Crise no RS: culpa do clima ou da falta de gestão das águas?

Post date: Jan 27, 2012 4:24:40 PM

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Cecy Oliveira

Por décadas os sulistas desdenhavam das queixas nordestinas por causa da seca. Parecia um berreiro infantil escondendo a incompetência de se adaptar a um clima com estiagens cíclicas.

Pois não é que agora estamos imitando direitinho o que ele faziam? Chorando e correndo a Brasília de pires na mão para recolher migalhas.

Há mais de 10 anos o Rio Grande do Sul vem sofrendo com verões inclementes e praticando a política do “coitadismo”, empurrando dívidas com a barriga e adotando medidas paliativas. No próximo verão se chover bastante tudo será esquecido.

Desde 1994 o Rio Grande do Sul tem uma lei de gestão das águas que quando surgiu foi pioneira e inovadora. Hoje está ultrapassada e capenga. Nunca foram criadas as agências que se encarregariam de executar os planos de preservação e conservação dos mananciais e ainda não se adotou a cobrança pelo uso dos recursos hídricos que já está em pleno funcionamento até mesmo no Nordeste.

A natureza é sabia e sempre os rios buscaram preservar-se através de mecanismos próprios. Zonas de inundação servem para armazenar água para a época de poucas chuvas e alta evaporação. Matas ciliares protegem as margens das erosões e enxurradas que entulham o leito e diminuem a vazão.

Mas o homem que se acha mais sábio foi ocupar estas zonas com cidades e plantações gerando lixo e esgoto sem tratamento que hoje ocupam o lugar das águas. E tratou de derrubar praticamente todas as matas que margeiam os rios em nome do “progresso”.

É preciso reagir com inteligência contra este fatalismo que domina as conversas, as reportagens e as medidas paliativas como se tudo fosse um castigo do céu. A recuperação é lenta e precisa ser permanente mas tem que começar já. Na gestão das águas a máxima é que mais vale prevenir do que remediar.

Muito por fazer

A primeira medida é dar condições ao Estado para gerir as águas que estão sob seu domínio, o que significa melhorar a estrutura do Departamento de Recursos Hídricos, complementar a Lei 10350 com os instrumentos previstos para a correta gestão e investir maciçamente no tratamento do esgoto cloacal. É hora de dar um basta no engodo de misturá-lo com as águas da chuva. Os rios e as cidades não suportam mais.