Controladoria ambiental, uma introdução

Resumo

É apresentado um dilema clássico tratado pela área de Controladoria, uma questão fundamental dos custos e securitização em remediação ambiental e onde estes conceitos e questões se entrelaçam na sustentabilidade econômica das empresas.

Exposição do conceito

Um dos pontos permanentes de atenção da área de Controladoria é resolver o dilema da distinção entre o lucro contábil, que pode se expressar nos estoques, e o lucro econômico, que como definido desde os tempos de David Ricardo é um volume de capital que pode ser gasto em qualquer finalidade, consumido, sem afetar de forma alguma a capacidade de geração de mais capital por parte do negócio, portanto, para qualquer análise, um "resíduo". Devemos alertar que o não tratamento desse dilema tem como exemplar rápida consequência a expressão de lucro contábil com consequente carga tributária a pagar e baixa disponibilidade de caixa para honrar tal compromisso.

Os custos ambientais, sejam na forma de compensações por danos de implantação ou expansão, seja na forma de remediações de danos causados em quaisquer operações e/ou seus acidentes devem ser bem entendidos como não compensáveis apenas com capital, pois a natureza em seus conjuntos, como flora, fauna, população de certos seres vivos, etc, não é um bem adquirível diretamente no mercado.

Em termos simples e didáticos, uma semente não é uma árvore, um filhote não é um animal em idade de reprodução e um rio destruído em seu ecossistema não estará disponível no comércio ou terá fabricante que atenda a demanda. Não há, economicamente falando, a oferta de um recurso ambiental direto, embora possam haver os fornecedores de insumos relacionados, como sementes e mudas de matas nativas e os prestadores de serviço de manutenção na reposição e remediação. Mesmo a remediação de solos e massas d'água contaminados depende de ação e tempos (latência) com técnicas de escala industrial e tecnologia adequada a cada caso, além de limites de resultados possíveis e até limitações definitivas, distantes de qualquer solução a nosso alcance, como certas contaminações radioativas e possíveis extinções de espécies.

Uma maneira de entender estas características dos danos e securitização ambiental de empresas é por uma abordagem contábil, onde se percebe que um ativo ambiental, como uma área de conservação pertencente a empresa só pode ser realizada em capital se for transferida para outra empresa por um certo valor, mas não pode ser comparada com uma máquina ou equipamento, com um imóvel e muito menos com um volume de estoque.

Percebe-se que ao ser transferido a empresa fica desprovida, por exemplo, de uma área de conservação, e perde uma "reserva" com o qual possa tratar algum futuro problema, se é que seja permitido legalmente que a empresa fique naquela localização desprovida dessa área em seus ativos. Note-se também que esta área de conservação só pode gerar receitas por sua própria natureza em raros casos, como na absorção de carbono atmosférico, no mercado de créditos de carbono, mas nisso se aproxima mais de reflorestamentos, que possuem características mais próximas de um estoque, um ativo propriamente dito, próprio desse ramo de atividade, e não um específico ativo ambiental (pássaros, por exemplo, numa área de mata não necessariamente geram receitas, mas são um ativo ambiental incluso numa área de mata ou outra configuração de área de reserva, como um mangue).

Por outro lado, os passivos ambientais se expressam nos seus custos, como já descrito, na sua remediação, nos custos passados das coberturas de seguro, nas onerações por multas, indenizações e custas de processos e burocracia, e não por um simples valor, um preço, a pagar. Estes possíveis passivos ambientais é que são os objetos de nossas previsões de reservas e volume de seguros necessários.

Assim, tais questões naturais aos danos ambientais são de características intrinsecamente diferentes, por exemplo, de um equipamento como um veículo atingido num acidente, que possui fabricante, distribuidor comercial e até meios de financiamento. Esses entes do ambiente natural não podem ser comprados e imediatamente substituídos, necessitando a ação em trabalho, a longa manutenção e supervisão até a recuperação do danificado, expresso, por exemplo simples no amadurecimento de uma árvore, que pode chegar à décadas.

Estas questões é que tornam tão complexa a securitização ambiental, a quantificação atuarial dos riscos ambientais envolvidos, que podem inclusive atingir permanentemente a imagem da empresa, sem a menor possibilidade de ser trabalho ou capital e investimento em marketing que recuperarão a imagem abalada, pois o marketing ambiental tem suas nuances de irrecuperabilidade em termos de tal patrimônio.

Apresentados esses pontos percebemos que paralelamente à formação de reservas e securitização para questões ambientais futuras das empresas necessita-se o cruzamento com a observação permanente por parte da controladoria de que se realmente o lucro contábil da empresa, ou mesmo um indiscutível lucro econômico, ainda está muito aquém de necessidades futuras por parte da empresa quanto a riscos ambientais, e uma lucrabilidade apresentada hoje não é apenas ilusória pois efêmera, prestes a ser insuficiente em casos de danos graves causados, sempre somados aos custos de indenização e multas, além de imposição de ações por parte das relações sociedade e estado, comprometendo a sustentabilidade do negócio a longo prazo.

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