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Servidor do IFSP Ilha Solteira é primeiro surdo a concluir Mestrado no IFRS Porto Alegre

Reportagem: Cíntia Martins Sanches

         Erliandro Felix Silva, Assistente de alunos do IFSP Ilha Solteira, defendeu sua dissertação de Mestrado no dia 31 de outubro deste ano e é o mais novo Mestre do campus. Ele se tornou a primeira pessoa surda a conquistar esse título no IFRS de Porto Alegre. A pesquisa desenvolvida por Erliandro consiste na criação de um Glossário em Libras-Português de termos marxistas para EPT (Educação Profissional e Tecnológica). 

A oportunidade de cursar o mestrado no IFRS surgiu em 2019, quando ele, já determinado a se dedicar à pesquisa na área de Libras, inscreveu-se para a vaga de PCD do Programa de Pós-graduação em EPT. “Pesquisei no edital qual campus no Brasil tinha cota para pessoa com deficiência e que nunca teve candidato. Achei Porto Alegre longe (morava em Juiz de Fora, onde cursei graduação em Letras – Libras). Aí, teve a pandemia, o processo foi suspenso por quase 2 anos e não consegui fazer a prova para entrar. Em 2021, eles aditaram o edital e montaram uma tabela de pontuação (sem prova). Recebi pontos por trabalhos publicados e pela experiência profissional. Me saí bem na pontuação e passei na vaga de PCD”, conta Erliandro. Ele se sentiu bem-vindo no Instituto, que providenciou intérpretes de Libras para que ele pudesse acompanhar as aulas e se disponibilizou para auxiliar no que fosse necessário.

Registro da defesa de Mestrado do Erliandro, que aconteceu de forma remota em 31/10/2023

A escolha do tema de pesquisa aconteceu durante a disciplina de Bases Conceituais, quando ele observou que faltava uma sistematização específica para pessoas surdas. Não havia glossário em libras para que os surdos tivessem acesso às conceituações marxistas. Até mesmo os intérpretes tinham dificuldade de traduzir os conceitos trabalhados em aula, porque algumas palavras não existiam em Libras. Então, veio a ideia de oferecer esse serviço à comunidade surda por meio de sua pesquisa de Mestrado: “Em pesquisas relacionadas a glossários em Libras, eles geralmente se preocupam apenas em criar o sinal. E eu não queria fazer só isso. Eu queria que existisse uma explicação. Não é só ter acesso ao sinal, tem que entender os conceitos”, diz. Assim, o glossário feito pelo Erliandro é ainda mais completo do que os trabalhos semelhantes que normalmente são realizados.

Na realização do Mestrado, diversas dificuldades foram surgindo. Entre elas, estava a de entender os conceitos a partir de material básico (o livro “O capital de Marx”, utilizado nas aulas). Erliandro conta que “Até meus colegas ouvintes também não entendiam bem os conceitos, mas podiam consultar outros materiais. Os surdos não conseguem acesso a todos esses materiais. Por isso criei o glossário”. Outras dificuldades foram: a pandemia ainda em andamento, a produção dos vídeos, a edição. Também foi difícil encontrar surdos com formação na área para validar o glossário (assistir os vídeos e dizer se o conceito foi passado). Ele conseguiu a colaboração de 2 surdos para essa tarefa.

Erliandro teve uma longa trajetória antes de conseguir ser Mestre. Voltando um pouco no tempo, ele conta que é o único surdo de sua família e que quase todos são analfabetos. Por isso, ele também passou sua infância e sua adolescência sem se alfabetizar e começou os estudos quando já tinha 20 anos de idade. Ele entrou na primeira série do Ensino Fundamental pelo EJA (Ensino de Jovens e Adultos). “Se hoje as pessoas não sabem libras, 20 anos atrás menos ainda. Fiz o EJA junto com o trabalho. Fiz também o Ensino Médio e cursei uma faculdade particular (de Logística). Na faculdade passei por várias dificuldades (falta de intérpretes, por exemplo)”, conta.

Depois, ele foi para a UFJF cursar Letras – Libras e, lá, ele conheceu muitos professores e estudantes surdos e começou a pensar em fazer o mestrado. “Recentemente o mundo tem reconhecido e não invisibilizado as pessoas surdas. Temos muitos surdos com mestrado, doutorado, publicando textos, participando de eventos”, diz. Erliandro afirma a importância de outros surdos terem contato com trajetórias como a dele e não acharem que está tarde para estudar, para começar a entender que todos eles podem trabalhar com o que quiserem.

O mundo melhorou para os surdos, mas ainda pode melhorar muito mais. Erliandro complementa: “Acredito muito na importância de as pessoas aprenderem a Língua de Sinais, de os órgãos públicos ofertarem cursos de Libras”. Além disso, ele menciona que a sociedade precisa refletir sobre a imagem pré-pronta que disseminam das pessoas com surdez: “Muitos têm uma visão muito clínica sobre a surdez, para corrigir a pessoa surda. Mas é importante ter uma visão mais humana. O surdo pode ser qualquer coisa. A Língua de Sinais não atrapalha o desenvolvimento de nenhuma pessoa. É por meio dela que o surdo se comunica e aprende”. Ele acrescenta ainda que, “Mesmo começando com 20 anos, consegui chegar no Mestrado. Hoje as pessoas com deficiência têm mais oportunidades, mas ainda falta muito. E falta que todos entendam que a língua portuguesa para os surdos é uma segunda língua. Assim, poderão parar de ver a pessoa surda como coitadinha”.

Erliandro mostra sua pesquisa de mestrado

Imagens do Glossário de termos marxistas com a explicação do conceito de "mais valia"

Preparando o futuro no IFSP

Curso de Filosofia desperta o desenvolvimento crítico e Clubinho do Vestibular afia estudantes do IFSP para a entrada na universidade

 

Reportagem: Mirian Stefany Gomes dos Santos

 

Na procura pela essência crítica e pelas habilidades acadêmicas dos estudantes, projetos do IFSP proporcionam ações que estimulam tais metas, como o "Curso de Filosofia”, ministrado pelo professor de Filosofia Anderson Lima, e o "Clubinho do vestibular", cujo responsável é o professor de História Marcos. O "Curso de Filosofia" ocorre nas segundas-feiras, das 15:30 às 16:30, e nas terças-feiras, das 16:30 às 17:30. O "Clubinho do Vestibular" ocorre nas quintas-feiras, das 12:30 às 13:30. Ambos ocorrem no Laboratório de Humanas.

Qual estudante não almeja ser selecionado para uma ótima faculdade? Apesar de serem necessários sacrifícios do presente, com foco no futuro, eles serão devidamente recompensados. O estudante Yaro, do 3º ano de Edificações, é um dos participantes do curso e contou um pouco sobre sua experiência: "Desde que me juntei ao projeto de filosofia no início deste ano, tenho sido profundamente inspirado pela calorosa recepção que encontrei no grupo. Sempre tive essa sensação de não saber como aplicar o que sabia, mas, no projeto, descobri uma oportunidade única para analisar os fenômenos da nossa sociedade através de uma abordagem interdisciplinar com os saberes das ciências humanas. O que mais me fascina é a capacidade de compartilhar meu conhecimento com os outros, contribuindo para a construção de uma sabedoria coletiva e horizontal. Este é um ambiente verdadeiramente colaborativo, onde cada membro pode expressar suas ideias de maneira isegórica, mediada pelo nosso estimado professor de filosofia, Anderson Lima, o qual enriquece nossas perspectivas sobre uma ampla gama de temas". Além de trabalhar assuntos acadêmicos, os encontros do projeto também abordam muito bem o acolhimento e as questões socioemocionais. 

Além disso, Yaro também comentou sobre a maneira como o os encontros influenciaram suas reflexões em sociedade: "Nossa jornada de aprendizado em comunidade nos desafia semanalmente a repensar nosso cotidiano, permitindo-nos enxergar a realidade social, muitas vezes invisível aos olhos nus, como afirmou o sociólogo Jessé Souza. Este projeto tem sido uma constante fonte de inspiração para mim, impulsionando meu crescimento tanto como indivíduo quanto como parte de um coletivo". Portanto, haveria necessidade de mais palavras para definir o impacto que esse grupo traz?

Em relação ao Clubinho do Vestibular, Gabriel Vincenzo, também aluno do 3º ano de Edificações, relata detalhadamente como ocorrem os eventos semanais: "O Clubinho do Vestibular, idealizado pelo professor Marcos, de História, foca na discussão e na realização de questões de vestibulares como a Unicamp e, mais especificamente, é dividido em duas etapas: a realização das provas pelos alunos e a correção das questões com o auxílio de um professor especializado no conteúdo em questão". Nota-se, em razão do preparo para a vida estudantil, que o grupo, além de desafiar os estudantes em questionários, trabalha na evolução e na especialização dos pontos que precisam ser melhorados, o que é essencial para que os IFSPianos não cheguem desprevenidos no momento em que ingressarem no vestibular.

Para aqueles que buscam uma evolução estudantil, ou para quem prestou prova para entrar no IFSP e ainda está em dúvida se será uma boa escolha participar da nossa comunidade, está esperando o que para ingressar e fazer parte do Instituto?

Prof. Anderson acompanhado de Aslan e Rafaela, participantes do curso de Filosofia.

Prof. Marcos e estudantes do IFSP durante atividades do Clubinho do Vestibular.

Aluna do IFSP Rafaela Yumi com um livro australiano e sua parceira da ANU Sofia Sissons com um livro em português durante um encontro do Teletandem de 2022

Teletandem no IFSP: Intercâmbio virtual Austrália-Brasil

 

Reportagem: Rafaela Yumi Kuroiwa 



Teletandem é um projeto do IFSP - Ilha Solteira em parceria com a Universidade Nacional da Austrália (ANU) que proporciona aos estudantes de ambas instituições aprendizados culturais e linguísticos através da conversação bilíngue.

  O projeto internacional teve seu início em 2020, e já conta com mais duas edições em 2022 e 2023. Coordenado pela professora de Língua Portuguesa e Inglesa do nosso campus, Cíntia Martins Sanches, a iniciativa é a pioneira do Brasil no Ensino Médio, pois anteriormente só ocorria em instituições de ensino superior.

  O nome do projeto é inspirado pela bicicleta dupla chamada tandem, na qual as duas  pessoas precisam pedalar ao mesmo tempo para que se movimentem. Assim, Teletandem alude ao aprendizado telecolaborativo, em que os participantes se ajudam mutuamente.

  Cada participante da nossa escola tem um parceiro da Universidade Nacional da Austrália, com quem conversa semanalmente através da plataforma Zoom durante uma hora, sendo metade do tempo em inglês e a outra metade em português. O lema do Teletandem é “Eu ajudo você a aprender minha língua e você me ajuda a aprender a sua”, mas todos que participam do projeto afirmam como aprendem muito mais que isso com a experiência.

  “O teletandem foi incrível, a dedicação e o entusiasmo que cada um trouxe às nossas conversas todas as semanas foram verdadeiramente inspiradores. A troca de conhecimentos, os risos e as experiências partilhadas não só nos ajudaram a crescer linguisticamente, mas também criaram um vínculo que transcende fronteiras, através de cada palavra falada e nuances culturais exploradas, descobrimos a beleza da compreensão mútua”, relata Glauber Barcelos, participante da edição de 2023.

  Em um mundo globalizado como o que vivemos, o conhecimento do inglês tem se tornado cada vez mais importante. Esse projeto não só oferece a chance de aprender e praticar a língua inglesa, melhorando muito o listening e speaking dos participantes, mas também viabiliza o ensino da língua portuguesa para um estrangeiro, celebrando nossa cultura e a diversidade!

Os alunos conhecem alguém de outro país, com uma realidade completamente diferente e trocam experiências sobre costumes, arte, educação, vivências pessoais, hobbies e vários outros assuntos. Dessa maneira, criam laços interculturais que os permitem compreender o mundo de uma forma mais abrangente e livre de preconceitos.

  No Teletandem os participantes aprendem com os erros, criando um espaço de colaboração confortável para que possam se expressar melhor e compartilhar sobre suas experiências e culturas. Mesmo separados por uma distância tão grande, temos muitas coisas em comum, e muito a aprender e a apreciar em nossas diferenças!