Maísa

Maísa

Os oito anos incompletos de Maísa não denunciavam sua verdadeira personalidade. Aquela criança não era como as outras, tinha um comportamento diferente, incompatível com sua idade.

Em família ou com outras crianças, Maísa era uma criança como qualquer outra. Só se revelava especial na interação com adultos, especialmente homens. Havia algo em seu olhar que intrigava seu interlocutor. Não se tratava de apelo sensual, nada disso. O mistério com Maísa se manifestava no seu olhar, na sua forma de falar, naquilo que falava ou que omitia. Ninguém mencionava o efeito que isso lhes causava; preferiam pensar que tudo não passava de impressão ou imaginação. Aqueles que acreditavam em espíritos reencarnados logo imaginavam que aquele corpo de criança era morada de uma mulher experiente e sedutora.

Em conversas triviais, Maísa parecia refletir sobre assuntos que não deveriam estar ao seu alcance; seu olhar parecia denunciar que ela conhecia os segredos mais comprometedores de seu interlocutor; seus lábios em forma de sorriso cínico pareciam evitar o pronunciamento de algo proibido. Especialmente para os homens, Maísa era um mistério e um perigo a serem evitados.

Mas o tempo passou e Maísa cresceu. Tornou-se uma mulher sedutora e ambígua; ao mesmo tempo atraía e constrangia homens e mulheres. Seu olhar misterioso, tal como o sorriso de Mona Lisa, a indefinia; era difícil dizer o que Maísa sentia ou pensava. O olhar que encorajava também intimidava. Então ela seguia só. Suas poucas palavras não eram capazes de denunciar suas paixões. E Maísa tinha uma paixão.

A mesma curiosidade que Maísa sempre despertou, era igualmente sentida por ela. Queria desvendar a mente das pessoas. E observava; daí seu olhar calado. E pensava lograr; daí seu sorriso cínico. Julgava ter um poder especial. E sentia-se diferente e superior. Não se importava em afastar as pessoas, ninguém lhe parecia suficientemente interessante.

Quando quis falar sobre isso, decidiu por uma terapia. Não que seu comportamento fosse um problema para si própria; foi quase uma vontade de se exibir. Pela primeira vez, revelou-se no lugar de tentar revelar, mas não perdeu o mistério que lhe era nato. O resultado foi uma paixão quase à primeira vista. A terapia durou pouco, assim como a união de terapeuta e paciente, mas a primeira paixão de Maísa parece ter servido para colocá-la num mundo menos misterioso. Deixou-se descobrir e envolveu-se indistintamente com homens e mulheres que involuntariamente atraía.

Vários relacionamentos depois, enquanto muitos ainda tentam desvendar os mistérios de Maísa, ela segue definitivamente convencida de que mistérios desvendados são mistérios destruídos e, portanto, é muito melhor que fiquem velados.