A Família é Possível!

FAMÍLIA, UM SONHO POSSÍVEL!

      Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues

Conteúdo

1 Introdução

2 A Família em crise

3 A família à luz da revelação cristã

4 SEGUNDA PARTE : O DESÍGNIO DE DEUS SOBRE O MATRIMÓNIO

5 Conclusão

6      Citações:


Introdução

 

Este foi o tema do 47º Congresso Nacional da Escola de Pais do Brasil. Foi-me pedido colaborar nesse Seminário Regional da Escola de Pais em Sorocaba. Confesso que, lendo os anais de 47º Congresso Nacional, me senti pequeno diante da riqueza das reflexões profundamente atuais que então foram propostas. 

Os desafios por que passa a Família exigem respostas concretas que ajudem os responsáveis maiores pela vida familiar, os pais, a garantirem que a família seja de fato o espaço da vivência de um amor verdadeiro, que contribua decisivamente para a paz. Penso que minha contribuição como bispo da Igreja Católica deverá situar-se no horizonte da compreensão com que a revelação cristã no decorrer da história foi iluminando e preservando o núcleo essencial do que se deve entender por família. Aqui já se coloca uma questão que é preciso logo ser resolvida.

O que se deve entender por família?

 Vivemos um momento cultural onde as palavras deixam de significar uma realidade objetiva para significar os anseios de uma subjetividade insubordinada. Só a título de exemplo: o que é hoje um casal? O que de fato constitui duas pessoas como um casal? Historicamente casal e casamento são vocábulos que sempre se referiram à união de um homem com uma mulher. Também quando aplicado aos irracionais, não casamento - este supõe decisão consciente e livre -, a palavra “casal” sempre indicou um macho e uma fêmea.

 A palavra “família” em seu sentido original e mais próprio historicamente quer significar a instituição que conjuga duas realidades intimamente conexas: a união de homem e mulher e o conseqüente fruto dessa união, a prole.  Aí está a família-fonte sem a qual nem existiria a grande família humana. Existe hoje uma corrente de pensamento que pretende relativizar a família tal como tradicionalmente sempre foi entendida.”No plano ideológico e, especificamente, no âmbito da antropologia cultural, tem feito a sua aparição um virulento anti-naturalismo que, a partir do pluralismo diacrônico e sincrônico das formas históricas de família, nega a idéia de natureza humana em favor de uma visão radicalmente relativista.

 Pelo contrário, pretende-se denunciar o caráter totalitário implicado pela idéia de uma família ‘natural’ que seria usada como instrumento para uma práxis de poder por parte das grandes culturas universalistas, como aquela do catolicismo. Em realidade, como têm mostrado os competentes estudos do decano dos sociólogos sobre a família, Claude Lévi-Strauss, recentemente falecido, mesmo que não se tenha tido uma única forma de família na história, existe todavia a possibilidade de individualizar um tipo de estrutura natural do dado familiar que é fundada sobre um dúplice vínculo: aquele que pode ser chamado de ‘horizontal’, presente pela relação sexual entre o homem e a mulher, e aquele ‘vertical’ presente na relação de geração entre genitores e filhos, que dá lugar à família como ‘fenômeno universal, presente em qualquer tipo de sociedade.

 Trata-se desta forma, segundo as palavras do escritor italiano, Pierpaolo Donati, numa obra recente, de uma forma de relação primordial caracterizada por uma espécie de ‘genoma’, isto é, de maneira análoga à biologia dos organismos vivos, de uma característica latente, que vem vivida de maneira diversificada, mas que, por isso não cessa de ser o núcleo permanente desta realidade”.(1)

 

A Família em crise

 

A crise da família, bem como sua saúde, está inseparavelmente ligada à maneira como se concebe o matrimônio e seus fins, tradicionalmente entendidos como geração e educação da prole, e, dentro desse horizonte, como o mútuo auxílio, ou a comunhão entre os esposos, segundo ensinamento do Concílio Vat. II: “O matrimônio e o amor conjugal ordenam-se por sua própria natureza à geração e educação da prole. Os filhos são, sem dúvida, o maior dom do matrimônio e contribuem muito para o bem dos próprios pais... 

Os esposos sabem que no dever de transmitir e educar a vida humana - dever que deve ser considerado como a sua missão específica - eles são os cooperadores do amor de Deus criador e como que os seus intérpretes”(2). A articulação dessas duas dimensões, quais sejam, a comunhão de amor entre os esposos, que, de forma especial, se exprime e deveria crescer também por uma vida sexual amorosa, e a geração e educação dos filhos desse amor, vem sendo, nos últimos tempos, violentamente ameaçada pela difusão de uma forma de pensar – que começa a ganhar legitimidade jurídica – em que o casamento pode ser qualquer união livremente escolhida pelas pessoas, inclusive do mesmo sexo. Nesse contexto o casamento não se definiria mais com uma união fecunda que deve frutificar na geração de outros seres humanos e na sua educação. 

O laço fundador da família vai sendo rompido gradativamente. Em nome do respeito “aos direitos do indivíduo” o Estado legisla, não pensando no bem da sociedade – a família é o bem maior -, mas nos desejos dos indivíduos. Assim comenta Jean Laffite , secretário do Pontifício Conselho para a Família: “A família, enquanto célula social fundamental e estrutural, não é mais considerada. O Indivíduo pode construir uma família segundo modelos mais variados e fantasiosos, dado que sua liberdade de escolha é um absoluto. Compreende-se que semelhante evolução carrega, em germe, a decomposição dos liames sociais e, de forma última, da sociedade livre. 

Numa visão como tal, o matrimônio, no sentido próprio do termo, não pode mais ver reconhecido seu papel, nem garantidos seus direitos.”(3) Nesse contexto de uma liberdade a serviço de uma subjetividade sempre insatisfeita e caprichosa também o vínculo matrimonial fica enfraquecido e sujeito à instabilidade das pessoas. O compromisso matrimonial é relativizado e os casamentos duram o tempo que dura a satisfação dos desejos dos sujeitos. 

A ideia de compromisso com uma realidade maior e de uma liberdade a serviço do bem comum da humanidade cede espaço a uma concepção de felicidade como satisfação dos próprio desejos. A vida íntima do casal perde o significado de expressão de uma doação profunda e total sempre em crescimento. O amor é confundido com sua expressão sexual e deixa de ser um vínculo definitivo que dá sentido e cresce com a vida íntima do casal. Outros desafios se põem ainda nesse contexto pelas novas possibilidades no que diz respeito a geração de novos seres humanos.

 A reprodução assistida permite até mesmo a comercialização de óvulos e os bancos de esperma. Já há casais que excluem os filhos com o argumento de que os filhos atrapalham a felicidade do casal. O casamento se define em função da “felicidade” do casal. A reprodução assistida introduz  a dissociação entre a geração e o ato humano destinado a gerar a nova vida e permite ainda a chamada “barriga de aluguel”.Ter fiho não é mais um dever, mas um direito a ser satisfeito por quaisquer meios. O filho deixa de ser fim para ser meio. Aí está, ainda que muito rapidamente, uma amostra dos reflexos na instituição familiar dos postulados de uma nova cultura que pretende erigir o indivíduo como fonte exclusiva dos “valores” que devem reger a vida em sociedade.

 

A família à luz da revelação cristã

 

Passo agora a propor, citando e fazendo breves comentários, textos do ensinamento da Igreja Católica, sobre a Família. Introduzo essa segunda parte de minha exposição retomando a constatação de Claude Lévi-Strauss de que “mesmo que não se tenha tido uma única forma de família na história, existe todavia a possibilidade de individualizar um tipo de estrutura natural do dado familiar que é fundada sobre um dúplice vínculo: aquele que pode ser chamado de ‘horizontal’, presente pela relação sexual entre o homem e a mulher, e aquele ‘vertical’ presente na relação de geração entre genitores e filhos, que dá lugar à família como ‘fenômeno universal, presente em qualquer tipo de sociedade’”(4).

Ora, o fenômeno universal está a nos indicar que existe uma estrutura básica que rege a família e que todas as culturas de certa forma lhe foram obedientes. A filosofia de inspiração cristã chama de lei natural, que deriva da própria natureza, os princípios fundamentais que devem orientar a vida humana na história, sob pena de o ser humano se desumanizar e destruir a própria natureza. Existe, pois, um conceito de família que se mostra na própria forma como a família vem se organizando através dos tempos, Definir uma realidade é dizer aquilo que esta realidade deve ser. 

Tomemos com exemplo o próprio ser humano. O que ou quem é o ser humano? Por mais que historicamente o ser humano possa ter-se mostrado vil, injusto, aprisionado nos vícios ou deformado pelo gosto do poder, devemos defini-lo com um ser livre, inteligente e responsável, portador de uma dignidade inalienável e inviolável. Definimo-lo por aquilo que percebemos ser sua dignidade maior, sua essência. Assim também a família.

 O que é a família?  Uma comunidade de amor, onde a união profunda, selada por compromisso definitivo de um homem e de uma mulher, garante a geração e a educação de novos seres humanos. Definir uma realidade humana não se faz por votação, mas a partir da experiência e da reflexão, uma reflexão livre, ou seja, não sujeita às paixões momentâneas e a um marketing comprometido com ideologias de grupos de interesse ou de pressão; uma reflexão inspirada no desejo de construir uma sociedade justa, fraterna e pacífica. 

A Revelação cristã trouxe, nesse sentido uma notável contribuição para consolidar uma estrutura familiar que atende de forma esplêndida ao que se deve esperar da família. Passo agora a citar e a refletir sobre alguns textos da Exortação Apostólica “Familiaris Consortio” de João Paulo II. A Exortação, promulgada pelo Papa João Paulo II em novembro de 1981, deu forma às propostas do Sínodo sobre a Família (26/09 a 25/10 de 1980), onde bispos, representantes dos episcopados de todos os países, manifestaram suas preocupações e ofereceram sob a forma de proposições valiosa contribuição sobre o tema.A Exortação está composta em quatro partes seguidas de uma Conclusão.

PRIMEIRA PARTE :  LUZES E SOMBRAS DA FAMÍLIA DE HOJE  

SEGUNDA PARTE : O DESÍGNIO DE DEUS SOBRE O MATRIMÓNIO

E SOBRE A FAMÍLIA : 

TERCEIRA PARTE  : OS DEVERES DA FAMÍLIA CRISTà   

QUARTA PARTE : A PASTORAL FAMILIAR: 

ETAPAS, ESTRUTURAS, RESPONSÁVEIS  E SITUAÇÕES

CONCLUSÃO

 

Detenho-me em alguns textos da segunda parte sobre o “Desígnio de Deus sobre o Matrimônio e sobre a Família” e começo por afirmar que o núcleo essencial do que é a família, conforme Lévy-Strauss presente em todas culturas, recebe da revelação cristã uma luz que eleva a uma perfeição insuspeitada a grandeza e a beleza da família.

“Deus criou o homem à sua imagem e semelhança chamando-o à existência por amor, chamou-o ao mesmo tempo ao amor.

Deus é amor e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Criando-a à sua imagem e conservando-a continuamente no ser, Deus inscreve na humanidade do homem e da mulher a vocação, e, assim, a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão. O amor é, portanto, a fundamental e originária vocação do ser humano.

Enquanto espírito encarnado, isto é, alma que se exprime no corpo informado por um espírito imortal, o homem é chamado ao amor nesta sua totalidade unificada. O amor abraça também o corpo humano e o corpo torna-se participante do amor espiritual”.(5)

Assim começa Papa João Paulo II a segunda parte de sua exortação. Suas afirmações nos remetem a duas passagens do livro do Gênesis: 

A)‘‘Deus disse: Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todos os animais selvagens e todos os animais que se movem pelo chão”.  Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher ele os criou.  E Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem pelo chão

B) “E o Senhor Deus disse: Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer-lhe uma auxiliar que lhe corresponda.  Então o Senhor Deus formou da terra todos os animais selvagens e todas as aves do céu, e apresentou-os ao homem para ver como os chamaria; cada ser vivo teria o nome que o homem lhe desse.  E o homem deu nome a todos os animais domésticos, a todas as aves do céu e a todos os animais selvagens, mas não encontrou uma auxiliar que lhe correspondesse.  Então o Senhor Deus fez vir sobre o homem um profundo sono, e ele adormeceu. Tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar com carne. 

 Depois, da costela tirada do homem, o Senhor Deus formou a mulher e apresentou-a ao homem.  E o homem exclamou: “Desta vez sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada ‘humana’ porque do homem foi tirada”.  Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne”.(6)

O pleno significado de ser a imagem e a semelhança de Deus só vai se manifestar com a revelação do mistério trinitário. Deus é comunhão infinita de amor. Três pessoas distintas e, ao mesmo tempo em tal comunhão de amor, que as três são um único ser. Criado à imagem e semelhança de Deus, o ser humano experimenta um anseio de comunhão que o coloca na direção de Deus. Este anseio, esta orientação para o outro, constitui o dinamismo mais profundo do ser humano que se revela e se concretiza na história quando o ser humano consegue fazer comunhão com seus irmãos de humanidade.

 O matrimônio é o lugar primeiro e privilegiado de se viver esse amor. Assim como o Amor de Deus Trino se manifestou no ato de criar, o amor humano não pode não ser fértil. O amor criador de Deus se prolonga na história através do amor fecundo dos casais. Sendo o homem um ser corpóreo, o amor humano se revela corporalmente. Nosso corpo não é instrumento do qual nossa liberdade possa dispor arbitrariamente. Nosso corpo é o lugar em que nos experimentamos como pessoas e somos para os outros. Se somos mais que corpo animal, esse “mais” se expressa e se comunica corporalmente. 

Por paradoxal que possa parecer a cultura que prega o livre dispor do próprio corpo alimenta por ele um total desprezo. O corpo é usado como objeto. Subjugado aos caprichos do indivíduo sedento de prazer. Deixa de ser expressão de um amor que se comunica para ser instrumento para a satisfação de desejos egoístas. “O corpo é meu, faço dele o que quero”. Não. O corpo tem uma dignidade; ele é o lugar da comunicação  das experiências mais profundas do amor.

“Por consequência a sexualidade, mediante a qual o homem e a mulher se doam um ao outro com os atos próprios e exclusivos dos esposos, não é em absoluto algo puramente biológico, mas diz respeito ao núcleo íntimo da pessoa humana como tal. Esta realiza-se de maneira verdadeiramente humana, somente se é parte integral do amor com o qual homem e mulher se empenham totalmente um para com o outro até à morte. A doação física total seria falsa se não fosse sinal e fruto da doação pessoal total, na qual toda a pessoa, mesmo na sua dimensão temporal, está presente: se a pessoa se reservasse alguma coisa ou a possibilidade de decidir de modo diferente para o futuro, só por isto já não se doaria totalmente.

Esta totalidade, pedida pelo amor conjugal, corresponde também às exigências de uma fecundidade responsável, que, orientada como está para a geração de um ser humano, supera, por sua própria natureza, a ordem puramente biológica, e abarca um conjunto de valores pessoais, para cujo crescimento harmonioso é necessário o estável e concorde contributo dos pais.

O «lugar» único, que torna possível esta doação segundo a sua verdade total, é o matrimônio, ou seja o pacto de amor conjugal ou escolha consciente e livre, com a qual o homem e a mulher recebem a comunidade íntima de vida e de amor, querida pelo próprio Deus que só a esta luz manifesta o seu verdadeiro significado. 

A instituição matrimonial não é uma ingerência indevida da sociedade ou da autoridade, nem a imposição extrínseca de uma forma, mas uma exigência interior do pacto de amor conjugal que publicamente se afirma como único e exclusivo, para que seja vivida assim a plena fidelidade ao desígnio de Deus Criador. Longe de mortificar a liberdade da pessoa, esta fidelidade põe-na em segurança em relação ao subjetivismo e relativismo, fá-la participante da Sabedoria Criadora.”(7)

A revelação cristã dá ao matrimônio uma dignidade e um sentido insuspeitado quando, já no Antigo Testamento, se serve da união matrimonial para falar do amor de Deus pelo seu povo. A Aliança de Deus com seu Povo é descrita como uma entrega de amor definitiva, como um amor sem reservas, não obstante as infidelidades e fraquezas da esposa amada.(8) 

No Novo Testamento a entrega de Jesus pela humanidade leva Paulo a retomar o matrimônio como símbolo vivo da relação de Cristo com a Igreja: “Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo também amou a Igreja e se entregou por ela,  a fim de santificar pela palavra aquela que ele purifica pelo banho da água. Pois ele quis apresentá-la a si mesmo toda bela, sem mancha nem ruga ou qualquer reparo, mas santa e sem defeito.  É assim que os maridos devem amar suas esposas, como amam seu próprio corpo. 

Aquele que ama sua esposa está amando a si mesmo. Ninguém jamais odiou sua própria carne. Pelo contrário, alimenta-a e a cerca de cuidado, como Cristo faz com a Igreja;  e nós somos membros do seu corpo!  “Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne”.  Este mistério é grande – eu digo isto com referência a Cristo e à Igreja (Ef 5,26-29).  Em suma, cada um de vós também ame a sua esposa como a si mesmo; e que a esposa tenha respeito pelo marido.”( Ef 5,25 – 32).

 Também no Apocalipse a Igreja – a nova Jerusalém – é descrita como esposa: “Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, descendo do céu, de junto de Deus, vestida como noiva enfeitada para o seu esposo.  Então, ouvi uma voz forte que saía do trono e dizia: “Esta é a morada de Deus-com-os-homens. Ele vai morar junto deles. Eles serão o seu povo, e o próprio Deus-com-eles será seu Deus. (Apoc 21,2-3).

 E é comovente ler no último capítulo do Apocalipse o desejo da esposa de reencontrar-se com o esposo: O Espírito e a Esposa dizem: “Vem”! Aquele que ouve também diga: “Vem”! Quem tem sede, venha, e quem quiser, receba de raça a água vivificante.  Para todo o que ouve as palavras da profecia deste livro vai aqui o meu

testemunho: se alguém lhe acrescentar qualquer coisa, Deus lhe acrescentará as pragas que estão aqui descritas. E se alguém retirar algo das palavras do livro desta profecia, Deus lhe retirará a sua parte da árvore da vida e da Cidade Santa, que se encontram descritas neste livro.  Aquele que dá testemunho destas coisas diz: “Sim, eu venho em breve”. Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Apoc 22, 17-20).

 

“O matrimônio dos batizados torna-se assim o símbolo real da Nova e Eterna Aliança, decretada no Sangue de Cristo. O Espírito, que o Senhor infunde, doa um coração novo e torna o homem e a mulher capazes de se amarem, como Cristo nos amou. O amor conjugal atinge aquela plenitude para a qual está interiormente ordenado: a caridade conjugal, que é o modo próprio e específico com que os esposos participam e são chamados a viver a mesma caridade de Cristo que se doa sobre a Cruz.”

“Em virtude da sacramentalidade do seu matrimônio, os esposos estão vinculados um ao outro da maneira mais profundamente indissolúvel. A sua pertença recíproca é a representação real, através do sinal sacramental, da mesma relação de Cristo com a Igreja”. (9)

O revelação bíblico-cristã explicita de forma esplendorosa a natureza e o sentido do amor entre homem e mulher. Mesmo aqueles que não partilham conosco a fé cristã sabem que o ideal – o sonho possível – é um amor verdadeiro, sólido, entre esposo e esposa, fonte de vida e alimento que sustenta o crescimento dos filhos. A grande novidade da revelação cristã sobre o matrimônio é sua elevação à condição de sacramento, ou seja, o matrimônio entre batizados é fonte de santificação para o casal e para os filhos. O lar se torna lugar especial da presença de Deus, porque ali se faz atuante a ação de Cristo que santifica a Igreja.

Conclusão

Concluo manifestando a convicção de que a crise, que hoje atinge a família, com seus desafios, pede de todos um empenho renovado em promover a dignidade do matrimônio, fonte permanente de onde nasce sempre de novo a humanidade. A união dos esposos gera filhos e faz de sua casa o lar onde eles crescem alimentados pelo transbordamento de seu amor. Um matrimônio que se desfaz deixa os filhos sem chão e sem teto. Donde a urgente necessidade de educar para o amor as novas gerações. Família e escola devem estar unidas nessa missão. Inevitável a pergunta: em que nossas escolas têm ajudado a formar para os valores da Família?  E por último um pensamento de Bento XVI: “Uma sociedade em que Deus está ausente não encontra consenso necessário sobre os valores morais e a força para viver segundo esses valores, mesmo contra os próprios interesses”.

Parabéns a Escola de Pais pelo belo trabalho que realiza em me nosso estado e em nossa Região.

 

     Citações:

(1)    Lívio Melina, capítulo I, “A missão da família cristã a trinta anos da Familiaris Consortio” em “Desafios e possibilidades da família no limiar do sec. XXI”, pág. 14. publicação da CNBB),

(2)    Documentos do Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, n. 50.

(3)    “Desafios e possibilidades da família no limiar do séc. XXI”, pag. 87. publicação da CNBB),

(4)    Lívio Melina, capítulo I, “A missão da família cristã a trinta anos da Familiaris Consortio” em “Desafios e possibilidades da família no limiar do sec. XXI”, pág. 14. publicação da CNBB),

(5)    Familiaris Consortio , n. 11.

(6)    Gên 1,26-28; 2,18-24.

(7)     Familiaris Consortio, n. 11.

(8)    Cf. Os. 1 a 3; Ml 2,14; Ez 16 e 23; Prov 2,17; Jer 3; 31,1-4; Is 54,5-8;

(9)    Familiaris Consortio, n. 13

                                      Sorocaba, 21 de novembro de 2012 

                           Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues

                                        Arcebispo de Sorocaba