Escrita
Na escrita, existem inúmeros conceitos e técnicas que ajudam a transformar simples palavras em experiências ricas e envolventes. Isso ocorre porque a escrita é uma arte que vai muito além do contar de histórias — ela envolve escolhas cuidadosas sobre como apresentar personagens, estruturar a narrativa e transmitir emoções, ideias e significados.
Esses conceitos, como o arco de personagem, subtexto, e o narrador não confiável, não são apenas termos técnicos, mas ferramentas essenciais que os escritores usam para criar camadas de profundidade nas suas obras. Eles permitem que uma história se desenrole de forma convincente, que os leitores se conectem emocionalmente e que as mensagens subjacentes sejam percebidas, mesmo que não estejam explícitas.
Outros elementos, como o foreshadowing (antecipação de eventos) e o cliffhanger (suspense em momentos-chave), mantêm o leitor envolvido e curioso. Já o princípio de "Mostre, não diga" torna a narrativa mais dinâmica e visual, ao invés de apenas explicar sentimentos e acontecimentos.
Esses conceitos existem para guiar tanto o escritor quanto o leitor por esse vasto e complexo processo criativo. Eles fornecem estrutura à imaginação, permitindo que a escrita vá além da superfície, criando experiências literárias ricas e memoráveis.
Prosa púrpura
Prosa púrpura é um termo usado para descrever um estilo de escrita que é excessivamente ornamentado, florido ou pomposo, com o uso de palavras sofisticadas ou uma linguagem elaborada que pode parecer exagerada ou desnecessária. Esse género de prosa se caracteriza por um foco excessivo em figuras de linguagem e descrições luxuosas, o que, muitas vezes, acaba por prejudicar a clareza ou fluidez do texto.
O termo "púrpura" faz referência à cor associada à realeza e à opulência, sugerindo que a linguagem está "vestida" de maneira exagerada. Em alguns contextos, pode ser usado de forma crítica para descrever uma escrita que tenta parecer profunda ou artística, mas que, no final, pode parecer pretensiosa ou difícil de acompanhar.
Contudo, em determinados gêneros literários ou estilos, a prosa púrpura pode ser apreciada, desde que usada de forma intencional e equilibrada.
Um "gatilho" num livro
Um "gatilho" num livro refere-se a uma situação, tema ou descrição que pode desencadear uma resposta emocional intensa num leitor, especialmente se essa experiência estiver relacionada a traumas pessoais. Esses gatilhos podem reavivar memórias dolorosas ou emoções angustiantes e são frequentemente associados a temas sensíveis, como abuso, violência, morte, discriminação, saúde mental, entre outros.
Por exemplo, se um leitor já viveu uma situação de violência e se depara com uma cena gráfica de agressão num livro, isso pode desencadear uma reação emocional inesperada, como ansiedade, angústia ou tristeza. Para proteger os leitores, alguns autores e editoras incluem avisos de gatilho (trigger warnings) no início dos livros, alertando sobre possíveis temas delicados.
O objetivo desses avisos é permitir que os leitores tomem decisões conscientes sobre o conteúdo que estão prestes a consumir, evitando possíveis desconfortos emocionais.
Arco de Personagem
O arco de personagem refere-se ao desenvolvimento e à transformação que um personagem sofre ao longo da narrativa. Ele descreve a jornada emocional, psicológica ou moral de um personagem do início ao fim da história. Geralmente, o personagem começa numa posição ou estado emocional e, através de desafios, conflitos e experiências, muda ou evolui. Existem três tipos principais de arcos:
Arco positivo: O personagem evolui de uma forma negativa para positiva, superando obstáculos e crescendo como pessoa.
Arco negativo: O personagem se deteriora ao longo da história, passando de um estado positivo para negativo.
Arco estático: O personagem não muda significativamente, mas sua postura pode servir para influenciar outros personagens.
Exemplo: Em O Senhor dos Anéis, Frodo começa como um hobbit ingênuo, mas sua jornada o transforma em alguém mais sábio, embora marcado pelos desafios que enfrenta.
Narrador Não Confiável
Um narrador não confiável é um narrador cuja visão ou relato dos acontecimentos não pode ser completamente confiável, ou é distorcido. Isso pode ocorrer por várias razões: o narrador pode estar mentindo, ser emocionalmente instável, ter uma perspetiva limitada ou distorcida dos fatos, ou, simplesmente, ser incapaz de interpretar a realidade com precisão. A incerteza criada pelo narrador dá ao leitor a tarefa de interpretar o que é verdade ou falso.
Exemplo: Em O Apanhador no Campo de Centeio de J.D. Salinger, Holden Caulfield, o narrador, é um adolescente que apresenta, muitas vezes, uma visão distorcida da realidade, deixando o leitor questionar a veracidade das suas declarações.
Exposição
A exposição é a parte da narrativa onde o autor apresenta as informações básicas sobre o enredo, os personagens, o cenário e o contexto. É usada para ajudar o leitor a entender a história e dar-lhes uma base sólida sobre o mundo da narrativa antes de o conflito principal começar. A exposição pode ser direta, através de explicações claras, ou indireta, sendo revelada através de diálogos ou ações.
Exemplo: Em Harry Potter e a Pedra Filosofal, os primeiros capítulos são uma exposição que introduz Harry, a sua vida com os tios e o mundo mágico que ele logo descobrirá.
Cliffhanger
Um cliffhanger é um recurso narrativo em que o autor termina um capítulo ou parte da história em um momento de grande tensão, ou suspense, deixando questões importantes sem resposta. O objetivo é manter o leitor ansioso e interessado para continuar lendo. Cliffhangers são muito usados em séries e romances por capítulos, onde o leitor precisa esperar pela próxima parte da história.
Exemplo: Na série de TV Game of Thrones, muitos episódios terminam com grandes reviravoltas ou momentos de suspense, como a iminente execução de um personagem principal, deixando o público ansioso para o próximo episódio
Deus ex Machina
Deus ex-machina é um termo que vem do teatro grego antigo, e significa "Deus a partir da máquina", referindo-se a uma solução inesperada e quase milagrosa que resolve subitamente um conflito na história. Esse recurso é frequentemente criticado porque pode parecer forçado ou incoerente com a narrativa, dando a impressão de que o autor não soube resolver os conflitos da trama de maneira orgânica.
Exemplo: Se numa história os heróis estão encurralados sem nenhuma saída e, do nada, uma força ou personagem inesperado surge e salva-os sem explicação prévia, isso seria um exemplo de deus ex-machina.
Show, Don’t Tell
A expressão “Show, don’t tell” (Mostre, não diga) é um dos princípios mais importantes da escrita criativa. Ela aconselha os escritores a descrever ações, diálogos e sensações de modo que os leitores possam inferir as emoções ou os eventos, em vez de simplesmente dizer ou explicar diretamente os acontecimentos. Isso torna a leitura mais envolvente, pois o leitor participa ativamente da interpretação dos acontecimentos.
Exemplo: Ao invés de dizer "Ela estava com medo", o autor poderia mostrar isso através da descricição da respiração rápida dela, as suas mãos tremendo ou o suor escorrendo pela testa, deixando o leitor sentir o medo.
Foreshadowing
O foreshadowing é uma técnica literária usada para dar pistas ou indícios de algo que acontecerá mais adiante na história. É uma forma sutil de preparar o leitor para eventos futuros, criando uma sensação de expectativa ou suspense. Essas pistas podem ser evidentes apenas quando o evento previsto acontece, tornando a leitura mais intrigante.
Exemplo: Em Romeu e Julieta, de Shakespeare, há várias cenas em que os personagens falam de morte de maneira casual ou metafórica, o que antecipa o trágico fim da história.
Subtexto
O subtexto é o significado implícito que está por trás das palavras e ações dos personagens. É o que não é dito diretamente, mas que pode ser inferido através de gestos, tons de voz, ou contextos. Muitas vezes, o subtexto revela desejos, intenções ou sentimentos ocultos dos personagens, dando camadas mais profundas à história.
Exemplo: Numa conversa entre dois personagens, o diálogo pode parecer amigável, mas o subtexto, revelado pelo tom ou pelas atitudes dos personagens, pode sugerir ressentimento ou tensão subjacente.
Enredo de Formação (Bildungsroman)
O enredo de formação, ou Bildungsroman, é um tipo de narrativa que acompanha o crescimento e desenvolvimento de um personagem, geralmente desde a infância até a maturidade. Esse tipo de enredo foca no amadurecimento emocional, moral e psicológico do protagonista, muitas vezes através de desafios e experiências de vida que moldam seu caráter e visão de mundo.
Exemplo: O Apanhador no Campo de Centeio é um exemplo clássico, onde o jovem Holden Caulfield passa por várias experiências que refletem sua transição da adolescência para a idade adulta.
Antagonista
O antagonista é o personagem ou força que se opõe ao protagonista (o personagem principal) da história. Ele é o principal responsável por criar o conflito que move a trama. O antagonista não precisa necessariamente ser uma pessoa má ou um vilão; pode ser uma ideia, uma sociedade, ou até o próprio protagonista, caso ele lute
Exemplo: Em O Senhor dos Anéis, Sauron é o antagonista, sendo a força que ameaça a Terra Média e cria os desafios enfrentados pelos protagonistas.
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