Analista ambiental fala sobre o combate ao javali asselvajado na região fronteiriça

Post date: Mar 18, 2014 7:26:51 PM

JORNAL A PLATEIA

Eridiane Lopes da Silva aborda a questão que preocupa o meio rural

A engenheira agrônoma Eridiane Lopes da Silva, do ICMBio, com reconhecida experiêcia na gestão ambiental, há vários anos atuando na região como analista ambiental, em recente entrevista à rádio RCC FM enfatizou que será preciso uma convergência de esforços para debelar o problema causado pelo aumento populacional do javali asselvajado no interior do município e em vários municípios da região.A questão já vem sendo tema de debates desde o ano passado – com mais intensidade – e Eridiane concorda que é um problema bastante sério de solução complicada.“As pessoas perguntam quando o Ibama vai liberar a caça? Na prática, o abate já está liberado. O problema central e tenho reforçado isso ás pessoas e produtores que me questionam é o armamento. Caçar javali de 38 é suicídio, com laçada nem pensar e não há perspectiva de que o Exército libere para que as pessoas possam portar armamento. É sabido que o controle é grande sobre os CRs (Certificado de Registro das armas) – até por ser região de Fronteira. Entendo a motivação do Exército e sabemos que é necessária essa postura” – pondera ela. De acordo com a agrônoma está havendo uma busca por outras formas de abates dos animais, mas até agora não houve uma definição com consistência. “Venenos tem sido testados pelos produtores, mas, na prática não funcionam, pois o javali é um animal cujo olfato é muito forte. Ele sente de longe e identifica o veneno, que acaba matando outros bichos. Temos buscado conversar para vermos o que fazer. Inclusive, o ICMBio, o Ibama e o DEMA [Departamento Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura de Santana do Livramento] estão iniciando testes em metodologias de controle, menos impactantes para o meio ambiente e mais seguras para as pessoas, como buscando atiradores locais que tenham CRs. Estamos tentando otimizar a ação dos caçadores autorizados, devem ser brasileiros, estamos olhando quem do lado brasileiro tenham armamento e CR Certidão de Registro da arma para caça” – resume a analista ambiental, deixando claro que de nada adianta simplesmente sair correndo atrás dos javalis.

“É um trabalho conjunto, pois não será somente a União, apenas o Estado ou só o Município que terão condições de controlar o problema” – resume.

AP – Na Europa há a captura em jaulas?

Eridiane – Estamos pensando nos produtores, tentando ver que modelo de jaula pode ser construído aqui, ver o que não seja caro, que possa conter os animais e tornar o abate seguro, mesmo com um revólver 38.

AP – É uma alternativa viável para a região?

Eridiane – A jaula se pode movimentar de um lugar para outro. É possível. É preciso observar uma solução que não acabe matando borregos, terneiros e outros bichos que não tenham nada a ver com a situação.

AP – São animais de hábitos noturnos e a caça deve se concentrar à noite?

Eridiane – Durante o dia é possível identificar onde eles estão passando. Há rastros e se extrai informações a campo, conseguindo saber onde estão entrando e saindo. E, bem, eles são porcos, eles cheiram e se consegue localizar. Identificados estes pontos, fica fácil definir onde instalar as cevas e armadilhas (jaulas).

AP – Abatido o javali, e a carcaça?

Eridiane – Na verdade, a orientação é que as carcaças sejam inutilizadas com creolina a campo, até para evitar que alguém junte animais abatidos e leve para a cidade para vender. Aqui a gente aprende que alguns tipos de linguiça podem conter qualquer coisa. No caso dos caçadores, eles, se quiserem podem consumir no local. A orientação da saúde é não movimentar a carcaça, para evitar contaminações. É um cuidado para não disseminar parasitas e doenças, já que se trata de um animal que nunca recebeu um vermífugo e nem uma vacina. Por uma questão legal e de evitar risco à saúde humana e à economia (evitar disseminar doenças como aftosa).

AP – Qual a estratégia central para essa redução populacional gradativa?

Eridiane – Mudar o foco que, hoje, por parte dos caçadores é o macho alfa, um troféu interessante, mas do ponto de vista prático, o melhor alvo é a fêmea. Uma fêmea a menos significa um útero a menos, o que na prática resulta em muitos filhotes a menos no futuro.

AP – Controle biológico é possível?

Eridiane – Não enxergo como fazer controle biológico. Conversamos com outras pessoas do mundo sobre algumas hipóteses e até vamos testar aqui. Agora, por enquanto, não há como fazer. O predador natural do javali são os grandes felinos, como onças e leões, é impensável introduzir estes animais aqui, pois o impacto que causariam nas outras espécies (inclusive a humana) seria infinitamente maior que o controle do javali em si.

AP – Qual a orientação aos produtores de suínos?

Eridiane – Precisamos conversar com produtores para deixar claro uma regra que já existe: em área produtiva que trabalha com criação de suínos, não é permitida criação de porcos soltos e aqui no interior a grande parte é de criação de porcos soltos. Primeiro é necessário fazer valer a lei: criar porco somente confinado. É a primeira providência, mas ainda assim, tem o risco do javali ir até o chiqueiro e acabar cruzando com as porcas.