Por que estudar História?

Rafaela Mendes Bastos Oliveira (Ex-aluna do Colégio e estudante do quinto semestre do curso de História da Unifesp)

Acredito que muitos de vocês já se depararam com a pergunta: por que devo aprender História? Também creio que já ouviram que se estuda História para aprender sobre os erros do passado, compreender o presente e assim não cometer os mesmos erros no futuro. Como, a partir disso, explicamos a atual conjuntura? Com quais erros do passado aprendemos e assim chegamos até aqui?

Na verdade, mesmo se quiséssemos, não repetiremos os mesmos erros do passado. Isso porque a História não se repete, cada acontecimento é único e com suas especificidades. Essa constatação não impede de, muitas vezes, nos deparamos com semelhanças entre o passado e o presente. Peguemos três exemplos da História do Brasil: uma das razões para Greve Operária em 1917, o Movimento Custo de Vida, durante a Ditadura Civil-Militar brasileira, e notícias comuns hoje, como o alto preço do gás de cozinha faz com que famílias improvisem fogão a lenha. Todos esses são mobilizados por um fio comum o alto custo de vida, em relação aos salários, e a falta de emprego, uma realidade que perpassou o país em diferentes momentos.

Para pensar esses e outros eventos, a História trabalha com as permanências e mudanças. O conceito de permanência nos faz entender que o sistema que nos rege não só permite, como depende dessa e de outras estruturas. Não é falha do que vivemos a condição dos trabalhadores e do meio ambiente em nossa sociedade, e sim sua base. Por outro lado, não é possível dizer que o mundo está parado desde 1917 até 2021, o cenário, a partir da agência de todos aqueles que vivem a História, mudou. Pensando no conceito de mudanças, conquistamos direitos, perdemos outros tantos, vivemos guerras, pandemias, o advento da internet e tudo isso teve influência para cada um dos momentos serem únicos em si.

Isto posto, é importante pensar que a História, enquanto disciplina escolar, não tem fim em si mesma. Todos os saberes são comprometidos, seria impossível passar conhecimento de maneira neutra. Fato é que o saber histórico, da forma que conhecemos, surge como instrumento para a manutenção do Estado-Nação, ao mesmo tempo, pode (e deve) ser catalisador de mudanças, visto que por meio de um ensino crítico podemos compreender a História e relacioná-la com a realidade em que estamos inseridos, gerando assim autonomia e permitindo vivenciar o estudo enquanto prática de liberdade.

Se por um lado, você, que entendia a História como um ciclo se decepcionou ao saber que não é possível prevê-la; por outro lado, existe o que considero de melhor e mais valioso na ciência a qual me dedico: não é preciso pedir autorização para mudá-la, mesmo que

queiramos mantê-la, não seríamos capazes, a transformação é coletiva. Estudar História em tempos como os nossos é necessidade para, sobretudo, nos percebermos como agentes diretos da realidade imposta.