A vida de todo mundo

            A vida de todo mundo

Anelê Volpe, 2021 

        Chegou como uma onda e o medo veio à sua mercê

  Já a aguardávamos ansiosos, veio devagar e calma

  Abraçamos o medo, vestimos máscaras e lavamos as mãos

  Mergulhamos na solidão de nossos lares, de nossas almas

 

  O tempo foi passando e um certo torpor tomou conta de nossos dias

  O que era para durar um tanto, se estendeu mais e mais

  Durou tanto que certo dia amanhecemos como se sempre assim fora

  Foi prometida provisória e breve; mostrou-se definitiva e desoladora

 

  Vivíamos em comunhão com o inimigo

  Já o conhecíamos intimamente, sem nunca tê-lo visto

  Não o queríamos, mas já não o temíamos

  Agora éramos passageiros de um mesmo imprevisto

 

  Espectadores incrédulos, éramos, de nossa própria rotina

  Até que vítimas ganhassem rosto, nome e sobrenome

  Quando então o que era invisível tomava forma

  A forma de um medo silencioso, impronunciável

 

  Sem mais paz aqui e guerra acolá

  Não mais refugiados repatriados

  Agora é o medo que impera em todo lugar

  Todos refugiados em seu próprio lar

 

  A História sempre me encantou com suas histórias

  Jamais imaginei ser sua testemunha ocular

  Não dessa forma, não com esse medo

  Minha vida agora é a vida de todo mundo