Além dos muros: o grafite como mediador de discussões políticas e culturais

Yasmin Minozzi Duh é aluna da 3a série do Ensino Médio


A expressão contemporânea do grafite é resultado de uma longa construção, em que história e contemporaneidade coexistem. Originando-se nos primórdios da sociedade, dando seus primeiros indícios por meio da arte rupestre, o grafite constituiu-se como meio de contar histórias a partir de formas e cores, abordando temas críticos, políticos e educacionais. No entanto, ainda que essa forma de expressão artística componha um papel social essencial e sua abordagem seja cotidiana, é constantemente marginalizada e vista pelos olhos do preconceito, por sua interpretação extremamente superficial. Ainda que censurado e criticado pelos conservadores, a arte de rua pede a libertação dos julgamentos baseados em conceitos misóginos, racistas, xenofóbicos, fascistas e, principalmente, classistas.

Para entender o que é o grafite, é preciso compreender e diferir os termos pixo e grafite. O pixo é um movimento que independe de fatores estéticos, legislativos e utiliza-se de uma abordagem mais agressiva ao inferir críticas. Já o grafite, expressão da arte de rua abordada neste texto, origina-se do pixo, entretanto valoriza os aspectos artísticos, como cores e formas, mantendo a crítica social mesclada à arte plástica. 

Em primeira análise, para associar grafite à política, é necessário o entendimento do conceito de política, que segundo Aristóteles é a ciência que visa o bem-estar dos cidadãos. Assim sendo, pode se considerar que a arte estampada nos muros é um elemento político,  pois os artistas, muitas vezes, buscam expressar ideias e mensagens que refletem a realidade da comunidade em que vivem, contribuindo para o debate e conscientização sobre problemáticas presentes na sociedade.

Os muros contêm abordagem política, social e voz o suficiente para levantar debates que denunciam problemas reais. Essa forma de expressão pode transitar entre fatores estéticos e desigualdades, preconceitos e injustiças enfrentadas pelas classes não elitistas, trazendo à tona temas negligenciados pelos demais meios de comunicação. Diversos Projetos de Lei foram contra a legalidade dessa forma de arte, prezando por uma “Cidade Limpa”; entretanto, no que consiste uma “Cidade Limpa"? Uma cidade isenta de cultura? Limpeza, nesse caso, seria sinônimo de morte às cores e desacato ao direito da liberdade de expressar-se. 

Nesse contexto, é inegável que o grafite vai além de uma simples expressão artística e possibilita às mentes jovens explorarem e construírem sua identidade, criatividade, senso social e político, além de permitir a criação de laços entre diferentes artistas e plantar uma semente de senso ao cuidado com o patrimônio. O acesso a formas diferentes de arte estimula os estudantes a pensarem de outra maneira e a enxergarem a realidade por outra perspectiva. Assim, o grafite transcende os muros e torna-se uma forma de diálogo e expressão. 

Por fim, é possível concluir que o grafite pode ser considerado um meio de expressão cultural, que se manifesta por meio de cores, formas e mensagens em âmbitos políticos e educacionais. Atualmente, a sociedade está mais disposta a expandir horizontes, não sendo utópica a aplicação de fundos pedagógicos ao grafite, pois é possível transitar da arte de rua ao diálogo entre saberes, se entendido o papel da arte em expressões sociais que denunciam a realidade. Entretanto, é indispensável o aprofundamento do tema, conscientização, o respeito a diferentes formas de expressão e luta por maior integração do grafite em diferentes ambientes.