ZERO HORA: Poluição Visual faz mal à saúde

Post date: Oct 4, 2011 4:42:43 PM

03/10/2011

Outdoors e letreiros garrafais impactam nas emoções e podem causar estresse

Por: Itamar Melo e Letícia Costa

A ideia de sair da cidade e se enfiar na natureza para contemplar o verde das árvores ou o azul do céu tem reputação de antídoto infalível contra o estresse. Olhada do avesso, no entanto, essa noção força um questionamento: se é preciso repousar os olhos para recuperar o equilíbrio emocional, então podemos afirmar que os bombardeios visuais impostos pela vida urbana fazem mal à nossa sanidade mental e deveriam ser banidos?

Em outras palavras: outdoors e letreiros garrafais precisariam ser encarados como problemas de saúde pública? Uma prova de que o tema começa a despertar preocupação é o Seminário Poluição Visual e Paisagem Urbana, que ocorre nesta segunda-feira em Porto Alegre. Ao lado de empresários, publicitários e urbanistas usualmente envolvidos nesse tipo de debate, os organizadores resolveram que era hora de colocar um psiquiatra na mesa. O convidado, Nelio Tombini, da Santa Casa, critica a publicidade onipresente em outdoors, fachadas e ônibus:

— Hoje em dia, a publicidade é muito nociva e desrespeitosa com as pessoas. E não é só o outdoor. Qualquer exagero de informação, muro pichado, coisa pendurada em poste ou faixa causa um desconforto, um transtorno emocional.

A poluição visual é enfiada goela abaixo e nos invade, afirma o especialista, que também critica a “poluição mental” causada por mensagens condenáveis propagadas em comerciais.

Estímulos mexem com os nervos

Uma das principais suspeitas em relação à poluição visual é que ela mexe com os nossos nervos e nos deixa estressados. Um pesquisa realizada em 2003 no Instituto Paulista de Stress, Psicossomática e Psiconeuroimunologia, sugere que os estímulos visuais podem provocar esse impacto nas pessoas — e sem que elas sequer percebam.

Para verificar se o excesso de publicidade visual aumentava o nível de estresse, os pesquisadores de São Paulo fizeram 30 pessoas assistirem a um filme de 52 minutos. No começo, apareciam no vídeo apenas parques e ruas tranquilas e arborizadas. Depois, as imagens eram de lugares com alta concentração de publicidade, pichações e sujeira. Durante o filme, mediram-se os batimentos cardíacos e os níveis de cortisol (substância secretada pelo organismo aos primeiros sinais de estresse) dos participantes. O cortisol aumentou 66,4% nas mulheres — mas praticamente não se elevou nos homens. A frequência cardíaca subiu 9% nelas e 6% neles. Nos testes subjetivos aplicados antes e depois do filme, os voluntários não reportaram alteração em sua situação. A conclusão é que as pessoas não percebem os níveis de estresse a que estão submetidas.

A psicóloga Ana Maria Rossi observa que cidades mais limpas e arborizadas aumentam a sensação de bem-estar, enquanto aquelas com demasiado estímulo visual podem favorecer a inquietude. No entanto, ela aponta a poluição visual como um desencadeador de emoções que já existem no indivíduo. Se ele está com raiva, um outdoor de cores berrantes pode contribuir para que esse sentimento exploda.

— Não é o outdoor que causa isso. Ele é só o gatilho — diz a psicóloga.