19/11/2019
Para mim, a arte é um modo humano de contemplar e reproduzir a obra de Deus. É a captura da mensagem de Deus em suas obras e a expressão delas de algum modo, conforme a própria capacidade e imaginação..
Eu gostaria muito de saber, mas não sei pintar. Rabisco algumas poesias, que acho que de poético não tem nada, mas algumas delas me agradam. Outra coisa de que toda a vida gostei é fotografar. Meu pai tinha uma daquelas câmaras antigas, tipo caixinha, de 8 fotos, que a gente mandava revelar depois de tiradas. Eu acabei gostando também de fotos, mas não sei fotografar como profissional. Continuo amador.
Essas duas fotos que tirei hoje à tarde, durante minha caminhada diária, me encantaram. Senti-me como que um admirador da arte divina. Pensei como há tantas outras cenas da natureza muito mais belas do que estas, mas poucos têm a oportunidade de admirar. Na verdade, todos os dias deparamos com artes finíssimas da natureza, mas passamos reto, não percebemos. Que pena!
Às vezes percebo, por exemplo, florinhas delicadas, pequenas, escondidas, que mostram, em sua singeleza, todo o poder de um Deus Criador inventivo e que não se repete.
Eu acho que percebemos mais o poder de Deus nessas coisinhas pequenas do que nas obras enormes, como as estrelas e planetas, por exemplo. Você já percebeu o tamanho minúsculo de certas formiguinhas que invadem nossas casas? Como pode viver um bichinho desses? Tem um conjunto de órgãos que funcionam, que agem, que produzem alguma coisa. O faro da formiga alcança uma distância enorme. Sua força é descomunal pelo seu tamanho. Tudo isso é obra de Deus. E quando percebemos essa magia que existe na natureza, e a interpretamos de alguma forma visível, isso se torna arte.
Acontece muitas vezes que a arte brotada de alguém é pesada, sombria, cheia de "labirintos". É o que eu disse acima: cada um expressa o que sente de acordo com sua capacidade e visão. E o que essa pessoa expressa é o que resultou, em seu íntimo, a visão ou a sensação que teve de alguma coisa.
Acredito também, baseado nisso que acabei de dizer que, se a pessoa está de bem com a vida, com Deus, com a sociedade, sua arte vai expressar claramente isso.
O meu desejo sincero é que todos nós, mesmo os que nunca observam a natureza, possamos perceber melhor o que está à nossa volta.
Geralmente não percebemos como prejudicamos a convivência com outras pessoas com nosso egoismo, narcisismo, individualismo, pedantismo, pãodurismo etc.
O cristão precisa aprender a controlar esses “ismos” todos e viver na humildade e na caridade, agindo como se nada possuísse e como se fosse indigno de tudo.
Ser humilde é ter consciência do que se é, aceitar-se como se é. Ser humilde não é a mesma coisa que ser tímido. Humildade é virtude, ao passo que timidez é defeito!
Ser humilde é agir de acordo com as próprias qualidades e capacidades, sem querer pavonear-se das qualidades. É também reconhecer que os demais também possuem capacidades e qualidades.
Ter medo de agir, muitas vezes, é soberba, vaidade, mas não humildade. Exemplo: muitos não querem ler nas missas por vergonha de errar (ou seja, por vaidade), e não por humildade. Seria, do mesmo modo, falta de humildade querer ler a leitura da Missa para que saibam que você é bom na leitura.
Se você aceitar algum serviço ou cargo, tenha como único motivo a glória de Deus e o bem das pessoas, como diz 1ª Coríntios 10,31-33:
“Quer comais, quer bebais, quer façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”(...)”Em tudo agrado a todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que assim se possam salvar”.
É preciso aprender a vigiar nossas ações pra não prejudicar o próximo no dia a dia, fazendo de tudo para viver apenas com o necessário, sem muitas exigências. Em tudo demonstramos se amamos ou não os demais: no banho (muitos demoram demais), na alimentação (muitos pegam tudo e deixam o outro sem nada), na limpeza (muitos sujam tudo e não limpam nada), na prestatividade (muitos acham que os outros são seus empregados) etc.
O cristão autêntico nunca vai querer tirar vantagem em tudo, pois a nossa única vantagem é o paraíso, a vida eterna! O resto é o resto! O restante das coisas é lixo, como diz S. Paulo em Filipenses 3,8:
“Tenho tudo como esterco, em busa do Reino de Deus” Romanos 12,3: “ Não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus proporcionou a cada um”.
Sobretudo, devemos ser humildes para com Deus, não o tentando pela falta de humildade, como pede Sabedoria 1,1-5:
“Deus se revela aos que o buscam com a simplicidade de coração, aos que não o tentam”.
Peçamos- lhe as graças com humildade, submissão, colocando-nos em suas mãos para o que ele quiser de nós, deixando-o “livre” para que ele faça conosco o que bem quiser. Lembremo-nos de que tudo o que recebermos, deixaremos aqui no dia de nossa morte, e tudo o que partilharmos, nos acompanhará à vida eterna. Acolher e respeitar nosso próximo nos abre para o acolhimento de Deus.
Tudo o que dermos a qualquer pessoa, é ao próprio Deus que estamos agradando, e Ele, que nos ama tanto, nos retribuirá. Eclesiástico 4,10 diz que tudo o que quisermos dar a Deus, demo-lo aos pobres e demais necessitados!
Temos de encontrar tempo para acolher, ouvir e conversar com quem nos procurar. Deus encontrará um “tempo” também para nós. Tenhamos misericórdia dos que erram. Ajudemo-los a se recuperarem e a recomeçarem nova vida. Deus terá também misericórdia de nós e de nossa família (Mateus 6,14-15). Diz Tiago 2,13: [
“A misericórdia triunfa sobre o juizo”.
Para vivermos em harmonia, nunca julguemos quem quer que seja, como nos pede Lucas 6,36-37: “ Sede misericordiosos como também vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados”.
Julgar é diferente de fazer uma crítica. Julgar é colocar más intenções naquilo que a pessoa falou ou fez. Se não soubermos os motivos pelo qual o outro fez isto ou aquilo, calemo-nos! Se precisarmos admoestá-lo, pensemos bem nisto: nunca coloquemos em suas “costas” uma culpa que achamos que ele tem. Ou seja: pode ser que a pessoa fez o que fez por fraqueza, ou outro motivo qualquer, e não por maldade ou “sem-vergonhice”.
Se uma pessoa quebrar algo, por exemplo, podemos até pedir-lhe mais cuidado com aquilo; isso não é julgar. O que não podemos fazer é dizer que a pessoa fez aquilo de propósito, apenas para contrariar-nos. Isso seria julgar. Diz S. Paulo, no capítulo 13 da primeira carta aos Coríntios, que a caridade nunca se findará, nem no céu. Vale a pena ler o capítulo todo, para perceber até que ponto devemos amar e “deixar para lá” tantas coisas que são motivos de brigas!
Jesus resumiu os dez mandamentos em três: Amar a Deus sobre todas as coisas, amar ao próximo e amar a si mesmo. Devemos amar ao próximo na mesma medida com que nos amamos. Amar a Deus, na verdade, se realiza no amor ao próximo.
Amar significa perdoar sem medida, como diz Lucas 17,4:
“ Se o irmão pecar contra você 7 vezes no dia e 7 vezes no dia vier a você e lhe disser: arrependo-me, perdoe-lhe!”.
Entretanto, o perdão implica numa reparação, numa compensação da parte que ofendeu. Se for um crime, deve ser normalmente julgado pela justiça.
A caridade também é partilha dos bens. Dificilmente vamos ficar sem recompensa quando sabemos partilhar. Deus nunca deixa falar nada aos que partilham, como Lucas 6,38:
“Dai e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos colocarão no vosso colo, porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo”.
É imbecilidade nos apegarmos aos bens materiais ou nos preocuparmos em demasia com o futuro. “O futuro a Deus pertence”, diz o ditado.
“Beati imaculati in via, qui ambulante in lege domini” (sl 119(118), 1).
A castidade é um tema fácil de se comentar, mas difícil de se praticar. O Pe. Eugène Charbeauneau diz, num de seus livros “Solteiros e casados autoanalisados”, que nós teremos o desejo de cópula até a nossa morte. Uma senhora de 80 anos, doente, acamada, perguntou-me, certa vez em que fui visitá-la, até quando ela teria “aqueles pensamentos”. Eu lhe disse, em tom de brincadeira, “até três horas após a sua morte”. Ela espantou-se. Faleceu dois anos após, aos 82.
Um dos problemas da castidade é o conjunto de problemas afetivos que todo humano tem. Uma educação afetiva plena é difícil encontrar.
Outro problema sério é a hipocrisia. Quem é casto de verdade? Só Deus sabe! Será que os que condenam os problemáticos nesse setor são mais castos do que eles?
Os que têm desvios sexuais sofrem mais do que os ditos normais, pois estão constantemente em tentação e sentem-se impedidos de praticar a castidade. Não percebem que, com a graça de Deus, tudo é possível. Essas pessoas sentem tentações onde quer que estejam: no dia a dia, no trabalho, nos passeios, nos acampamentos, na praia, nos retiros, na igreja, nos encontros espirituais... Como sofrem!
A Igreja é curta e rápida nesse assunto: quem não consegue viver uma castidade relativa mesmo no casamento, fique completamente casto e ponto. Aliás, Gandhi está nessa lista. Não conseguindo controlar-se, combinou com sua esposa viverem como irmãos. E viveram assim muitas décadas. Quando ele falou isso em sua autobiografia, já viviam em castidade há mais de 20 anos.
Quanto a ser casto, a Igreja ensina que é um dom de Deus. Quem quiser ser casto, tem que pedir isso a Deus, ser humilde. Por isso o vaidoso e o orgulhoso que acham poderem cuidar sozinhos de si mesmos, vão sentir muita dificuldade na castidade. Sentem-se superior a todos e a tudo. Jesus criticou-os muito, na pessoa dos fariseus e dos escribas, dizendo que não tinham perdão, mas perdoou facilmente os adúlteros, por saber que pecaram por fraqueza, e ensinou-lhes a humildade.
Quanto à beleza da castidade, copio aqui um artigo que eu escrevi e publiquei no blog, de 2014:
Estou lendo um livro de uma teóloga alemã, UTA RANKE-HEINEMANN, prefaciado por Leonardo Boff, que vai plenamente contra o celibato na Igreja, e contra uma série de atitudes que a Igreja toma em relação à castidade, sexo, contracepção etc. Nega várias atitudes morais baseadas na bíblia, alegando “falsa interpretação”. O nome do livro é sugestivo: “Eunucos pelo Reino de Deus”, editora Rosa dos Tempos. A autora, doutora em teologia e professora numa universidade alemã, perdeu o cargo após a sua publicação.
Por estranho que pareça, o livro me fez amar mais a minha vida celibatária e a castidade. Depois de matutar muito sobre o assunto, baseado não tanto nos livros, mas na minha experiência, percebi que o que interessa não é tanto ser ou não ser celibatário ou casado (a), manter ou não uma virgindade perpétua, mas sim, ser santo, livre de pecado, seja ele qual for.
Li em algum lugar que as cinco virgens imprudentes não entraram no “céu”, apesar de serem virgens!
Qual é a diferença entre viver buscando a santidade, estar lutando contra o pecado e viver no pecado, seja ele sexual, ou causado pela mentira, as brigas, a desonestidade, as fraudes, a vaidade, o orgulho, a violência, a falta de caridade, o egoísmo, o ódio, o isolamento?
Enumerei várias coisas:
1- A busca da santidade nos deixa leves, fáceis de sermos conduzidos pelo Senhor.
2- Deixa-nos uma paz incrível, inexplicável, que produz uma alegria intensa e interior;
3- A oração, o colóquio com Deus, torna-se mais fácil;
4- Impele-nos a amar as pessoas, sobretudo as necessitadas (sejam elas ricas ou pobres, pois um rico doente e/ou abandonado é uma pessoa necessitada de nossa presença). Amor sem distinções e sem interesse, devido à busca da santidade naquele relacionamento. A castidade não pode nos deixar isolados. Dizia um meu colega de seminário, o atual Pe. Everaldo: “Ao darmos um nó simbólico “naquilo”, pelo voto de castidade, não podemos dar também um nó no coração!” (1972).
5- Buscar a santidade não é deixar de sentir atração sexual, nem deixar de sentir os movimentos no corpo, causados pelos hormônios, mas integrar esses movimentos e impulsos internos à vida diária. Lembrar-se, também, de que há outros impulsos que nos levam ao pecado, mas igualmente não são pecados em si, como os que levam ao alcoolismo, à violência, ao isolamento, ao egoísmo, ao auto fechamento, à busca do prazer pelo prazer, do dinheiro, do luxo etc.
Esses impulsos só se tornam pecados se forem consentidos e alimentados por nossa concupiscência.
Santa Catarina de Sena compara esses impulsos com cães amarrados que latem, mas não mordem (sinal de que sentia muito esse tipo de coisa). Se não lhe dermos confiança (dizia ela), se enfraquecem.
6-O próprio Jesus teve alguma sensação do prazer sexual, pois sendo 100% homem, tinha as poluções noturnas normalmente, como todos os homens até a idade de uns 68 anos (alguns até mais). E foi castíssimo! Nunca pecou!
7- A santidade é impossível sem a humildade e sem o autoconhecimento. Conhecer-se e humildemente aceitar-se como se é, para evitar as ocasiões de pecar e fugir do pecado. Cada um deve conhecer seus limites e suas tendências. Aqui entra o famoso “Orai e Vigiai”, tão insistido por Jesus e pelos Apóstolos.
8- A luta em busca da santidade, seja vivendo o celibato ou a fidelidade conjugal, é uma luta contínua. Gandhi combinou com a esposa de viverem castos, e conseguiram. Mas ele dava até receita de alimentos que não causavam muito hormônio! Um amigo meu dizia que seria capaz de viver com sete esposas, mas se contentava com a dele e a respeitava. E eu acredito nele.
São Francisco de Salles era especialista em “receitar” atitudes que podem ajudar a vencer as tentações do dia-a-dia, como no livro “Filotéia” (você o encontra na internet, se o desejar). Ele orienta de modo especial tanto os celibatários como os não celibatários.
9- A santidade é um dom de Deus, mas requer nossos cuidados e nossa luta. Devo fazer a minha parte, para que Deus faça a dele.(...)
Concluo exortando a todos e a todas a nunca desanimarem da luta, mesmo se caírem, seja em algum pecado sexual, seja não sexual. “Levante, sacuda a poeira e dê a volta por cima”. Nunca desanimar, nunca desistir.
Quanto ao celibato obrigatório para os padres, acho que está na hora de liberar a ordenação sacerdotal para os casados. É um absurdo “amordaçar” o Espírito Santo, sujeitando-o a só dar vocação aos que querem ser solteiros. Sei que o papa Francisco vai rever isso e logo teremos padres casados em abundância, como escrevi no meu artigo “Hecatombe”. (...)
Nunca duvide do amor de Deus por você! Seja qual for sua situação de vida, ele recolheu em seu odre todas as lágrimas que você derramou (Salmo 56,9). Todas! Nem uma só gota foi desperdiçada!
E o último conselho, baseado na minha experiência: não exagere em nada! Pare de procurar chifre na cabeça de cavalo! Nem tudo é pecado! Aprenda a distinguir o verdadeiro do falso nesse assunto. No campo da castidade, por exemplo, muitos lutam tanto para serem castos que deixam de lado a caridade, que é a virtude principal, pela qual vamos ser julgados (confira em Mateus 25,31-46). As virgens imprudentes, embora continuassem virgens, não entraram na festa nupcial (=no céu).
Neste artigo quero acrescentar que os que desejam a castidade, devem programar-se numa vida de oração, meditação, leitura espiritual, exercícios físicos (ou pelo menos uma caminhada diária), sobriedade na alimentação, nos olhares, nas palavras, direção espiritual, humildade, confiança em Deus, VIGILÂNCIA, jejum de televisão, jejum absoluto de artigos eróticos, autoconhecimento, nunca recalcar os problemas (mas enfrentá-los com coragem), administrar as fantasias, saber que o sexo traz muitas ilusões (é como o café, que o cheiro é um e o gosto é outro) e nunca desanimar.
Textos bíblicos:
Filipenses 4,8.9b:
“Irmãos, ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, honroso, virtuoso ou que de algum modo mereça louvor. E o Deus da paz estará convosco”.
Apocalipse 20,27: “Coisa imunda alguma entrará na Cidade Celeste”.
Outros: Mateus 5,27-32; 1ª Coríntios 7 (todo); 1ª Coríntios 6,12-20; Romanos 6, 19-23; 1ª Coríntios 15,33; Colossenses 3,5; Romanos 1,26-27; Romanos 1,29; Efésios 4,32-5,8.
Termino com a carta que o papa Paulo VI enviou a um recém ordenado pastor evangélico seu amigo:
Extraído da revista Ultimato. Se você quiser dar uma olhada, eis o link: www.ultimato.com.br/revista/358
Carta que um recém-ordenado pastor recebeu de Roma, do Papa Paulo VI, mas que serve para todos nós:
“Eu, Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, escrevo a você, meu querido irmão e colega de ministério. Desejo tudo de bom para você e sua igreja da parte de nosso Deus e de Cristo.
Soube de sua ordenação ao ministério. Felicito-o por ter atendido o chamado de Deus e se preparado para tanto. Não por intrometimento, mas por estar historicamente ligado a você e à sua família, tomo a iniciativa de escrever-lhe a presente carta pastoral. Lembre-se de que eu tenho mais do que o dobro de sua idade e sou tão humano quanto você.
No momento, não vou dar conselho algum sobre questões teológicas, eclesiásticas e administrativas. Nem sobre a vida devocional, que deve ocupar a sua primeira atenção.
Por saber que muitos dos nossos colegas, inclusive os de minha idade, estão tendo sérios problemas com a sua sexualidade e que a sociedade está cada vez mais permissiva, permita-me dar-lhe alguns poucos conselhos de pai para filho.
Primeiro, você ainda vai fazer 26 anos e está cheio de vida. Fuja das paixões da mocidade. Ou, melhor, volte as costas para elas. Eu me refiro em especial aos desejos turbulentos da juventude. Não aos desejos naturais, sadios e controlados, mas às paixões malignas e aos pensamentos impuros. Fugir não é sinal de fraqueza nem de fracasso. Muitas e muitas vezes fugir de alguma coisa errada ou inconveniente é um ato de heroísmo.
Segundo, como pastor de um pequeno ou grande rebanho, você precisa ser exemplo dos fiéis, ao pregar, ao ensinar, ao orar, ao aconselhar, ao advertir. Torne-se padrão para toda a igreja e para os de fora, em tudo: na palavra, no procedimento, no amor, na fé e também na pureza. Estou me referindo à pureza sexual. Em outras palavras, torne-se modelo na pureza, isto é, porte-se de acordo com a lei moral de Deus, em pensamento, palavra e ações.
Terceiro, você não será pastor só de ovelhas do sexo masculino, mas também de meninas, mocinhas e senhoras (mães e avós). Meu conselho é: trate as mulheres idosas como mães e as mulheres jovens como irmãs, com toda pureza. Você terá de fazer uma ginástica enorme. Não é algo simples tratar qualquer mulher, sobretudo as mais jovens, com naturalidade, sem qualquer maldade, sem qualquer lascívia, sem qualquer impudicícia, sem qualquer luxúria. Essa dificuldade real é devido à bagagem pecaminosa que está dentro de você e de mim.
Quarto, conserve-se puro. Hoje, amanhã e depois. Em casa, na igreja e na rua. Acordado ou dormindo (caso você tenha algum sonho erótico, provocado ou não por você, lave sua mente e entregue-o ao esquecimento). Sozinho ou na companhia de alguém. Em viagem de uma cidade a outra ou de um país a outro. Sua pureza não pode ser esporádica. Caso haja algum intervalo, apresse-se em pedir desculpas a Deus e a subir imediatamente o degrau do qual você desceu.
Espero que você leia o meu testemunho pessoal sobre o drama da nossa humanidade e da nossa propensão pecaminosa que eu contei aos nossos irmãos que estão aqui em Roma. Em meu desespero, eu clamei: “Quem sobre a terra nos libertará das garras da minha natureza pecaminosa?”. Mas, quando eu recorri a Cristo, fiz uma oração de ação de graças: “Dou graças a Deus por haver uma solução que só pode ser por meio de Jesus Cristo, Senhor nosso”. Continuo dependendo dele para me conservar puro e ser um exemplo de pureza.
Que a graça do Senhor Jesus Cristo esteja com você, meu querido filho”!
(Texto baseado em 1 Timóteo 4,12, 5,1-2 e 22 e em 2 Timóteo 2,22)
25/09/2018
Há épocas de nossa vida em que podemos passar por um tipo de cegueira espiritual grave. Se não nos conscientizarmos dela, poderemos perder nosso futuro e até a vida eterna!
Aconteceu isso com muitos dos santos conhecidos. Um deles é Santo Agostinho, que confessou: “Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas dentro e eu, fora. E aí te procurava e lançava-me nada belo ante a beleza que tu criaste. Estavas comigo e eu não contigo. Seguravam-me longe de ti as coisas que não existiriam, se não existissem em ti. Chamaste, clamaste e rompeste minha surdez, brilhaste, resplandeceste e afugentaste minha cegueira. Exalaste perfume e respirei. Agora anelo por ti. Provei-te, e tenho fome e sede. Tocaste-me e ardi por tua paz!” (Confissões, Livro 10, 27. Leia mais no Ofício das Leituras de 28/08).
“Afugentaste minha cegueira”. Às vezes é preciso algum acontecimento drástico para despertar-nos. É como aquele artigo de Rubem Alves sobre o milho de pipoca, em que ele diz que só o fogo consegue fazer o milho duro virar pipoca macia (Leia o texto todo em https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1769218).
Procure, com toda a sinceridade de que é capaz, descobrir os pontos obscuros de sua vida. Isso só se consegue com uma boa dose de realidade do autoconhecimento de si mesmo e com toda a humildade de que formos capazes. Talvez muitas coisas de que nós ouvimos falar de nós próprios são verdadeiras. Nem todas são inverdades ou maldade das outras pessoas.
Santo Agostinho diz, no trecho citado acima: “Chamaste, clamaste e rompeste minha surdez, brilhaste, resplandeceste e afugentaste minha cegueira. Exalaste perfume e respirei. Agora anelo por ti. Provei-te, e tenho fome e sede. Tocaste-me e ardi por tua paz!”. É uma realidade. Quando conseguimos descobrir nossa cegueira e encontrar o Deus genuíno, verdadeiro, ficamos sedentos e famintos dele. Tudo o que fazemos vemos que não é suficiente para agradá-lo. Percebemos que Deus só se agrada quando paramos de dar-lhe coisas (ele não precisa de nada), e passamos a dar-lhe a NÓS MESMOS, nossa vida, nossos anseios, nossas esperanças.
Depois que nos curamos de nossa cegueira espiritual, sentimos essa necessidade de nos colocarmos diante de Deus como um sacrifício de suave odor: “Exalaste perfume e respirei”. Quando conseguimos sentir o perfume exalado por Deus, e isso só se consegue depois de descobrirmos as babaquices que estamos fazendo, passamos a não desejar mais outra coisa no mundo senão ser apenas dele, viver para ele, estar a serviço dele.
As coisas do mundo se tornam obsoletas, ridículas, descartáveis, todas elas, quando, como Santo Agostinho, descobrimos o perfume de Deus. Diz o Salmo 73(72):“Para mim, o que há no céu fora de vós? Se eu estou convosco, nada mais me atrai na terra”! E o próprio Paulo Apóstolo lembra que nós também, se nos santificarmos, seremos o perfume de Cristo: “porque para Deus somos o perfume de Cristo entre os que estão sendo salvos e os que estão perecendo” (2 Coríntios 2,15).
Tudo isso está dependendo apenas de uma coisa: abraçarmos a humildade, o autoconhecimento sincero de nós mesmos e descobrirmos as coisas que estamos fazendo de modo errôneo e não estamos percebendo que estamos nos colocando à beira do abismo! (Se é que já não estamos no fundo dele).
-- 19/03/16
Estou meditando sobre a convivência humana. Como é difícil! Encontros e desencontros, fases difíceis, clima às vezes agradável, às vezes não.
O que leva alguém a ir contra outro por preconceito e orgulho? Ocorreu com um meu amigo, evangélico, que foi perseguido por um ateu porque reunia um grupo de evangélicos num alojamento de construção no meio do nada. Sua atitude, após noites de crises e angústias, foi confiar-se plenamente em Deus e deixar que sua Santíssima vontade se fizesse, fosse qual fosse o resultado. Afinal, quando se crê em Deus, não se tem medo, afirma São Carlos de Foucauld.
O resultado é que de repente o ateu resolveu deixar o emprego e voltar para casa, e o meu amigo ficou lá até o final da obra, e ainda mantém contato com os que se reuniam com ele.
Uma irmã da Consolata disse, certa vez, que na convivência, vence quem conseguir calar a boca numa discussão e só depois, um ou dois dias, ir conversar sobre o assunto com o (a) oponente. Ela viveu por 70 anos em comunidade e sabe o que está falando!
As pessoas que se implicam com tudo e com todos parecem que têm o “demo” no coração! Só estão felizes se os outros brigarem ou se desentenderem.
Em caso de desavenças, é preciso confiar plenamente em Deus, orar muito e confiar em sua Providência divina. Ele sabe o que é melhor para nós e, se estamos a fim de fazer a sua vontade, pouco nos importará o resultado, desde que continuemos fiéis a Ele e ao seu Reino.
A convivência depende muito, portanto, de fazermos agora e sempre a vontade de Deus na simplicidade, na paciência, na humildade, confiando que estamos no caminho certo e despojarmo-nos de qualquer orgulho e individualismo. Deus sabe muito mais do que nós do que precisamos (Efésios 3,20) e tem o poder de dar-nos isso.
O individualismo pode ser “medido” nas coisas do dia a dia, como estas:
1- Onde moram só homens, deixar a tampa do vaso do banheiro abaixada (ela deve ser deixada levantada).
2- Deixar a luz acesa, demorar-se no banho, na escovação dos dentes e ao fazer a barba, deixar a água escorrendo.
3- Deixar o chão sujo com migalhas de pão ou outros alimentos.
4- Comer de boca aberta (arghhhh!)
5- Usar o mesmo pente, não lavar pequenas louças, como as xícaras de café ou os copos.
6- Pegar alimentação de modo exagerado e deixar restos no prato, e pegar tanto que deixa pouco para os demais.
7- Ser exigente demais na comida.
8- Comer o miolo da melancia, e deixar o resto para os outros.
9- Não pôr a mão no nariz e na boca ao tossir ou respirar.
10- Escarrar e assoar o nariz no chão.
11- Jogar a comida fora quando chega bêbado em casa. Esta última pode ser consertada, talvez, de dois modos: 1º- Deixe a comida onde foi jogada até que o cara sare da bebedeira e mostrar o estrago a ele quando estiver sóbrio; 2º- Fazer comida suficiente para os demais que comem antes, só deixando o suficiente para o bêbado, quando ele chegar. Mesmo assim, se ele jogar, fazer como no 1º caso. Sei de casos em que o marido bêbado jogou a panela toda no chão.
Ademais, insista para que o alcoólatra procure o AA e reze muito. Esse tipo de caso só se resolve com a oração.
Analise-se diariamente para ver se você cometeu algum ato individualista no dia que passou!
CONVIVÊNCIA COMUNITÁRIA SEGUNDO A IRMÃ ANANIA IMC – MISSIONÁRIA DA CONSOLATA
Nasceu em 13/05/1920, faleceu em 10/03/2020, com quase 100 anos de idade, sendo 80 anos vivendo em comunidade.
Deus nos ama e por isso quer nossa alegria! Vou falar alguma coisa sobre a vida comunitária, a que somos submetidos diariamente.
Vivemos em comunidade sem escolher as pessoas e caminhamos juntos. Cada um é um e tem o seu temperamento. Eu, ele, ela, somos do jeito que somos.
Na Quinta-feira Santa, o Evangelho acompanhado da liturgia nos mostra o “Lava-pés” faz todo um processo de lembrar constantemente a mim mesma que “eu não posso exigir que quem vive ao meu lado seja do jeito que eu gostaria que fosse”. E todo este processo leva a pessoa a deixar o espaço para que a outra ou o outro SEJA. É esta a grande lição do Lava-pés.
Pensamos refletindo: “Por que às vezes sou tão exigente com quem vive ao meu lado? Por que olho as diferenças como ameaças e não as vejo como algo que pode me ajudar a crescer? Por que não me convenço de que caminhar em companhia é menos pesado do que carregar sozinha, sozinho, os pesos, as preocupações, os maus momentos, e a partilha é sempre a melhor saída?”
Lemos em São João Bergmans: "Máxima penitência é a vida em comum”. E é a verdade. Pensamos em Jesus, na vida diária com os apóstolos, quanta paciência! Quantas renúncias para não responder! E quando responde, com que mansidão!
Compreendo que para muitos que estão em ambientes em que não há como deixar de viver em companhia a tais e tais pessoas (como nas comunidades religiosas, paróquias, internatos etc.), mesmo em família, deve ser uma grande penitência suportar os (as) colegas, muitas vezes pessoas revoltadas, vingativas, nervosas, sem educação, cheios de si, não se importando com as outras, orgulhosas etc., etc.
O conselho que posso dar a vocês que estão nessa situação forçada é fazer silêncio e a “guerra” acaba. Pensem: então não adianta falar. A razão é sempre deles. O orgulho é algo demoníaco!
Quando vocês percebem que alguma palavra ou seu modo de agir pode atrapalhar, não digam e não façam. Eu considero isso “morrer continuando vivo”. Todos temos a nossa sensibilidade e o mais esperto e o mais virtuoso é o que fica calado. Isso é duro, mas nós, consagrados, devemos caminhar neste caminho.
Jesus lavou os pés de Judas, mesmo sabendo que ele era o traidor! Peçamos a Jesus a graça de aprender a ser humildes e mansos de coração, como Ele era! (Mt 11,29).
Tudo isso que falo para vocês serve também para mim, mesmo que vivo em comunidade desde 1940 e a experiência me diz que, quanto menos falo, mais ganho.
Porém, eu me sinto amada, compreendida, é minha alegria viver junto. As conversas não trazem confusão, mas ajudam a crescer, porque se vê em ambas as partes que, se queremos bem, o que acontece são coisas humanas: hoje eu, amanhã você, e tudo acaba.
Eu sou feliz por viver em comunidade e agradeço ao Senhor de ver muitos exemplos bons que me ajudam a ser melhor. Para viver em comunidade se deve admitir que todos temos o nosso modo de ser: Se eu quero que me suportem, também devo suportar os outros, as outras. Quero sempre ter razão, mas os outros também querem tê-la, e como se faz? Cala-se, e os outros também se calarão por sua vez.
Deus esteja em seus corações e lhes faça sentir cada vez mais a beleza do dom da vida, única, que passa e não volta mais. Aproveitem a vivê-la como um incenso derramando a cada dia o perfume do seu testemunho do amor a Deus por tê-los escolhido pelo Batismo, e amado.
Os sofrimentos pelos quais muitos passam não são castigos, mas uma prova de amor, porque oferecendo a Ele os sofrimentos, os purifique e os faça grandes santos e santas.
Rezo sempre por todos os que sofrem, e digo a Nossa Senhora, a Mãe puríssima, que os e as guarde, os e as proteja e faça todos e todas sentirem o carinho de Mãe.
Irmã Anania, Missionária da Consolata.
(Set. 2015)
Pode ser que eu esteja errado, mas penso que a depressão seja uma doença mista, ou seja, provêm em parte de algum problema no cérebro e, ao mesmo tempo, de algum problema psicológico.
Aqui vou falar algo sobre essa última causa, a psicológica.
Qualquer pessoa que tenha uma profissão ou atitude de vida que a destaque das demais, torna-se um tipo de protótipo, de modelo, que é amado e imitado por alguns e odiado e detestado por outros: cantores, artistas, professores, jogadores etc.
Pessoas desse tipo devem ser muito humildes e ter muita caridade e misericórdia de si mesmas, além da que é devida às outras pessoas. Acho que essa é a peça fundamental do desequilíbrio psicológico que causa ou faz piorar a depressão.
A pessoa famosa sabe que tem uma determinada imagem, mas é quase que cotidianamente acossada pelos seus pontos fracos ou mesmo pelas tendências normais de todos os seres humanos.
Nossa carne sempre nos lembra de que não somos anjos, mas animais, embora racionais. O próprio Apóstolo São Paulo se queixava disso: “Quem me livrará deste corpo de morte?” (Romanos 7,24). Um pouco antes desse versículo ele diz que faz o que não quer e não faz o que realmente deseja fazer (vers. 15).
Para não haver recalques e piora dos sintomas de depressão, é preciso muita humildade e confiança em Deus, é preciso aceitar-se como se é, a fim de que a sensação de que “não sou aquilo que o povo pensa que eu sou” não tome conta de nós e não se transforme em doença.
Os santos souberam magistralmente lidar com isso, pois confessavam-se sempre pecadores, embora saibamos que exageravam nessa “confissão”. E dificilmente caíam em depressão.
A solução é, pois, permanecermos com os pés no chão e nos conscientizarmos que nossa boa fama não vai automaticamente livrar-nos de pensamentos e desejos “selvagens” (como a ira, por exemplo). Somos feitos de corpo animal e alma imortal. Enquanto vivermos nesta terra, sempre estaremos recebendo os impulsos instintivos do “Irmão Corpo”, como dizia S. Francisco.Aliás, é esse o motivo pelo qual alguns santos tanto faziam penitência: para fazer calar a voz do corpo, mas eles, quando muito apenas conseguiam amainá-la. É também o motivo pelo qual não caíam em depressão embora muitos deles foram caluniados e vilipendiados pelas autoridades e mesmo pelo povo das diversas épocas. Somos o que somos diante de Deus, e nada mais!
Premido pelas circunstâncias, fui morar por alguns meses num lugar cheio de mata virgem por todos os lados, afastado da cidade.
Nasci e me criei na cidade. Nunca morara sequer num sítio antes. Pensei, no início, que ia viver em paz. Ilusão! Não sei como uma pessoa pode viver naquele ambiente! Vejam alguns itens que anotei:
1- Noite após noite, faça lua (quando é pior) ou chova, você tem que dormir com barulho infernal de sapos, grilos, gaviões, pássaros noturnos, ressoando em seus ouvidos, SEM NENHUM BOTÃO PARA DESLIGAR!
2- Durante o dia, ou você gasta todo o seu salário em repelentes, ou fica de calça, meia e camisa de manga comprida o dia todo, por causa dos pernilongos. Contei cinco espécies desses bichinhos. Motucas, três espécies, e sempre atacam em meia dúzia. Borrachudos, contei dez espécies diferentes. Você quer escrever, por exemplo, ou rezar, ou mesmo trabalhar, e não consegue, pois fica lutando ingloriamente contra essas criaturinhas de Deus. Diz o livro da Sabedoria que Deus ama tudo o que criou, pois, se houvesse alguma criatura da qual ele não gostasse, não a teria criado!(Sabedoria 11,23-24). Outra alternativa é deixá-los à vontade e oferecer aquela dorzinha chatíssima para reparação dos pecados!
3- O calor é tão forte que você precisa tomar banho de rio (há ali um rio caudaloso, de águas cristalinas, sem barro nenhum, só com cascalhos e pedrinhas no fundo, a 8 metros da casa várias vezes por dia. Você deve estar pensando "que delícia!" Engano seu! Uma nuvem de pernilongos e mutucas de 2 cm de tamanho fica rodeando sua cabeça e suas costas e, logo que você sai da água, também os seus pés.
4- De manhã você lava o rosto e escova os dentes no rio (depois de se estapear várias vezes para matar os borrachudos de plantão) e vai tirar leite da vaca. Se você não levar nenhum coice, vai ter de ferver todo o leite. Na cidade, ele já vem prontinho! O vasilhame fica com aquela nata grossa colada, e leva meia hora para lavá-la, pois lembrem-se de que a pia é o próprio rio!
5- Cansado de lutar contra vacas, pernilongos, mutucas, borrachudos, você resolve dar um passeio na mata. Terá que enfrentar um mato o(a) cobre até o peito, e matar umas duas ou três cobras pelo caminho, atravessar regatos, escorregar e se esborrachar na lama, atolar os pés nos atoleiros...
6- Você resolve dar um passeio até a cidade: não há ônibus! Terá que andar seis quilômetros numa estrada de terra, sob um sol escaldante, suando bicas. E, na estrada, as mutucas fazem questão de ficarem circulando ao redor de sua cabeça até a cidade!
7- Chegando da cidade, com fome, você vai fazer comida: acabou o gás! Não há outro jeito: vai ter que acender o fogão a lenha. Meia hora depois de tentar, você consegue acender o fogo. A comida fica uma delícia, mas... você já tentou lavar no rio as panelas com fuligem de fogão à lenha? E as mãos? Lembro que é proibido usar detergente no rio!
8- Finalmente, você vai dormir: tem que fechar portas e janelas para não ser sugado pelos inúmeros insetos criados por Deus. Você é acordado de madrugada, com a vaca mugindo sob sua janela ou com o galo cantando desesperado!
Chego a algumas conclusões:
1- Viver a pobreza não é viver numa carência dessas, mas aprender a usar bem os bens materiais e partilhar: Jesus utilizou tudo o que havia de melhor em seu tempo para seu apostolado, sem contar que sua roupa foi disputada no palitinho pelos soldados. Quantos fariam o mesmo para ficar com a minha roupa?
2- Viver na natureza até que pode ser bom, mas devidamente melhorada e transformada pela nossa capacidade de adaptação, pelas nossas invenções. A natureza na e crua, acreditem-me, é estressante!
10/01/18
O problema não é de hoje. Li no livro “A Imitação de Cristo”, de Tomás de Kempis, escrito no século 15, uma advertência para os que deixam a Eucaristia abandonada no sacrário de sua igreja para ir visitar e beijar relíquias de santos em outros países e igrejas. Veja o que o livrinho (depois da bíblia é o mais velho e difundido livro de leitura permanente) diz sobre esse assunto no livro quarto, capítulo 1, número 9 (em algumas versões, número 8):
8. Correm muitos a diversos lugares para visitar as relíquias dos santos, e se admiram ouvindo narrar os seus feitos; contemplam os vastos edifícios dos templos e beijam os sagrados ossos, guardados em seda e ouro. E eis que aqui estais presente diante de mim, no altar, vós, meu Deus, Santo dos santos. Criador dos homens e Senhor dos anjos. Em tais visitas, muitas vezes é a curiosidade e a novidade das coisas que move os homens; e diminuto é o fruto de emenda que recolhem, principalmente quando fazem essas peregrinações com leviandade, sem verdadeira contrição. Aqui, porém, no Sacramento do Altar, vós estais todo presente, Deus e homem, Cristo Jesus; aqui o homem recebe copioso fruto de eterna salvação, todas as vezes que vos recebe digna e devotamente. Aí não nos leva nenhuma leviandade, nem curiosidade ou atrativo dos sentidos, mas sim a fé firme, a esperança devota e a caridade sincera.
Já é hora de valorizarmos mais a Sagrada Eucaristia em nossas igrejas, e adorar com maior frequência o Santíssimo Sacramento, que é o próprio Jesus Cristo em Corpo, Sangue, Alma e divindade. Não estou dizendo aqui para se parar de visitar esses lugares sagrados ou de peregrinações, como Aparecida, ou a igreja do Divino Pai Eterno, ou o Padre Cícero, mas lembro que devemos dar mais valor à adoração de Jesus na Sagrada Eucaristia. Como diz o texto acima, Jesus está tão perto de nós e vamos buscar consolações espirituais em outros lugares...
20/08/2017
Este trecho é do 20° domingo do tempo comum do ano A e gostaria de comentar aqui para confirmar a atitude coerente do papa Francisco em privilegiar os pobres e afastados. Ele está seguindo o evangelho, que infelizmente, com o decorrer dos séculos, foi um pouco deixado para trás por causa da burocracia eclesiástica.
É Mateus 15,21-28.
Uma mulher pagã, ou seja, que não era do povo judeu (hoje diríamos que não era batizada e seria estrangeira, e de um povo que sempre teria tido ódio de nosso povo). pedia que Jesus curasse sua filha. Jesus não ligou. A mulher insistiu. Jesus lhe disse que não podia dar os pães aos cachorrinhos (era assim que apelidaram os cananeus). A mulher lembrou Jesus que os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa dos que estão se banqueteando. E era isso mesmo: nas casas dos ricos, eles limpavam os dedos (porque comiam a carne com as mãos) com miolos de pães que eram jogados ao chão e comidos pelos cachorros.
Jesus disse, então à mulher PAGÃ e cananeia, ou seja, inimiga dos judeus, o que poucas vezes dissera: “GRANDE É A TUA FÉ”! Gente, lembro-lhes que no evangelho do domingo passado Jesus disse a PEDRO; “HOMEM DE POUCA FÉ”! E Pedro, como sabemos, foi depois o primeiro papa, nomeado pelo próprio Jesus.
Isso mostra como o papa Francisco está certo ao estender o cristianismo a todos, sem distinção. Precisamos vencer esse paradigma e sermos missionários deste novo tempo! (Paradigma é quando a gente acha que deve continuar tudo como está, que não há como superar esta ou aquela dificuldade).
Nós vivemos buscando momentos de felicidade: um churrasco com os amigos, uma festa, passeios, viagens, o contato com os filhos, a alegria que um casamento feliz proporciona, o cheirinho gostoso de um carro novo, umas doses de bebida... e tantas outras coisas mais.
Alguns, entretanto, chegam a roubar e a desviar verbas para terem mais e mais dinheiro, outros assassinam, vendem-se a outros com ligações financeiras que acabam com os sonhos de felicidade de muitas pessoas que trabalham duramente para conquistarem um lugar no mundo, e vocês sabem o que mais.
Já ouvi muitas vezes pessoas dizendo que o Céu deve ser chato, e que lá não deve haver nada para fazer. Preferem a terra, esta miserável terra, apesar de suas dores e aflições. São poucos e fugidios esses momentos de felicidade. Aliás, nem são assim tão intensos! São momentos que passam logo!
Pois hoje, na Hora Santa, lembrei-me de lhes dizer que não é assim. No Céu, para onde todos nós pretendemos ir, mesmo aqueles que amam os prazeres desta terra, a felicidade não é passageira e momentânea como aqui, mas E-T-E-R-N-A!
A felicidade que às vezes sentimos aqui na terra, lá é perene, nunca termina! É como... Bem, eu pensei em tantas comparações, mas não há como comparar com coisas desta terra. São Paulo foi levado ao Céu, numa visão, mas não sabia descrevê-lo com palavras humanas. Jesus veio do Céu para nós, mas apenas deu-nos uma ideia com exemplos de seu tempo, por meio de parábolas. Não há, em nenhuma língua aqui da terra, palavras que descrevam a felicidade do Paraíso.
A contemplação de Deus é a máxima felicidade que podemos ter. Quando criou o mundo, Ele nos deu a possibilidade de partilharmos alguns desses momentos de felicidade, mas a total ocorrerá apenas após a ressurreição final.
Que pena se não tivermos isso em nossa mente e em nosso coração! Vale a pena todo e qualquer tipo de luta que precisemos enfrentar para sermos dignos de entrarmos na Celeste Mansão!
Mas lembremo-nos sempre de que sem a graça divina, nunca conseguiremos. Jesus deu a vida para nos salvar, mas temos que fazer a nossa parte. Nossa parte, nossa principal obra é, como diz o Pe. Paulo Ricardo, CRER, aceitar a ação de Deus em nossa vida, com muita humildade, sem condições, sem querermos fazer “negociata” com Deus. Deus não se deixa enganar. Ou aceitamos suas condições, ou ficamos com nossas próprias forças e nada conseguiremos. Se não aceitarmos Deus, Ele respeita a nossa escolha, mesmo não sendo isso que deseja, porque nos ama infinitamente, mas nos deixa às nossas próprias forças. Isso é terrível! Muitos vivem nessas condições: vivem apenas à base de si próprios. Deus olha para os sofrimentos e decepções dessas pessoas, mas nada pode fazer. Não porque não tem poder para isso, mas porque não entra em nossa vida se não o permitirmos.
“Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo”. (Apocalipse 3,20).
abr. 2018
07/02/16
Numa festa paramos no tempo e no espaço. Deixamos de lado o nosso dia a dia, não levamos conosco os nossos problemas. É um oásis no nosso deserto. O passado é lembrado apenas nas conversas e nas piadinhas e quase não se fala no futuro.
Cada participante tem seus próprios problemas, mas porta-se como se nada o(a) afligisse.
Colocamos nossas “máscaras” de felicidade e bem estar, caprichamos na roupa, as mulheres capricham na maquiagem para não mostrarem os traços do envelhecimento. Tentamos mostrar que estamos “enxutos” e bem de vida.
Olhamos ao redor até encontrarmos alguém para despejarmos nossa vaidade. Quando encontramos, ficamos felizes, pois temos “plateia”.
Inicia-se, então, uma disputa de eficiência e conhecimentos. Se alguém conta uma piada, nós a rebatemos com outra, que julgamos melhor do que a ouvida. Na verdade, às vezes nem chegamos a prestar atenção à que fora contada, pois procurávamos em nosso “arquivo” uma melhor.
Se o nosso interlocutor se queixa de uma doença, sem darmos a ele a devida atenção, logo achamos uma doença maior que a dele, que nos incomoda mais do que a dele (dela).
Se a conversa for viagens, nós sempre conseguimos achar em nosso “arquivo” mental (ou em nossa fantasia) uma muito superior à do (a) nosso (a) colega.
Se for sobre alimentação, minha nossa! Temos trabalho em encontrar um prato que nunca tenha sido experimentado pelo outro, e que lhe dê água na boca.
E se o assunto virar para futebol? Há algum time melhor do que o meu?
Os automóveis... duvido que você tenha um como o meu!
Mas... o que realmente torcemos é que a pessoa pergunte sobre nossos filhos. Aí vai haver assunto para o restante da festa. Os meus filhos são muito melhores, muito mais inteligentes, muito mais espertos, muito mais paparicados do que qualquer outro. Sempre tira a melhor nota na escola. Qualquer coisa que nós ouçamos, vamos falar melhor em relação aos nossos filhos.
Final de festa. Satisfeitos pelos nossos engrandecimentos, deixamos um pouco de cerveja no copo para dizer que não bebemos muito e voltamos para casa com a “alma lavada”.
Em casa tiramos as nossas máscaras e recomeçamos nossa vidinha “chinfrim” com todos os limites, problemas, dúvidas, decepções, desânimos, raivas, projetos frustrados, afetos e desafetos de sempre, projeto de mandar reformar o carro que já não está se aguentando em pé, até que apareça outra festa, para podermos contar novas vantagens.
Como disse o poeta Carlos Drummond de Andrade na poesia “Cidadezinha qualquer”, “Êta vida besta, meu Deus”!
- 06/04/16-
Eu vi hoje algumas flores de vários tipos, e veio-me à mente que elas não têm consciência da própria beleza nem do seu perfume.
Embelezam e perfumam sem saber disso. Como as plantas são misteriosas! Onde está o seu centro “nevrálgico”? Onde estão armazenados os dados de suas características? Como sabem a época de florescer, de dar frutos, sementes? Como algumas chegaram ao sistema tão prático de se alastrarem, como aquelas que expelem sementinhas com algodão que flutuam no vento?
É claro que a crença em Deus como Criador e mantenedor do mundo e da natureza facilita nossa compreensão. Entretanto, sabemos que as flores e plantas têm uma vida própria, e tudo do que precisam para sobreviver está em alguma parte dela, que eu não sei onde.
Comparei conosco. Nós sabemos de onde vêm os nossos pensamentos, ações, reações, mas muitas vezes não tomamos conhecimento da boa ou da má irradiação que exercemos sobre os outros.
Os humildes não se dão conta do bem que fazem aos outros. Às vezes alguém lhes fala sobre isso, mas eles desconversam e não acreditam!
A graça de Deus nem sempre é percebida pela pessoa que a reflete. Muito do bem que fazemos nunca dele ficamos sabendo.
Infelizmente, o mesmo ocorre com o mal. Nós, muitas vezes, não percebemos as barbaridades que fizemos por meio do nosso comportamento.
Carlos de Foucauld acreditava muito na irradiação de nosso cristianismo às demais pessoas ao redor, e dizia que devemos não só proclamar o evangelho com as palavras, mas gritá-lo com a vida.
Pregar o evangelho com a própria vida é justamente promover essa “irradiação” positiva de que quase não tomamos conhecimento.
Eu fiquei sabendo, nestes últimos anos, por exemplo, de resultados positivos de coisas que fiz ou falei há 30 anos. Coisas esquecidas por mim, mas captadas e praticadas por outras pessoas.
Isso é cativante e estimulante! Passamos a tomar mais cuidado com o que falamos e fazemos, sabendo que isso pode causar boas ou más impressões.
Eu penso que, se formos humildes, poderemos procurar saber quais as reações negativas que nossas palavras e atos causaram nos nossos circunvizinhos e ouvintes.
Ao tomarmos conhecimento, queimarmos o que é nocivo e alimentarmos o que é útil.
Jesus contou a parábola do joio e do trigo. Em vez de dizermos: “ Eu sou o trigo e você é o joio”, digamos sempre: “ eu e você somos, ao mesmo tampo, joio e trigo; rezemos um pelo outro para nos tornarmos mais trigo que joio”!
Sei que essa atitude nos trará muita paz!
29/03/14
Sempre me intrigou o fato da conversão de santos como Santo Agostinho e Carlos de Foucauld, que antes viviam de modo sensual e contrários ao que o cristianismo pregava.
O que lhes deu força para vencerem seus problemas, suas manias, sua vida pecaminosa e boêmia?
Não existe pessoa santa e pessoa pecadora. Todos somos pecadores, sem exceção. O que nos diferencia uns dos outros é a oração.
Os pregadores não têm nada a mais do que os ouvintes da Palavra, afora o estudo daquele assunto. A força de superar-se vem da oração. Deus a concede a quem lha pedir com perseverança.
A prática da caridade completa esses requisitos para que sejamos atendidos e nos santifiquemos. Diz o Pai-Nosso: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”.
A graça que Deus nos dá não é, na maioria das vezes, a de nos livrar de tal vício ou de tal mania, ou daquela doença, mas a de perseverarmos na luta para vencermos.
S.Paulo enfrentava uma doença incômoda e a resistência à fé cristã dos israelitas, mas Deus não o livrou desses problemas, apesar dele ter-lhe pedido por três vezes(2ª Coríntios 12,7-9).
A resposta de Deus é a mesma que Ele nos dá: “Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder”.
Deus não nos abandona sozinhos na luta contra o pecado e contra o mal. Ele permanece ao nosso lado. Entretanto, é preciso querer, com toda a nossa força, livrar-nos daquele mal, fugirmos das ocasiões, vigiarmos, frequentarmos a igreja, e na igreja a Eucaristia, se possível diariamente.
Veja o que você entende com estas palavras de S. Pedro: “Depois de terdes sofrido um pouco, o Deus de toda a graça, aquele que vos chamou para a sua glória eterna em Cristo, vos há de restaurar, vos firmará, vos fortalecerá e vos tornará inabaláveis. A ele toda a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém” (1ª Pedro 5,10-11)
Eu vejo aqui um incentivo à perseverança na luta. Se cairmos no caminho, não desanimemos, mas levantemo-nos com muita humildade, como a criança que está aprendendo a andar, e continuemos a nossa caminhada.
“Deus nos tornará inabaláveis”, como antes da queda dos nossos primeiros pais, mas não deixamos de ter o livre arbítrio, não deixamos de estar inclinados ao pecado.
Diz Tiago 4,6-7: “Fuja do diabo e ele fugirá de você; aproxime-se de Deus e Ele se aproximará de você”.
Essa luta diária, essa firme decisão de deixar o pecado e fazer a vontade de Deus é que levaram os santos a abandonarem o pecado para servirem apenas a Deus.
Notem que em nenhum dos santos se vê a indiferença pelo próximo mas, ao contrário, um trabalho incessante em favor do outro.
Digamos que a estrutura de nossa vida de oração está na humildade e na caridade. Sem essas virtudes, logo desanimamos, ou nossa luta se torna individualista e narcisista.
São Luiz Gonzaga, considerado o santo da pureza, da castidade perfeita, morreu de esgotamento na ajuda aos pestilentos da cidade em que morava. Trabalhou tanto que faleceu sucumbido pela doença que combatia.
Se você está como Elias, deitado, desanimado, à sombra de uma árvore esperando a morte chegar, alimente-se de Deus, levante-se e siga o seu caminho, que é muito longo e precisa ser percorrido. Você não estará sozinho (a). (1ª Reis 19,4-8).
Deixaremos de lado os nossos “ismos” e a falta de caridade, quando aprendermos a viver a gratidão.
Jesus sempre gostou da gratidão e detestou a ingratidão. Em Lucas 17,17-18 vemos como ele sentiu a ingratidão dos leprosos curados que não voltaram para agradecer e como elogiou a gratidão do que voltou para render graças, que era, por sinal, inimigo político dos judeus, um samaritano.
Em Mateus 23,37-38, Jesus sentiu a ingratidão do povo judeu e se expressou deste modo: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, quantas vezes quis te reunir como a galinha reúne os pintinhos sob as asas, mas vós recusastes!”
Em Mateus 18,23-35, Jesus contou a parábola do rei e do devedor, que fora perdoado em três toneladas de ouro (eu fiz a conta e deu mais ou menos isso), mas ao sair do palácio não perdoou a um seu devedor que lhe devia 400 gramas de ouro! E Jesus condenou a atitude dessa pessoa tão ingrata! Quanta gratidão temos com as graças de Deus Nós O agradecemos sempre? Pecar é um ato de ingratidão a Deus, pois Ele nos trata bem e nos perdoa e, ao pecarmos, estamos nos afastando dele, que tanto nos ama. Ao não perdoarmos estamos tendo ingratidão contra Deus, que nos perdoa sempre!
Quando recebermos dos outros a ingratidão, agradeçamos a Deus, pois Ele nos agradecerá no lugar do ingrato, com muitas graças! Nunca devemos fazer as coisas para sermos louvados e recompensados! Precisamos nos acostumar a fazer tudo para a maior glória de Deus, sem nenhum interesse pessoal. “Depois que fizerdes tudo o que puderdes, deveis dizer: 'Somos servos inúteis'! “-Lucas 17,10.
Jesus chorou várias vezes. Por exemplo em Lucas 19,41:”Quando Jesus chegou mais perto e pôde ver a cidade, chorou sobre ela, dizendo'Se também tu, principalmente neste dia que te é dado, reconhecesses o que te pode trazer a paz!”
Pedro também chorou por ter sido ingrato a Jesus, em Mateus 26,75. Já no Antigo Testamento, Deus reclama da ingratidão do povo, como em Miquéias 6,2-5.
Nunca sejamos ingratos para com ninguém, pois além disso “doer” no coração da outra pessoa, provoca a não ajuda de Deus em nossos atos e projetos.
Reforçando e concluindo:
Jesus sentia muito a ingratidão das pessoas, como vemos em Lucas 17,17-18 (dos dez leprosos que ele curara só um voltou para agradecer ); Lucas 19,41 (chorou sobre a cidade de Jerusalém pela ingratidão de seus moradores); Mateus 23,37-38 (outra narrativa do dia em que chorou sobre a cidade); Marcos 14,27 (queixou-se com os três apóstolos que não vigiaram uma hora com ele).
Nós nunca conseguiremos agradecer a Deus por todos os seus benefícios. A única maneira de agradecermos é nos conduzindo ao céu, por uma vida santa, não sendo ingratos para com ninguém, nunca pecarmos, sempre trabalharmos pelo bem da sociedade.
04/01/14 –
Assim chamamos ao tempo que Deus nos chama à conversão e a uma vida mais santa. Pode demorar um instante ou um período mais demorado.
Esse chamado de Deus pode dar-se dentro da vocação que estamos seguindo, ou o convite a uma nova vocação.
São Paulo teve apenas alguns minutos para decidir-se, quando Deus o chamou no caminho a Damasco. Ele ouviu e atendeu ao chamado.
Zaqueu tinha subido a uma árvore e quase caiu de susto quando Jesus o chamou. Também ele atendeu ao convite de Jesus.
O jovem rico recebeu o convite de forma bem precisa, mas o recusou. O outro, que disse precisar primeiro enterrar o pai (ou seja, esperar que o pai morresse), não atendeu ao convite que Jesus lhe fizera para ser Apóstolo.
O ladrão, São Dimas, recebeu o convite na hora da morte, e ouviu Jesus, o acolheu e o aceitou plenamente. O ouro ladrão não aceitou.
Herodes recebeu o convite pelo testemunho dos magos e pelas escrituras, mas não o aceitou.
Há uma música do grupo Emaús que diz: “Então Deus vem, de modo que eu nunca imaginei; creio em Ti, crês em mim, Deus sempre esteve perto de mim!” De fato, Deus nos faz o convite à conversão, ao seu amor pleno, em momentos por vezes inesperados, em que talvez não o percebemos com nitidez.
Uma das maneiras de percebermos essa “abordagem” de Deus, talvez seja pela oração e o silêncio. Poucos hoje em dia “curtem” o silêncio! Peçamos sempre a ele que percebamos seu convite de amor!
Muitos notam a presença de Deus num fato alegre; outros, notam-na num fato desconfortável, como a doença, um acidente, uma perda.
Dizem que Martinho Lutero converteu-se quando um seu amigo foi fulminado por um raio, quando caminhavam juntos. Tornou-se monge agostiniano. Entretanto, diante de obstáculos no relacionamento com a Igreja, ou mesmo por ter escolhido a vida religiosa apenas por medo e não por vocação, “abandonou o barco” e não confiou na ação divina na história, como por exemplo São Francisco de Assis.
Este santo teve problemas semelhantes no relacionamento com as autoridades da Igreja, mas sua atitude foi positiva, embora no momento parecesse negativa: desnudou-se (no sentido real da palavra) e “vestiu-se” de Cristo pobre e misericordioso. Venceu os obstáculos não “abandonando o barco”, mas usando o barco pobre da vida religiosa autêntica, num testemunho vibrante.
Ele sempre dizia: ”Devemos pregar sempre o Evangelho e, quando necessário, também com as palavras”. Carlos de Foucauld, seiscentos e poucos anos depois, disse a mesma coisa, só mudando as palavras: “Devemos gritar (e não apenas proclamar) o Evangelho com a vida” (e não apenas com as palavras).
Deus usa os meios que estão mais disponíveis na vocação seguida pela pessoa. Santo Agostinho, por exemplo, recebeu o convite de Deus no assunto que mais amava: a oratória.
Os magos, como já disse, receberam o convite de Deus na astrologia que estudavam e com a qual sempre estavam em contato.
S. Paulo, no caminho de uma perseguição.
Zaqueu, no que fazia de melhor: comer bem.
Jeremias, na ideia maluca de que deveria ser abortado (Jeremias 20,7s). Em Jeremias 1,4s, Deus lhe lembra que o amava e o chamara já antes dele ter nascido, quando ainda estava se formando no seio materno.
Jonas recebeu o convite quando aguardava “de camarote” a destruição de Nínive.
São Francisco Borja converteu-se quando viu a rainha sua protetora, uma das mais formosas mulheres de seu tempo, exalando cheiro horrível de podridão e putrefação no caixão em que ia ser enterrada.
S. Vicente de Paulo teve a sua “hora de Deus” quando fez sua mudança de uma paróquia para outra: percebeu quanta coisa tinha de supérfluo! E mudou de vida.
O beato Carlos de Foucauld percebeu a hora de Deus quando se enfastiou das festas e orgias que promovia.
Eu procurei saber qual foi a hora de Deus em minha vida, e acho que a encontrei. Entretanto, percebi quantas delas deixei passar em branco e o quanto Deus foi paciente em esperar até agora.
E você, caro amigo, cara amiga? Lembre-se de que, como diz o Pe. Fernando Cardoso, Deus se deixa frustrar às vezes, mas não se deixa frustrar indefinidamente!
Meditemos sempre sobre a hora de Deus em nossa vida, e não a deixemos passar em branco! Sabe de uma coisa? Pode ser que a hora de Deus em sua vida tenha sido a leitura deste singelo, pobre e despretensioso artigo! Já pensou nisso?
20/04/2020
Quando N. Sra. apareceu a Santa Catarina Labouré, disse-lhe para mandar cunhar a medalha milagrosa deste modo:
"...uma Senhora de mediana estatura, de rosto muito belo e formoso... Estava de pé, com um vestido de seda, cor de branco aurora. Cobria-lhe a cabeça um véu azul, que descia até os pés... As mãos estenderam-se para a terra, enchendo-se de anéis cobertos de pedras preciosas. A Santíssima Virgem disse-me: ‘Eis o símbolo das Graças que derramo sobre todas as pessoas que mas pedem ...’ Formou-se então, em volta de Nossa Senhora, um quadro oval, em que se liam, em letras de ouro, estas palavras: ‘Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós, que recorremos a Vós’. Depois disso o quadro que eu via virou-se, e eu vi no seu reverso: a letra M, tendo uma cruz na parte de cima, com um traço na base. Por baixo: os Sagrados Corações de Jesus e de Maria. O de Jesus, cercado por uma coroa de espinhos e a arder em chamas, e o de Maria também em chamas e atravessado por uma espada, cercado de doze estrelas. Ao mesmo tempo, ouvi distintamente a voz da Senhora, a dizer-me: ‘Manda, manda cunhar uma medalha por este modelo. As pessoas que a trouxerem, com devoção, hão de receber muitas graças”.
Um fato que autentica essa aparição a Santa Catarina Labouré é que seu corpo permanece maravilhosamente intacto até hoje. Seus olhos são azuis, e também estão intactos!
Grassava a peste na França quando foram cunhadas as primeiras medalhas. Por meio delas foram obtidas muitas curas, o que fez a cunhagem das medalhas aumentar em milhões. A peste foi vencida, graças a essa medalha vinda em tão boa hora.
Num dia destes eu fui procurar no You Tube um programa que sempre vejo, do Pe. Fernando Cardoso, e me retive num filminho curto sobre a história de Santa Catarina Labouré e a Medalha Milagrosa. Foi providencial. Fique pensando: por que não recorrer a Maria neste tempo calamitoso da pandemia por causa do Coronavírus? A medalha não foi cunhada só para aqueles tempos. Ela vale também nos dias de hoje.
Mas veja bem: a medalha não deve ser usada como talismã, como algo mágico. Seu uso e sua eficácia depende muito do modo como vivemos a nossa vida. Se somos pessoas de oração, se temos espírito de penitência, se buscamos ficar livres do pecado, se somos caridosos e temos muita misericórdia no coração, e se essa for a vontade de Deus, nossos pedidos vão ser ouvidos e Maria vai nos livrar do coronavírus.
Temos também que levar em consideração o fato de que chegou a hora de muitas pessoas deixarem este mundo, e que suas mortes vão ser permitidas por Deus. Isso não significa que somos maus ou que Deus não está conosco ou que Maria não nos protegeu. O importante, na verdade, é irmos ao paraíso após esta vida. A vida do outro lado é eterna. Esta é finita e muito curta.
Recorramos ao uso da medalha milagrosa. Estou certo de que se alguém que a use naquelas condições que eu disse acima vier a falecer, creio que morrerá em paz, obterá a salvação e terá a plena proteção maternal de Maria, principalmente nos últimos dias da doença.
Qual é a diferença entre ilusão e realidade? Ambas existem e podemos vê-las e senti-las!
Bem, deixa-me ver: o meu dedo indicador esticado é uma realidade; entretanto, se eu o balançar em sentido horizontal, vou ver vários dedos, e isso já é uma ilusão de ótica!
O céu que vemos parece uma realidade, mas é uma ilusão, pois a luz demorou milhões de anos para chegar à terra e, portanto, o céu que vemos agora é o que existiu há milhares e milhões de anos (dependendo da distância dos astros).
A televisão também é uma ilusão. As imagens são apenas fotos, paradas, que só se tornam movimentadas porque nossa mente as retêm e dão a impressão de movimento! Faça duas figuras, uma em cada página, com apenas alguma coisa diferente, veja-as alternadamente e você verá que elas se “movimentam”. As duas figuras são verdadeiras, mas o movimento delas é uma ilusão de ótica...
Na vida espiritual ocorre muito disso. A riqueza, apesar de ser uma realidade, pode nos ser uma grande ilusão. Ela é uma realidade em si, mas procurar obtê-la a qualquer custo para nos tornarmos felizes, isso é uma ilusão.
Muitos tipos de religiosidade são ilusórios; entretanto, a caridade é uma realidade.
Onde estou agora, o que estou fazendo, é uma realidade inexorável. Se eu aceitar e curtir este momento, estou sendo real, verdadeiro. Entretanto, se eu estiver agora apenas com o corpo dentro deste momento, estou vivendo uma ilusão; ou seja, se eu ficar lastimando, rejeitando este momento, ou tentar me enganar dizendo que não é verdade que estou vivendo isto seria uma ilusão.
Olho ao meu redor e aposso-me da realidade em que estou. Tento tirar um proveito próprio disto tudo, prestando atenção nos detalhes, no que aqui está acontecendo...
...Estou numa pracinha. À minha frente, dois homens cinquentões jogam...como é o nome desse jogo? Vou perguntar-lhes! (...) Um deles me disse que se chama “playblade”. Consiste em jogar um dado e fazer caminhar pecinhas (eles adaptaram tampinhas de garrafa pet) sobre um tabuleiro pré-marcado. Não gosto do barulho que o copo faz quando batem o dado sobre a mesinha, dentro de um copo.
À minha direita, a uns 20 metros, quatro senhores de idades diferentes jogam dominó. O sol está forte, mas eu e eles estamos na sombra.
À minha esquerda, três jovens conversam gesticulando. Acho que estão contando um ao outro suas aventuras de ontem.
À minha frente, distante uns... 15 metros, a mãe conduz seus dois filhos a um portão, um pouco mais distante, onde um homem, sorrindo, já prepara os braços para recebê-los e abraçá-los. Ela traz uma sacola enorme no braço direito e até fiquei com dó!
No outro lado da rua, uma loja de móveis expõe alguns colchões, que estão ao sol. Será que não vai derretê-los? Acho que não... Há também dois tapetes bonitos de crochê à exposição. Um deles é enorme e acho que custa caro.
Mais à minha esquerda, tipo noroeste, um velho ouve com atenção um rádio que toca uma música em volume baixo. Não a ouço. Ele contempla um pássaro à sua frente.
O céu está com muitas nuvens, mas o sol consegue ludibriá-las. Choveu muito nestes dias, e hoje o tempo se firmou. Tudo está calmo. O vento é fraco. Os pássaros que aqui gorjeiam, desapareceram. Vi apenas quatro pardais se enfiando sob um telhado. Num poste, o cata-vento que alguém ali colocou com um “leme” para direcionar-se a favor do vento. Está quase parado! Funciona rápido e pára. Rápido e pára...
Eu até compus uma poesia sobre os pássaros que pararam de gorjear. Você quer lê-la? Se não quiser, pule-a!
O MUNDO MASSACRADO
“As aves que aqui gorjeiam”
deixaram de gorjear!
As palmeiras não mais se alteiam,
não trazem os sabiás!
Nosso mundo, antes bonito,
se enfeia a mais não poder!
Vejo isso tudo muito aflito,
é muito triste, custa-me a crer!
Em todas as áreas conspurcado,
dinheiro e poder estão na pauta!
Para ver tudo isto acabado,
muito pouca coisa ainda falta!
Mas... ainda resta uma esperança,
ainda nos resta o amor!
Ainda nos resta o amor!
Ainda nos resta a bonança
de ter sempre Deus, nosso Senhor!
... O cata-vento! Quero ser o cata-vento de Deus, sempre voltado para a brisa de sua palavra salvadora! Quero sempre virar-me em direção em que ele está soprando! Vento, ruah, pneuma...palavras misteriosas que nos levam a um mesmo vocábulo, “espírito”, mas com sentidos diferentes!
O Espírito Santo, o “Vento Santo”, não tem esse significado. É como a palavra “pé-de-moleque”. Não é o pé e não é do moleque; é um doce de amendoim. Assim, o Espírito Santo não significa, como em hebreu e grego, “vento, sopro santo”, mas é o nome da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.
Quero ser o cata-vento de Deus, sempre procurando fazer-lhe sua misericordiosíssima vontade, que também é santíssima e digníssima! Fazer a vontade de Deus é a coisa mais sábia que temos aqui na terra ou mesmo lá no céu: “Faça-se a vossa vontade na terra, como ela é feita no céu”! (Sermão da Montanha).
Sob a haste do cata-vento há algumas flores artificiais que um rapaz negro está vendendo. Há algumas samambaias verdes, feitas com garrafas-pet, lindíssimas! Vou perguntar o preço!(...) Ele me disse que custam dez reais a pequena e quinze a maior. Isso ficaria bonito em casa... mas não quero gastar dinheiro nisso.
Aproveitei a ida para comprar um picolé. Custa cinco reais o sorvete “prestígio” e dois reais o mais comum. Comprei um “prestígio” e dei um comum a um moleque que me pediu. Ele já se foi, pulando, alegre. O sorvete veio em boa hora! Está muito calor.
Pois é! Tudo isso que eu lhes descrevi é a realidade. Será mesmo? Você me acredita? E se eu lhe estiver mentindo? Esta seria a realidade em que eu desejo que você creia. Se você estivesse aqui, talvez constatasse que que não há sol, que a praça não é uma praça mas um lugar mais ermo, que está talvez chuviscando, que não há mais ninguém aqui além daquele gato manhoso miando desesperadamente por fome ou por frio...
Para você, a ilusão que eu estaria criando seria uma realidade, como eu a descrevi. Mas, se eu estivesse mentindo, seria uma grande ilusão, uma fantasia. Eu estaria descrevendo algo que não existe!
É assim que funcionam muitas religiões. O pastor ou o padre diz a você uma ideia em que ele acredita (ou achamos que ele acredita), mas que nem mesmo ele sabe se é uma ilusão ou uma realidade. Tudo é baseado na fé! Como é o céu? Alguém voltou de lá para dizer como é?
Agora eu peguei você. Sim, alguém veio de lá. Jesus! E ele disse como é o paraíso, com palavras humanas, comparações, alegorias. Ele é cidadão e dono do céu e disse em João 14,1ss: “Na casa de meu Pai são muitas as moradas, e se não fosse assim, eu vos teria dito! Vou até lá para preparar-vos um lugar”. O céu não é uma ilusão! É uma realidade! Mas cada um o imagina de modo diferente. Isso é uma ilusão: o modo como o imaginamos.
Estou escrevendo isto de algum lugar do planeta, e isso é uma realidade. Mas estou cansado e vou parar. Os dois homens ainda jugam o playblade. Os do dominó ainda estão lá. O florista vendeu uma samambaia de garrafa pet. Os jovens já foram embora, assim como o sorveteiro. Apenas um detalhe: você sabia que os sorveteiros de rua não vendem sorvete do tipo “prestígio”? Eles só vendem daquele tipo de gelo no palito. Isso eu lhe menti. Eu comprei, mesmo, um sorvete tipo gelo de abacaxi.
Agora são 13 horas e quinze minutos e vou embora.
03/02/16
Neste mundo vivemos entre a ilusão e a realidade. O perigo é vivermos a ilusão e descartarmos a realidade!
A primeira realidade que vejo é que vamos viver um número limitado de anos aqui na terra. A ilusão é acharmos que isto tudo é a realidade e que não existe uma vida após esta. Então, o que a pessoa faz é buscar desesperadamente ser “feliz” nesta vida, a qualquer custo. Exemplo: essas pessoas que roubaram a mais não poder, no governo e na sociedade. Todos vão morrer algum dia e deixar aqui tudo o que roubaram. O que vão apresentar a Deus? Diz São Francisco de Assis que nós só vamos levar para o céu que partilhamos, o que damos. O que recebemos, vai ficar por aqui. Uma camisa que você doa, você vai levar esse mérito para lá. Uma camisa que você ganha, vai com você no caixão ou vai ficar por aqui mesmo.
Uma das ilusões é justamente a riqueza. Ela atrai e pode perverter. Se a riqueza fosse uma realidade em relação à felicidade, Jesus nasceria numa família rica. Ele mostrou que uma vida simples, sem muitas coisas, como a que ele viveu, é a realidade que nos salva e nos satisfaz.
Se riqueza trouxesse felicidade, os ricos não cometeriam suicídio. Não é isso que vemos! Quantos ricos se mataram com remédios e drogas, ou mesmo tirando a própria vida! Quantos pobres cometem suicídio? Garanto que o número é bem menor do que o dos ricos!
Jesus não nos pede para viver na miséria. Ele propõe uma vida simples, sem muitas necessidades, sem muitas ilusões.
Outra realidade que vejo é a caridade, a misericórdia. Não importa o que ou como as pessoas vivem. Nós vamos ajudá-las a serem felizes. Isto é a realidade, que nos levará à realidade maior, o céu. Mas não nos esqueçamos de mostrar a elas a vida mais de acordo com o evangelho. Caso contrário, a ajuda material não terá muito sentido. Dar o pão material, mas sem esquecer o espiritual. Mais do que “dar o pão”, deixar aquela família em condições de poder comprar o pão diário. É o que os vicentinos, por exemplo, procuram fazer: promover as pessoas.
Em todas as nossas atividades, mesmo na igreja, temos de ver o que é ilusão e o que é realidade. Por exemplo: ir à missa dominical sem se preocupar com uma vida santa durante a semana, não é realidade; é ilusão.
O criminoso que reza antes de cometer o crime, ou faz um sinal da cruz, estaria vivendo uma realidade?
O torcedor que faz promessa para seu time ganhar, será que Deus torce por aquele time? Se o torcedor do outro time também estiver rezando, quem Deus ajudaria? Veja que ilusão tremenda é esse tipo de oração! Você até poderia rezar, talvez, para que não aconteça nenhum acidente, nenhuma briga... isso seria realidade.
Ir à Aparecida uma vez por ano e nem ligar para a religião no restante do ano, isso é ilusão ou realidade?
Aprendamos a distinguir em tudo o que é pura ilusão e o que é realidade. A vida vai ser bem melhor, mesmo que um pouco mais sofrida. A propósito, quer ver um exemplo de ilusão do dia a dia? Se você me mostra o dedo indicador, isso é uma realidade. Entretanto, se você o agita horizontalmente, eu vejo vários dedos num só, e isso é ilusão!
12/03/16-
IMAGINAÇÃO, Página em Branco
Jean Paul Sartre inicia o seu livro A imaginação com uma reflexão sobre esse assunto logo na introdução, falando que está diante de uma página em branco, mas aquilo não é simplesmente uma folha em branco. Veja o comentário que vi sobre o assunto:
“Em A imaginação, o autor levanta as contradições intrínsecas ao conceito de imagem, sobre o costume de se pensar a natureza da imagem a partir de uma experiência reflexiva. Já na introdução, Sartre mostra que uma folha em branco não é apenas uma folha em branco”.
O que escrever sobre uma folha em branco? Há tantas coisas! Uma página em branco, em si mesma, já é significativa: significa o nada, a falta de inspiração, a “ocagem” da mente. Pode, também, significar um protesto contra a imbecilidade que se está espalhando pelo mundo pela mídia.
Se a página for como a em que escrevi o rascunho deste texto, terá linhas paralelas e uma margem. As linhas paralelas eu obedeço, mas a margem, não. Faço questão em não observar a margem. As margens são limites. Os limites podem ajudar os rios a chegarem ao mar, mas podem prejudicar a irrigação e, consequentemente, dificultar a colheita.
Já as linhas paralelas impedem que as frases se confundam e se misturem. Por isso eu as observo.
Uma página em branco, sem linha alguma, simboliza a liberdade. Você pode escrever nela como quiser, do modo que quiser, mas isso pode levá-lo ao caos, como nas páginas em branco que recebemos ao nascer, para serem preenchidas durante nossa vida. O caos se determina quando não seguimos orientação alguma, nem das linhas paralelas, nem das margens, dependendo do modo como as preenchemos...
No salmo 54 (55), o salmista afirma que Deus tem um livro para cada um de nós, e o preenche ininterruptamente: “Nossas lágrimas e nossos passos, não estão todos eles escritos em vosso livro? As lágrimas, não estão elas recolhidas em vosso odre”?
Nosso pensamento é livre, mas nossa ações devem ser sempre dirigidas por Deus. As margens podem, nesse caso, significar a falta de ação em favor do pobre, do oprimido, quando nos resguardamos na vaidade, orgulho, falta de misericórdia.
São Pedro perguntou a Jesus quantas vezes deveria perdoar ao irmão, e Jesus respondeu “sempre”. São Pedro colocara, ali, uma margem: sete vezes. Jesus tirou a margem: setenta vezes sete, ou seja, sempre.
O mesmo Sartre disse, em outro lugar: “O inferno, para mim, são os outros”! Em outras palavras: minhas margens são os outros! Aí as margens são como as do riacho: permitem que ele chegue ao mar.
Termino lembrando a todos de que, o que quer que tenhamos escrito em nossa página em branco de nossa vida, Deus nos diz: “Eis que farei coisas novas“! (Is 43,16-21). “Esquecendo-se do que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente”(Filipenses 3,8-14). “Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais”. Esqueçamos, pois, o que ficou para trás e nos lancemos ao longo do caminho que vemos à nossa frente. Deus nos perdoou e limpou tudo o que havíamos escrito de negativo e de mau em nosso caderno. Suas folhas estão limpas novamente, prontas para serem usadas, desta vez de modo melhor. Mas veja bem! Diz um autor que nunca chegaremos a um objetivo diferente se trilharmos o mesmo caminho. O contato contínuo com Deus faz-nos descobrir forças que nem imaginávamos que tínhamos!
Jesus está “preso” na Eucaristia. Todos fazem com ele o que bem entendem. Quando Jesus inventou a Eucaristia, decerto sabia que isso iria acontecer. Um padre jesuíta muito famoso, arqueólogo e teólogo, Teilhard de Chardin (pronuncia-se “teiarr de chardan”), no livro “Hino ao Universo”, diz, à página 16:
“Do elemento cósmico em que se inseriu (pela transubstanciação da consagração do pão e do vinho na Missa),o Verbo age para subjugar e assimilar a si todo o resto.” À página 17: “ A hóstia é semelhante a uma fornalha ardente de onde sua chama irradia e se espalha”.
O padre (beato) Carlos de Foucauld tinha essa mesma ideia da irradiação da Eucaristia no ambiente em que se encontra, em forma de paz, misericórdia e salvação que Jesus nos proporciona. Ele a conservava ali no deserto para que se irradiasse na aldeia tuaregue. Infelizmente ele chegou a ficar um bom tempo sem a Eucaristia, por proibição das autoridades religiosas daquele tempo, que não permitia que ele celebrasse a missa sozinho.
O Irmão Carlos fazia 8 horas diárias de oração, baseado nessa certeza de que o poder de amor da Hóstia Consagrada, o próprio Cristo se estendia por todo o deserto e sobre o povo tuaregue, que ali vivia com ele. Que a Eucaristia seja também a força da vida dos Eremitas de Jesus Misericordioso, e sua fonte de inspiração e de oração. Diante da Eucaristia, Deus nos leva ao deserto, para ali “Falar-lhe ao coração” (Oséias 2,16).
A comunhão diária é, portanto, uma fonte de vida para todos nós. Quando não pudermos comungar, comunguemos espiritualmente, lendo uma leitura dos evangelhos. A Eucaristia que vivemos e recebemos vai também se irradiar no ambiente em que vivemos. É maravilhoso como isso realmente acontece!
No dia de Corpus Christi de 2012 em Roma, o Papa Bento XVI presidiu a Missa da Solenidade de Corpus Christi, na Basílica de São João de Latrão, em Roma. Na homilia, o Papa destacou que é importante manter vivo “o sentido da presença constante de Jesus no meio de nós e conosco, uma presença concreta, próxima, entre as nossas casas, como 'Coração pulsante' da cidade". É essa "irradiação" de que fala o irmão Carlos, e que deve acontecer não só com a Eucaristia, como também com Cristo presente em nós. Nós nos tornamos, por meio de uma vida santa, a "irradiação" de Cristo no meio em que vivemos, o sal da terra e a luz do mundo.
O Santo Padre explicou dois aspectos do Mistério Eucarístico, ligados entre si: o culto da Eucaristia e sua sacralidade. Sobre o valor do culto eucarístico, o Papa deteve-se sobre o sentido e importância da adoração ao Santíssimo Sacramento.
O destaque dado à Santa Missa acabou sacrificando o valor da Adoração Eucarística, como ato de fé e oração dirigido ao Senhor Jesus presente na Eucaristia. "De fato, concentrando toda a relação com Jesus Eucaristia somente no momento da Santa Missa, corre-se o risco de esvaziar de Sua presença o restante do tempo e do espaço existenciais".
O Papa ressaltou que é errado contrapor a celebração e a adoração, como se estivessem em concorrência uma com a outra. O que acontece é precisamente o contrário. "O culto do Santíssimo Sacramento constitui o 'ambiente' espiritual dentro do qual a comunidade pode celebrar bem e em verdade a Eucaristia. Somente se for precedida, acompanhada e seguida por essa atitude interior de fé e de adoração, a ação litúrgica poderá expressar seu pleno significado e valor", explicou.
Bento XVI enfatizou: "O encontro com Jesus na Santa Missa se realiza realmente e plenamente quando a comunidade é capaz de reconhecer que Ele, no Sacramento, habita a sua casa, nos aguarda, nos convida à sua ceia e, a seguir, depois que a assembleia se desfaz, permanece conosco, com a sua presença discreta e silenciosa, e nos acompanha com a sua intercessão, continuando a recolher os nossos sacrifícios espirituais e a oferecê-los ao Pai".
O Santo Padre insistiu que não se podem separar comunhão e contemplação. "Para comunicar realmente com outra pessoa devo conhecê-la, saber estar em silêncio ao seu lado, ouvi-la, olhá-la com amor. O verdadeiro amor e a verdadeira amizade vivem sempre desta reciprocidade de olhares, de silêncios intensos, eloquentes, repletos de respeito e de veneração, de modo que o encontro seja vivido profundamente, de modo pessoal e não superficial".
Jesus não aboliu o sagrado, ressaltou Bento XVI, Ele o levou ao cumprimento, inaugurando um novo culto, plenamente espiritual. Em todo o caso, "enquanto vivemos no tempo, precisamos de sinais e ritos, que desaparecerão somente no fim, na Jerusalém Celeste
11/12/2018
Se você buscar a etimologia (=origem) da palavra ”manjedoura” vai encontrar, inserido na explicação, frase como esta: “Manjedoura, é o lugar (douro) onde os animais comem (manjar)”. Ou seja, “manjedoura” é um modo de deixar menos desagradável a palavra “cocho”, mas é a mesma coisa. Jesus foi colocado num cocho onde os animais comiam.
Meditando sobre isso, eu percebi que Jesus desde antes do nascimento já escolhera onde queria nascer, como iria viver. Se ele quisesse luxo, iria nascer num palácio. Viveu pobre e entre os pobres, não tinha “onde reclinar a cabeça”. Quando jantava com os ricos, era para convertê-los e levá-los a partilhar suas riquezas com os pobres, como aconteceu com Zaqueu. Morreu pobre. Jesus nasceu nu e morreu nu. Nem o mais miserável ser humano morre nu atualmente. Jesus morreu. E na cruz não havia onde ele reclinar a cabeça.
Também percebi que ele continua com o mesmo costume! E isso pode ser terrível para nós. Sabe por quê?
Porque ele só continua a entrar onde há humildade, nos corações onde há uma acolhedora manjedoura. Ele não se sente bem e não entra nos corações soberbos, cheios de coisas supérfluas tiradas dos que não têm nada. É isso mesmo. Santo Ambrósio dizia que o agasalho que está sobrando no seu guarda-roupa pertence ao pobre que está tiritando de frio lá fora. Isso pode ser entendido simbolicamente, pois nem sempre o que pobre precisa é de agasalho. Às vezes esse pobre de que fala Santo Ambrósio é o seu próprio filho, que está precisando de sua presença na vida dele, ou aquela pessoa que está abandonada, sem ninguém com quem bater um papo.
Neste Natal vou rezar muito pedindo que o meu coração seja sempre uma acolhedora manjedoura onde Jesus se sinta à vontade. Nem sempre tem sido assim. E você? Está preparando sua “manjedoura” para que Jesus venha e se sinta à vontade? Pois vou contar-lhe um segredo: Muitas pessoas (talvez a maioria) nem vai pensar em Jesus neste Natal.
Diz Efésios 2, 4: “Deus é rico em misericórdia!”, e quer que também nós o sejamos, ajudando as pessoas, acolhendo-as, nunca desprezá-las e sempre perdoá-las. Tiago 2,1-26 nos diz que a fé, sem as obras, é morta: precisamos ajudar os pobres e necessitados, não desprezando nem humilhando a ninguém.Diz também no v. 13: “A misericórdia vence (triunfa sobre ) o julgamento”. Agindo assim, no julgamento final Deus será misericordioso também para conosco, como nos diz Mateus 25, 31-46 (o julgamento final).
É bom lembrar que a misericórdia implica, também, a não julgarmos a ninguém. Veja Mateus 7,1-4 e 1ª Pedro 4, 8 “A misericórdia cobrirá a multidão dos pecados”!
Diz Efésios 3,20: “Deus é poderoso para realizar por nós, em tudo, muito além, infinitamente além de tudo o que pedimos ou pensamos”.
Se Deus é assim tão poderoso, ele pode também ser todo misericordioso, como diz Jeremias 31,3:
“Eu te amei com um amor eterno; por isso guardo por ti tanta ternura!”
Por isso tenhamos certeza de que ele nunca nos abandonará, se deixarmos que ele tome conta de nossa vida, como diz Isaías 42,16;
“Eu nunca hei de abandoná-los”
E em Isaías 49,15:
“Mesmo que a mãe se esqueça do filho que gerou, ou deixe de amá-lo, eu jamais me esquecerei de ti!”.
Ou ainda em Isaías 66,13:
“Qual mãe que acaricia os filhos, assim também eu vou dar-vos o meu carinho”.
Se estivermos dispostos a deixar os pecados e nos aproximarmos de Deus, ele nos perdoará nossos pecados, conforme lemos em Miqueias 7,19:
“Ele vai nos perdoar de novo! Vai calcar aos pés as nossas faltas e jogará no fundo do mar todos os nossos pecados”.
Se pedirmos perdão e nos comprometermos a não mais pecar. Os pecados graves devem ser confessados a um padre, mas não basta isso! É necessário que a pessoa se esforce para não cometer mais aquele pecado (e outros que tenha cometido). Seria bom refletir nos textos que falam sobre isso: Mateus 16,18-19, João 20,22-23, Tiago 5,16. Os outros pecados mais leves serão perdoados se pedirmos perdão diretamente a Deus e fizermos atos de misericórdia e caridade. A misericórdia, o amor, a caridade, cobrem a multidão de pecados, diz 1ª Pedro 4,8.
Esses pecados mais leves também são perdoados com atos de reparação, como as orações, pequenos jejuns ou renúncias de vez em quando, como de alimentos, televisão, bebidas, doces, ou ainda aceitando e oferecendo a Deus os sofrimentos, em reparação dos nossos pecados. Em 1ª João 1,9, vemos que “Se confessarmos os nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar e nos purificar de toda a culpa”.
O único pecado que não tem perdão é o cometido contra o Espírito Santo, que consiste em achar que Deus não pode ou não quer nos perdoar, e por isso não pedimos perdão. Isso pode ser refletido em 1ª João 5, 16-17; Mateus 12,31-32, Hebreus 6,6.
Jesus diz que devemos perdoar sempre, em Mateus 18,22. Pedro lhe perguntara se devia perdoar até sete vezes, mas Jesus respondeu setenta vezes sete, que equivale a sempre. Em Lucas 17,4, lemos: “Se teu irmão pecar contra ti 7 vezes por dia e 7 vezes retornar dizendo que está arrependido, tu o perdoarás”.
Em Mateus 6, 14-15, Jesus diz que o Pai só nos perdoará se perdoarmos aos que nos ofenderam Perdoar, porém, não é “deixar pra lá”. Se for preciso aplicar algum corretivo, devemos fazê-lo, mas sempre com caridade e compreensão. Jesus pede, também, para tirarmos qualquer pensamento de vingança. Há vários trechos de perdão que podemos meditar: Mateus 5,38-48; cap. 5 22-26; cap. 18, 23-35: Lucas 15, 11-32 (filho pródigo).
Em Romanos 12,19, vemos uma frase muito bonita e importante para nos trazer a paz: “A mim pertence a vingança, eu é que retribuirei, diz o Senhor”. No versículo 20, S. Paulo comenta que se tratarmos bem a quem nos odeia, se perdoarmos a quem nos ofendeu, esse ato será como que tivéssemos colocado “brasas” sobre a cabeça dele. Essas “brasas” são símbolos do remorso que o fulano irá sentir, e talvez se converter.
AMAR AO PRÓXIMO: Esse é o maior mandamento. Diz João 13,34-35: “Assim como eu vos amei, vós deveis amar uns aos outros” Já em Marcos 12,28-34, Jesus nos manda amar ao próximo como a nós mesmos, e em Romanos 12,19-20 e Mateus 5,44-48, a amar até os inimigos.
Amar o inimigo é possível se entendermos bem que AMAR não é GOSTAR. Jesus não exigiu que gostássemos, mas que amássemos o inimigo. Isso significa tratar bem dele, não ter sentimentos de vingança, orientá-lo para descobrir Deus em sua vida e aprender a agradecê-lo, a fim de que possa ir para o céu, que possa realizar-se como pessoa.
Perdoar, amar, implica em nunca julgar, para também não sermos julgados. Do mesmo modo que julgarmos também seremos julgados (Mateus 7,1-2).
Entretanto, não podemos confundir julgar com criticar. Na crítica positiva, caridosa, construtiva, apontamos algo errado que precisa ser mudado. No julgamento, pelo contrário, colocamos má intenção na ação da pessoa, e isso é que é pecado.
Exemplo: se alguém derrubar e quebrar um copo seu de estimação, criticar seria pedir que esse alguém tome mais cuidado com o que é dos outros. Julgar seria dizer que ele quebrou o copo porque não gosta de você.
Quanto à humildade, lembro que Jesus foi muito humilde. Diz Mateus 11,29-30: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis repouso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu peso é leve”.
Ser humilde, entretanto, não é ser tímido! Jesus morreu porque enfrentou as autoridades religiosas do tempo, que escravizavam o povo. Ser humilde é reconhecer os próprios limites e aceitá-los, reconhecendo os próprios pecados, desvios, maldade, pedir perdão disso tudo a Deus, confiando a Ele a própria vida, nunca desprezando a ninguém.
Ser humilde é não querer fazer tudo sozinho, mas sempre procurar buscar a ajuda de Deus e das pessoas capacitadas para aquela ação. Reflita sobre isso em Tiago 2,1-7; Marcos 2,15-17; Marcos 6, 37-44. O salmo 40, 17 nos diz: “Sou pobre e indigente, mas Deus cuida de mim!”
Entretanto, o orgulhoso, o auto-suficiente, é abandonado às suas próprias forças e, como diz Sabedoria 1, 1-5, Deus não se revelará a ele. Santa Teresa de Jesus diz uma coisa belíssima quanto à humildade e à confiança em Deus:
“Nada te perturbe, nada te espante. Tudo passa. Deus nunca muda. A paciência tudo alcança. A quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta!”.
Foi essa humildade e confiança que permitiu a Maria conceber e dar à luz o Filho de Deus, como nos conta Lucas 1,46-54. O humilde está sempre com Deus e é fortalecido por Ele.
O livro da Sabedoria, capítulo 1, versículos de 1 a 5, já falava que os simples conseguem obter a revelação da pessoa de Deus. Ele se revela aos simples e aos que não o põem à prova.
A humildade está unida à simplicidade que significa, antes de tudo, confiar em Deus plenamente, deixando em segundo, terceiro ou mesmo último lugar aquilo que nos dá prepotência sobre os outros, ou uma situação financeira privilegiada, abandonando completamente tudo o que nos pode separar de Deus, tudo o que for supérfluo e secundário. As coisas que não puderem ser renunciadas, não se apegar a elas, porque um dia nos “deixarão na mão”, como o povo fala.
Tudo é relativo e secundário se colocamos como nossa meta principal o Reino de Deus. Dizia São Tomás de Aquino: “É melhor andarmos mancando (claudicando) no caminho certo do que correr no caminho errado, pois só chegaremos ao paraíso se estivermos no caminho certo, estejamos correndo ou mancando”.
A simplicidade nos leva a ser pobres em espírito e puros de coração (Mateus 5,1-8). Quando entramos em crise ao nos lembrarmos de quantas coisas no passado deixamos de fazer pelos outros, principalmente pelos nossos pais e pessoas mais achegadas, pelas vezes que não demos testemunho de nossa fé, devemos pedir perdão e perdoar a todos os que nos prejudicaram. Isso vai nos tirar da depressão, do estresse, vai nos dar alívio, e se nos colocarmos nos braços do Pai, que, poderoso, poderá nos purificar e conduzir a nossa vida por um caminho de confiança e de esperança.
Sta. Teresinha já dizia isso, em palavras parecidas com estas: “A lebre, ao ser perseguida pelos cães, refugia-se, assustada, nos braços do caçador”.
Eu acho essa frase magnífica! Na crise de desânimo, de enfado, de repugnância por tudo, e às vezes até por nós mesmos, precisamos e podemos, para nos livrar de um Deus-Juiz, nos refugiarmos e pedirmos ajuda no Deus Salvador e misericordioso. Vendo que não há outra saída, ou seja, que não dá para nos livrar do perigo, refugiemo-nos nas mãos do próprio Juiz enquanto estamos vivos e nesta terra! Enquanto estivermos por aqui, ele não é juiz: ele é salvador.
Já dizia Santa Teresa de Ávila: “Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa! A paciência tudo alcança! Deus nunca muda! A quem a Deus tem, nada lhe falta! Só Deus basta!”
No dia 22/04/2011, 2º dom, da Páscoa, o Papa João Paulo II falou sobre a MISERICÓRDIA DIVINA. Eis um pequeno resumo:
1- "Não temas! Eu sou o Primeiro e o Último. O que vive; conheci a morte, mas eis-Me aqui vivo pelos séculos dos séculos" (Ap 1, 17-18). . A cada um, seja qual for a condição em que se encontre, até a mais complexa e dramática, o Ressuscitado responde: "Não temas!"; morri na cruz, mas agora "vivo pelos séculos dos séculos"; "Eu sou o Primeiro e o Último. O que vive".
"Louvai o Senhor porque Ele é bom, porque é eterno o Seu amor" (Sl 117, 1). É um prodígio em que se abre em plenitude o amor do Pai que, pela nossa redenção, não se poupa nem sequer perante o sacrifício do seu Filho unigênito. Em Cristo humilhado e sofredor, crentes e não-crentes podem admirar uma solidariedade surpreendente, que o une à nossa condição humana para além de qualquer medida imaginável.
3. É para mim uma grande alegria poder unir-me a todos vós, queridos peregrinos e devotos provenientes de várias nações para comemorar, à distância de um ano, a canonização da Irmã Faustina Kowalska, testemunha e mensageira do amor misericordioso do Senhor. De fato, a mensagem da qual ela foi portadora constitui a resposta adequada e incisiva que Deus quis oferecer às interrogações e às expectativas dos homens deste nosso tempo, marcado por grandes tragédias. Jesus, um dia disse à Irmã Faustina: "A humanidade não encontrará paz, enquanto não tiver confiança na misericórdia divina" (Diário, pág. 132). A Misericórdia divina! Eis o dom pascal que a Igreja recebe de Cristo ressuscitado e oferece à humanidade no alvorecer do terceiro milênio.
4. O Evangelho, que há pouco foi proclamado: "Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós" (Jo 20, 21). Imediatamente a seguir, "soprou sobre eles e disse-lhes: recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados, àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (Jo 20, 22-23). Jesus confia-lhes o dom de "perdoar os pecados", dom que brota das feridas das suas mãos, dos seus pés e sobretudo do seu lado trespassado. Dali sai uma vaga de misericórdia para toda a humanidade. Revivemos este momento com grande intensidade espiritual. Também hoje o Senhor nos mostra as suas chagas gloriosas e o seu coração, fonte ininterrupta de luz e de verdade, de amor e de perdão.
5. O Coração de Cristo! O seu "Sagrado Coração" deu tudo aos homens: a redenção, a salvação, a santificação. Deste Coração superabundante de ternura Santa Faustina Kowalska viu sair dois raios de luz que iluminavam o mundo. "Os dois raios segundo quanto o próprio Jesus lhe disse representam o sangue e a água" (Diário, pág. 132). O sangue recorda o sacrifício do Gólgota e o mistério da Eucaristia; a água, segundo o rico simbolismo do evangelista João, faz pensar no batismo e no dom do Espírito Santo (cf. Jo 3, 5; 4, 14). Através do mistério deste coração ferido, não cessa de se difundir também sobre os homens e as mulheres da nossa época o fluxo reparador do amor misericordioso de Deus. Quem aspira à felicidade autêntica e duradoura, unicamente nele pode encontrar o seu segredo.
6. "Jesus, confio em Ti". Esta oração, querida a tantos devotos, exprime muito bem a atitude com que também nós desejamos abandonar-nos confiantes nas tuas mãos, ó Senhor, nosso único Salvador. Arde em Ti o desejo de seres amado, e quem se sintoniza com os sentimentos do teu coração aprende a ser construtor da nova civilização do amor. Um simples ato de abandono é o que basta para superar as barreiras da escuridão e da tristeza, da dúvida e do desespero. Os raios da tua divina misericórdia dão nova esperança, de maneira especial, a quem se sente esmagado pelo peso do pecado. Maria, Mãe da Misericórdia, faz com que conservemos sempre viva esta confiança no teu Filho, nosso Redentor. Ajuda-nos também tu, Santa Faustina, que hoje recordamos com particular afeto. Juntamente contigo queremos repetir, fixando o nosso olhar frágil no rosto do divino Salvador: "Jesus, confio em Ti". Hoje e sempre. Amém !
Lucas 18, 1 “Rezar sempre, sem nunca desistir”.
Na minha opinião, deveríamos rezar pelo menos dez por cento de um dia, ou seja, pagarmos o dízimo de oração a Deus. São duas horas e vinte e quatro minutos.
Certa vez tentei pedir a uns colegas de sacerdócio que nos comprometêssemos rezar uma hora por dia: nenhum quis firmar o compromisso. Isso quer dizer, sem querer julgar, que não rezavam nem uma hora diariamente. Que evangelização pode sair de pessoas que não rezam? O Dom Angélico, agora bispo emérito, sempre diz: “Quem não reza, vira bicho”. E o meu pároco, de quando eu era criança, sempre dizia: “Tem gente que deita burro e levanta cavalo”! - porque não rezavam nem para dormir nem para levantar-se.
Se rezarmos uma Hora Santa diária, um rosário, a Liturgia das Horas, a Santa Missa, aí já passou do dízimo de orações.
A oração nos dá coragem e força para vencermos os obstáculos. Jesus orava sempre, tanto antes das refeições, como antes de qualquer coisa. Na Bíblia de Jerusalém, comentário n° 9 de Mateus 14,23 você encontra uma relação de todas as orações que Jesus fazia no dia a dia. Temos isso também nestes links:
Outra virtude necessária aos cristãos é a paciência. S. Francisco de Salles (séculos 16/17) era muito irascível, até que converteu-se, tornando-se o “Santo da Paciência!”
Já nos adverte Efésios 4,26-27: “Que o sol não se ponha sobre a vossa ira! Não deis entrada ao demônio!”. O demônio se sente “à vontade” num ambiente em que pelo menos uma pessoa está irada. A inimizade, a discórdia, o ódio, a irritação, os gritos histéricos, são “a praia” do demônio, do maligno. Numa discussão, por exemplo, o que se deixa levar pela ira, pela impaciência, perde, mesmo que esteja com a razão.
O livro “A Imitação de Cristo” diz, no cap. 3 do livro 2:
“Quem não está em paz, converte em mal até o bem. O homem bom e pacífico, porém, faz com que tudo se converta em bem. Nas irritações dizemos muitas coisas que não diríamos na calma, que não deveríamos dizer, e atendemos às obrigações alheias e nos descuidamos das nossas (...) Suportemos os outros, para sermos suportados”.
S. Paulo nos diz em 1ª Tessalonicenses 5,14.16:
“Sejam pacientes para com todos.(...). Estejam sempre alegres”. (Ver também Tiago 5,8). Mateus 5,5: “Felizes os mansos, porque possuirão a terra”; Mateus 11,9: “Aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração”.
Quem é paciente vive em paz, conseguirá alcançar a “terra prometida”, para nós o paraíso, o final feliz da caminhada. “Devagar se vai ao longe”, se diz no italiano. Ou São Tomás de Aquino: “È melhor andar mancando no caminho certo do que correr no caminho errado”.
Uma coisa errada que às vezes fazemos é ficar olhando no relógio quando alguém quer falar conosco e não estamos dispostos a “´perder tempo” com ele. Muitas vezes não é perda de tempo, pois a pessoa está necessitada de alguma atenção. Aliás, nunca temos tempo, a não ser quando temos algum interesse na conversa. Muitas famílias não se conversam porque estão vendo TV, novelas e ai de quem falar com alguém! Espero que Jesus não fique impaciente, olhando no relógio dele, quando eu precisar falar com ele!
Diz o Eclesiástico 2,14: “ Ai de vocês que perderam a paciência! O que farão vocês quando o Senhor lhes pedir contas?”
Muitos católicos deixaram a religião e passaram para os protestantes ou para os evangélicos por causa do acolhimento que essas igrejas lhes fizeram, ao contrário de muitas igrejas católicas que não sabem acolher. Quantas pessoas não se achegam à confissão porque o padre não tem paciência com a demora e até levam uma “bronca” daquele que está ali para servir, e não para ser servido.
Os problemas e a vida daquela pessoa são muito importantes! Mesmo que aquela pessoa não conte nenhum pecado grave, o padre deveria atender e ouvir com amor, solicitude, mansidão. O padre que fizer isso vai progredir a passos largos na fé e será acolhido por Deus, além de ter a participação na comunidade aumentada. O tempo do padre é, antes de tudo, do povo, não dele mesmo. Dis Mateus 20,28:
“O Filho do Homem não veio para ser servido.Ele veio para servir e para dar a vida como resgate em favor de muitos.”
Não só os padres, mas todos nós devemos ter paciência, também, com os doentes e necessitados, fazer-lhes visitas rápidas (visitas longas cansam e enfadam o doente), suprir-lhes as necessidades. Gastar tempo com eles é gastar tempo com o próprio Jesus, e no final, não estamos gastando, mas ganhando nosso tempo.
Por fim, tenhamos cuidado com as palavras. Mateus 5,37: “Seja o vosso 'sim', sim, e o vosso 'não', não. O que passa disso vem do maligno”. Ou seja, ser sincero e verdadeiro no que falamos (comentário da Bíblia de Jerusalém). Mateus 12,36-37 fala que seremos julgados segundo nossas palavras. Em Efésios 4,29.31: “ Não saia de vossos lábios nenhuma palavra incoveniente, mas na hora oportuna a que for boa para edificação, que comunique graça aos que a ouvirem.(...) Toda amargura e exaltação e cólera, e toda palavra pesada e injuriosa, assim como toda a malícia, sejam afastadas de entre vós”
“ DEUS NOS PERMITE O SOFRIMENTO PARA NOS PURIFICAR, A FIM DE QUE POSSA NOS INFUNDIR A SUA SANTIDADE” (Hebreus 12,10).
NADA TE PERTURBE, NADA TE ESPANTE, TUDO PASSA. A PACIÊNCIA TUDO ALCANÇA. A QUEM A DEUS TEM, NADA LHE FALTA. SÓ DEUS BASTA! ( Sta Teresa de Ávila)
(17/04/15)
Costumamos usar de subterfúgios para mal entender a palavra do Senhor. Relutamos em dar explicações que nos deixem mais à vontade, sem precisar nos desinstalar de nossa vidinha tíbia e medíocre!
Já o profeta Jeremias admoestava os que pecavam, iam ao templo ofertar um animal a Deus e achar que estavam livres para retornarem ao pecado (confira Jeremias 7,1-11). Por que será que eu logo liguei isso com nossas confissões às vezes um tanto “fajutas”? Eu morro de vergonha quando tenho que confessar o mesmo pecado que da última confissão!
Um padre meu amigo sempre conta uma historinha: dois padres moravam em duas paróquias separadas por um grande rio. Uma vez por mês um deles ia até um ponto combinado e, de uma margem do rio, falava ao outro, na outra margem: “Padre Rui, eu fiz os mesmos pecados que da outra confissão!” O que estava ouvindo a confissão, após ter dado a absolvição, sem ouvir os pecados, gritava: “A sua penitência é a mesma que da outra vez”!
Quantas vezes confessamos os mesmos pecados?
Diz Lucas 14,33, depois da parábola do homem que começou a construir e não tinha como terminar, e a do rei que ia combater inimigos mas não tinha recurso suficiente para tanto: “Assim, quem não renunciar a tudo (=TUDO) o que tem, não pode ser meu discípulo”!
Pergunto:
1- Como entendemos essa frase?
2- Que mudanças ela implicaria em nossa vida, se for entendida como a lemos?
3- Segundo as duas parábolas concluídas por ela, é possível praticá-la sem a ajuda de Deus? Por que?
Quanto a mim, quero deixar bem claro que estou no mesmo “degrau da escada” que muitos de vocês: ainda não consegui levar essa frase de Jesus plenamente a sério.
Vamos rezar uns pelos outros para que um dia cheguemos a levar a sério, na prática de nossa vida, as orientações que Jesus nos dá! Sem “saídas estratégicas”!
16/11/16
Eu já comentei, em vários artigos, que os sofrimentos são muitas vezes permitidos por Deus a fim de nos purificar, para que ele possa nos transmitir a sua santidade (Hb12,10).
Quando Deus nos permite um tempo de provação, de contrariedades, de sofrimentos, ninguém vai poder nos livrar disso, nem mesmo os nossos anjos da guarda ou mesmo Maria ou algum santo.
O que precisamos pedir a essas santas pessoas é a paz interior. Isso nos será possível conseguir deles. Jesus sofreu angústias terríveis no Horto das Oliveiras e não foi libertado desse sofrimento pelo Pai. Entretanto, foi confortado pelo seu anjo da guarda (Jesus, 100% homem, 100% Deus, tinha, como todos nós, um anjo da guarda), que lhe apareceu e lhe deu forças. É isso que vamos ter, se capricharmos na oração, na meditação e no jejum de várias coisas.
Quando não podemos fazer jejum de alimentos vale fazer outros tipos de jejuns. Quanto à oração, deve ser constante e abundante.
Deus é o melhor pedagogo que existe e sabe do que precisamos para crescermos espiritualmente. Se tivermos paz interior, conseguida por meio dessas práticas que já mencionei, vamos vencer sem problemas nosso tempo de provação.
Deus nos ama e não nos abandona jamais! Precisamos ter plena confiança nele, colocarmo-nos em suas poderosas e misericordiosas mãos, não duvidando nem por um instante de sua bondade e de seu amor por nós.
Essa confiança de que ele tem o controle absoluto sobre nossas vidas, nos dará forças e amparo para oferecermos a Ele todo o nosso desconforto, todo o nosso sofrimento, sabendo que nossa barca chegará ao porto, pois Deus a está pilotando sempre!
A simplicidade só é possível se acreditarmos que Deus está presente ininterruptamente em nossa vida, e por isso não corremos feito doidos atrás do dinheiro, como diz Hebreus 13,5-6:
“Que o amor ao dinheiro não inspire a vossa conduta. Contentai-vos com o que tendes, porque ele próprio disse: 'Eu nunca te deixarei, jamais te abandonarei'. De modo que podemos dizer com ousadia; 'O Sr. é meu auxilio, jamais temerei; que poderá fazer-me o homem?”
Se amamos o dinheiro sobre todas as coisas, nunca viveremos a simplicidade, o amor gratuito e generoso a Deus e, consequentemente, às pessoas. Sabendo que Deus nunca nos abandonará, como vimos nesses trechos acima, vamos viver uma gostosa despreocupação pelo que vai nos acontecer. Seja o que for que nos aconteça, Deus está presente e vigiará para que tudo saia bem, embora por agora pareça tudo esquisito e tormentoso. Nunca estamos sozinhos, se estivermos confiantes em nosso Criador e Salvador. É Mateus 6,19-34 que nos diz isso, culminando com os versículos 33 e 34:
“Buscai, pois, em primeiro lugar, o reino de Deus e sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas em acréscimo. Não vos preocupeis com o dia de amanhã. O dia de amanhã terá suas próprias dificuldades. A cada dia basta o seu fardo”.
Mesmo na evangelização buscaremos os meios pobres, os meios mais simples, se confiamos em Deus, como fazem os que seguem a espiritualidade do Beato Carlos de Foucauld, cujos escritos você encontra neste mesmo blog, no índice. Muita parafernália na evangelização acaba impedindo, podemos dizer assim, a ação do Espírito Santo. Quando S. Paulo Apóstolo falou no aerópago de Atenas, usou a sabedoria e depois se arrependeu disso. Dali em diante, procurou pregar mais com a inspiração e a ajuda de Deus do que com os recursos de sua ciência.
Dizia o beato Carlos de Foucauld que devemos não apenas proclamar, mas “Gritar o evangelho com a própria vida”. S. Paulo Apóstolo percebeu isso como ninguém, ao dizer que “Quando sou fraco, aí é que sou forte” (2ª Cor. 12,10). E é isso mesmo, pois se eu me acho forte, vou fazer tudo por mim mesmo, sem depender muito da ajuda de Deus; entretanto, se eu admitir minha fraqueza, vou confiar e pedir a ajuda divina, e Ele me ajudará. O salmo 126(127) é bastante esclarecedor nesse assunto, quando diz:
“Se o Senhor não construir a casa, é em vão que os construtores trabalham”. E ainda Mateus 12,30: “Quem não está comigo, está contra mim; e quem não recolhe comigo, espalha”. Por isso, a coisa mais inteligente que podemos fazer é pedir a ajuda de Deus e nunca agir confiando em nossas próprias forças!
No Antigo Testamento temos muitos exemplos disso que estou falando: quando o povo confiava na ajuda de Deus, vencia a batalha; quando confiava apenas nas próprias forças, perdia. Confira, se quiser, estas passagens:
Davi e Golias (1ªSamuel 17,50-51);
Sansão e os filisteus (Juízes 16,28-29);
A queda dos muros de Jericó (Hebreus 11,30 e Josué 6,14-20);
Gideão vence com 300 homens, depois de escolher entre 32 mil (Juizes 7,7);
Já no Novo Testamento temos a parábola do homem que teve de pensar antes de começar a casa e que não iria conseguir terminar, em Lucas 14,28-33, incluindo a parábola do rei que devia checar se conseguia vencer o inimigo com o seu exército ou não. A conclusão, magistral, está no versículo 33:
“Qualquer de vós que igualmente, portanto, não renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo” (Lucas 14,33).
Renuncia a tudo o que possui. O que você entende por isso? Será que não está incluído títulos, prêmios, vantagens, privilégios, autossuficiência, recursos extraordinários, dinheiro supérfluo, vida cômoda em detrimento da pobreza dos outros, burguesia, recursos a outras forças espirituais escusas, não cristãs, e tantas outras coisas parecidas. Se não renunciarmos a isso tudo, ou seja, se não confiarmos primeiramente em Deus, em nossas ações e procedimentos, vamos trabalhar sozinhos, feito bobos.
É bem marcante a ordem dada a Lucas 9,1-6; “ Não leveis para a viagem nem bastão, nem alforje, nem pão, nem dinheiro, nem tenhais duas túnicas”. Os comentaristas dizem que isso era para que os apóstolos ficassem mais livres para agir, menos impedidos ou amarrados a coisas materiais. Hoje em dia é a mesma coisa: desimpedidos de tudo, a evangelização se torna mais eficaz, por não ser baseada em nossos meios, mas na força e na ação de Jesus Cristo. Deus nos fornece tudo o que nos for necessário.
Em Lucas 12,33-34 vemos uma realidade ainda maior: “Vendei vossos bens e dai esmola! Fazei bolsas que não fiquem velhas, um tesouro inesgotável nos céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói. Pois onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”.
A riqueza, a avareza, o medo do desconhecido, que nos leva a acumular bens e a procurar viver uma vida mais complexa, em que abastecemos nossos estoques materiais, sociais, afetivos, humanos, mentais, espirituais, pode ser até uma idolatria, como fala Lucas 12,13-21;
“Tomai cuidado com todo tipo de ganância, porque mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (v.15). E Jesus diz ao homem que queria destruir seus celeiros para construir maiores: “Louco! Ainda nesta noite pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?” (v.20).
Ainda Colossenses 3,5: “Mortificai (...) a cobiça de possuir, que é uma espécie de idolatria”. E em Efésios 5,5: “O avarento – que é como um adorador de ídolos...”. Diz- nos também Eclesiastes 1,2; 2,21-23: “Vaidade das vaidades(...) tudo é vaidade(...)!”.
Quando morremos as pessoas da família se apossam do que tínhamos ou simplesmente jogam tudo fora, se ali não encontram coisas que rendam dinheiro. Quantas coisas acumuladas durante anos, e num instante vão para o lixo. Quantos pecados de ira, irritação, maledicência, inveja, apegos, avareza, fizemos para acumular essas coisas! Quanto tempo perdido! Num instante, deixam de existir. Quantas orações, caridade, atos de fé, prática da fé, sobriedade, amor verdadeiro e gratuito, lazer justo e necessário, férias, estudos, curtição dos filhos, do(a) esposo(a), dos filhos nós deixamos de lado para amontoarmos coisas inúteis!
São João Crisóstomo, entre os anos 349-407, fala sobre o fato de que muitas vezes gastamos fortunas em embelezar os templos e deixamos o outro morrer de fome (2ª leitura do sábado da 21ª semana do tempo comum, of. das leituras). Eis uma parte do texto:
"Que proveito haveria, se a mesa de Cristo está coberta de taças de ouro e ele próprio morre de fome? Sacia primeiro o faminto e, depois, do que sobrar, adorna sua mesa. Fazes um cálice de ouro e não dás um copo de água? Que necessidade há de cobrir a mesa com véus tecidos de ouro, se não lhe concederes nem mesmo a coberta necessária? Que lucro haverá? Dize-me: se vês alguém que precisa de alimento e, deixando-o lá, vais rodear a mesa, de ouro, será que te agradecerá ou, ao contrário, se indignará? Que acontecerá se ao vê-lo coberto de andrajos e morto de frio, deixando de dar as vestes, mandas levantar colunas douradas, declarando fazê-lo em sua honra? Não se julgaria isto objeto de zombaria e extrema afronta?”
Faço aqui um pequeno silêncio para refletir sobre os imensos gastos que se fazem com construções e acabamentos luxuosos de igrejas, salões e casas paroquiais, e a miséria que se empregam para favorecer a formação de líderes comunitários instruídos e formados nas ciências necessárias para um apostolado eficaz no meio do povo, sem falar ainda do abandono em que muitas famílias se encontram. Será que essas luxuosas construções estão agradando a Deus?
Quero ainda deixar uma palavrinha sobre a parafernália de coisas que tiram nossa atenção durante o dia. O Pe. René Voillaume (morreu em 2003), disse que uma pessoa que fica horas a fio diante da TV, dificilmente terá disposição para rezar. E é isso mesmo! A tv, mais até que o rádio, nos toma muito mais tempo do que percebemos. Também provocam muitas vezes alguma superficialidade no modo de pensar e de julgar os acontecimentos e as coisas.
Posso até arriscar dizer que somos o que vemos e ouvimos. Se formos fãs assíduos desses veículos de comunicação e não temos outras fontes de informação, vamos acabar pensando, mediocremente como eles. Conheço uma pessoa tão viciada em novelas que até nos velórios que vai pede para ver a novela numa vizinha do velório. É impressionante!
Nós, devemos aprender a nos controlar diante dos meios de comunicação social e adquirirmos uma visão crítica em relação a eles. A propaganda que fazem de coisas supérfluas vai diretamente contra o que os cristãos devem pensar e desejar.
Curtir o silêncio é muito importante para nossa vida espiritual. São Francisco de Salles dizia, já no século 16: “As pessoas se entopem de barulho para não ouvirem a voz de seu coração”. Há um artigo muito bonito neste blog sobre o silêncio e o deserto, do Dom Edson Damian, de S. Gabriel da Cachoeira. Deem uma lida e irão gostar!
O silêncio e o despojamento: duas coisas muito evitadas, atualmente, por causarem insegurança e, ao mesmo tempo, uma tomada de atitude às vezes drástica diante da vida. Diz Oséias 2,16: “Vou levá-la ao deserto e aí lhe falarei ao coração (ou: vou conquistar seu coração)”. O deserto é o lugar da simplicidade conseguida no despojamento total e na solidão!
O problema é aprendermos a fazer silêncio num mundo tão conturbado como este. O silêncio não deve ser apenas dos sons, mas dos ruídos internos, como das nossas fantasias. É muito difícil vencer e saber contornar as fantasias, mas com paciência, oração e jeitinho a gente consegue substituir as fantasias indesejáveis por pensamentos bons e santos. O segredo é não tentar abafar as más fantasias, mas substituí-las por outras boas e santas.
O vazio que se faz ao nosso redor e no nosso interior, nós o preenchemos com a presença da graça de Deus! Maria é cheia de graça porque, em sua simplicidade, esvaziou-se do orgulho e de si mesma. (Lucas 1,47-48). Diz o Salmo 131(130):
“Senhor, meu coração não é ambicioso(...). Eu fiz calar e repousar meus desejos” (silêncio interno).”Como criança desmamada no colo da mãe” (desmamada porque não procura mais o peito. Está no colo da mãe sem outra intenção que a de estar ali, no aconchego do colo, e não com o interesse de mamar!)
1ª Pedro 1,16: “Sede santos porque eu sou santo (diz o Senhor)”. e no versículo 15- “Como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver”.
Passemos a nos “enxergar” melhor com o que as pessoas veem em nós, de modo muito humilde. Aceitemos nossos defeitos e combatamo-los, a fim de nos tornarmos pessoas de caráter. Essa é a base da santidade, a que Santa Catarina de Sena e outros santos chamam de “autoconhecimento”.
Para ser santo não é preciso mudar de endereço ou se internar num convento, ou coisa parecida com isso, a não ser que se perceba que se tem uma vocação para esse tipo de vida.
O próprio trabalho que se faz é um caminho de santidade, se o fizermos com amor e alegria. Entretanto, há certos tipos de trabalho quer não se alinham com a santidade: os que se baseiam-no pecados na não observância da lei de Deus. Quem quiser se santificar, deve, então, abandonar esse trabalho desonesto.
Um exemplo de disparate no caminho da santidade é de algumas pessoas que, já na quarta ou quinta união conjugal, dizem que Deus “vai me preparar uma esposa”. Ora, o próprio Jesus disse que abandonar a esposa para se unir à outra é adultério! Como é que ele vai ajudar o dito cujo a pecar? Ou essas palavras de Jesus foram inventadas?
Outra coisa que não dá certo é o que fez o Pai da Igreja Orígenes: ele seguiu à risca Mateus 5,29: “Se teu olho for ocasião de pecar, arranca-o e o joga fora”... etc. Ele castrou-se! Por isso não foi canonizado. A santidade é baseada na luta pessoal, com o auxílio divino. Foi por isso que Jesus disse: “Eu não vim trazer a paz à terra, mas a espada!” (Mateus 10, 34).
Eu cheguei à conclusão que podemos nos santificar no mesmo ambiente em que vivemos, bastando aumentar nosso tempo de oração. É a base dos “Eremitas de Jesus Misericordioso”, em que as pessoas ficam onde estão, mas se comprometem a orar pelo menos 2h 24m diariamente (que é o dízimo de 24 horas) e seguir um tipo de regra. Se você está interessado (a), veja as regras no site Vivendo Nazaré ou no blog Eremitas ...., cujos links se encontram neste site (ou blog).
MAS VEJA BEM!
Tanto viver no próprio ambiente como querer sair dali podem ser pura ilusão da pessoa. A motivação para alguém abandonar o ambiente em que vive para procurar outro ou não ir a algum outro e permanecer onde vive, pode ser uma terrível ilusão, se a pessoa estiver buscando a si própria, ou mesmo buscando “sombra e água fresca” e não Jesus Cristo e seu Reino.
Nossa motivação para sair em busca de uma vida religiosa ou de qualquer outro tipo, em outro lugar, não deve ser por enfado à vida que se leva, ou porque vivemos com pessoas chatas e uma vida pobre.
Do mesmo modo, querer viver onde se mora, quando se tem uma vocação missionária ou religiosa, pode ser simplesmente preguiça ou falta de coragem para seguir o chamado de Jesus.
Em ambos os casos devemos agir pensando em seguir Jesus e o seu Reino, e isso inclui a misericórdia e o trabalho incansável para que o irmão seja feliz.
As fugas não levam a nada, porque nós nos levamos conosco! Não há como fugirmos de nós mesmos, nem de Deus! (Salmo 138/139).
A melhor forma de santificar-se é o viver o AQUI E O AGORA. Viva bem o momento presente, que o seu futuro vai ser bom também. Se vivermos pensando no passado ou no futuro, não vamos viver o momento presente e, portanto, não vamos ter nem futuro nem passado (o passado de amanhã é o hoje que vivemos agora).
INTRODUÇÃO
Este é um tema muito difícil, pois são muitas as interpretações desse assunto na Bíblia.
Atualmente a simplicidade e a pobreza ganharam novas formas de serem vividas, diante da parafernália de veículos de comunicação, entretenimento e trabalho.
Apresento aqui reflexões pessoais sobre esse assunto, baseado na Bíblia, e cada um aplique como puder em sua própria vida. Tudo o que é radical e exagerado não é aconselhável. Um dos problemas que vejo em minha vida e em geral é que perdemos muito tempo com muitas coisas que não são tão necessárias como pensamos que sejam, e deixamos várias outras coisas, essas sim importantes, de lado.
A correria da vida atual se une às dispersões de tempo com essas coisas desnecessárias de que falei, e acabamos não tendo tempo para a oração, para a família, para um pouco de lazer mais saudável etc.
Dificilmente alguém consegue viver uma pobreza radical hoje em dia. O próprio Cristo, ao falar aos setenta e dois discípulos que fossem pregar o evangelho despojados de tudo, disse-lhes que aceitassem o que lhe oferecessem como alimento, e entrassem na primeira casa que lhes desse hospedagem. Eis aí a simplicidade: eles não deviam ficar escolhendo a casa que achassem mais bonita, mais limpinha; entretanto, podia acontecer que a primeira casa que os acolhesse fosse uma casa de pessoa abastada...
Espero que as meditações aqui apresentadas ajudem você a revisar a própria vida, mas sem nenhum exagero: simplicidade, para encontrar Deus (Sabedoria 1, 1-5), pobreza para acolher o irmão.
O livro “ A Imitação de Cristo”, do século 13, diz no capítulo 18 do livro 4 : “Ó bem-aventurada simplicidade, pela qual deixamos de lado as vãs discussões para andarmos no caminho plano e firme dos mandamentos de Deus!” . . .
Antes dele, o livro da Sabedoria, capítulo 1, versículos de 1 a 5, já flava que os simples conseguem obter a revelação da pessoa de Deus. Ele se revela aos simples e aos que não o põem à prova.
Simplicidade significa, portanto, antes de tudo, confiar em Deus plenamente, deixando em segundo, terceiro ou mesmo último lugar aquilo que nos dá prepotência sobre os outros, ou uma situação financeira privilegiada, abandonando completamente tudo o que nos pode separar de Deus, tudo o que for supérfluo e secundário . As coisas que não puderem ser renunciadas, não se apegar a elas, porque um dia nos “deixarão na mão”, como o povo fala. (Você pode encontrar o livro " A Imitação de Cristo" neste site: https://sites.google.com/site/vivendonazare/diversos/livro-a-imita%C3%A7%C3%A3o-de-cristo
Quando uma pessoa perde a liberdade de uma forma ou de outra (pela prisão, por exemplo, ou pela doença), tudo, tudo mesmo, o que norteava sua vida muda de lugar em sua escala de valores. Coisas que ocupavam o primeiro lugar de sua atenção passam a lugares mais últimos e vice-versa.
Mesmo na prisão ou num leito de hospital vemos como as coisas são relativas. Se a pessoa mora num lugar escuro e insalubre, sem higiene, e muda-se para outro um pouco melhor, parece que entrou no paraiso! O doente, ao sair do hospital para sua casa, acha que ganhou na loteria.
Tudo é relativo e secundário se colocamos como nossa meta principal o Reino de Deus. Dizia São Tomás de Aquino: “É melhor andarmos mancando (claudicando) no caminho certo do que correr no caminho errado, pois só chegaremos ao paraíso se estivermos no caminho certo, estejamos correndo ou mancando”.
Nos sofrimentos e nas dificuldades, nas coisas que tiram a nossa liberdade, como a pobreza extrema, nós nos encontramos com a realidade da vida, nua e crua. As ilusões e as mentiras se desfazem como fumaça. Uma das consequências é que passamos a sentir um tipo de ogeriza por tudo aquilo que não agrada a Deus. Entretanto, antes de “cairmos na real”, ou seja, de percebermos que a vida é curta e é também cheia de surpresas desagradáveis que se alternam com as agradáveis, entramos em crise, nos desesperamos, nos desiludimos, e aí nos restam poucas opções.
A opção que mais nos leva a uma santidade de vida e à felicidade é aceitar o fato de que somos pecadores e considerar sinceramente os próprios pecados, atuais ou passados, incluindo aí tudo o que fizemos de errado ou todo o bem que deixamos de fazer. Em seguida, começarmos uma vida nova, de simplicidade, de confiança ilimitada em Deus, uma vida real, de “pés no chão”, de misericórdia, humildade, confiança, de muito amor, de vigilância e oração.
Quando estamos livres e com saúde, adquirimos necessidades supérfluas, necessitamos de uma montanha de coisas para viver. Quando ficamos doentes ou sem liberdade, percebemos que não precisamos de nada daquilo. Passamos a viver com bem pouca coisa.
Quantas coisas inúteis e/ou supérfluas vamos agregando ao fardo que levamos às costas! É um fardo pesado, constrangedor, deprimente, cansativo, que nos leva a um enfado, a um descontentamento e a uma aversão ao ritmo que estamos dando a nós mesmos.
O ser humano só se sacia em Deus e em ninguém mais! O milionário nunca se fartará de dinheiro! O glutão nunca se fartará de comida! O irritadiço nunca se acalmará! Os vícios, o uso doentio das coisas supérfluas, nos levam a uma tristeza conosco mesmos, a um desânimo de viver que muitas vezes conduzem ao suicídio. A paz só vem de Jesus. Só ele pode nos libertar de nós mesmos, de nosso fardo pesado. É Jesus quem nos diz:
“Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos.(...)Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas, porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. (Mateus 11,25.28-30).
A simplicidade nos leva a ser pobres em espírito e puros de coração (Mateus 5,1-8). Quando entramos em crise ao nos lembrarmos de quantas coisas no passado deixamos de fazer pelos outros, principalmente pelos nossos pais e pessoas mais achegadas, pelas vezes que não demos testemunho de nossa fé, devemos pedir perdão e gravar em nosso coração como disse S. Paulo:
“Deus é poderoso para realizar por nós, em tudo, muito além, infinitamente além de tudo o que pedimos ou pensamos”. (Efésios 3,20).
Essa convicção vai nos tirar da depressão, do estresse, vai nos dar alívio, se nos colocarmos nos braços do Pai, que, poderoso, poderá nos purificar e conduzir a nossa vida por um caminho de confiança e de esperança.
Se Deus é assim tão poderoso, ele pode também ser todo misericordioso, como diz Jeremias 31,3:
“Eu te amei com um amor eterno; por isso guardo por ti tanta ternura!”
Por isso tenhamos certeza de que ele nunca nos abandonará, se deixarmos que ele tome conta de nossa vida, como diz Isaías 42,16;
“Eu nunca hei de abandoná-los”
E em Isaías 49,15:
“Mesmo que a mãe se esqueça do filho que gerou, ou deixe de amá-lo, eu jamais me esquecerei de ti!”.
Ou ainda em Isaías 66,13:
“Qual mãe que acaricia os filhos, assim também eu vou dar-vos o meu carinho”.
Se estivermos dispostos a deixar os pecados e nos aproximarmos de Deus, ele nos perdoará nossos pecados, conforme lemos em Miquéias 7,19:
“Ele vai nos perdoar de novo! Vai calcar aos pés as nossas faltas e jogará no fundo do mar todos os nossos pecados”.
Se formos inteligentes vamos perceber que a melhor saída, a melhor solução é confiarmos em Deus permanentemente e totalmente! Sta. Teresinha já dizia isso, em palavras parecidas com estas:
“A lebre, ao ser perseguida pelos cães, refugia-se, assustada, nos braços do caçador”.
Eu acho essa frase magnífica! Na crise de desânimo, de enfado, de repugnância por tudo, e às vezes até por nós mesmos, precisamos e podemos, para nos livrar de um Deus-Juiz, nos refugiarmos e pedirmos ajuda no Deus Salvador e misericordioso”. Vendo que não há outra saída, ou seja, que não dá para nos livrar do perigo, refugiemo-nos nas mãos do próprio Juiz enquanto estamos vivos e nesta terra! Enquanto estivermos por aqui, ele não é juiz: ele é salvador. Um modo bem prático de fazer isso é colocar diante dele todo o nosso passado, mudando a direção de nossa história para uma meta mais santa, ou seja, em direção ao paraíso, e obteremos novamente a paz para a nossa vida
A sinceridade é a base de nosso relacionamento com Deus e com todos. Diz o salmo 119/118,1: “Felizes os íntegros em seu caminho, os que andam conforme a lei do Senhor”. São ridículas aquelas pessoas que elogiam a tudo e a todos, mas sempre estão descontentes com tudo e com todos.
Por outro lado, o elogio sempre faz bem quando é merecido. A crítica só deve ser feita se a pessoa em questão for sua subordinada ou se ela lhe pedir. As pessoas se ofendem muito quando alguém lhes chama a atenção.
Entretanto, se eu for me confessar com algum padre, este deverá ser muito sincero para comigo, mostrar-me a verdade a meu respeito, sem rodeios. Muitos estragos têm sido feitos em pessoas, por não se lhes terem dito a verdade a respeito de sua vida de pecado.
Para ser sincero com os outros, preciso ser sincero comigo mesmo, aceitando-me como sou, assumindo-me como sou, conhecendo e aceitando meus próprios limites e defeitos, mesmo que isso doa, ter consciência plena e humilde dos próprios pecados e pedir perdão deles a Deus, confessando-se pelo menos algumas vezes por ano. Isso nos leva à salvação e a uma alegria infinda, a uma paz deliciosa, como diz 1ª João 1,8-10:
“Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a Verdade não está em nós. Se reconhecermos os nossos pecados, Deus, que é fiel e justo, perdoará os nossos pecados e nos purificará de toda a injustiça. Se dizemos que nunca pecamos, estaremos afirmando que Deus é mentiroso, e sua palavra não estará em nós.
Há muitas pessoas que são do “time” “Me engana que eu gosto”, ou seja, que não aceitam nenhuma crítica às suas pessoas, por mais construtivas sejam. A hipocrisia é bem comum na sociedade atual. Muitas pessoas mentem, inventam, “enrolam” os outros, exageram, maquiam a verdade, tentam parecer o que nunca foram ou mesmo o que nunca serão, etc.
Nossa hipocrisia começa logo de manhã quando cumprimentamos uma pessoa. Você está realmente querendo saber como ela está? Se a pessoa tiver a infelicidade de responder e tentar lhe mostrar o que não anda bem nela, você logo a descarta e lhe promete que num outro dia a escuta, e que está com pressa. Sempre estamos com pressa.
No escritório, mais falsidade, quando temos que concordar com os chefes e dizer que está tudo bem, quando na verdade muitas vezes discordamos do que estamos fazendo de modo obrigatório.
Nas prisões, a coisa piora: tanto os presos têm que concordar com os funcionários, como eles também têm que mostrar que é aquilo mesmo que querem, quando, na verdade, estão apenas cumprindo ordens. Os funcionários de uma prisão são bem diferentes quando estão em suas vidas normais. No trabalho, precisam mostrar uma cara de brabo, que muitas vezes não têm na vida normal.
Quantas vezes temos que rir de piadas sem graça, só para contentarmos quem as contou! E concordar com tantas coisas às vezes contra nossa vontade!
Os pastores e os padres, coitados, quanta ginástica precisam fazer, nas homilias, para não ofenderem estes ou aqueles! Qualquer assunto de que falam sempre provoca críticas, nunca contentam a todos (e nem devem, se quiserem ser verdadeiros!). Quando o assunto é pecado, porém, os pastores e os padres devem sempre ser sinceros, mesmo que percam a amizade daquela pessoa. Nunca enganar a ninguém nesse assunto. São João Batista morreu assassinado por ter denunciado o adultério de Herodes!
Jesus vivia pregando contra os fariseus e autoridades do tempo, por causa do fingimento e da hipocrisia, como em
Mateus 23,27-28: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois semelhantes a sepulcros caiados...”
Lucas 12, 1: “Acautelai-vos do fermento (=hipocrisia) dos fariseus!”
Tiago 3,17: “A sabedoria que vem do alto(...) é isenta de parcialidade e hipocrisia.”
Mateus 6,2.5.16 fala que é hipocrisia dar esmolas para sermos vistos. Mateus 23,13 diz que os escribas bloqueiam o Reino dos Céus aos homens, e eles mesmos não vão conseguir entrar.
Outro tipo de hipocrisia é quando um assassino pega 13 anos de prisão e alguém que não matou ninguém pega 20 anos; ou aquele rapaz que foi preso por ter roubado uma barra de chocolate ao passo que certos políticos roubam milhões e nunca vão presos. Também o fato da sociedade, que aplica uma pena tão alta para atentado ao pudor, é a que mais faz propaganda desse tipo de coisas. Ou os pais, que só começam a arrancar os próprios cabelos, quando a filha fica grávida. Se não tivesse ficado grávida, poderia continuar em pecado quanto quisesse. Isso não é uma horrível hipocrisia?
Agora, o pior tipo de hipocrisia é quando mentimos para nós mesmos e para Deus! SOMOS O QUE SOMOS DIANTE DE DEUS! Somos levados a pensar que somos melhores do que os outros, que levamos vantagens sobre outras pessoas, que temos supremacia ou sei lá mais o quê... Acabamos fingindo para nós mesmos, para os outros e para Deus. Se eu não me aceitar como eu sou, nunca vou melhorar nem vencer-me. E não podemos enganar a Deus. Isso é impossível!
Dizia D. Valfredo Tepe: “Deus nos aceita como somos para transformar-nos naquilo que Ele quer que sejamos”.
"Eu te tatuei na palma de minha mão"!- (Isaías 49,16)
– A fuga da Sagrada Família para o Egito: uma família tão simples, em dois jumentos, provavelmente numa caravana, pois não se viajava sozinho naqueles tempos, uma família tão comum, mas... a mais importante do universo!
Se os bajuladores de plantão soubessem disso, fariam fila para bajulá-los! Estava ali, num jumento, o Senhor do Universo, o Deus Criador de tudo, em forma humana, real, verídica, em corpo humano, mas ao mesmo tempo plenamente divino.
No entanto, os bajuladores estavam bajulando as pessoas erradas, fossem quem fossem, pois não havia ninguém mais importante do que aquela família no(s) jumentinho(s). Minha atenção, voltou-se para a Eucaristia à minha frente: Jesus está ali, na minha frente! O Deus e Senhor do Universo está ali para ser “bajulado”, adorado, servido, amado, ouvir minhas súplicas, minhas queixas, meus louvores, meus agradecimentos. Veio-me à mente e ao coração apenas uma coisa: não preciso de mais nada, de nada que está aqui. Tenho Jesus à minha frente e no meu coração, na minha vida.
Não preciso dos livros, dos doces, das roupas, das tranqueiras que guardo, do rádio, da TV! Muitos santos nem tiveram a bíblia toda, pois era algo difícil antes da invenção da imprensa. Não preciso de nada disso porque Jesus está aqui comigo, física e espiritualmente! Haja o que houver, Ele tem-me em suas mãos, eu estou em sua companhia. Ele é meu Rochedo, minha força, minha salvação, “O Caminho, a Verdade, a Vida”! (João 14,6). Já dizia Santa Teresa de Ávila:
“Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa! A paciência tudo alcança! Deus nunca muda! A quem a Deus tem, nada lhe falta! Só Deus basta!” Deus nunca nos decepcionará! Diz Isaías 54,8-10:
“Agora, com amor eterno, volto a me compadecer de ti, diz Javé, Meu amor nunca vai se afastar de ti”. Isaías 44,21: “Nunca vou esquecer-te!”; Isaías 49,15-16: “Ainda que a mãe se esqueça do filho que gerou, eu não me esquecerei de ti, diz o Senhor. Veja: eu te tatuei na palma de minha mão!”
Meu Deus, que palavras bonitas! Deus tem nosso nome tatuado em suas mãos! Mas vejo que para realizar isso que estou aqui dizendo, preciso das três virtudes fundamentais: A Fé, a Esperança e a Caridade! Sem essas virtudes, não dá! Mas elas não são frutos de nosso esforço, mas dons de Deus, que as dá a quem as pede.
2005
Quando eu trabalhei como jardineiro, limpava sempre a cadeira onde estava uma bela teia de aranha, mas no dia seguinte a teia estava refeita! Que perseverança! Se nós tivéssemos a constância dessa aranha, já seríamos santos!
A grande diferença entre nós e a aranha é que ela sempre refará a teia do mesmo jeito, mas nós poderemos refazer os nossos atos, a nossa vida, de modo diferente. Se repetirmos os mesmos erros, o resultado será sempre negativo. A perseverança é o caminho da vitória. O desânimo é o caminho da derrota. Mas precisamos perseverar no bem! Diz Santo Agostinho: “É melhor andar mancando no caminho certo do que correr no caminho errado”.
No Apocalipse temos a promessa de vários “prêmios” para quem lutar e perseverar até o fim. Confira no Apocalipse 2, 7.11.17.26; 3, 5.12. 21.
Nossos desânimos, às vezes, têm por causa o fato de não conseguirmos atingir os nossos objetivos em curto prazo, ou porque colocamos esses objetivos numa altura superior a nossas forças, ou ainda porque somos perfeccionistas em nossas ações.
A humildade e a confiança são as bases da perseverança e do progresso em nossa santidade. Em 2a Cor 4,16-18 vemos que “Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o homem exterior vá caminhando para a ruína, contudo, o nosso homem interior se renova dia a dia”.
Na Bíblia vemos alguns profetas desanimando, mas logo se restabelecendo: Elias: 1a Reis 19,3-9. Elias foi reanimado por um anjo que lhe trouxe pão e água. Jeremias 20, 7-18: brigou com Deus, mas ao querer desistir sentia o amor de Deus como um fogo a percorrer-lhe os ossos. Moisés em Êxodo 34, 8 chama o povo de Deus de “povo de cabeça dura”, de tanto cair e levantar-se. Outras “injeções” de ânimo contra o desânimo: Lc 8,15: a perseverança da semente; Rom 2,6-7: perseverança na prática do bem; Ef 6,18: rezar sem cansaço, incessantemente; Mt 10,22: perseverar até o fim para ser salvo; Tg 1,25: perseverar na prática do bem, para sermos felizes.
Usemos, portanto, nossos “tombos” para sabermos onde estão os obstáculos e, assim, podermos vencê-los, ou, conforme o caso, nos desviar deles. “Perseverai na oração, na vigilância e em ação de graças” (Colos 4,2). Um ato inteligente de nossa parte é, na humildade, rever nossas atitudes, perceber nossas fraquezas e onde erramos e recomeçarmos a luta, mas desta vez sem cometermos os mesmos erros, confiando mais no apoio e no consolo de Deus!
15/02/16
Quando nasci eu era uma vela enorme, nova, forte, chama viva e iluminadora. Agora, aos 71 anos de idade, sou uma vela quase no final, com manchas, frágil, chama fraca e quase não ilumino nada.
O passado tornou-se apenas lembranças esparsas, algumas já esmaecidas pelo tempo. Alguns colegas de escola ou de brincadeiras tornaram-se nomes de ruas; outros adoeceram; outros desapareceram.
Tenho ainda uma fita cassete, início dos anos 80. Estava perdida, mas eu a encontrei numa limpeza. Rebobinei-a, para “desgrudar” a fita e tentei ouvi-la: era a gravação que eu fizera com um amigo que faleceu dois meses após a gravação. Músicas bonitas, acompanhadas ao violão, que ele tocava muito bem. Uma delas é “Deus vem”, do Emaús: “Quando, às vezes pergunto, onde andará Deus, preciso encontrar. Peço ao tempo e ao vento: onde andará Deus, preciso encontrar! Então, Deus vem, de modo que eu nunca imaginei. Creio em ti, crês em mim, Deus sempre esteve bem perto de mim...”
Confesso-lhes que não consegui conter algumas lágrimas de saudade. O mundo está se tornando chato para mim. As músicas de que eu me lembro e gosto parece-me que só eu delas me lembro e delas gosto!
Outra coisa que me é difícil é lidar com esses benditos telefones celulares! Como eu os acho complicados! Só mesmo os meus netos conseguem entende-los! Prefiro um daqueles bem simples, mas mesmo assim são complicados. Ainda prefiro o fiel telefone fixo, sem complicação alguma. Serve para telefonar, nada mais. Para que mais a gente quer um telefone? Não é para telefonar?
Eu ainda sou do tempo das novelas de rádio. Ah, que saudades da novela “O direito de nascer”! Anos 50, rádio Nacional do Rio e Nacional de São Paulo. Uma amiga da minha mãe (ainda está viva, com quase 100 anos de idade) a convidava para escutarem juntas a novela, e eu ia junto. Uma das rádios lançava no ar um capítulo mais adiantado que a outra, mas havia maior dificuldade em acessá-la. Era uma tarefa difícil ouvir o que o Albertinho Limonta falava para a mamãe Dolores! E aquela tia “azeda”, solteirona, que dizia: “É assim que eu sou! É assim mesmo que eu sou”! E alguém (não me lembro quem) cantava: “Te quiero, sabrás que te quiero, cariño como este jamás sentió...”
Era um orgulho ouvir o capítulo antecipadamente, para fazer inveja aos que ainda estavam no capítulo anterior!
A novela durou um ano inteiro, e começou a ser conhecida, pelos maridos, como “O Direito de encher”. Era ouvida às 20 horas, logo após a Voz do Brasil. Aquela artista que depois fez sucesso na tevê, Vida Alves, dizia, com solenidade: “Senhoras e senhoritas! Colgate, o perfumador dos mais belos sorrisos, e palmolive, o sabonete das estrelas apresentam... (música) ...O Direito de Nascer! Uma novela de.... (nome da autora).
Na verdade, não sinto saudades da novela em si, mas das circunstâncias em que eu a ouvia, do ambiente e da época em que a gente a ouvia.
Bem... minha vela está no fim, e eu assumo a realidade da minha velhice. Olho o ambiente em que vivo, a natureza, os percalços da vida, mas tudo se torna uma sinfonia agradável, que ofereço a Deus. Procuro viver nele e com ele, e isso faz a diferença! A vida eterna, que pretendo alcançar, é muito melhor do que esta, e lá reverei todos os meus colegas e amigos que já se foram. “Deus sempre esteve perto de mim...”!
APOCALIPSE 19, 7-8:
“Fiquemos alegres e contentes, e demos glória a Deus, porque chegou o tempo das núpcias do Cordeiro. Sua esposa já se preparou. Foi-lhe dado vestir-se com linho brilhante e puro”. O linho significa as obras justas dos santos”.
Nós, Igreja, somos a esposa de Cristo e nossas boas obras são a veste de noiva com que a Igreja vai desposá-lo. Que tipo de veste estamos preparando com nossas obras? Uma veste bonita, elegante, rica, de linho puríssimo, como fala o texto, ou uma veste feita de pano de estopa?
É preciso, nestes tempos tão calamitosos, que nos coloquemos à escuta de Jesus, esposo da Igreja, que nos chama à conversão. Converter-se é lavar as vestes no Sangue do Cordeiro, como diz o Apocalipse, é pedir perdão dos pecados cometidos e recomeçar uma vida nova.
Para que isso aconteça na realidade e não apenas em nossa mente, sugiro que comecemos com coisas simples, como por exemplo, deixar de gritar com os outros, principalmente com os de casa, deixar de falar palavrões, tratar a todos sem preconceitos e com respeito, rezar todos os dias e que não seja muito curta, nunca faltar à missa semanalmente, saber ouvir os outros, ajudar a todos os que necessitam, ser paciente com tudo e com todos, ler diariamente a Bíblia, pelo menos alguns versículos, um tempo de meditação etc.
Outra coisa muito importante que precisamos mudar em nossa mente é o fato de achar que nada é pecado. Isso, aliás, foi o pecado original: os nossos primeiros pais quiseram escolher eles mesmos o que seria ou não pecado e não ouviram o que Deus lhes dissera. Só Deus pode dizer o que é ou não pecado, e ele já nos disse isso. Cabe-nos ouvir o que ele nos pediu para fazer, com muita humildade e amor, sem questionar se é ou não pecado. Se ele mandou evitar tal coisa, evite! Ele mandou-nos amar a todos, amemos! Ele nos mandou perdoar, perdoemos! Ele nos mandou deixar de cometer adultérios, deixemos!
Já falei noutro artigo sobre a imoralidade de certas novelas quase pornográficas que muitos assistem e permitem que as filhas e os filhos assistam. A licenciosidade dos costumes se instala na mente dos e das adolescentes de tal maneira que passam a achar que tudo é permitido, que nada é pecado. O assunto principal é sempre sexo, e sexo mal colocado, mal vivido, baseado no adultério ou simplesmente no prazer pelo prazer.
Não só nesse assunto, mas em outros focos também, como o econômico, as falcatruas que se fazem para os protagonistas das novelas conseguirem o que desejam, a ideia de vingança como solução de problemas, a busca de uma felicidade momentânea baseada no dinheiro e no prazer imediatos e assim por diante.
Quando conseguirmos mudar assim nossa vida, lavar dessa maneira nossas vestes no sangue do Cordeiro, já teremos o começo de um mundo novo, baseado na caridade, no verdadeiro amor cristão, e decerto Jesus, esposo da Igreja, que somos nós, a desposará com maior alegria.
Após nossa morte, na verdade só mudamos de dimensão: saímos do tempo e do espaço para entrarmos numa dimensão diferente, desconhecida para nós, mas que sabemos que existe, se temos fé.
Após a morte continuamos plenamente conscientes. Dizer que entramos num sono profundo é modo de dizer. Muitas religiões não católicas acreditam que só vamos acordar no Juízo Final. Não é verdade. Na bíblia vemos muitos trechos que confirmam nossa consciência pós-morte. Lucas 23, 42-43, por exemplo, diz que Jesus falou ao bom ladrão: “ Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” Hoje, disse Jesus. Quer dizer que Jesus ressuscitou, na verdade, no mesmo dia em que morreu, na sexta-feira santa! E que o ladrão convertido foi com ele.
Em Lucas 16,19-21, Jesus conta a história do rico e do mendigo Lázaro, em que os dois morres e ficam bem acordados depois da morte, um no inferno e outro no céu, ao lado de Abraão, que também está acordado. Jesus não é mentiroso. Se não fosse desse modo, ele nunca teria dado um exemplo como esse! Diz João 14,2: “Na casa do meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vô-los teria dito. Vou preparar-vos o lugar”. Jesus só deu exemplos de realidades que existem, se não desse mesmo jeito, de maneira parecida.
Nesse trecho vemos também que Jesus disse “moradas”, e não outra coisa. Para ficar dormindo, para que dizer “moradas”? Se fôssemos ficar dormindo até o Juízo Final, Jesus iria talvez nos preparar “camas”, e não moradas.
Se você ler o trecho da transfiguração do Senhor, verá que Moisés e Elias, que apareceram com Jesus, estavam bem acordados! É só conferir em Mateus 17,2.
Logo que morremos, nos conscientizamos se somos ou não dignos de entrarmos no céu. Se tivermos alguma pendência, ou se não estivermos preparados ainda, nós nos dirigimos ao Purgatório, e só sairemos de lá quando estivermos puros, preparados para o paraíso. Diz o Apocalipse 21,27: “Coisa algum imunda entrará na Cidade Celeste”. É como quando alguém está com os sapatos sujos e precisa entrar numa sala limpíssima: não tem coragem de entrar. Vai tirar os sapatos, ou limpá-los, e só então entrará na tal sala. É assim que funciona. Ao morrermos, nos tornamos totalmente sinceros.
Os que rejeitaram a Deus aqui na terra, não suportam olhar para Ele depois de mortos e fogem de sua presença, e vamos dizer assim, “se escondem” de Deus no inferno. Não vão ao Purgatório porque sabem que de lá sairão um dia para entrarem na luz eterna. Quem rejeita a Deus, rejeita a luz. Deus não manda ninguém para o inferno. Quem vai para lá, vai espontaneamente.
Na Bíblia vemos vários trechos sobre o céu, inferno, purgatório. O céu e o inferno são mostrados claramente, mas o purgatório é mostrado nas entrelinhas. Leia e observe:
1ª Pedro 3,19: “Cristo foi pregar aos espíritos em prisão”, ou seja, no purgatório. Mateus 5,25, diz que podemos ser postos na prisão e de lá não sairemos até pagarmos o último centavo. Ora, na prisão ninguém paga nada. A menção é simbólica e se refere ao purgatório, que pode ser iniciado já nesta vida com o sofrimento oferecido a Deus em reparação pelos pecados, pela caridade, pela oração, pela penitência, pelo perdão.
Mateus 12,32 diz assim: “Se alguém pecar contra o Espírito Santo isso não lhe será perdoado nem neste mundo, nem no outro”. Isso sugere que só o pecado contra o Espírito Santo, que consiste em não aceitar o perdão, ou não querer ser perdoado, ou achar que Deus nunca o perdoará, só esse pecado não pode ser perdoado no outro mundo. Isto significa que os demais pecados podem ser perdoados no outro mundo! Aliás, é o que Jesus foi fazer lá onde estavam os mortos, esperando sua ressurreição, no texto lido acima da 1Pedro 3,19.
O purgatório é justamente essa oportunidade que temos de nos purificar, se ainda não estivermos purificados ou plenamente arrependidos de nossos pecados, embora tenhamos conseguido não cometê-los mais. Acontece, muitas vezes, de não praticarmos mais certos pecados, mas não sentirmos um arrependimento sincero no coração. O propósito de não pecar mais nos livra do inferno, mas, se não estivermos plenamente arrependidos, não nos livra do purgatório.
Um trecho muito claro sobre esse assunto é 1ª Coríntios 3,11-16, que nos diz que muitos serão salvos “como que através do fogo”, simbolicamente o purgatório, porque não construíram sua casa com material bom, indestrutível, como o ouro e a prata: construíram-na com palha, ou seja, deixaram a desejar em seus propósitos de uma vida nova, sem pecados. Quanto ao céu e ao inferno, todos conhecem muitos textos que falam sobre eles e não há muita dúvida a respeito.
Sobre a oração pelos mortos, podem, sim, serem feitas. Se prestarmos atenção veremos que o próprio Jesus rezou pelos mortos. Duvida? Então leia João 11,32-44; Lucas 7,11-15; Marcos 5,35-43! Nesses textos, Jesus ora ao Pai e em seguida ressuscita Lázaro, a menina e o filho da viúva de Naim. Em Atos 20,7-12 e cap. 9,36-41, tanto S. Paulo como S. Pedro também oram por duas pessoas mortas, que ressuscitam.
Veja bem: quando Jesus ou os dois apóstolos àcima ressuscitaram essas pessoas, elas estavam mortas e eles, assim, estavam rezando pelos mortos! Se elas ressuscitaram, ganharam uma segunda chance de se salvarem. Se isso foi possível a eles, por que não a todos nós? Deus não faz acepção de pessoas (Deuteronômio 10,17, Lucas 20,21; Romanos 2,11; Efésios 6,9 etc). Por esses motivos, nós também podemos rezar pelas pessoas falecidas, pedindo a Deus que as perdoe dos pecados cometidos.
Esse pedido de perdão pelos pecados cometidos por pessoas falecidas pode ser visto no livro de 1º Macabeus 12,42-45 e, de certa forma, em 1º Samuel 31,11-13, em que os habitantes de Jabes jejuaram por 7 dias por Saul e os seus filhos, mortos em combate, assim como em 2º Samuel 1,12; cap. 3,35. Jejuaram por quê, se não acreditavam que isso poderia ajudar na salvação dessas pessoas? Também vemos em Gênesis 50,10, que “José celebrou por seu pai (falecido) um luto de sete dias”. Veja também Judite 16,24 e Eclesiástico 22,12.
Transcrevo em primeiro lugar um texto muito bonito que encontrei no site "Dei Verbum", de Porto Feliz. Em seguida, uma pequena história do que poderia ser a vida em Nazaré. Veja também o texto do "Jesus-Cáritas" sobre esse assunto.
A VIDA DE NAZARÉ E A CONVERSÃO DE DEUS À CONDIÇÃO HUMANA.
"De Nazaré pode sair algo de bom?”(Jo 1,46). Natanael, que fez esta pergunta aos primeiros discípulos de Jesus, tinha suas razões para duvidar. Lucas precisa dizer a região em que fica Nazaré, pois seus leitores, sobretudo os de fora da Palestina, não saberiam onde fica Nazaré, de tão pequena e sem importância no grande mundo do Império Romano.
Os evangelhos apócrifos têm certa impaciência com esta pequena Nazaré. Jesus, segundo alguns, antes de começar sua missão pública, teria ido ao Egito ou até à Índia para conhecer a sabedoria destes centros do mundo.
Ou, conforme outros apócrifos, Jesus já fazia alguns milagrezinhos de crianças para se divertir. É muito difícil aceitar que o Messias, o próprio Filho de Deus, tenha passado a maior parte de sua vida num ambiente absolutamente comum, em total anonimato, sem nada de extraordinário, como a maioria da humanidade.
ELE CRESCIA
Depois de cumpridos os mandamentos a respeito dos nascidos, Lucas afirma uma vez de João e duas vezes de Jesus que eles cresciam, ficavam fortes, com sabedoria, graça e espírito. João no deserto e Jesus em sua pequena e quase desconhecida cidadezinha de Nazaré. Enquanto o ambiente de João lembra os grandes momentos de Israel no deserto, Jesus, que seria o maior, crescia numa condição mais comum.
O desígnio de Deus passa pelo mergulho no cotidiano da vida humana. Em Nazaré tudo devia ser muito simples, pois nem estava à beira do lago da Galileia e nem na planície que se estendia mais adiante aos seus pés, onde estava a rica cidade de Séforis, uma cidade que, estranhamente, não é mencionado nos evangelhos.
A vida social se daria em torno de um lugar de oração, com ao menos um rabino para ensinar os adolescente, e torno da única fonte até hoje existente.
Um pouco de agricultura e um pouco de animais, uma vida muito simples. O mistério de Deus passa por uma política e por uma economia muito marginais, por uma religiosidade simples e sincera. Os apócrifos tinham impaciência em aceitar esta “ignorância” do Filho de Deus, e esta necessidade de crescimento e de aprendizado a partir de um contexto tão rude.
FILHO DE MARIA E “FILHO DA LEI”
NA Galácia, alguns judeus não conseguiam crer que alguém tão humilde, pudesse ser maior do que a Lei de Israel com toda a sua grande história . Mas Paulo insistiu:
Deus nos enviou seu próprio Filho, “nascido de uma mulher”, portanto muito humano, e submetido às leis humanas, solidário com tudo o que é humano (Cf.Gl 4,4). Lucas faz um teste, abrindo, com muito pudor, uma janela para examinarmos o crescimento de Jesus: uma vez completado doze anos, todo judeu deve realizar o ritual de iniciação que ainda hoje se chama “Bar Mitzwáh”,ou seja, ele deve tornar-se “ Filho da Lei. Isso significa ler as Escrituras em público, na Sinagoga,participar do círculo dos mestres na lechiváh, a escola rabínica, e, naquele tempo, devia começar a acompanhar os adultos na peregrinação anual à Cidade santa de Jerusalém e ao templo.
Lucas nos atesta tudo isso a respeito de Jesus: ele esta no momento crucial do seu crescimento, está se tornando adulto. Assim, quando Jesus diz à sua mãe, que o guiou até os doze anos, que está cuidando das coisas “de seu Pai” no templo, entre mestres, ele está assumindo a Lei, pois é “filho” da Lei, e esta é, de agora em diante, o seu “pai”, a autoridade e o guia de sua vida. E Lucas cerra a janela com discrição, repetindo a frase: ele voltou a Nazaré, e continuava seu crescimento em idade, sabedoria e graça. “Em tudo igual a nós –consubstancial a nós segundo a humanidade”, diria em 431 o concílio de Éfeso. (Aqui termina a citação do referido site)
(deste site:)
AGORA UM POUCO DE IMAGINAÇÃO SOBRE O QUE PODERIA SER A VIDA DE NAZARÉ, VIVIDA POR JESUS EM SUA ADOLESCÊNCIA
Quando já morava em Nazaré, um dos amigos de José foi visitá-lo e seu filho de 12 anos, quase mesma idade de Jesus, que tinha 10, foi também. Ele sabia de cor muitas leis, preceitos e orações judaicas. O rapaz que fora com o pai à casa de Jesus não era muito de praticar a religião, pois seu pai era pagão e apenas sua mãe frequentava o templo, num lugar reservado aos casados com pagãos. Ele ia às vezes e se encontrava com Jesus na saída, de seis a dez garotos que voltavam juntos, comentando o que tinham ouvido.
Entretanto, todos se calavam ao ouvir a versão de Jesus do que tinha sido dito: era sempre algo diferente, maravilhoso, vindo não se sabe de onde. Brotavam do coração de um Deus feito homem. Eram ideias muito, muito além daquele tempo.
Jesus gostava muito de repetir a parte da lei que dizia “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração...”etc. Jesus vivia ali, mas não estava só ali: o lugar onde estavam parecia embutido num local mais extenso e mais profundo. Jesus estava com os demais, mas parecia imergido num mundo muito mais bonito, muito mais feliz que aquele.
Mais tarde muitos descobriram, porém, que aquele mundo diferente e maravilhoso estava em seu santo e puro coração. É dali, de seu coração, que brotavam luzes de um novo tempo e de uma nova vida, brotada do amor santo, puro e verdadeiro. E seus felizardos amiguinhos abriam a mente e os corações para verem se recebiam um pouco, pelo menos, daquela sabedoria, amor e santidade. Mas tudo isso era barrado pelos olhos pobres e materialistas daquelas pessoas que com ele conviviam.
Naquele dia em que o amigo de José foi visitá-lo, seu filho ficou à frente da casa com Jesus, conversando, quando Maria levou-lhes dois pães para comerem. Era a hora do lanche. Apareceu, então, um rapaz leproso, ao longe, tocando aquela horrível sineta para lembrar a todos que não deviam aproximar-se. Todos se afastaram, mesmo o amigo de Jesus. Ele, não. Ficou ali até o rapaz chegar perto. Entregou o seu pedaço de pão ao mendigo, com um sorriso. O rapaz fitou-o e a nuvem de angústia que o cobria desapareceu. O sorriso se esboçou e acabou por tomar conta de sua face. Não se curara exteriormente, mas sua vida acabara de tomar um novo rumo, uma nova feição.
Maravilhado ao ver a mudança estonteante obtida por esse simples ato e esse simples olhar, o amigo de Jesus quedou-se em sua insignificância e preconizou:
“Algum dia esse rapaz será curado!”.
Imediatamente adiantou-se e também deu o seu pedaço de pão não ao leproso, mas a Jesus, para que lho entregasse. Ele sorriu e o agradeceu, e entregou o pão ao mendigo. O rapaz leproso colou-se ao chão e não queria mais sair dali, não queria mais se afastar daquela presença extasiante. Jesus, porém, percebendo que ainda não podia fazer mais nada, disse-lhe: “Vai em paz!” Só então o outro saiu. Mas enquanto podia, voltava-se para olhar Jesus de longe, até perder-se de vista.
Foi por esses tempos, aos dez anos de Jesus aproximadamente, que Arquelau, que governava despoticamente aquela região, destruiu uma cidade distante 8 km de Nazaré, Séforis. Eu presumo que muitos sobreviventes (muitos ficaram escravos) tenham fugido para Nazaré e com toda a certeza foram hospedados por José, Jesus e Maria.
Devido a esse e a outros maus governantes, Jesus viu muita violência entre os 3 e 12 anos de idade, conforme nos ensina o Frei Carlos Mesters em seu livro “Com Jesus na Contramão”. É engano nosso achar que Jesus viveu sempre em ambiente tranquilo e pacífico. A infância dele foi marcada pela violência desses déspotas que governavam. A maldade de Arquelau era tanta que logo depois da destruição que ele causou em Séforis, foi deposto pelo governo romano.
Essa violência poderia ter sido, de fato, constatada por ele nessas migrações de pessoas que conseguiam escapar do morticínio ou da escravidão a que eram submetidos nessas cidades circunvizinhas a Nazaré. Consta que duas mil pessoas foram crucificadas em Séforis quando da destruição da cidade.
Quanto a Nazaré, era tão pequena que fora da bíblia não se fala dela. Seus moradores, e José e Jesus estão incluídos nisso, trabalhavam na pequena agricultura. José e seu filho Jesus trabalhavam também na carpintaria: eram camponeses e operários. Jesus ficou, pois, trinta anos trabalhando como camponês e operário e apenas três anos pregando o evangelho, utilizando-se de todo esse conhecimento obtido nessa sua vida de Nazaré.
Ele nasceu em Belém, na Judeia do Sul (Mt 2,1) e foi criado no interior, nessa cidade de Nazaré, na Galileia, no Norte (Lucas 4,16). Falava o aramaico com sotaque de judeu da Galileia. Para os samaritanos era judeus (Jo 4,9) e para os judeus da Judeia era galileu (tudo isso está no livrinho do Frei Carlos Mesters indicado acima).
Era de família não sacerdotal, ao contrário de João Batista (Zacarias , Lc 1,5). Nasceu leigo, pobre, sem nenhuma proteção financeira. Como já dissemos no capítulo anterior, José provavelmente era migrante provindo de Belém, talvez para tentar uma vida mais digna.
Jesus aprendeu o que sabia em casa, com a mãe, e na sinagoga. Essas coisas a gente vê na bíblia, por exemplo, em Lucas 2,4 (migrante), Atos 22,3 (Jesus não estudou como Paulo), Mt 13,55 e Mc 6,3 (os filhos seguiam a profissão do pai.
18 bênçãos (manhã, tarde, noite);
Shemá (3 benditos e 3 leituras ), manhã e noite, sendo:
1 bendito ao Deus Criador,
1 ao Deus Revelador,
3 leituras:Dt 6,4-9 (receber o reino); Dt 11,13-21 (receber a Lei de Deus); Números 15,37-41 (receber a consagração),
1 bendito ao Deus Salvador que liberta o povo.
TUDO MISTURADO COM SALMOS.
Jesus tinha muita intimidade com Deus, seu Pai. Rezava muito, passando noites em oração, como vemos em Lucas 6,12. Nas orações procurava sempre saber o que o Pai queria dele, como em Mateus 26,39. Todos os sábados ia com os pais à Sinagoga (livro citado do Frei Carlos Mesters).
Nos trinta anos que viveu com os pais, em Nazaré, procurou vislumbrar, em seu horizonte, o que faria, qual seria sua missão. Não lhe faltaram muitas tentações, mesmo nesse tempo de Nazaré, como depois, na vida pública, em que foi tentado não apenas pelo demônio, mas também pelas pessoas, que sugeriam-lhe um desvio de sua vocação.
O Frei Carlos Mesters faz um pequeno elenco dessas tentações:
Pedro: tentação de ser um Messias glorioso- veja Mateus 16,22; Marcos 8,33;
Seus pais – veja Lucas 2,48; Lucas 2,49.
Seus parentes, que queriam levá-lo para casa. Veja Marcos 3,21 e 3,33;
Os apóstolos gostaram do afluxo do povo. Veja em Marcos 1,38;
João Batista queria um juiz severo. Veja em Lucas 3,9. Mateus 3,7-12; Mateus 11,3. Jesus mandou João conferir as profecias e confrontá-las com a realidade dos fatos. Veja em ateus 11,4-5; Isaías 29,18-19; Isaías 35,3-5; Isaías 61,1;
O assédio dos fariseus. Veja em Lucas 13,31.32
O povo o queria rei-messias, poderoso. Veja em João 6,15. Jesus se retirou.
O demônio o tentou pedindo que ele fosse o novo Moisés, para alimentar o povo (Mateus 4,3), um Messias que se manifesta (Mateus 4,5-6; João 7,27), um Messias nacionalista que conquistaria o mundo (Mateus4,9). Jesus reage. Veja em Mateus 4,4.7.10.
No Horto das Oliveiras, pede ao Pai que o livre do cálice, mas logo pede que se faça a sua vontade. Veja em Marcos 14,36.
Na prisão, tem a tentação de ser um Messias guerreiro, quando Pedro corta a orelha do outro. Veja em Lucas22,53 e Mateus 26,52.
Todos nós podemos viver a Vida de Nazaré vivida por Jesus, mesmo sendo missionários e pessoas ativas na comunidade. Há muitas horas de descanso e de intervalo em nossas atividades, que podemos muito bem usá-las para uma vida tranquila, de contemplação. Como vimos acima, a vida que Jesus levou em Nazaré não foi assim tão tranquila. Houve muitos momentos de violência externa, que ele e sua família teve de ver e assistir sem poder fazer muita coisa. Jesus veio para ser cem por cento homem e cem por cento Deus, mas não podia usar em benefício próprio sua divindade. Ele veio justamente para nos ensinar e nos mostrar que é possível ser uma pessoa santa, mesmo com os afazeres diários.
O problema sério, principalmente de hoje em dia, é que nós nos apegamos aos nossos trabalhos como se fossem nossa tábua de salvação, e acabamos muitas vezes nos afastando da fonte de tudo, que é Deus.
Diz o salmo 126 (127), que não adianta nada trabalhar sem Deus. É trabalho perdido, jogado fora. Vejo tantas pessoas se matando simplesmente por causa do dinheiro, e ainda mais, que não é do próprio sustento, mas para coisas supérfluas que muito bem poderiam ser deixadas de lado.
O cardeal Van Thuan, bispo do Vietnam fazia apenas alguns meses, foi preso porque era católico. Ficou 13 anos preso, sendo 9 de solitária. Quando chegou à prisão, ficou angustiado, pois tinha deixado muito trabalho apostólico. No fim de alguns dias, após muita oração descobriu que ele não havia escolhido, em sua vida, as obras de Deus, mas o próprio Deus, que se manifesta em qualquer lugar.
Dizia Santa Teresinha do Menino Jesus que “A alegria não está nos objetos, mas no mais íntimo do coração; podemos sempre senti-la, tanto no mais rico palácio, como na mais triste prisão”. E é a mais pura verdade. Jesus foi Deus-homem verdadeiro em todos os lugares, seja em Nazaré, como na vida de pregação como na morte. Fosse qual fosse a situação, ele não deixava sua intimidade com o Pai.
Jesus deveria ser a cara de sua mãe. Deveria ser muito parecido com ela, pois sua carne veio só de Maria. Nossa mãe do céu, que tão bem soube ensinar e educar Jesus, pode também nos educar, nos ensinar, nos orientar no caminho de nossa vocação, seja ela qual seja.
Entretanto, fica aqui um lembrete para que não deixemos a oração, a intimidade com Deus, e Jesus nos deu o exemplo, quando ficava noites inteiras rezando. Nosso sucesso na vida espiritual vai depender não tanto de nossas ações, mas de nossas orações e de nossa confiança na Providência Divina, como fizeram Jesus, Maria e José.
Para sentirmos a presença de Deus em sua vida, devemos viver como Jesus viveu por trinta anos em Nazaré, ou seja, uma vida de oração, contemplação e trabalho, conservar-se num caminho de santidade, na caridade e evitando os pecados.
Todos nós temos nossos pecados, mas precisamos confiar plenamente na Misericórdia divina. Isso implica, é claro, mudarmos nossas vidas de tal forma que tudo o que fizermos agrade a Deus.
Um acontecimento inesperado de sofrimento pode ocorrer em nossa vida. Aproveitemos esse acontecimento para nos purificar, para tomarmos a resolução sincera e corajosa de recomeçar a nossa vida abandonando tudo o que não agradar a Deus. É difícil e, às vezes, até impossível, sem a ajuda de Deus, que obtemos pela oração e pela caridade.
Gosto muito do trecho em que São Paulo Apóstolo fala: “Irmãos, quanto a mim, não julgo que O haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que ficaram para trás, e avançando para que estão diante de mim, prossigo em direção à meta, para conquistar o prêmio que, do alto, Deus me chama a receber em Cristo Jesus” (Filipenses 3,13-14).
As lições de Nazaré (Do Papa Paulo VI, homilia da Sagrada Família)
Nazaré é a escola onde se começa a compreender a vida de Jesus: a escola do Evangelho.
Aqui se aprende a olhar, a escutar, a meditar e penetrar o significado, tão profundo e tão misterioso, dessa manifestação tão simples, tão humilde e tão bela, do Filho de Deus. Talvez se aprenda até, insensivelmente, a imitá-lo.
Aqui se aprende o método que nos permitirá compreender quem é o Cristo. Aqui se descobre a necessidade de observar o quadro de sua permanência entre nós: os lugares, os tempos, os costumes, a linguagem, as práticas religiosas, tudo de que Jesus se serviu para revelar-se ao mundo. Aqui tudo fala, tudo tem um sentido.
Aqui, nesta escola, compreende-se a necessidade de uma disciplina espiritual para quem quer seguir o ensinamento do Evangelho e ser discípulo do Cristo.
Ó como gostaríamos de voltar à infância e seguir essa humilde e sublime escola de Nazaré! Como gostaríamos, junto a Maria, de recomeçar a adquirir a verdadeira ciência e a elevada sabedoria das verdades divinas.
Mas estamos apenas de passagem. Temos de abandonar este desejo de continuar aqui o estudo, nunca terminado, do conhecimento do Evangelho. Não partiremos, porém, antes de colher às pressas e quase furtivamente algumas breves lições de Nazaré.
Primeiro, uma lição de silêncio. Que renasça em nós a estima pelo silêncio, essa admirável e indispensável condição do espírito; em nós, assediados por tantos clamores, ruídos e gritos em nossa vida moderna barulhenta e hipersensibilizada. O silêncio de Nazaré ensina-nos o recolhimento, a interioridade, a disposição para escutar as boas inspirações e as palavras dos verdadeiros mestres. Ensina-nos a necessidade e o valor das preparações, do estudo, da meditação, da vida pessoal e interior, da oração que só Deus vê no segredo.
Uma lição de vida familiar. Que Nazaré nos ensine o que é a família, sua comunhão de amor, sua beleza simples e austera, seu caráter sagrado e inviolável; aprendamos de Nazaré o quanto a formação que recebemos é doce e insubstituível: aprendamos qual é sua função primária no plano social.
Uma lição de trabalho. Ó Nazaré, ó casa do “filho do carpinteiro”! É aqui que gostaríamos de compreender e celebrar a lei, severa e redentora, do trabalho humano; aqui, restabelecer a consciência da nobreza do trabalho; aqui, lembrar que o trabalho não pode ser um fim em si mesmo, mas que sua liberdade e nobreza resultam, mais que de seu valor econômico, dos valores que constituem o seu fim. Finalmente, como gostaríamos de saudar aqui todos os trabalhadores do mundo inteiro e mostrar-lhes seu grande modelo, seu divino irmão, o profeta de todas as causas justas, o Cristo nosso Senhor.
Vida religiosa é a vocação de pessoas que vivem em pequenas comunidades, numa congregação religiosa, fazem os três votos: de castidade, de pobreza e de obediência (algumas fazem um quarto voto, que varia de congregação para congregação) e obedecem a um superior local, que, por sua vez, obedece a um superior regional e nacional.
Muitos jovens me perguntam pelo facebook como fazer para entrar na vida religiosa.
Eu lhes respondo, com algumas variações, isto que segue:
A primeira coisa é ter amizade, entrosamento e participação na paróquia em que você vive.
A segunda é ter uma vida de oração, não de orações rápidas, mas um pouco mais prolongada. A oração é a base da vida religiosa.
Terceiro, tem que saber obedecer. Quem tem dificuldades para obedecer não dá certo na vida religiosa.
Quarto, é preciso saber controlar os instintos, já que a vida religiosa não tira as tendências de ninguém. Por toda a vida, até mesmo na velhice, os instintos continuam vivos.
Quinto, é preciso ter certeza de que você não está buscando a vida religiosa para fugir de si mesmo (timidez, preguiça de trabalhar, comodismo) ou de alguma coisa exterior (incapacidades, defeitos, frustrações, falta de emprego etc).
É bom conversar com um religioso aí de perto de você sobre o assunto, e ser sincero para com ele.
A vida religiosa não é brincadeira, não é algo romântico como se apresenta em alguns filmes, como o “Irmão Sol, Irmã Lua”, de Franco Zefirelli.
Durante o seminário menor de uma congregação missionária eu ouvia falar muito das missões de modo poético. Havia um livro de poesias missionárias muito bonito, mas o autor mesmo do livro deixou o sacerdócio, casou-se e morreu no ano passado, bem idoso.
Uma de suas poesias era “O Barco da Madrugada”, que até foi musicada. Eu me lembro apenas de algumas palavras: “O barco da madrugada, vai me engolfar noutro mar. Direi adeus pátria minha, o último adeus talvez. E se Deus quiser que eu não volte outra vez, meu coração te deixo, ó Mãe Celestial. Não tenho medo das águas, nem fúrias do furacão. É sorte a quem os céus busca achar sua tumba no mar”.
O jovem era levado por essas poesias e fantasias sobre a vida religiosa e se decepcionaria, mais tarde, ao ver que ela é feita de pessoas humanas limitadas, e muita renúncia. É fácil imaginar uma vida bonita, dedicada a Deus, baseada na renúncia, mas é difícil praticar essa vida. A natureza humana é muito forte e nos arrasta para a “sensualidade”, como diz Santa Catarina de Sena, até a mais extrema velhice.
Vemos pessoas que vivem a vida religiosa falarem dela com prazer, como algo sublime, mas, se entrarmos em sua vida íntima, veremos quantas provações aquela pessoa vive para se manter intacta. Sobretudo, é necessária muita oração.
A alegria de quem segue sinceramente esse tipo de vida é autêntica. Realmente, quando nos santificamos na vida religiosa, sentimos uma paz profunda e inexplicável, mesmo com os problemas e sofrimentos do dia a dia. Quando “nós nos temos em nossas mãos”, como dizia Dom Luca Moreira Neves no retiro de minha ordenação sacerdotal, ou seja, quando vivemos de modo a dominarmo-nos plenamente, a alegria é constante em nossa vida, por mais árido que seja o ambiente em que vivemos.
Mais uma vez repito, esse auto domínio, baseado no que Santa Catarina de Sena chama de auto conhecimento (só tem um auto domínio quem se conhece plenamente e humildemente assume suas fraquezas para melhor dominá-las), só é conseguido pela oração humilde, pela sinceridade em nos apresentarmos a Deus como somos realmente, com todas as quedas e fraquezas, e não como gostaríamos que fôssemos.
Em resumo: quem abraça a vida religiosa pensando que é forte e que vai conseguir santificar-se sozinho e com pouca oração é, no mínimo, ingênuo. Só com a ajuda de Deus é que podemos nos santificar. Sozinhos, nada conseguiremos. Por isso é que é preciso que antes de se doar a uma vida dessas, a pessoa reflita se tem verdadeiras condições psicológicas, físicas e espirituais para isso.
Eu explicaria assim aquela parábola de Jesus sobre o construtor que começa a casa e não pode terminá-la porque faltou dinheiro. Ele termina a história dizendo: “"Assim, pois, qualquer um de vós que não renuncia a tudo o que possui não pode ser meu discípulo." (Lucas 14, 33). Muitas vezes vamos ter que renunciar às próprias ideias para podermos progredir no caminho da santidade. Deus sabe melhor do que nós do que realmente precisamos.
(06/09/15)
O “belo” está presente em muitas coisas: nas flores, nas músicas, nos filmes, nas pinturas, na arte em geral, nos animais, no pôr-do-sol, na natureza, nas crianças.
Entretanto, muitas dessas nossas apreciações não resistem ao tempo: tendem não só a não nos mostrar mais o “belo”, mas até mesmo chegam a nos enfadar ou a nos cansar ao vê-las ou ouvi-las.
Isto ocorreu comigo. Eu havia “perdido” muitas fitas de áudio e vídeo de minha juventude e, sem esperar, os recuperei recentemente, num baú, num quarto de bugigangas nunca procuradas.
Ouvi e vi algumas dessas gravações que ainda funcionavam e decepcionei-me: não me levaram a nada, com apenas poucas exceções.
Percebi, então, que, à medida em que vamos nos acostumando com a oração e a busca de Deus, vamos também nos desapegando dessas manifestações estéticas externas.
O contato com Deus, o único verdadeiro “Belo” que existe, é a única beleza que não cansa, que realmente nos satisfaz. O “belo” o mundo é apenas uma “amostra grátis” do Belo que nos está reservado no paraíso, acompanhado da alegria, da paz, do êxtase diante do divino.
O Beato Irmão Carlos de Foucauld, que vivia em Tamanrasset, no deserto, e em Assekren, dizia, a respeito da contemplação do Belo: “Os ocasos, aqui no deserto, são tão calmos, as noites são tão serenas, esse grande céu e esses vastos horizontes meio iluminados pelos astros são tão pacíficos e cantam silenciosamente de maneira tão penetrante o Eterno, o Infinito, o além, que eu passaria as noites inteiras nessa contemplação. Entretanto, abrevio essas contemplações e volto depois de poucos instantes diante do tabernáculo (onde está Jesus Eucarístico), porque ali tenho muito mais no humilde tabernáculo. Nada é comparável ao Bem Amado (Jesus). (Carta. Texto tirado do livrinho “Um pensamento de cada dia”, do dia 9 de dezembro)
Muitas vezes nós buscamos a beleza em locais onde nunca a encontraremos. Até poderemos encontra-la, mas será efêmera, apenas momentânea. Outras vezes, buscamos belezas e prazeres ilusórios, que nos levam ao pecado, seguido da dor e do remorso e até da perda da saúde ou acidentes.
Deus nos criou e sabe o que é melhor para nós: ele próprio. Quanto mais O buscamos na oração, na contemplação, no atendimento ao próximo, mais nos satisfaremos com o verdadeiro Belo, que nunca nos será tirado e nunca nos deixará frustrados.
As músicas, os filmes, os prazeres, nunca nos darão satisfação completa. A beleza de Deus, que nos será revelada numa vida de busca da santidade, nunca nos abandonará e sempre nos trará a paz. Sempre!-
2015
Nossa ação provoca a ação de Deus. Nós damos o primeiro passo para respondermos ao convite de Deus em determinada ação e Deus faz o resto.
Vemos isso em inúmeros textos bíblicos, mas veja Mateus 8,2: “ Senhor, se queres, tens poder para purificar-me!”
E, logo em seguida, em Mateus 8,5-13, o centurião confiou no poder de Jesus e teve sua iniciativa de procurá-lo. Sua confiança e humildade eram tantas que nem exigiu a presença de Jesus: “Basta, Senhor, uma palavra vossa e o meu criado ficará curado!”
Jesus sabe qual é a nossa intenção quando lhe pedimos algo. Diz o comentário da Bíblia de Jerusalém: “Jesus não pode realizar o milagre quando não encontra a fé que lhes pode dar o verdadeiro sentido, como em Mateus 13, 58: “ E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles”.
“A fé é difícil gesto de humildade que muitos se recusam a fazer, porque exige um sacrifício do espírito e de todo o ser” (comentário de Mateus 8,10).
Mais: “A fé, quando forte, opera maravilhas, alcança tudo, particularmente a remissão dos pecados e a salvação da qual é a condição indispensável” (idem).
Entretanto, devemos sempre buscar também a ajuda médica. Muitas vezes Deus nos cura a parte vamos dizer “incurável” pela medicina, da doença, mas não cura a parte “curável’ pela medicina.
Isso aconteceu com um amigo: recebeu a cura de uma parte da doença, e fez a operação para poder curar a outra parte, que era curável. Só recebeu a cura da parte que ainda é incurável.
O título deste texto se refere à ação catalizadora que exercemos na ação de Deus.
Catalizador é uma substância que provoca a reação da outra, como aqueles dois tubinhos de cola que vêm juntos: um deles só cola se for misturado com o outro.
Desse modo, quando nos arriscamos, quando agimos, Deus também age a nosso favor. É melhor arriscar e aparentemente (é só aparentemente) não conseguir, que nunca arriscar.
Dois sapos caíram, cada um numa jarra de leite. O que se arriscou se debater, buscando uma solução, pôde sair, porque o leite, de tanto ser batido por ele, se tornou manteiga. O outro morreu afogado, pois não quis se arriscar (desculpem, não encontrei no momento outra historinha melhor).
Arriscar-se nos traz muitos dissabores, e mesmo a morte ou prisão, mas é o único gesto que provoca a ação divina. Lembremo-nos sempre que qualquer ação nossa de boa vontade já é uma resposta ao convite que Deus nos fez antes mesmo do nosso nascimento, como diz Jeremias 1,5ss: “Antes mesmo de te modelar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio de tua mãe eu te consagrei e te constituí profeta para as nações”. Isaías diz a mesma coisa no capítulo 40.
No Apocalipse 3,20, Jesus nos pede que abramos a porta de nosso coração, em que ele está batendo, para que possa entrar. Ele pode entrar em qualquer lugar, menos em nosso coração. Ele respeita a nossa liberdade.
O início de qualquer cura só acontece quando a pessoa toma conhecimento de seus limites e fraquezas e se aceita. Há pessoas, por exemplo, que não aceitam o próprio envelhecimento e acabam não aproveitando as coisas boas da velhice.
Disse D. Pedro Casaldáliga: “Deus nos aceita como somos para transformar-nos naquilo que Ele quer que sejamos”. E é a mais pura verdade. Precisamos estar sempre com os pés nos chão. Dizia também D. V. Tepe: “O bom-humor a respeito de nossos defeitos é uma faceta da humildade”.
A base da humildade está em reconhecermos e aceitarmos os nossos limites. À medida que formos nos conhecendo e nos aceitando, passamos também a conhecer e aceitar a Deus e aos demais, pois somos todos feitos à imagem e semelhança de Deus e somos irmãos. Na parábola do fariseu e do publicano (Lc 18,10-14), este foi ouvido por Deus porque reconheceu sua insignificância. Diz também Mt 23,12: “E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado”. Também Tiago 4,6 e 1° Pd. 5,5. Em João 22, 29-30: “Deus salvará ao humilde e livrará até ao que não é inocente”.
Quando somos humildes e nos aceitamos, nunca precisamos mentir para esconder nossa origem pobre, ou esconder a falta de capacidade em relação a isto ou aquilo. Isto quer dizer que se você não tem capacidade para fazer determinada coisa, assuma esse fato! Se seus pais são pobres e analfabetos, assuma esse fato! Se você nunca viajou a lugar algum, e esse for os assunto numa roda de amigos, mão minta! Você vai se sentir bem melhor, e não vai precisar inventar uma mentira para encobrir outra. Não queria mostrar ser o que não é. Ouça as aventuras dos amigos e nunca faça comentários irônicos e negativos das coisas que eles fizeram e você nunca fez.
Nós talvez não sabemos fazer o que os nossos amigos sabem, mas temos as nossas qualidades. Qualquer pessoa no mundo sabe fazer uma outra coisa. “Aquela senhora que mora naquela esquina é pobre, analfabeta, mas ninguém faz, como ela, bolinho de bacalhau! O que faz é delicioso! O marido dela não sabe pintar paredes, mas é o melhor colocador de piso que eu conheço”.
É o que diz Lc 16,10: “Quem é fiel nas coisas mínimas, é fiel também no muito”. Ou então Mt 25,23: “Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei”.
Jesus escolheu apóstolos entre pessoas que não tinham capacidade alguma. No A.T., Isaías achava-se indigno para ser profeta, mas Deus purificou-o e enviou (Isaías 6, 1-9). Elias, após ter matado 450 profetas de Baal, quis desistir e morrer, mas Deus reanimou-o, forçando-o comer pão e beber água, e ali segui a jornada (1° Reis 19, 8-15 e 17, 2-5) Jeremias quis desistir em Jer 20, 7-9, mas dizia que, ao tentar fazer isso, sentia o amor de Deus percorrer-lhe os ossos, como um fogo. Deus não aceitou sua desistência. S. Paulo disse ser “o menor dos apóstolos, e não sou digno de ser chamado apostolo” em 1° Cor 15, 9. S. João Batista disse não ser digno sequer de desatar as correias das sandálias de Jesus, em João 1, 27.
Maria diz em Lc 1, 48 “Deus olhou para a baixeza (= humildade, insignificância) de sua serva; pois eis que desde agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada”. Aceitar-se a si mesmo, conhecer-se profundamente, é a maior fonte de paz e alegria que uma pessoa pode desfrutar. Rir-se dos próprios defeitos é o melhor método de vencê-los!
Deus nos ama como somos. Aceitando-se como se é, a pessoa vai também aceitar em sua vida o próprio Deus e as demais pessoas, como elas são! Quando alguém lhe apontar algum defeito seu, antes de zangar-se, procure meditar sobre isso. Talvez o amigo tenha razão.
“Prefiro uma careta sincera a um sorrido fingido”. Ou, como diz Sto. Agostinho: “É melhor andar mancando no caminho certo do que correr no caminho errado”.
(Leia a historinha ouvindo o famoso "Adágio de Albinoni", com órgão e orquestra, gravado numa igreja da Hungria. Basta clicar no link e ouvir no YouTube: https://youtu.be/PEzuXJ0rOJM ).
(Há também outra versão muito bem tocada: https://youtu.be/ye5JlhAyYhg)
Julho do início da década de 90. Campos do Jordão. Teatro do Palácio do Governo. O frio ficou fora desse templo da música. Lotação completa. Todos bem vestidos, com belos casacos. O perfume das mulheres e o das flores dos jardins que circundam o teatro disputam nosso olfato, mas acabam se entendendo e nós os sentimos todos. Silêncio. Começa o Adágio de Albinoni, com órgão, violino e orquestra.
A orquestra começa a música. A música, a poesia,o romance, enfim, o belo, sob todos os aspectos (visual, olfativo e auditivo) invadem o ar e nos aglutina. O espírito se eleva às alturas! Há duas orquestras: a do palco e a de todos esses instrumentos que mencionei: vestes, perfumes, clima, beleza do local, que se harmonizam entre si de forma praticamente maravilhosa, bela e sublime.
A orquestra de cá se une à orquestra de lá e minhas lágrimas arrematam o enlace, como a calda deliciosa de chocolate que se esparrama pelo bolo já saboroso.
O violino faz o solo. O órgão o responde, seguindo seus passos. O violino se anima e ergue sua voz, em vários outros compassos. O órgão se emociona e completa a harmonia iniciada pelo violino, até chegarem os dois a um clímax musical que em que se completam e se fundem. Entra a orquestra, como os jogadores que carregam nos ombros dois colegas que fizeram virar o jogo!
A natureza não se contém e uma chuva fria sussurra um acorde externo, como se fosse uma redoma de vidro a salvaguardar toda essa harmonia.
A música termina, mas ninguém quer sair do lugar. Eu me arranco da poltrona e, a contragosto, me obrigo a sair e, com meus colegas, voltar para a desarmonia da artificialidade e marasmo do nosso dia a dia.
O belo da arte nos leva a Deus, o Criador de todas as possibilidades de harmonias que possam existir.
Se as criaturas são tão belas, se podemos criar tantas harmonias, como as dessa música , se há tanta beleza na natureza, que se dirá do Criador disso tudo?! Deus é tão completo e maravilhoso, com tanta harmonia e beleza, que tudo o que há de mais belo no universo não consegue exprimir nem um só átimo de sua existência e de sua magnificência, santidade, luminosidade.
Se Deus fosse feito de átomos como nós um só átomo de sua luz daria para iluminar o universo todo, como numa visão que S. João Bosco teve. Esse átimo de luz que ele viu o deixou semi-cego por uma semana!
Se eu falasse aqui que Deus não é só luz; que Ele é também amor, beleza, harmonia, perfume, frescor de uma chuva, alegria de um acorde infinito, e tudo o que não consigo expressar aqui, eu estaria sendo muito injusto, pois não há como comparar Deus com qualquer dessas coisas! Tudo o que existe foi criado por Ele, que está infinitamente distante de ser qualquer coisa dessas! Deus não é nada disso! Deus é Deus, e tanto o belo da arte ou de qualquer outra coisa que existe, nos dá apenas uma mísera, pálida, insignificante ideia do que poderemos contemplar, um dia, se formos recebidos no Reino dos Céus.
O convite já está feito! Desde antes que o mundo existisse, Deus já nos havia chamado para vivermos com Ele no Paraíso. Cabe apenas a nós aceitarmos o convite, procurando, humildemente, colocar-nos diante dele, em súplica, pedindo-lhe que Ele nos livre de nós mesmos, do pecado, e do terrível mal que seria abandoná-lo.
Ele já nos garantiu que nunca vai nos abandonar. Se houver alguma desistência, será por nossa conta. “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir-me a porta, eu cearei com ele e ele comigo” (Apoc 3,20)
Há diferença entre amar e gostar. Muitas pessoas têm o verbo amar como sinônimo de sentimento, de paixão. Na mensagem de Jesus não é assim. Amar não é sentir isto ou aquilo por alguém, mas sim resolver ajudá-lo (a), fazer tudo o que podemos para que essa pessoa viva bem e tenha condições de se salvar após a morte.
Para Jesus, amar é tratar bem as pessoas mesmo que não gostemos delas, dando-lhes atenção ou o que precisarem. Deus ama a todos indistintamente e por isso devemos também amar a todos, sem exceção. Isso é o que diferencia os cristãos de outros tipos de pessoas: os cristãos amam não apenas os amigos, mas também os inimigos.
Quando Jesus nos ordenou que amássemos os inimigos tinha em mente que não gostamos deles, nem eles de nós. Seria anti-humano que ele pedisse que gostássemos dos inimigos.
Deus sempre pratica o que nos pede para fazer. Ele faz cair a chuva tanto na plantação dos bons, como na plantação dos maus. Somente Deus pode julgar as pessoas, e levar em conta se fizeram isto ou aquilo por maldade ou por ignorância. Somente Deus nos conhece bem. Nunca devemos desprezar ninguém.
O próprio Jesus não gostava de certos tipos de pessoas: por exemplo, vivia repreendendo os fariseus. Mas amava a todos, e mandou que também nós amássemos a todos.
Há outro problema: amar nem sempre é fazer o que o outro gosta. Se alguém é criminoso, por exemplo, precisa ser preso para não fazer mal a mais ninguém. Mas não podemos odiá-lo. Talvez se tivesse vivido uma vida melhor, familiar, de carinho e afeto, nunca tivesse cometido tal crime. Ou mesmo talvez tenha sido caluniado e preso sem ter feito o suposto crime. Há muitos casos desses. Se ele tiver fome, por exemplo, é preciso dar-lhe de comer.
Quando o filho faz traquinagens, a mãe o repreende e até lhe dá um pequeno castigo. Ela faz isso porque o ama e quer que ele melhore. Em Hebreus 12,10, diz que Deus nos permite o sofrimento para que, purificados, possamos participar de sua santidade. É, pois, por puro amor que ele permite que soframos. Assim também são os pais quando punem com sabedoria os filhos faltosos.
Na vida do dia a dia deparamos constantemente com esse dilema: amar ou não amar? Gostar ou não gostar? Se quisermos nos salvar, temos que amar, mesmo que não gostemos da pessoa.
(29/07/2012)
“Eu te amei como amor eterno” (Jer 31,3), diz Deus ao profeta Jeremias. Deus nos amou muito antes que nascêssemos! E disse ainda em Jer 1,5: “Antes mesmo de te modelar no ventre materno, eu te conheci: antes que saísses do seio, e te consagrei. Eu te constituí profeta para as nações”.
Deus o chamou para ser profeta e lhe deu todas as graças de que ele precisava para seguir sua vocação. Jeremias sofreu muito, se angustiou e até se desesperou, mas não abandonou o caminho que Deus traçara para ele.
É impressionante o que o profeta diz para Deus em Jeremias 20,7:- “ Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir! Tu te tornaste forte demais para mim! Tu me dominaste!”
E no versículo 9, disse que aquilo era como um fogo que devorava todos os seus ossos. Entretanto, nos versículos 11 a 13, recobra o ânimo e não desiste: continua a caminhar no caminho a que Deus o chamara.
Tanto Jeremias como Isaías colocaram diante de Deus suas fraquezas, seus limites, mas acabaram superando tudo com a sua graça.
E nós?
Fomos todos chamados a trilhar um determinado caminho. Quando olhamos para o nosso passado, descobrimos que tomamos muitos desvios e nos perdemos muitas vezes.
Como disse um certo santo, ficamos tão distraídos com as belezas do caminho que nelas nos detivemos e acabamos parando, não prosseguimos rumo ao objetivo, à meta final.
Deus nos preparou muitas coisas bonitas, muitas graças, para seguirmos o seu chamado. Nós muitas vezes as jogamos fora, substituindo-as por coisas bobas e passageiras. Quantas coisas perdidas! Quantas vezes Ele teve que mudar o traçado de nossa rota!
Aqui entendo melhor a parábola dos talentos: nós deixamos alguns dos que recebemos sem frutos. E o patrão disse ao servo: “Ao que tem, será acrescentado; ao que não tem, até o pouco que tem será tirado”.
Quantos amigos (as) nossos (as) eram melhores do que nós e já morreram! Não sabemos como Deus age nesse assunto, mas sou tentado a dizer que pelo menos alguns deles e delas talvez já cumpriram a meta que Deus lhes traçara!
Se você me está lendo, é sinal de que está vivo (a). Como tem sido nossa vida?
Tente olhar para o seu passado e perceber as oportunidades e os talentos perdidos ao longo do caminho!
Deus nos chamou e nos garantiu sua ajuda! Quantos de nós aproveitamos todas as graças e dons recebidos?
Confesso-lhes que pesquisei meu passado ontem, no começo da noite, durante a Hora Santa e não gostei do que vi! Peço, agora, a Deus, que me trace outro caminho e me dê, por misericórdia, outras graças, a fim de que eu chegue um dia ao céu. E espero que eu e você nos encontremos por lá!
Quando oferecemos uma oração, um benefício, uma ação social a Deus, uma penitência, dizemos que fazemos aquilo “por amor a Vós, Senhor”!
Será que é mesmo por amor a Deus que fazemos isso tudo? Será que não é por amor a nós próprios, por medo de irmos ao inferno? Será que somos capazes de amar a Deus desinteressadamente?
Pense bem: por mais gratuitamente que façamos algo, o fazemos para ganhar o céu e, portanto, não é algo gratuito. Deus é o único que pode amar gratuitamente, pois é autossuficiente, todo-poderoso, tem tudo e não precisa de nós e de nada, nem mesmo do nosso amor. Por mais que queiramos, não podemos aumentar em nada sua felicidade, que já é infinita!
É possível, porém amarmos a Deus com um amor de gratidão. É, a gratidão por tudo o que Ele nos deu e nos dá.
No amor gratidão nós nos preservamos do pecado, em gratidão do que Deus fez e faz por nós, e assim vamos permitir que ele nos ame agora e em odos os dias de nossa vida, pelo restante da eternidade. Amor gratidão é deixar-se amar por Deus, não só agora, mas para sempre!
Deus se “esconde” de nós, neste mundo, para não forçar a nossa adesão a ele, para preservar a nossa liberdade, o nosso livre arbítrio. Ele fez isso até com São Paulo Apóstolo: Deus o mandou falar com Ananias, que lhe disse o que ele deveria fazer e, com isso, lhe deu liberdade para dizer “não”.
É assim que Deus age: manda-nos bilhetes de amor e amizade e espera, escondido por detrás da árvore, que nós lhe respondamos. Esses bilhetes se veem na bíblia, na liturgia, no dia a dia, por meio dos acontecimentos.
No Cântico dos Cânticos 3,1-2 há um trecho belo sobre a busca do amado: “Procurei-o e não o encontrei”! Maria Madalena também buscou Jesus no sepulcro e não o encontrou de imediato, só depois. Nós o procuramos durante a vida toda e não sabemos se já o encontramos ou não!
A terra é um paraíso em que Deus não aparece pessoalmente, e a estamos transformando num inferno. O Frei Carlos Mesters diz que o paraíso terrestre não deve ser visto como a saudade de algo que passou, mas a esperança de algo que podemos construir.
Procuremos Deus por detrás das “árvores” de nossa vida, como a solidão, doenças, imprevistos, pobreza... e vamos amá-lo pelo menos com um amor de gratidão! Ele nos aceitará como o idoso, que sabe que é cuidado muitas vezes por causa do dinheiro que vai deixar de herança, mas aceita essa situação.
03/04/2017
Precisamos ter muito cuidado ao comungarmos. Estamos recebendo o Corpo e o Sangue de Jesus de modo real, verdadeiro. Não podemos deixar que partículas do pão consagrado caiam ao chão. Jesus se deixou ficar entre nós na Eucaristia de modo muito indefeso. Podemos fazer o que quisermos com seu Corpo e Sangue, mas se não tomarmos cuidado as partículas serão pisoteadas por outros. São Pio de Pietrelcina era muito cuidadoso, como se pode ver em suas missas, algumas delas filmadas. Você as pode ver no You Tube, mas eu vou deixar aqui um link. Copie esse link e o cole na janela de pesquisa do you tube. É a última missa de São Pio de Pietrelcina e você pode ver com que devoção ele comungava e tinha cuidado com as partículas.
blob:https://www.youtube.com/9f8b817a-6a2d-4809-b5af-58d655d5309b
Ademais, se o corpo dele está ainda incorrupto, é porque Deus gostava dessas atitudes dele.
Outro cuidado na comunhão é estar em estado de graça, ou seja, sem pecado grave. Os pecados leves são perdoados no ato penitencial, e é por isso que eu insisto em nunca chegar atrasado (a) à missa. Quem perde o ato penitencial não deveria comungar!
São Paulo fala no capítulo 11 da carta aos coríntios que os que comungam indignamente são réus do Corpo e do Sangue de Cristo. Veja por você mesmo(a)1ª Coríntios 11:26-30:
“Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha. Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor. Examine-se o homem a si mesmo, e então coma do pão e beba do cálice. Pois quem come e bebe sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe para sua própria condenação. Por isso há entre vocês muitos fracos e doentes, e vários já dormiram”.
Vejo muitos artigos, na internet, condenando a comunhão na mão, como a do bispo Athanasius Schneider, que você pode assistir colando este link na busca do you tube: https://youtu.be/1grq2tHNPp8 . O problema é que comungar na mão é algo irreversível, ou seja, acredito que nunca mais voltará a comunhão diretamente na boca, pelo menos na maioria das igrejas, ainda mais com esse perigo de contágio de doenças atuais.
A solução é uma instrução maior por parte dos senhores párocos. Vejo aí a solução para o caso. Que ensinem os paroquianos a tomarem cuidado com a sagrada partícula. Muitos dizem que Jesus não teve nenhuma preocupação com as migalhas do pão que ele consagrou, mas acho que isso não é desculpa. Se acreditamos que o pão consagrado é o Corpo e o Sangue de Cristo, temos que tratá-lo com todo o cuidado e reverência que Jesus merece. Eu particularmente acho muito constrangedora a comunhão diretamente na boca, além de facilitar a falta de higiene e ser perigosa quanto ao contágio de doenças.
- 31/03/16-
Dia quente, chove. Gosto muito da chuva, pois faz-me sair um pouco do mesmismo do meu dia a dia e me eleva até o céu. A oração sai mais facilmente e eu percebo de modo mais forte a graça de Deus em minha vida.
Pensei num fato curioso: chove tanto num convento, em que reina o amor de Deus em pessoas consagradas, como numa prisão, em que as pessoas estão pagando por crimes que teriam cometido.
Deus não faz acepção de pessoas e, enquanto vivemos, temos possibilidade de conversão, mudança de vida e salvação.
Na minha infância eu passava horas a ver a chuva caindo nas plantas e nas casas, e aproveitava para canas as músicas do meu tempo, e tocava gaita.
Olhando para a água que cai, vejo como eu mudei, embora a chuva continue caindo do mesmo jeito. Algumas dessas gotas até podem ser as mesmas daquele tempo, já “recicladas”. Como o tempo passa rapidamente! Precisamos aproveitá-lo bem! Quanto tempo perdido com discussões, veleidades, coisas supérfluas, até com pecados!
O Beato Irmão Carlos de Foucauld morava no deserto e passava o tempo na contemplação de Deus e na acolhida aos inúmeros hóspedes que por ali passavam (chegava a 60 por dia), pois era um oásis no meio do deserto do Saara. Ele rezava oito horas por dia. Deus e o próximo: eis qual deve ser nosso objetivo!
Há um filme que intitula a vida do Irmão Carlos como uma “Vida Inútil”. Muitos acham inútil viver orando intensamente e servir aos irmãos. No Saara só chove duas vezes por ano.
Agora já estou no dia 01 de abril de 2015, sexta-feira. O noticiário da tevê disse que a chuva de ontem causou muitos estragos no outro lado da cidade. O que para mim foi uma grande alegria e paz, para muitos foi uma enorme tristeza! É como Deus: para os que nele confiam, é o Salvador; para os que amam o pecado, é considerado um carrasco. Alegria de uns, tristeza de outros.
Mesmo nos lugares em que a chuva fez estragos, Deus não em culpa! As autoridades é que precisam fazer todas as infraestruturas necessárias! A ganância e a má administração de alguns prejudicam a carência de outros, e estes sempre saem perdendo e vivem nesses lugares insalubres!
Deus respeita as escolhas humanas e não costuma agir desnecessariamente. Ele só age quando é estritamente necessário para alguma intenção superior que tem a respeito daquela(s) pessoa(s).
Quando Deus não nos livra de algum problema, dá-nos força necessária e sua graça para vencermos os obstáculos. Para Deus, o importante é que, após a morte, estejamos com ele no céu. É por isso que ele não interfere, a não ser às vezes, nos acontecimentos e catástrofes, como as causadas pela chuva. Deus nos ama a todos, sejamos nós pessoas santas, sejamos pecadores endurecidos. Deus ama até quem está no inferno!
Davi venceu Golias com cinco pedrinhas. Em Medjugorie< Maria nos indicou outras cinco pedrinhas com que podemos vencer o maligno e as nossas falhas:
1- Eucaristia: participação ativa, consciente, tanto nas Stas. Missas como em horários de adoração diários ou pelo menos semanais.
2- CONFISSÃO: Confissão consciente, sincera, sem subterfúgios para que o padre não entenda o que estamos dizendo. Arrependimento sincero ou, se este nos faltar, propor firmemente não cometer mais pecado algum. Ao mesmo tempo, pedir a Deus que nos dê a graça do arrependimento. O propósito firme de não pecar já nos coloca no caminho do céu novamente.
3- PALAVRA DE DEUS:- O estudo e a meditação diária da Bíblia, pois quando a lemos, é Deus que fala conosco.
4- JEJUM:- A princípio, o jejum na alimentação. Pode ser a pão e água ou a abstenção de algum alimento de que gostamos muito e não faz tanta falta para a saúde. A seguir, o jejum de outras coisas, como TV, conversas inúteis e supérfluas etc.
5- ROSÁRIO:- É uma verdadeira arma contra o mal. Simples, é a oração em que meditamos os principais mistérios da vida de Jesus. Consta de quatro terços, e pode ser encontrado neste site, no setor "índice das orações, aí acima.
(17/04/15)
Costumamos usar de subterfúgios para mal entender a palavra do Senhor. Relutamos em dar explicações que nos deixem mais à vontade, sem precisar nos desinstalar de nossa vidinha tíbia e medíocre!
Já o profeta Jeremias admoestava os que pecavam, iam ao templo ofertar um animal a Deus e achar que estavam livres para retornarem ao pecado (confira Jeremias 7,1-11). Por que será que eu logo liguei isso com nossas confissões às vezes um tanto “fajutas”? Eu morro de vergonha quando tenho que confessar o mesmo pecado que da última confissão!
Um padre meu amigo sempre conta uma historinha: dois padres moravam em duas paróquias separadas por um grande rio. Uma vez por mês um deles ia até um ponto combinado e, de uma margem do rio, falava ao outro, na outra margem: “Padre Rui, eu fiz os mesmos pecados que da outra confissão!” O que estava ouvindo a confissão, após ter dado a absolvição, sem ouvir os pecados, gritava: “A sua penitência é a mesma que da outra vez”!
Quantas vezes confessamos os mesmos pecados?
Diz Lucas 14,33, depois da parábola do homem que começou a construir e não tinha como terminar, e a do rei que ia combater inimigos mas não tinha recurso suficiente para tanto: “Assim, quem não renunciar a tudo (=TUDO) o que tem, não pode ser meu discípulo”!
Pergunto:
1- Como entendemos essa frase?
2- Que mudanças ela implicaria em nossa vida, se for entendida como a lemos?
3- Segundo as duas parábolas concluídas por ela, é possível praticá-la sem a ajuda de Deus? Por que?
Vamos rezar uns pelos outros para que um dia cheguemos a levar a sério, na prática de nossa vida, as orientações que Jesus nos dá! Sem “saídas estratégicas”!
26/01/2021
Pois é. Eu estive reparando que o meu corpo de 75 anos está uma tragédia: rugas, pelanca, manchas... barrigona... mas percebo que, por dentro, ainda me sinto jovem e disposto. Como resolver esse dilema? Não faço nem ideia, e não vou resolver isso até o final do texto, não.
Mas isso também me fez pensar que é a melhor prova da existência da alma: dentro de você há algo que não envelhece, que está sempre disposta a viver uma vida agradável, alegre, jovial. É a nossa alma. Ela não envelhece. Ela fica marcada, é certo, por tudo o que fizemos na vida, mas não envelhece.
E se nossa alma estiver "pesada" por causa de nossos pecados, peçamos perdão e recomecemos uma vida nova! Se você é católico, procure um padre e confesse todos os seus pecados. E se comprometa a viver um vida nova. A nossa alma merece! Ela não envelhece com o nosso corpo!