Observações sobre reciclagem

www.benefits-of-recycling.com

O próprio termo reciclagem

Seguidamente, vemos tanto na literatura técnica, quanto na divulgação e na cultura popular, o termo reciclagem associado somente à reutilização de um material sem este ser acrescentado a ou de outro, seu uso praticamente em conceitos de apresentação e estado que poderiam ser considerados de in natura a somente uma nova reconformação, como por exemplo pela fusão ou remoldagem. Nesta visão, existe a desconsideração do material de receber ou fazer parte do acréscimo menor a ou de outro (uma “aditivação”) e até mesmo em não ser processado além de certas variações de novos dimensionamentos e conformações, assim como limitações pela inadequação da composição do material recolhido para a reciclagem.

A recuperação de uma matéria-prima dentre outras

Para o primeiro caso que apontamos (matéria-prima entre outras matérias-primas), o vidro é um caso bem claro. Não se recolhe garrafas ou vidro de janelas, e simplesmente os funde e se reconforma, sejam em novas chapas de vidro de janela, seja em recipientes de qualquer tipo. Os cacos entram na composição de novas partidas de vidro, como parte de suas matérias-primas (o chamado no setor cullet), em taxas por exemplo de 30 a 40%.[1]

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Portanto, o vidro é um exemplo de reciclagem de material como matéria-prima parcial do produto que é dito reciclado/reciclável.

Aditivação

Para o segundo caso (aditivação), espelhos são ditos frequentemente como irrecicláveis. Contendo metais como prata, estanho e alumínio, impossibilitam o uso direto de seus cacos como matéria-prima do vidro “trivial”. Mas os metais são removíveis por banhos ácidos e o vidro restante pode, mesmo com resíduos inviáveis de plena remoção, ser pulverizado e usado como aditivo abrasivo para diversos fins, tais como insumos abrasivos diversos (rebolos, lixas, discos de corte, etc) e materiais que necessitam certa abrasividade, como revestimentos para pisos e pisos aplicáveis. Adicione-se também a produção de produtos de vidro no qual a presença de resíduos metálicos não interferem nas características do produto, ou que venham até trazer vantagens estéticas sem riscos de toxicidade, como microesferas de vidro (utilizadas como abrasivo para jateamento), tijolos de vidro e vitrificações de peças diversas, como porcelanas de uso industrial e na construção.[2][3][4]

Observe-se que a reciclagem de lâmpadas fluorescentes é uma reciclagem de “múltiplas saídas”, com compostos responsáveis pela fluorescência (compostos fosfóricos), materiais do filamento e contatos e do mercúrio vaporizado no interior da lâmpada.[5][6]

É possível a reciclagem de material de lâmpadas para produção de material cerâmico, mesmo com as contaminações, quando considerada a nova produção de vidro.[7][8]

Deve-se agora definir o termo “carga”, seguidamente usado na indústria, por exemplo, de produtos de polímeros, os produtos plásticos. Um exemplo é o carbonato de cálcio, usado como carga para polímeros na produção de produtos plásticos nas mais diversas conformações.[9]

Assim, um polímero como o polietileno reciclado, não necessariamente será utilizado puro na conformação de novos produtos plásticos, onde entra nossa observação de que uma conceituação de reciclagem estanque a uma definição de material é limitada e portanto, inadequada.

O simples uso noutro dimensionamento

Pelo acima, podemos associar a questão de aditivação e carga com a reciclagem de materiais ditos irrecicláveis em determinada indústria bem específica, que é de derivados de celulose, destacadamente, o papel. O papel vegetal, assim como outros com certos tratamentos é dito irreciclável, assim como já na indústria a chamada “borra de celulose” (embora esta possa ter aplicação direta).[10][11][Nota 1] Porém, estes materiais, fragmentados em granulometria adequada, podem ser adicionados como carga em madeira plástica, que é um produto com grande capacidade e variedade na absorção de cargas e aditivos diversos.[12]

Devem-se considerar também aqui os derivados aglomerados de celulose e madeiras, como o MDF (Medium-Density Fiberboard), MDP (Medium Density Particleboard) as chapa de fibra de madeira e suas possíveis aditivações.[Nota 2]

Um caso similar, também como aditivo de madeira plástica, é o poliestireno, que apresenta conformações e aditivações que são ditas normalmente irrecicláveis, como na forma de copos e nas espumas tipo isopor, ainda que processos de reciclagem destas conformações estejam sempre em desenvolvimento.[12][13][14][15]

Os empecilhos de certas composições em certas aplicações

O alumínio apresenta em sua reciclagem certas limitações devido á formulação das ligas, ou concentração na reciclagem de alguns componentes. As ligas com uso estrutural ou no setor aeronáutico exigem características de resistência mecânica, resistência às variações de temperatura e à fadiga que só são propiciadas com determinadas composições e tratamentos térmicos, e impossibilitam a simples reciclagem de seus usos menos nobres, como as dominantes na reciclagem embalagens de bebidas. Já por exemplo a presença de sílica impossibilita, mesmo com determinadas formulações de liga na entrada, da fundição de pistões com reciclos de sobras de materiais já fundidos, pois cria núcleos de alta dureza que dificultam a precisa usinagem das peças, além de poder danificar as ferramentas.[16][17]

A mudança de conformação

Finalmente, um exemplo clássico de reciclagem sequer com nova conformação (como é sempre o caso dos metais como os universalmente reciclados alumínio e o cobre) são os produtos cerâmicos, como os utilizados na construção civil. A argila dos tijolos, sinterizada, é caracteristicamente inviável sobre todos os aspectos de ser reciclada (observemos que não se pode fabricar tijolos com fragmentos de tijolos, da mesma maneira que não se fabrica argamassa e cimento com restos destes). Mas os tijolos fragmentados, e nem trata-se aqui de granulometria que poderíamos dizer fina, mesmo sem eliminar-se resíduos de rejuntes de argamassa e cimento, servem de agregado para os mais diversos fins na indústria da construção civil.[18][19][20][21][22]

O gesso não possui uma reciclagem economicamente viável em via direta, a não ser em determinadas escalas macro, mas pode ser reutilizado como aditivo de determinadas aplicações de concreto, como adicional ao calcário para correção de pH do solo e como insumo na confecção de novas peças para o setor de construção civil.[23][24][25][26]

Um caso emblemático é reciclagem como agregado da embalagem longa vida ou cartonada, composta de plástico, alumínio e papel, que é de difícil separação em seus constituintes pela sua complexidade e características. Independente dos processos como os relacionados ao uso de plasma, sua fragmentação permite a adição à polímeros e outros materiais para a conformação de placas, como para isolamentos e coberturas.[27][28][29][30]

Notas

1. Entre os tipos de papel não reciclaveis, citam-se os papéis que foram alterados com o seu uso, como o papel engordurado, papel toalha e papel higiênico, guardanapos e “jogos americanos” descartáveis. Como papéis tratados e revestidos, citam-se o papel carbono, o celofane, os papéis plastificados, o parafinado, o papel de fax e para impressoras térmicas, o metalizado, o laminado, o papel vegetal e o siliconizado.

É de se observar que alguns destes papéis não-recicláveis processados contaminando os recicláveis trazem problemas no processo.

2. Chapas de fibras de madeira são produzidas com fibras de madeira, predominantemente de eucalipto, prensadas a quente por meio de um processo úmido, que reativa os aglutinantes naturais da própria madeira e confere alta densidade aos produtos. MDF, Medium Density Fiberboard, em português, placa de fibra de média densidade, trata-se de placas de madeira reconstituída, produzidas por meio da aglutinação de fibras de madeira com resinas sintéticas e aditivos. MDP (Medium Density Particleboard) é um painel de aglomerado constituído de partículas de madeira aglutinadas entre si, principalmente com o uso de resinas ureicas, mediante a ação de temperatura e alta pressão.

Referências

1. Reciclagem de Vidro - www.msvidros.com.br

2. Espelho: prata, estanho e alumínio impedem reciclagem - www.ecycle.com.br

3. Rosane Felice de Oliveira; Confecção de discos de desbaste a partir de Al2O3 e pó de vidro

- www.dominiopublico.gov.br

4. Isabella M. VargasI; Hélio WiebeckI; Reciclagem de vidro laminado: utilização dos vidros de baixa granulometria como carga abrasiva na formulação de vernizes de alto tráfego para pisos de madeira; Polímeros vol.17 no.2 São Carlos Apr./June 2007 - www.scielo.br

5. Reciclagem de lâmpadas fluorescentes no Brasil -

gestao.coletasolidaria.gov.br

6. Descontaminação e Reciclagem de Lâmpadas fluorescentes - www.apliquimbrasilrecicle.com.br

7. Fernanda Andreola, Luisa Barbieri, and Isabella Lancellotti; End of Life-Materials: WEEE Glass Recovery in Construction Sector; SUSTAINABLE CONSTRUCTION MATERIALS. AND TECHNOLOGIES. June 28 - June 30, 2010. Ancona, Italy - www.claisse.info

8. A.P. Luz, S. Ribeiro; Use of glass waste as a raw material in porcelain stoneware tile mixtures; Ceramics International 33 (2007) 761–765 - thaiceramicsociety.com

9. COMPOSTOS PLÁSTICOS CARREGADOS - http://leopolymer.com.br/infor.html

10. Moeses Andrigo Danner, et al; Fontes de cálcio aplicadas no solo e sua relação com a qualidade da uva ‘vênus’; Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, v. 31, n. 3, p. 881-889, Setembro 2009. - www.scielo.br

11. Vitor Corrêa de Mattos Barretto, Orientador: Prof. Dr. Sérgio Valiengo Valeri; RESÍDUOS DE INDÚSTRIA DE CELULOSE E PAPEL NA FERTILIDADE DO SOLO E NO DESENVOLVIMENTO DE EUCALIPTO - Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e

Veterinárias – UNESP, Campus de Jaboticabal, 2008. - www.fcav.unesp.br

12. Francisco Quiumento; Madeira Plástica - Um material ecológico por natureza, Scientia -

sites.google.com

13. Copo descartável: item ganha status de ‘vilão’ da sustentabilidade em Manaus -

www.portalamazonia.com.br

14. HELINE MENDES SOARES, GUIMES RODRIGUES FILHO, DANIEL ALVES CERQUEIRA, ROSANA M. N. DE ASSUNÇÃO; RECICLAGEM DE COPOS PLÁSTICOS E BANDEJAS DE ALIMENTOS À BASE DE POLIESTIRENO PARA A RECUPERAÇÃO DE PRATA DE RESÍDUOS DE EMPRESAS REVELADORAS DE FOTOS; VIII Encontro Interno - XII Seminário de Iniciação Científica - Universidade Federal de Uberlândia - ssl4799.websiteseguro.com

15. Débora Motta; Brasileiros desenvolvem método inédito para reciclagem de plástico - www.inovacaotecnologica.com.br

16. Fundamentos e Aplicações do Alumínio - ABAL - ftp.demec.ufpr.br

17. DANIEL FERNANDES DA CUNHA; Influência do Teor de Silício na Usinabilidade da Liga de Alumínio 6351 - Avaliada Através de Força de Corte e Acabamento Superficial; Dissertação; Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Engenharia Mecânica, 2012. -

www.bdtd.ufu.br

18. USOS RECOMENDADOS PARA AGREGADOS RECICLADOS - www.abrecon.com.br

19. Rosângela dos Santos Motta, Liedi Légi Bariani Bernucci, Edson de Moura; APLICAÇÃO DE AGREGADO RECICLADO DE RESÍDUO SÓLIDO DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM CAMADAS DE PAVIMENTOS; ANPET - XVIII Congresso de Pesquisa e Ensino em Transportes - www.cbtumetrorec.gov.br

20. Geilma Lima Vieira, Denise Carpena Coutinho Dal Molin; Viabilidade técnica da utilização de concretos com agregados reciclados de resíduos de construção e demolição; Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 4, n. 4, p. 47-63, out./dez. 2004. - ISSN 1415-8876 - seer.ufrgs.br

21. Thaísa Ferreira Macedo, et al.; Investigação dos resíduos da construção e demolição (RCD) para fins geotécnicos; ELECS 2013 - www.elecs2013.ufpr.br

22. SILVA, C. A. R. da. Estudo do agregado reciclado de construção civil em misturas betuminosas para vias urbanas. Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, MG, 2009. - der.mg.gov.br

23. Manual de reciclagem de gesso - planetasustentavel.abril.com.br

24. Abrahão Severo Ribeiro; PRODUÇÃO DE GESSO RECICLADO A PARTIR DE RESÍDUOS ORIUNDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL; Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade Federal da Paraíba para obtenção do grau de Mestre; João Pessoa – PB, Março de 2006 - www.ct.ufpb.br

25. Sayonara Maria de Moraes Pinheiro; GESSO RECICLADO: AVALIAÇÃO DE PROPRIEDADES PARA USO EM COMPONENTES; Tese; UNICAMP; Campinas, 2011. - pct.capes.gov.br

26. Felipe José de Farias Nascimento, Lia Lorena Pimentel; REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUO DE GESSO; Anais do XV Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 26 e 27 de outubro de 2010. - ISSN 1982-0178 - www.puc-campinas.edu.br

27. Neves, F.L., "Reciclagem de Embalagens Cartonadas Tetra Pak", Revista O Papel, fev,1999 ( p.38-45). - www.ablp.org.br

28. Neves, F.L., "Novos desenvolvimentos para reciclagem de embalagens longa vida", 37˚ Congresso Internacional de Celulose e Papel, São Paulo, Outubro, 2004. - www.afcal.pt

29. Cerqueira, M., "Placas y Tejas producidas a partir del reciclado del Polietileno/Alumínio presentes en los embalajes Tetra Pak" , Tecnología y Construcción vol 18- 3, p.47-51, Instituto de Desarrollo Experimental de la construcción/IDEC. Facultad de Arquitectura y Urbanismo – Universidad Central de Venezuela, 2004. - www.buenastareas.com

30. Abreu,M., "Reciclagem de Embalagens Cartonadas Tetra Pak para Alimentos Líquidos", Revista O Papel, p. 91-96, Abril, 2002. - www.tetrapak.com

Leituras recomendadas

Merece uma tradução:

en.wikipedia.org - Glass recycling

V. V. Budov; Hollow glass microspheres. use, properties, and technology (Review); Glass and Ceramics, July 1994, Volume 51, Issue 7-8, pp 230-235 - link.springer.com

Glass microspheres,polymeric binder, abrasive - US 4799939 A - Google - Patents

Apêndice

Gesso à base de soja é um gesso de base biológica de baixa emissão feita a partir de conteúdo de reciclados de soja. O denominado soy gesso é produzido a partir de um nova tecnologia de dispersão de base biológica que utiliza um éster de soja com um acrílico de óleo vegetal de soja modificado. A superfície é semelhante à do gesso de acrílico, mas não é um acrílico sólido. Soy gesso é produzido utilizando-se uma película fina de um acrílico modificado e o éster de soja. A penetração e a aderência do éster de soja para o substrato e a película fina de acrílico modificado podem ter vantagens na criação de uma superfície que permita uma ligação física entre o gesso e a tinta a óleo. Além disso, a película mais fina do acrílico modificado é mais resistente à fissuras que um gesso acrílico sólido. - en.wikipedia.org - Soy-based gesso

Investing Ideas: Launch of the first soy-based gesso for artists, and a line of soy-based industrial scenic art paints and products - www.investorideas.com

Soy Ester Based Multi-Purpose Solvent - US 20110183882 A1 - Google - Patents

METHYL SOYATE: ECO-FRIENDLY WITH PERFORMANCE POTENTIAL - www.soynewuses.org

Biosolvents: Methyl Soyate is the Key Ingredient - www.cleanlink.com

Ethem Kaya, Sharathkumar K. Mendon, David Delatte, James W. Rawlins and Shelby F. Thames; Emulsion Copolymerization of Vegetable Oil Macromonomers Possessing both Acrylic and Allylic Functionalities; Macromolecular Symposia; Special Issue: Polymer Reaction Engineering VIII, Volume 324, Issue 1, pages 95–106, February 2013 - onlinelibrary.wiley.com

Jan W. Gooch; Emulsification and Polymerization of Alkyd Resins; Springer Science & Business Media, 2002. pg 142 - books.google.com.br

Uma resenha:

A emulsificação de resinas à base de óleos vegetais era uma tarefa difícil, mas a tecnologia subsequente gerou uma geração de emulsões estáveis ​​para revestimentos à base de água, à base de resinas alquídicas e à base de óleos vegetais, óleos e ácidos graxos. Polimerização autoxidativa de resinas alquídicas emulsionadas é uma contribuição inovadora e original para a tecnologia de emulsão, por emulsão-polimerização convencional que não é aplicável às resinas alquídicas. As partículas alquídicas emulsionados são polimerizados enquanto dispersas em um meio aquoso estável - uma inovação original e patenteada. Revestimentos alquídicos de secagem suaves são gerados a partir de emulsões não polimerizadas e com secadores convencionais de metal, e reuniram-se com o sucesso do marketing das secas ao ar. A inovação pré-polimerização de partículas alquídicas emulsionadas fornece muito rápida secagem ao ar de revestimentos que têm mercados potenciais para revestimentos interiores arquitetônicos de látex e adesivos e tintas sensíveis à pressão à base de água.

N Karak; Vegetable Oil-Based Polymers: Properties, Processing and Applications (Google e-Livro); Elsevier, 2012 - books.google.com.br

Uma resenha:

A crescente necessidade de encontrar um substituto ambientalmente amigável sustentável para materiais à base de petróleo está alimentando o desenvolvimento de polímeros de base biológica a partir de recursos renováveis. Entre os mais promissores destes são materiais poliméricos à base de óleo vegetal.

Após uma introdução para a classificação e a polimerização, continua a avaliar os fatores envolvidos na biodegradação de polímeros. A extração, purificação e aplicação de óleos vegetais são então explorado, juntamente com os poliésteres à base de óleo vegetal e poli (éster de amida)s, poliuretanos e epóxis.

Preparação de resina acrílico-poliéster reduzível em água a partir de óleo vegetal.