Performatização política: o teatro na formação do indivíduo 

Larissa Felipe Pelegrino é aluna da 3a série do Ensino Médio


“Teatro” designa a arte da cena. Presente nas sociedades desde a antiguidade, ocupa importante papel na caracterização da cultura de um povo. Pode ser utilizado como forma de expressão a fim de proporcionar reflexões do universo político e estimular a conquista de um espaço de fala que possibilite a elaboração de críticas.

Nas festividades da Grécia Antiga, era comum que os gregos celebrassem sua cidadania e espiritualidade por meio de rituais religiosos e festividades. Os festivais lúdicos de Dionísio, deus grego, desempenhavam ainda mais um papel como dispositivo para definir a identidade cívica ateniense. Isso implicava explorar e confirmar, mas também questionar o que significava ser um cidadão de uma democracia.

Conforme as necessidades humanas foram evoluindo, o teatro desdobrou-se para um âmbito crítico, rompendo as barreiras do entretenimento e apreciação, assumindo um viés mais ativo e indagador. Seu ápice encontra-se em contextos históricos opressores (um padrão observado em diversas sociedades): ditaduras, guerras, injustiças sociais, entre outros. Os primeiros impulsos modernizadores surgiram de dentro do próprio sistema constituído, impulsionados pelo desejo de transpor certas limitações impostas por essa estrutura fechada. No contexto geral, o teatro contemporâneo é permeado pelo desejo de retratar a sociedade de maneira concisa, autêntica e identificável.

Aqui no Brasil, a partir do século XX, é criado o Teatro do Oprimido, por Augusto Boal, que parte pelos mesmos princípios contemporâneos anteriormente citados. Criado na época da Ditadura Militar, ele contribuiu para expor insatisfações ao sistema vigente, incluindo a alienação, censura e perseguição. Esse teatro serviu como uma forma de expressar as problemáticas existentes e dar voz àqueles que eram reprimidos. Boal defendia que o teatro era como uma “arma”, capaz de libertar todos aqueles que estavam aprisionados, tornando os “oprimidos” protagonistas de suas próprias histórias. 

O teatro, como forma artística, tem aperfeiçoado cada vez mais suas capacidades  de comunicação, expressão e reflexão, transcendendo a mera encenação. Ao fornecer um espaço seguro para a expressão individual e o debate de ideias, o teatro se torna uma plataforma para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e plural. Por meio do poder da arte cênica, indivíduos e comunidades podem se unir para promover mudanças positivas no ser, na sociedade e no mundo. Assim, o teatro não é revolucionário em si mesmo, mas pode ser um excelente “ensaio” de revolução.