Diário

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Anelê Volpe, 2022

Sexta-feira, 30 de outubro de 2020

23h45

Hoje aquela jararaca da Serena me ligou pra pedir dinheiro emprestado. Precisa ter coragem! Ela que não pense que, só porque casou com meu irmão, a família tem que ficar socorrendo cada vez que o dinheiro acaba. Ainda se estivessem desempregados...mas nem é por isso. Ficam viajando e levando vida de gente que tem dinheiro, e depois não têm dinheiro para o essencial. Mas levou um não na cara. Essa não me liga mais.

Meia hora depois, claro, liga minha mãe me recriminando por não ter emprestado o dinheiro pra Serena. Ora, que ela empreste o dela então! Só porque estou numa situação melhor não quer dizer que tenho obrigação de distribuir meu dinheiro – que sei que não retornaria tão cedo. Ganho porque trabalho, porque estudei, porque me sacrifiquei para chegar onde cheguei. Abri mão de casamento, de filhos, de viagens, de tudo. Alguma compensação tenho que ter. E, se optei por não ter família, por que deveria cuidar da família dos outros?

Por essas e outras, parece que ninguém gosta de mim. Só se aproximam quando precisam. Quero distância também.

Amanhã vou cortar e tingir meus cabelos. Quero um corte mais moderno, acho que vou clarear bastante. Não aguento mais me olhar no espelho. Pareço uma velha. Pensei em arriscar um corte mais radical, estilo joãzinho. Será que vão achar que sou lésbica? E o que me importa? Ia me divertir com a desconfiança deles. Mas acho melhor fazer em duas etapas: primeiro tingir e cortar só um pouco; mais pra frente, cortar mais. Até lá me acostumo com a nova cara.

Aquelas chatas da empresa vão morrer de inveja....já ficam falando de mim pelas costas, que eu sei. Tenho culpa se sou mais competente do que elas? Enquanto se divertiam, eu estudava; agora fazem mil cursos extras tentando ganhar o que ganho. Paciência!

Estou sem sono mas preciso dormir. Vou ver o último capítulo daquela série ruim que comecei e não sei por quê não abandonei. Aposto que a malvada vai se safar de tudo!