ÚLTIMA PRIMAVERA



ANTES que o dia termine,consente-me este desejo:vamos colherflores da primaverapela última vez.Das muitas primaverasque ainda visitarãotua morada,concede-me uma,– implorei.
Todo este tempo,não prestei atençãoàs horas,perdidas e gastas à toa.
Num lampejode um crepúsculo,li nos teus olhos agoraque meu tempo está próximoe devo partir.
Assim, ávido, ansioso,conto um por um– como o avarento o seu ouro –os últimos, poucos dias de primaveraque ainda me restam.
Não tenhas medoNão me demorarei muitono teu jardim florido,quando tiver de partir,no fim do dia.
Não procurarei lágrimasnos teus olhospara banhar minhas lembrançasno orvalho da piedade.
Ah, escuta-me,não te vás.O sol ainda não se esconde.Podemos permitir que o tempose prolongue.Não tenhas medo.
Deixa que o sol da tardeolhe por entre a folhageme se detenha um momentobrilhando no negro riodo teu cabelo.
Faze o tímido esquilo,perto do lago,fugir de repenteao estrépito de teu risoque irrompecom descuidosa alegria.
Não procurareiretardar teus rápidos passos,sussurrando esquecidas lembrançasaos teus ouvidos.
Segue teu caminho depois,se teu dever é seguir, se tens de seguircalcando folhas caídascom teu andar apressado,enquanto as aves que voltampovoam o fim do diacom o clamor dê seus gritos.
Na escuridão crescente,tua distante figurairá fugindo e apagando-secomo as últimas frágeis notasdo cântico da tarde.
Na noite escura,senta-te à tua janela,que eu passarei pela estrada,seguindo o meu trajeto,deixando tudo para trás.
Se te aprouver,atira-meas flores que te deipela manhã,murchas agora ao fim do dia.
Isso vai sero último e supremo presente:tua homenagemde despedida