A voz que se calou

A voz que se calou

 

 

Luis Alberto Volpe ou Beto, Volpe, Volpinho, Tito, Carinha, o irmão do Mirinho, do Gui, o filho da Dona Ernesta, todas essas denominações para apenas um menino, que saiu de Sertãozinho bem jovem, ficando jovem até sua partida, aos 67 anos. Era jovem porque não envelheceu seu coração, porque manteve-se sensível, carinhoso, generoso, despreendido e altruista. Era frágil, sem ser fraco; competente, sem ser vaidoso. Sempre foi o Beto, o adolescente dos anos 70, baterista e fundador do Memorial 5.

Beto, o jornalista, repórter, editor, apresentador e locutor esportivo das principais redes de TV do país, era conhecido, reconhecido e admirado por seus colegas. Narrou inúmeros esportes e suas histórias como poucos. Ninguém diria que nunca praticou qualquer um deles. Nada fazia que fosse brusco, violento ou competitivo. Beto era mais do que um belo homem ou uma bela voz. Seu jeito simples e doce conquistou, sobretudo, muitos amigos. E não se morre enquanto se é lembrado.

Dos filhos, foi o mais amado, nem por isso era alvo de ciúmes. Era, de longe, o mais carinhoso, o mais doce, o mais bonito e o mais distante. Tão distante que não conseguimos enxergar suas conquistas. Só nos ocorriam as preocupações. Não aceitávamos seu modo de vida diferente, seu desapego ao dinheiro e outras matérias. Mas bastaria um olhar mais atento, mais empático, e teríamos visto um ser humano sensível, generoso, amoroso, compreensível, altruista.

Descobrimos, após sua partida, quanto e quantos ele conquistou na sua profissão, como era admirado, respeitado e reconhecido como editor, locutor, apresentador e, sobretudo, amigo. E descobrimos, atônitos, o quanto perdemos por não termos conhecimento disso antes. Para nós, preocupados, só existiam problemas. Para outros tantos, só existiam admiração e amizade. Mas ele nada exigia, nem de nós, nem de ninguém. Estava acima disso. Acho que não entendia nossa obsessão, era isso que seu olhar calado transmitia.

Beto se foi logo antes de sofrer, pois não merecia. Foi antes de saber que estava fadado a ir em breve - ao menos era o que nos fazia crer. Deve ter sido levado por aquela que certamente o queria por perto, e que agora olha por nós outros, cercada por dois anjos de cabelos brancos.

Partiu, sim, pois pessoas especiais partem cedo. Não cabem muito bem nesse mundo.

 

18 Fevereiro 2020