Amizade à primeira vista

Amizade à primeira vista

Analê Volpe, 2020

O curto trajeto de ônibus naquela cidade pequena não foi suficiente para abrandar a ansiedade do primeiro dia de aula. A primeira visão do campus arborizado gerou uma mistura de felicidade, orgulho e medo. Sonhei muito tempo com aquele dia e procurava prestar atenção em tudo para guardar para sempre na minha memória.

Desci do ônibus ao lado de muitos jovens como eu, ansiosos como eu, que buscavam nos olhares uns dos outros um apoio para enganar a solidão no meio da multidão. Mais tarde descobriria que alguns deles compartilhariam comigo muitas outras histórias.

Segui aquelas pessoas – e acho que me seguiam também –, na esperança de que me levassem ao lugar correto da primeira aula. Não foi bem assim. Logo nos dispersamos e outras pessoas nos direcionaram aos nossos destinos. Naquele dia, não tive olhos para a paisagem magnífica do campus quase bucólico: um gramado extenso e bem-cuidado, cujo verde brilhava sob o sol forte daquela manhã. A bandeira nacional, solitária no alto de um mastro reinando no centro do gramado, despertou em mim um sentimento de orgulho e responsabilidade. Inconscientemente fiz um juramento de provar que merecia estar ali, no lugar disputado por tantos outros.

Cheguei à sala de aula onde havia apenas outros dois estudantes, um garoto oriental, uma garota bem baixa e gordinha. Sentavam longe um do outro – viriam a ser uma dupla inseparável –, apenas levantaram o rosto para me esboçar um sorriso educado. Disse um oi em troca e sentei à meia distância dos dois, não sei se para me proteger de quem mais chegasse, ou se para me aconchegar de ambos. Nem bem me acomodei e logo ouvimos um riso gostoso e espontâneo se avolumando na sala conforme ela entrava. Muito alva, cabelos finos e loiros nem muito longos, nem muito curtos, alta, mais gorda do que magra, mas não muito, boca pequena, mesmo sorrindo daquele jeito, bochechas rosadas, entrou e iluminou a sala. Vinha em companhia de outra estudante. Tiveram sorte de iniciarem a nova vida em companhia de velha amizade.

Íamos apenas dizer um oi com um sorriso educado, mas não deu tempo. Ela olhou para nós três ao mesmo tempo, com a mesma atenção, e já perguntou se a sala era aquela mesma, se faríamos aquele mesmo curso, quais nossos nomes, de onde vínhamos. A empatia foi instantânea e fomos respondendo a ela e a todos, e ouvindo-nos, e tornando-nos amigos desde então.

Silvana foi minha melhor amiga naquele período escolar. Eu fui uma grande amiga sua. Ela foi amiga de todos nós. Era impossível não gostar dela. As aulas boas e ruins se iluminavam quando ela chegava. Não só pela sua alegria, mas por sua inteligência. Foi, de longe, a melhor aluna da turma. Confessou, muitos anos depois, que competia comigo. Mentira. Ela gostava de imaginar isso apenas para desafiar a si própria. Eu teria que evoluir muito para me equiparar a ela. Além disso, dividi meu tempo universitário com outras vivências, enquanto ela seguia sua vida anterior.

Tivemos sucesso profissional cada uma a sua maneira. A vida nos afastou por um longo tempo, nos reaproximou, nos mostrou que a amizade permaneceu, e hoje quase não nos vemos, mas nos gostamos, e isso é o que importa.