Lá vem ela

Lá vem ela

Anelê Volpe, 2020

Lá vem ela, soltando faíscas pelos faróis azuis... Se eu contar pra alguém que esse tamanho de gente tem essa raiva toda, e fala tão alto assim, não iriam acreditar. Quando a conheci era tão meiga, tão carente, tão pequena que sumia nos meus abraços. Sempre gostei de mulheres pequenas, e ela era – ainda é – toda bem-distribuída no corpo, com esse cabelo negro chanel, essas coxas grossas que me deixam maluco, e esse dois olhos azuis hipnotizantes. Só que essa mulher, quando está brava, vira um gigante e eu me sinto completamente desconcertado. Com meu tamanho, até tenho medo de ficar nervoso e perder a cabeça, pois poderia arrebentá-la num único tapa. Então, o que faço? Respiro fundo e deixo ela falar até se cansar. Só depois tento uma aproximação e, com minha paciência de Jó, coloco a casa no lugar.

A briga agora é outra vez essa história da amiga do grupo de bike. Nem sei como ela descobre tudo isso, pois nem faz parte da turma. Não tenho nenhuma conversa no celular; só pode ser alguma conhecida dela que anda me vendo nos passeios. Não que eu ande fazendo algo errado, mas aquela garota parece que me persegue e está sempre ao meu lado nos passeios. Outro dia me perguntou o que faço para ter o corpo tão magro e musculoso. Estou meio enferrujado, mas acho que isso é uma cantada. Acontece que eu não quero caso com ninguém. Minha mulher é uma pimenta, mas eu não vivo sem ela.

Parece que se acalmou; é hora de fazer as pazes.