Introdução aos estudos sobre ideologia

Introdução aos estudos sobre ideologia

Nós devemos banir das nossas fileiras toda a ideologia feita de fraqueza e impotência. São errados todos os pontos de vista que valorizam a força do inimigo e subestimam a força do povo.

Mao Tse

Entendendo nossa proposta

Não é preciso dizer que o conceito de ideologia é peça fundamental para a compreensão da teoria social é inaugurada por Marx e Engels. Se houver um leque de categorias fundamentais, a ideologia deve necessariamente ser elencada na lista. Desde os primeiros momentos em que essa inauguração ganhava corpo, a crítica à ideologia comparece na luta de Marx e Engels contra a filosofia do idealismo ou do velho materialismo, cujo principal registro encontra-se em A ideologia alemã, cujo título por si só não nos deixa dúvidas quanto à centralidade da categoria.

Em torno dessa categoria, há desmembramentos conhecidos dos leitores iniciados em Marx, como a problemática da falsa consciência, da relação entre ideia e realidade, da noção de verdade, da ciência, da determinação social do conhecimento, da tomada de posição frente às lutas de classes, da função social exercida pelos intelectuais, etc. Uma multiplicidade de relações pode ser estabelecida à exaustão quando a noção de ideologia entra em debate.

No âmbito das Ciências Sociais, especialmente as de caráter burguês, a referência ao conceito de ideologia tornou-se improvável, objetivamente impossível de ser realizada. Em particular se tivermos em conta o relativismo em que se embebe grande parte das ciências de tal modelo. Sob a ótica de um relativista, em tese, cada indivíduo singular possui sua verdade pessoal, de acordo com seus valores mais íntimos; não haveria, portanto, ideólogos, vinculados a determinados interesses de classe, que mistificam ou capturam uma verdade objetiva, pertencente à realidade ela mesma, independente do juízo que pessoalmente poderíamos fazer a seu respeito. Por isso, o conceito de ideologia pertence ao terreno habitado por Marx e somente por ele.

Na tradição marxista, a referência à ideologia atualizou-se à proporção em que a história impunha novas realidades. Vemos em Lukács e Gramsci, por exemplo, uma tentativa de incorporar à categoria alguns elementos que transbordam a fronteira da falsa consciência em estrito senso. Cada um à sua maneira, ambos procuraram conferir à ideologia um conjunto de aspectos que incluem a falsa consciência, mas não apenas. Assim o fazem a partir mesmo de uma leitura fecunda dos textos de Marx, particularmente o prefácio de 1859 à Contribuição à crítica da economia política.

Ademais, é por meio dos estudos da ideologia que se pode traçar os caminhos percorridos pelo pensamento burguês, desde o momento histórico em que a burguesia iluminista era a classe revolucionária e, portanto, a intelectualidade que se alinhava a ela estava em condições de capturar a verdade processual da história, até o instante em que a burguesia se torna a classe conservadora, o que retira as condições objetivas para que a ideologia produzida em seu seio seja dialética. Trata- se do fenômeno que Lukács descreve como sendo o processo de decadência ideológica da burguesia. Isto é, com a ordem burguesa instaurada, estreitam-se as fronteiras no interior das quais atua a inteligência burguesa, quando as condições históricas da burguesia conservadora não permitem mais que sua ideologia seja processual e verdadeiramente humanista.

Enfim, é preciso igualmente observar a pertinência de se afirmar o papel exercido pelas ideias no processo revolucionário. Nesse sentido, são valiosas as contribuições de Mészáros no que diz respeito ao poder da ideologia nos conflitos historicamente postos. Consiste em algo a ser destacado para que não se caia no princípio fácil e vulgarizador de que bastaria cruzar os braços e deixar que a história produza as transformações por si só, como convém ao positivismo que invade o marxismo de tempos em tempos. Afirmar a pertinência da ideologia no processo transformador é ao mesmo tempo afirmar o caráter ativo das mulheres e dos homens que tomam os conflitos em mãos, levando-os às últimas consequências.

Tópicos de estudo e datas dos encontros