A arte da autossabotagem

Anne Caroline Gonçalves Martins (Aluna da segunda série do Enisno Médio)

Na magnífica narrativa “Corte de Asas e Ruínas”, de Sarah J. Maas, a protagonista Feyre encontra o uróboro, um espelho que, segundo as lendas, todos aqueles que olharam o reflexo enlouqueceram até a morte. Ao analisar a imagem, uma indescritível aberração aparece, abalando o psicológico da personagem. Momentos depois, descobre-se que, na realidade, o monstro era a personificação da parte mais repugnante e angustiante de um ser. O fato das pessoas não suportarem observar e aceitar sua pior face faz com que, inconscientemente, se sabotem com pensamentos negativos e distorcidos sobre si mesmas. Analisando a situação, é indispensável debater sobre esse assunto, já que é um fenômeno que ocorre em, pelo menos, algum momento da vida.

Inicialmente, é preciso relembrar que nós, seres humanos, nunca seremos perfeitos. A ideia de alcançar a perfeição, por mais que exaustivamente procurada, não é real, seja referente a um corpo, a um trabalho, a uma forma de viver, ou qualquer outro aspecto que resulta na aceitação em um determinado grupo. Assim como Platão defendia, os humanos vivem em um mundo de sombras, sendo estas consequentes do mundo das ideias, local onde a perfeição é total e única. Com o objetivo de chegar ao que se é completo e ideal, se almeja tanto o perfeito e, quando não o consegue, acaba-se punindo, mais pelo julgamento interior do que pelo exterior. Deste modo, justamente pela vida ter altos e baixos e nunca ser uma constante confortável, faz com que tal princípio tão desejado não seja atingível.

Na atualidade, a autossabotagem consegue se enraizar em inúmeras experiências. No ambiente escolar, as notas generalizam quais alunos possuem maiores competências que outros; no trabalho, aquele que consegue realizar mais tarefas de forma impecável é adotado; nas redes sociais, aquele que realiza o melhor espetáculo ao mostrar a face mais bela de sua vida é classificado como "pessoa mais feliz" e, assim segue, sempre existindo alguém mais contente, rico, poderoso e confiante. Mas, o que realmente todos se esquecem é de que são humanos, cheios de sentimentos e emoções, problemas e conflitos internos.

Tendo em mente esses conceitos, é preciso olhar a vida de outra perspectiva. Retomando a obra de Maas, "Apenas você decide o que a destrói". Infelizmente, sobreviver em um lugar onde o sentimento é deixado de lado é complicado. Sendo assim, a prática de reflexões sem filtrar erros e angústias é extremamente necessária, já que apenas o próprio indivíduo entende o que já se passou ou o que ainda vive. A maneira de derrotar a autossabotagem é aceitar a si mesmo.