Protágoras

Protágoras de Abdera (nascido entre 491 e 481 a.C.) foi o fundador do “relativismo” ocidental, que ele expressou na célebre fórmula “o homem é medida de todas as coisas”, com isso entendendo que não existe critério absoluto para julgar o verdadeiro e o falso, o bem e o mal, mas que cada homem julga conforme o próprio modo de ver as coisas.

Para cada tese é portanto possível trazer à baila argumentos a favor e contra (antilogia) e, por conseguinte, é possível, com técnica apropriada, da qual Protágoras se dizia mestre, tornar mais forte o argumento mais fraco: nisso justamente consistia a “virtude”, ou seja, a habilidade do homem. Assim, o “verdadeiro” e o “falso”, e o “bem” e o “mal” perdem qualquer determinação absoluta.

Todavia, nem tudo para Protágoras é relativo: com efeito, se o homem é “medida” da verdade, é “medido” pelo “útil” e pelo “danoso”: estes, portanto, tornam-se referências últimas das quais Protágoras se proclamava mestre.

Górgias de Leontini (nascido por volta de 485/480 a.C.) herda de Parmênides a temática ontológica (o ser existe, e o não-ser não existe), mas inverte os termos (o ser não existe, e o não-ser existe). Os pontos-chave de seu pensamento se exprimem nas três proposições seguintes:

1) “O nada existe”: isto se deduz do fato de que do ser (do princípio) os filósofos precedentes deram definições diversas e opostas, demonstrando, com isso, que ele não existe.

2) “Mesmo que existisse, não seria cognoscível”: o pensamento, com efeito, não se refere necessariamente ao ser - como queria Parmênides -, mas existem coisas pensadas que são não existentes (como, por exemplo, a Quimera).

3) “Mesmo que fosse pensável, o ser não seria exprimível”: a palavra, sendo um som, significa quando muito um som, mas não aquilo que deriva dos outros sentidos, como por exemplo uma cor ou um odor.

Esta doutrina toma o nome de “niilismo”, enquanto põe o nada como fundamento de tudo.

A palavra, perdendo qualquer relação com o ser, não é mais veículo de verdade, mas torna-se portadora de persuasão e sugestão: se esta ação tem propósito prático (por exemplo, convencer o público em uma assembleia, os juízes em um processo), temos a retórica (oratória); se, ao invés, tem propósito puramente estético, temos a arte.

Pródico de Céos (nascido por volta de 470/460) tornou-se célebre pela descoberta da técnica da sinonímia, ou seja, da pesquisa dos termos sinônimos e das diferentes nuanças de seus significados. Esta permitia elaborar discursos sutis e convincentes nos debates públicos e nas assembleias.

Retomou o utilitarismo de Protágoras, ilustrando-o em uma reinterpretação do mito do “Hércules na encruzilhada”, que se tornou muito célebre.

1.Protágoras: o homem como medida de todas as coisas;

O mais famoso e celebrado sofista foi Protágoras, nascido em Abdera na década de 491-481 a.C., e que morreu pelos fins do século. Viajou por toda a Grécia e esteve em Atenas várias vezes, onde alcançou grande sucesso. Também foi muito apreciado pelos políticos (Péricles confiou-lhe a tarefa de preparar a legislação para a nova colônia de Turi em 444 a.C.). As Antilogias constituem sua principal obra, da qual nos chegaram apenas testemunhos.

A proposta basilar do pensamento de Protágoras era o axioma “o homem é a medida de todas as coisas, das que são por aquilo que são e das que não são por aquilo que não são” (princípio do homo mensura). Por “medida”, Protágoras entendia a “norma de juízo”, enquanto por “todas as coisas” entendia todos os fatos e todas as experiências em geral. Tornando-se muito célebre, o axioma foi considerado — e efetivamente é — quase a magna carta do relativismo ocidental. Com efeito, com esse princípio, Protágoras pretendia negar a existência de um critério absoluto que discrimine ser e não-ser, verdadeiro e falso. O único critério é somente o homem, o homem individual: “Tal como cada coisa aparece para mim, tal ela é para mim; tal como aparece para ti, tal é para ti.” Este vento que está soprando, por exemplo, é frio ou quente? Segundo o critério de Protágoras, a resposta é a seguinte: “Para quem está com frio, é frio; para quem não está, não é.” Então, sendo assim, ninguém está no erro, mas todos estão com a verdade (a sua verdade).

2.Os raciocínios opostos e o tornar mais forte o argumento mais fraco

O relativismo expresso no princípio do homo mensura terá um aprofundamento adequado na obra mencionada, As Antilogias, que demonstra que “em torno de cada coisa há dois raciocínios que se contrapõem”, isto é, em torno de cada coisa é possível dizer e contradizer, ou seja, é possível apresentar razões que se anulam reciprocamente. E esse, precisamente, será o nó górdio do ensinamento de Protágoras.

Registra-se também que Protágoras ensinava “a tornar mais forte o argumento mais fraco”. O que não quer dizer que Protágoras ensinasse a injustiça e a iniquidade contra a justiça e a retidão, mas, simplesmente, que ele ensinava os modos como, técnica e metodologicamente, era possível sustentar e levar à vitória o argumento que, em determinadas circunstâncias, podia ser o mais fraco na discussão (qualquer que fosse o conteúdo em exame).

A “virtude” que Protágoras ensinava era exatamente essa “habilidade” de saber fazer prevalecer qualquer ponto de vista sobre a opinião oposta. O sucesso de seus ensinamentos deriva do fato de que, fortalecidos com essa habilidade, os jovens consideravam que poderiam fazer carreira nas assembleias, nos tribunais, na vida política.

3.O utilitarismo de Protágoras

Para Protágoras, portanto, tudo é relativo: não existe um “verdadeiro” absoluto e também não existem valores morais absolutos (“bens” absolutos). Existe, entretanto, algo que é mais útil, mais conveniente e, portanto, mais oportuno. O sábio é aquele que conhece esse relativo mais útil, mais conveniente e mais oportuno, sabendo convencer também os outros a reconhecê-lo e pô-lo em prática.

Dessa forma, porém, o relativismo de Protágoras recebe forte limitação. Com efeito, pareceria que, enquanto é medida e mensurador em relação à verdade e à falsidade, o homem seja medido em relação à utilidade, ou seja, que, de alguma forma, a utilidade venha a se apresentar como objetiva. Em suma, pareceria que, para Protágoras, o bem e o mal seriam, respectivamente, o útil e o danoso; e o “melhor” e o “pior” seriam o “mais útil” e o “mais danoso”.

Entretanto, com base em tudo o que nos foi legado de sua teoria, está claro que Protágoras não soube dizer em que bases e em que fundamentos o sofista possa reconhecer tal “útil” sociopolítico. Para fazê-lo, precisaria ter escavado mais profundamente na essência do homem, para determinar sua natureza. Mas, historicamente, essa tarefa caberá a Sócrates.

Antilogia: Significa contradição, segundo Protágoras, designa o método de aduzir argumentos pro e contra sobre qualquer questão, para tornar mais forte o argumento fraco. Protágoras se professava mestre em tal arte.