Mais educação midiática, por favor!

Marcio Gonçalves


Somos seres humanos dotados de linguagem e de comunicação. Nosso corpo fala, nossa mente articula pensamentos e produzimos informação. No mundo contemporâneo, essa produção de conteúdo está na ponta de nossos dedos. Nesse sentido, com a liberação do polo de emissão, ou seja, todos produzindo mídia de muitos para muitos, urge formar cidadãos críticos diante do enorme número de dados e informação gerados a todo o tempo. Mas, como garantir essa formação na escola, por exemplo? Por isso, precisamos de educação midiática.

Educação Midiática é o conjunto de habilidades que uma pessoa deve ter para acessar, analisar, criar e participar de maneira crítica do ambiente informacional e midiático em todos os seus formatos — dos impressos aos digitais. É preciso sensibilizar as pessoas para que desenvolvam o entendimento desse tema. Quando a elas são apresentados recursos digitais para a produção consciente de conteúdo para a internet, toda a sociedade ganha com essa formação de um cidadão digital mais sábio e orientado à reflexão e ao entendimento das informações que consome.

O ambiente escolar é o lócus propício para o desenvolvimento dessa educação midiática. Uma camada de uso de mídias cabe em qualquer matéria. Muitos gêneros jornalísticos e digitais podem fazer parte de uma aula de Português. Ensinar a interpretar infográficos deveria ser uma grande aula. Analisar reportagens impressas e em audiovisual também. Por meio dessa camada midiática nas matérias, é possível evitar o distanciamento do mundo teórico e da vida prática.

Quando uma nova mídia surge, ela não apaga a anterior, muito pelo contrário: ganhamos com o avanço tecnológico e, consequentemente, com o nascimento de novas possibilidades. Se antes o impresso tinha imenso valor por imprimir em seus suportes grande parte do conhecimento da humanidade, hoje, os hipertextos e hiperlinks permitem que as narrativas ganhem vida em diferentes formatos de mídia. É um admirável mundo midiático. A educação midiática é importante neste momento, porque o olhar atento diante da enxurrada de informações a que somos submetidos a todo o tempo é imprescindível, já que, muitas vezes, o excesso de informação pode até ser prejudicial, por conta da desinformação produzida pelos mesmos agentes produtores de conteúdo.

Na posição de educadores, como podemos facilitar esse aprendizado que acontece a partir de diversos meios? Eu diria que podemos ensinar os nossos alunos a fazerem uso adequado das  inúmeras plataformas, dispositivos móveis e estáticos, e integrar adequadamente diversas mídias online e offline. É preciso mostrar às crianças e aos jovens os dois lados da moeda. Quando mostramos os bastidores de uma produção de notícia, por exemplo, podemos usar a metalinguagem para inserir as mídias nesse processo de crítica na hora de produzir reportagens, documentários e fotografias.

Ler criticamente, escrever com responsabilidade e participar ativamente formam uma tríplice capaz de nos conduzir nas propostas de aulas que orientam os estudantes ao pensamento crítico. Um cidadão que esteja atento a ler o mundo, torna-se um autor mais responsável. Na hora de agir e participar com suas ideias, saberá se colocar diante das pessoas, em rede, com discernimento. 

A educação midiática orientará os cidadãos para que sejam livres em suas escolhas. Queremos mostrar os melhores caminhos, caberá a cada um a escolha de qual seguir. É, por isso, que pedimos: mais educação midiática, por favor!


Marcio Gonçalves é doutor em Ciência da Informação, educador Google Innovator, fellow do Programa Educamídia e professor de mídias digitais de crianças, jovens e adultos.