Coração Selvagem: O RUÍDO DO SILENCIO POR WALTER FAILA

Coração Selvagem: O RUÍDO DO SILENCIO

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O RUÍDO DO SILENCIO

É verdade, no silêncio cresce o ruído, descem as esteiras da Lua,

naufragando nas ondas inquietas de um mar sinistro,

cheias de espumas e cabeças de areia,

colhendo palavras de uma praia adormecida.

Um órgão de algas interpreta as sereias,

enquanto a noite perturba o pranto insone,

das rochas afogadas de penumbras.

O cheiro a peles associa a sentença do esquecimento,

e a loucura domina a insensatez dos ventos despenteando os salgueiros.

Não te cales então, que no silêncio é mais violento o ruído,

e se escutam pensamentos que negamos,

realidades que mentimos, na alegria da luta por saber que estamos vivos.

Não detenhas os relógios dos meus montes,

não adormeças os duendes da ventura, deixa-os que saltem,

pelos outonos cinzentos, com aroma de alecrim e de jarilla.

Livre das filosóficas águas que emergem das pedras,

livre da liberdade que nos ata a cada dia.

A vida, meu amor, é um silêncio longo que grita a cada instante,

um suicídio do presente em armas de nostalgia

e a lembrança do futuro que entre dores e esperanças se pressente.

Aonde vais se partes? sempre o eco irá contigo;

sempre fugindo das vozes, seguirás sendo… palavra e grito.

Que me deixarás se te afastas,

deste espaço atemporal entre sórdidos caminhos?

Que levarás nas malas, ou em teus bolsos de fumaça e de sons?

Volta a pulsar como antes de ser metal !

submerge-te em minhas forjas de ventos desordenados

deixa-me moldar-te entre o bronze e o aço,

dos poucos sonhos que ainda me restam.

Não te vás na busca do nada que já tens,

segue afugentando os silêncios que explodem na vida.

Dá aos crepúsculos a tua voz desenhada entre algodões e arlequins.

Canta uma rima passageira, entoa a tua injúria e a tua desdita.

Não me deixes aqui, sozinho, imaginando na fonte ,

o murmúrio das águas, que caem comentando sua alegria.

O rugido dos homens quando têm sob seus pés,

a presa que dominam com o fuzil de suas cobiças.

É verdade,

o ruído faz mais ruído, quando o silêncio é mais silêncio,

e se estremecem os tímpanos da mente,

despedindo na sua agonia a corda de um violão

desgarrada em uma esquina do quarto.

As teclas de um piano umedecidas de abandono,

um concerto de pássaros , um coro de querubins,

e um rouxinol bêbado, dormindo caladamente nos quartos da alma.-

Não te cales!, meu amor,

deixa que tua voz acaricie a espécie e o planeta.

Os pombos devem seguir batendo suas asas de miragens,

em meus ninhos de ervas e de barro.

WALTER FAILA

Argentina

Tradução: Maria Lua

Posted by FANNY JEM WONG