Casos de Logística e Química Verde Aplicadas

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No segmento de produtos de limpeza e higiene

Empresas como a Unilever Brasil executam suas operações de logística pelo modelo do circuito estático, arranjo de logística que racionaliza o transporte, ao garantir a carga de retorno após a entrega. Neste modelo, o fluxo de mercadorias é mapeado com seus volumes permitindo a definição de um cronograma que permite prever o tempo de carga e descarga e a duração dos percursos, sendo todos os passos acessorados pela programação por computador. Aproveita-se com isso o máximo da capacidade dos veículos, obtendo como resultado a redução da quantidade de viagens, que passaram de 18.731 para 16.319 anuais após o início da aplicação de tal modelo. No ano 2008, é calculado que a companhia deixou de emitir 2.400 toneladas de dióxido de carbono por conta de tais procedimentos, hoje expandidos para as operações com seus fornecedores de matéria-prima.

Jorge Lima, gerente de assuntos governamentais e socioambientais da Unilever coloca que o compromisso ambiental também no transporte já se tornou um item de satisfação do consumidor, destacando que as medidas não se reduzem ao planejamento das atividades logísticas, incluindo também o desenvolvimento de novos produtos e embalagens capazes de reduzir custos e emissões de gases de efeito estufa na sua distribuição.

No caso de produtos e suas embalagens, a Unilever em 2008 lançou um amaciante de roupas concentrado que propicia a redução do consumo de água nas lavagens e o tamanho das embalagens. Empregando menos matéria-prima de fontes não renováveis e diminuindo obviamente o volume no lixo após o consumo, o produto ocupa menos espaço nos caminhões, o que implica menor liberação de gases poluentes em seu transporte. Este produto proporcionou economia de quase 2 mil viagens de caminhão por ano, que correspondem a uma redução de combustível em torno de 67%. Ao diminuir em um décimo o tamanho a embalagem clássica de sabão em pó, que passou a ter formato horizontalizado, conseguiu-se colocar 6% mais produtos nos caminhões. Com a eliminação da tampa de embalagens de desodorantes, tornaram-se as embalagens seis gramas mais leves, proporcionou economias em seu transporte.

Tais ações contribuem para a companhia atingir a meta global de reduzir em 25% os gases do efeito estufa até 2012, em comparação aos índices de 2004. No Brasil, entre 2004 e 2008, a diminuição de dióxido de carbono foi de 59%.

A Procter & Gamble, com medidas com os mesmo objetivos, lançou no ano passado sua versão concentrada do sabão em pó em caixa de menor tamanho, 10,34% mais leve em relação à tradicional, permitindo igualmente transporte de mais unidades por caminhão.

No segmento de informática

Esta medidas já apresentam multiplicação pelo mercado e chegam ao de informática, com empresas como a Dell, que anunciou um programa de quatro anos para simplificar as embalagens de computadores com economia de US$ 8 milhões. Esta medida consegue eliminar 9,7 mil toneladas de materiais nas embalagens, com o que espera-se um ganho significativo também na redução de gases no seu transporte.

A disseminação da baixa emissão pela Logística Verde

Em países que assumiram metas para reduzir gases do efeito estufa no Protocolo de Kyoto a tendência de tais práticas é crescente. Somando-se à regulação imposta pelos governos, com regras visando minimizar as emissões, o tema transformou-se em instrumento de marketing, de posição no mercado. Agora, sinergeticamente, tornou-se fator constante nos planos estratégicos e de sustentabilidade das indústrias e também no setor de transporte de cargas.

Conforme o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), a queima de combustíveis pelo transporte coloca-se como a terceira maior fonte de poluentes na forma de gases dos efeito estufa, com 14% das emissões globais, atrás da geração de energia (21,3%) e da produção industrial (16,8%).

De acordo com Juarez Campos, do Centro de Estudos em Sustentabilidade, coordenador no país do programa internacional Greenhouse Gas Protocol, que orienta corporações a medir emissões e identificar soluções, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), automóveis, caminhões, navios e aviões representam 9% dos gases-estufa no Brasil, perdendo apenas para o desmatamento e mudanças no uso da terra (transição, por exemplo de plantações para criação de gado). O setor de transportes está agora se posicionando quanto a tais fatores devido aos compradores externos observarem a cadeia de fornecimento e por preferirem as práticas com menores emissões de carbono. No exterior, a estratégia tornou-se comprar de quem apresenta-se à menores distâncias, pela correspondente menor emissão com o transporte. A maior distância só se justifica quando o valor do frete for significativamente reduzido, pois poluição sempre significa custo e o carbono é mais um item considerado nas modernas e conscientes políticas de compra. No Brasil, as empresas de transporte necessitam se preparar para competir.

Em alguns casos, é necessário priorizar fornecedores regionais ou mudar o planejamento da distribuição para reduzir as distâncias das entregas. Por exemplo, empresas como a Sadia, automatizaram o controle de rotas mediante equipamentos como GPS (Global Position System), reduzindo viagens e correspondente queima de combustível. No segmento de varejo, o Magazine Luiza também tem apresentado resultados positivos, com o melhor planejamento da demanda das lojas, reduzindo em 25% o tráfego de caminhões entre seus centros de distribuição, de acordo com a diretora de logística da rede, Regina Lemgruber. Somado a isso, com a maximização da ocupação dos veículos, a empresa reduziu a frequência média de viagens no abastecimento das lojas, passando a um rotina de uma vez onde antes eram duas vezes por semana, com redução de custo chegando a 20%, com vantagens nas emissões de gases pelos cerca de mil caminhões que abastecem as lojas no Estado de São Paulo.

No segmento de café

Empresas que buscam selos de certificação para atestar a origem ambiental de seus produtos, com objetivo de conquistar espaços diferenciados no mercado, adotam novos critérios no transporte, especialmente quando exercendo atividades com operações externas. O mapeamento do carbono em toda a cadeia produtiva do café para que a bebida chegue às xícaras com menos emissões passou a ser parte das práticas da Daterra Atividades Rurais, em Patrocínio (MG), com produção de café atingindo 80 mil sacos por ano, 96% para exportação, primeira do país a receber o selo socioambiental Rainforest Alliance, conferido pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), de acordo com Leopoldo Santana, seu gerente geral. Neste projeto o objetivo é neutralizar o carbono emitido, reduzindo os gases-estufa e plantando vegetação nativa nas fazendas produtoras. Entre as medidas previstas no transporte está a exportação do Café a granel em embalagens maiores e não nos atuais sacos de juta de 60 quilos.

Na empresa Café Bom Dia, em Varginha (MG), de acordo com Sydney Marques de Paiva, presidente da empresa, a estratégia foi eliminar intermediários, com a execução da torrefação na origem e levando o produto direto para os supermercados, com redução entre 20% e 30% das emissões de carbono.

Logística Verde aplicado ao urbano

Devido à da urbanização acelerada, mais caminhões circulam nas cidades para o abastecimento da população, exigindo novos modelos de infraestrutura para o transporte, segundo Beatriz Bulhões, diretora do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebeds). Necessita-se a substituição de frotas, com a opção por combustíveis mais limpos e veículos mais eficientes. Nosso país tem 44% de sua frota com mais de 20 anos de uso e a situação é crítica devido aos caminhões velhos poluirem dez vezes mais, sugere-se que pelo menos 30 mil caminhões por ano sejam retirados das ruas e virem sucata, com subsídios do governo federal, conforme sugestões de Gonçalves dos Reis, coordenador técnico da Associação Nacional de Transportes de Carga e Logística (ANTC).

De acordo com o inventário de gases que subsidiou a política municipal de combate ao aquecimento global, estabelecida por projeto de lei lançado pela prefeitura do município de São Paulo em junho de 2009, com meta de redução das emissões em 30% para os quatro anos seguintes, o transporte rodoviário é responsável por estimadas 63,8% das emissões de dióxido de carbono na área urbana deste município.

Referências

Sistema de Informações IEA/Funcex/Valor Econômico

- http://www.cgimoveis.com.br/logistica/logistica-verde

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Leituras recomendadas

    • Alan McKinnon; Green Logistics: the Carbon Agenda - http://www.logistics.pl/pliki/McKinnon.pdf

    • Jeff Berman; Green logistics: DHL unveils new carbon dashboard for emissions tracking; August 02, 2011. - www.logisticsmgmt.com

    • Jeff Berman; Green logistics: UPS expands Carbon Neutral shipping program; July 19, 2010. - www.scmr.com

    • Patrick Burnson; Green logistics: UPS Introduces New Carbon Offset Option for Shippers - www.scexecutive.com

    • SBQC N° 007/2011 - Sustainable Transport and Air Quality Program (STAQ) - Doação N°: TF 095978 - Contratação de Serviços de Consultoria para Elaboração de Inventário Municipal de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa (GEE) e outros Produtos, no Município de São Paulo - Contratante:Associação Nacional de Transportes Públicos - ANTP - Banco Mundial - Washington, D.C. - 2011. - http://staq.antp.org.br/docs/C05%20-%20Termos%20de%20Referencia.pdf