INTRODUÇÃOAo recordar neste ano da fé tantos agentes da Evangelização, temos a alegria de encontrar entre eles as nossas Irmãs que deram o melhor de si mesmas para anunciar Jesus Cristo. Por isso queremos partilhar convosco um testemunho escrito da Ir. Catarina Gomes, a Superiora da 1ª Comunidade de Tábua. Ela bem gostaria de estar aqui hoje, mas por motivos de saúde não lhe foi possível e pediu para que o seu testemunho fosse transmitido.
Em 1972, o Sr. Provedor Engenheiro Caeiro da Mata foi pedir à Irmã Provincial, Ir. Margarida Monteiro, Irmãs para o Hospital. Com pena, disse-lhe que não tinha Irmãs disponíveis. O Sr. Provedor insistiu:” Só lhe peço três Irmãs porque é urgente fazer uma reorganização dentro do Hospital.”… Perante este pedido, a Ir. Provincial foi buscar uma Irmã a Torres Novas – Ir. Anunciação- uma a Coimbra, Irmã Marta, e uma às Galveias, Ir. Catarina Gomes.
Estas três Irmãs chegaram ao Hospital no dia 27 de Dezembro de 1972. Sentíamo-nos isoladas, diziam elas, num Hospital tão grande, vazio de Doentes e de Pessoal que tinha passado para o Centro de Saúde. Felizmente lá encontrámos um casal, o Sr. Mário Carvalho, Chefe da Secretaria e a Esposa D. Natália Carvalho. Foram para nós um suporte, uma ajuda, pondo-nos ao corrente de tudo o que se passava. Este casal trabalhou sempre ao nosso lado. Ainda hoje lhes digo: “ Muito obrigada.”
O Sr. Provedor e os Senhores Mesários disseram-nos:” As Irmãs estão livres para agirem á vontade; entrego-lhes o Hospital; o que fizerem está bem feito…” (Nunca se desmentiram)
A Ir. Catarina diz-nos: “ A minha Mãe dizia às quatro filhas que preparava para serem boas donas de casa e que a final optaram pela vida religiosa: a beleza de uma casa está na ordem e na limpeza. É por aqui que vamos começar: do último piso até á cave foi tudo lavado e posto em ordem – as coisas úteis ficaram, o resto foi para o ferro velho ou para queimar. Levou algum tempo. Entretanto, o Sr. Provedor mandou construir uma Capela dentro do Hospital. Foi ornamentada só com coisas antigas. Termos Nosso Senhor debaixo do mesmo teto foi para nós o maior conforto. Tínhamos a Santa Missa todos os dias. A Capela foi aberta ao público. Nos Sábados e Domingos ficava cheia.
Na primeira fase dos 6 anos chegámos a ter uma comunidade de sete Irmãs.
Duas Enfermeiras leigas vieram de Coimbra para apoiar as Irmãs
Médicos: Um para Diretor Clínico ficava na casa da quinta
Um Cirurgião para consultas externas e operava pela noite dentro
Especialistas: de Cardiologia, Oftalmologia, e Otorrinolaringologia
Os Médicos do Concelho acompanhavam os seus doentes e assistiam às operações.
O Hospital não tinha a valência de Obstetrícia; as Parturientes iam todas para Coimbra. O Hospital deu uma bolsa de estudo a uma Enfermeira para tirar a Especialidade. Foi pedida e concedida a valência. O 1º Bebé que nasceu no Hospital, foi no dia 13 de Outubro de 1973. O Senhor Provedor foi o Padrinho dessa criança. A mãe já tinha uma filha e um filho já crescidos e por batizar. Foram os três irmãos batizados no mesmo dia…
Fazia falta um posto de sangue para, em caso de emergência, fazer uma transfusão. Uma Irmã habilitada para tomar a responsabilidade, arranjou dadores de sangue, classificou os grupos sanguíneos e algumas transfusões de sangue se fizeram. Até de fora vieram para receber sangue.
Uma Irmã trabalhava no R.X. Tirava e revelava as radiografias.
O banco de urgência estava aberto de dia e de noite
Era uma Irmã que atendia as urgências; as noites eram alternadas com uma Enfermeira
As grandes enfermarias estavam sempre cheias, foram divididas em quartos de duas ou três camas
Numa sala toda envidraçada criou-se um self-service com bar para o pessoal do Hospital
CASOS DIGNOS DE MENÇÃO
Quando chegamos encontrámos uma doente fechada numa enfermaria - era alcoólica e alucinada. Quando se abria a porta, gritava e atirava o que tivesse à mão. Uma Irmã experimentava todos os dias e mais do que uma vez ao dia abrir a porta, a resposta era sempre a mesma. A Irmã não desistiu até que um dia conseguiu entrar. Acarinhou esta pobre desgraçada, falou com ela acrescentando que viria mais vezes visitá-la e assim foi. Pouco depois a doente recebeu a Irmã com estas palavras:” Dá-me Deus! Dá-me Deus!” Foi abandonando o vício e curando… Deus tinha tido compaixão desta pobre entre os pobres…Foi a Fé desta Irmã e a sua amizade por esta Senhora que levaram à sua libertação e cura.
Uma mulher veio ao Hospital com um filho de 5 anos- raquítico, não andava, não falava, não comia. O Médico mandou-o para Coimbra. Ao fim de tês dias voltou na mesma. Então uma Irmã tomou a seu cuidado esta criança; ensinou-a a comer, a andar e a falar. Segurava-lhe as mãos num carrinho de rodas e durante duas horas dava a volta às enfermarias…Esta criança recuperou, ficou normal: era o Nosso Ismael. A mãe tinha um atraso mental não sabia fazer nada; acompanhava as Empregadas para aprender um pouco, mesmo um pouco… Mãe e filho ficaram no Hospital 3 anos até que o marido saísse da cadeia. Uma Irmã foi leva-los a casa numa carrinha carregada com cama, roupa, utensílios de cozinha, géneros alimentares…Era uma pobre casinha que deixamos limpa e arrumada.
A Ir. Catarina diz ainda: muito mais se podia dizer… apesar da minha idade avançada, tenho 95 anos, a minha memória guardou bem presentes as recordações desses tempos; ao longo dos anos o Hospital continuou a sua missão específica e foi tendo cada vez mais qualidade e conforto até que chegou a ser considerado o 2º Hospital Concelhio onde os Médicos de Coimbra vinham para estagiar.
CONCLUSÃO
Na abertura da comunidade, as Irmãs eram apenas três, depois passaram a sete e mais tarde dez.
Dedicaram-se essencialmente aos Doentes do Hospital, atendendo aos aspetos Físico e Espiritual, havendo a mencionar verdadeiras conversões entre os utentes. E ainda às várias catividades da Paróquia de Tábua e não só…
Catequeses em Tábua, Barras, Midões, Póvoa de Midões, Vila do Mato e outras…
Cursos Bíblicos em vários grupos e em vários locais
Formação de Catequistas
Assembleias Familiares
Celebrações da Palavra
Animação litúrgica
E ação socio caritativa
Agradecemos ao Senhor o Dom da FÉ que nos foi dado no Batismo… e olhando o trabalho realizado pelas nossas Irmãs que por aqui passaram para avivar a FÉ deste Povo de Deus, nós, as que ainda por aqui peregrinamos, queremos como elas continuar a gastar a nossa vida pela causa do Evangelho. Como Ana Maria diz: “ Estar em toda a parte onde há bem a fazer e sofrimento a aliviar.”
Para Apoio espiritual a UCCI dispõe de uma Capela nas suas instalações.