Coração Selvagem: Recordações de domingo POR WALTER FAILA

Friday, January 22, 2010

Coração Selvagem: Recordações de domingo

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Recordações de domingo

Uma junta de paralelepípedos se dilata no beco,

sob o Sol implacável de Santiago.

Declinam dois gestos na borda de teus supercílios

buscando explicações

no silêncio irascível de meu crânio.

Não há máculas que apaguem teus sudários

Nem brasas que consumam meu nono cigarro.

Os loureiros já ficaram amarelos

e os choupos adormeceram sob a insônia do orvalho .

Estou dizendo que não voltam os leitos dos rios

a beijar os pés de sua mãe nas montanhas.

Que o vento não retorna depois que já se foi

nem os remos empurram duas vezes a mesma água.

Que não há aço que suportem as forjas

nem flores que perdurem com alento de broto.

Que remendando inventários nas folhas do outono

fiquei remexendo as roupas da infância.

Estou dizendo que hoje sinto a tua falta mais do que nunca

que é domingo de orfandade e de nostalgia.

Que arrumo cristaleiras na tranqüilidade das horas

e não há espaço que não tenha teu olhar.

Que sei muito bem que já te foste

Que a vida devoraste no jantar dos tempos.

Que não retornam as pétalas perdidas

nem voltam os rosais a crescer no inverno

Estou dizendo que sou um cão ferido

ladrando a uma mancha grosseira de teus luzeiros.-

Walter Faila