Entre as mais velhas

Entre as mais velhas

Anelê Volpe, 2022


Não fui acostumada a estar entre as mais velhas. Filha caçula, quatro irmãs, penúltima e última neta, cresci olhando para cima e me inspirando nas mulheres mais velhas. Sempre foram elas, e não eles, que me fascinaram.

Numa família predominantemente feminina, não tinha a quem cuidar; era cuidada e paparicada.

Na escola, era das mais jovens das turmas. Ainda que entre as melhores alunas, ansiava por estar no lugar das mais velhas. Elas deviam saber mais do que eu sobre aquilo que mais me importava: como era ter aquela idade que eu nunca alcançava?

Pois o tempo passou e tudo mudou. Continuo mais jovem do que muitas, é verdade, mas já sou mais velha do que a maioria das que me rodeiam.

A sensação é estranha. Lembro de mim mesma quando observo os que me veem com aquela reverência que prestamos aos mais velhos. Mas não me reconheço como aquela que soube antes, que já conhece isso ou aquilo, que já viveu o suficiente para evitar aquilo outro, ou mesmo que já não corre determinados riscos.

Ser vista como mais velha me coloca sob uma perspectiva desconfortável. Não consigo sentir o prazer que pensei que sentiria. Não sinto que posso dar aquilo que esperam de mim. Não aprendi a aconselhar, a cuidar como mais velha, a ser exemplo.

Sentir-se mais velha quando se é mais velha não traz o prazer idealizado de quando se era jovem. Não sei se isso ocorre com todos ou se é porque não aprendi a ser mais velha, mas o fato é que a sensação de ser mais jovem está impregnada em mim. Ainda que meu comportamento mostre o oposto, estarei sempre atenta às mais velhas que me rodeiam, me perguntando se em algum momento no futuro também viverei suas experiências, mesmo que elas já não caibam mais na minha idade.

O lado bom dessa história é que aprendi muito cedo a respeitar as que vieram antes de mim e, mesmo muitos anos depois, ainda mantenho meu olhar voltado para elas, ansiando conhecer da vida tudo o que elas já descobriram.