Apesar das proibições e condenações, tal orientação vai corroendo lentamente os antigos sistemas e fazendo emergir instâncias e princípios que lentamente se reuniriam em nova visão de mundo. Em 25 de setembro de 1339, a leitura de Ockham é proibida em Paris, proibição reafirmada em 29 de dezembro de 1340 no que se refere às suas teses principais. Apesar disso o Ockhamismo conquista terreno nas maiores universidades, 10 lontra a teocracia/ a favor do pluralismo com homens dedicados a mostrar a inconsistência da cosmologia aristotélica, como João Buridan (1290-1358) e Nicolau de Oresme (falecido em 1382), a mostrar a inconciliabilidade da fé com a razão em nome de um conceito de ciência mais rigoroso, como Nicolau de Autrecourt (1350) e o próprio João Buridan e, por fim, a defender a necessidade de reforma radical da Igreja, como o inglês João Wyclif (em torno de 1328-1384) e o boêmio João Huss (1369-1415).

1.O novo método da pesquisa científica proposto por Ochkam

1.1.Fidelidade à experiência

Os cânones da pesquisa científica, enu-cleáveis a partir das muitas obras dedicadas ao estudo da natureza (Expositio super Physi-cam, Quaestiones in libros Physicorum e Phi-losopbia naturalis), estão intimamente ligados à nova lógica e à crítica da cosmologia tradicional. Se, como se disse, o mundo é essencialmente contingente, criado pela absoluta liberdade de Deus onipotente, não é lícito partir do pressuposto de que o mundo esteja estruturado segundo relações necessárias conhecidas por meio de um processo metafísico. Além da multiplicidade dos indivíduos não é preciso admitir outra coisa. Se isso é verdade, o fundamento do conhecimento científico só pode ser o conhecimento experimental.

Daí, portanto, o primeiro cânone: podemos conhecer cientificamente apenas aquilo que é controlável por meio da experiência empírica.

E à fidelidade ao mundo real impele também a lógica, instrumento lingüístico de análise e de crítica. Obrigando a precisar em lugar de qual realidade os termos entram em uma ou mais proposições, a lógica nos convida a relacionar o conteúdo das afirmações à efetiva realidade dos indivíduos.

Pois bem, esta fidelidade ao concreto leva Ockham ã rejeição de qualquer hipos-tatização de tipo metafísico de entidades como o movimento, o espaço, o tempo, o lugar natural etc. Dessa forma, por exemplo, ele não considera o movimento uma entidade distinta das coisas reais que estão em movimento. Além dos corpos móveis não há nada. Com os instrumentos da lógica devemos nos perguntar o que se entende com o termo “movimento”. E a resposta é que tal termo está em função ou está no lugar de indivíduos singulares e conota a modalidade de mudança de suas posições recíprocas. Os processos reais se resolvem, portanto, em uma série de estados, distintos por sua quantidade, no sentido da mudança de posição de algo em relação a outro algo. A estrutura temporal dos eventos físicos se reduz a uma série de stationes, cada uma das quais substitui a precedente. A perspectiva qualitativa, típica da mecânica aristotélica, é substituída pela quantitativa.

1.2.É preciso buscar não a essência mas a função dos fenômenos

Estas reflexões nos levam ao segundo cânone fundamental do método de Ockham: mais do que se preocupar com que coisa são os fenômenos, é melhor preocupar-se com o como se verificam, não a natureza, portanto, mas a função.

Da metafísica se passa, deste modo, para a física, física como disciplina moderna, cujas implicações encontrarão depois grande desenvolvimento nos séculos seguintes.

Estas idéias, com efeito, levarão à matematização da ciência e, portanto, à aplicação dos métodos do cálculo matemático para a inteligência das diversas fases dos fenômenos.

O caminho da física moderna começa a substituir o caminho da indagação aristo-télica, que é físico-metafísica. Com efeito, a visão hierárquica do universo é superada pela visão dele como um conjunto de indivíduos, nenhum dos quais constitui o centro ou pólo dos outros.

1.3. Valorização de Hipóteses explicativas

A este respeito é bom acrescentar um relevo ulterior, indicativo da nova direção da física. Persuadido de que o mundo é um complexo de indivíduos e que ele é, no seu conjunto, essencialmente contingente, isto é, privado de uma legalidade metafísica universal dada como pressuposta, Ockham não considera possível promover a pesquisa científica com princípios definidos ou com estruturas necessárias.

Enquanto se permanece no campo da física aristotélica, segundo a qual tudo se desenvolve segundo leis imutáveis, uma vez que este mundo é fruto de necessidade e não de liberdade, isso se justifica e se compreende. Todavia, no contexto do mundo criado pela absoluta liberdade de Deus, é possível, até legítimo, tomar em exame todas as hipóteses explicativas, porém permanecendo firme a obrigação de controlar tais hipóteses com os dados experimentais oferecidos pelo conhecimento intuitivo sensível.

Entrevemos aqui um método, indubitavelmente apenas embrional, fundado sobre um procedimento per imaginationem, destinado a ter desenvolvimentos fecundos.

A Navalha de Occam

Conceito bastante revolucionário para a época, a Navalha de Occam defende a intuição como ponto de partida para o conhecimento do universo.

Occam com destreza conseguiu demonstrar que o “Duns Scotus”, princípio da economia, conhecido como a “navalha de Occam”, estabelece que “as entidades não devem ser multiplicadas além do necessário, a natureza é por si econômica e não se multiplica em vão”.

O confronto de duas teorias

Este é um princípio filosófico que reza o seguinte: existindo diversas teorias e não havendo evidências que comprovem se é mais verdadeira alguma em relação a outras, vale a mais simples, ou se existirem dois caminhos que levem ao mesmo resultado, usa-se o mais curto, e que pode ser provado sensorialmente. Em outras palavras, não se deve aplicar a um fenômeno nenhuma causa que não seja logicamente dedutível da experiência sensorial. A regra, inspirada na economia medieval, foi usada pelo filósofo para eliminar muitas das entidades com que os pensadores escolásticos explicavam a realidade.

O erro do simplismo

O simplismo aparente da Navalha de Occam, se mal aplicado, pode muitas vezes nos induzir a erros de avaliação em determinados momentos da lógica. Por exemplo, ao efetuarmos determinados experimentos, nem sempre a simplificação é correta, mesmo que o resultado seja muito próximo, ou até idêntico, porém é bastante útil quando o utilizamos em experimentos práticos para comprovar se teorias matemáticas num determinado campo são concordantes.

Simplicidade e perfeição

Nem sempre a simplicidade é a perfeição, mas a perfeição quase sempre é simples. Muitos autores usam a expressão de que, a simplicidade é a perfeição, quando se lida com experimentos que exigem um certo grau de complexidade. Ao utilizar soluções simplistas de análise, poder-se-á incorrer em erros que podem destruir muitas vezes um trabalho de anos. Simplicidade não é sinônimo de facilidade ou simplismo. Em geral obter uma visão ou uma explicação simples para temas complexos exige um esforço maior do que criar visões complexas, mesmo que corretas, sobre o mesmo tema.

O Cálculo Diferencial e Integral, assim como grande parte das descobertas científicas da humanidade certamente passou, ao longo de sua história, por inúmeras reformulações decorrentes do aprendizado e realimentação pelas comunidades científicas (Em geral na física e na matemática) até chegar ao currículo básico de qualquer curso de matemática de nível superior. A simplicidade é consequência da experiência, da criatividade e da capacidade de sintetização, além de outros talentos.

Princípios de análise lógica

Um dos mais importantes é a falta de dados para comprovar se a teoria A é mais correta que a teoria B, ambas tendo o mesmo resultado, porém os cálculos e argumentos da teoria A sendo muito mais complexos que para a teoria B. A comunidade científica escolherá sempre a segunda opção, a mais simples.

Einstein e as simplificações

Provavelmente, quando escreveu que as teorias devem ser tão simples quanto possível, mas nem sempre devemos escolher as mais simples, Albert Einstein estava se referindo ao princípio de Occam em sua Teoria da Relatividade, pois sabia que as hipóteses testadas muitas vezes caíam em contradições, apesar do resultado ser aparentemente perfeito. Daí pode ter sido a utilização do princípio de Occam em alguns pontos considerados contraditórios em seu postulado, pois em matemática, às vezes verdades claras à luz das deduções tornam-se contraditórias ao passar para a linguagem coloquial.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Guilherme_de_Ockham