Wikileaks: os rastros deixados por um arquivo em movimento

Caroline Foppa Salvagni

UFRGS

 

A organização midiática e sem fins lucrativos Wikileaks trabalha através de seu site www.wikileaks.org na divulgação de documentos originais e oficiais vazados por fontes anônimas ou adquiridos por meios tecnológicos desenvolvidos e adaptados pela própria organização. Correspondências entre embaixadas, relatórios de governos e de outras instituições como a Organização das Nações Unidas sobre os mais diversos temas políticos, econômicos e sociais dos países; questões envolvendo especialmente os Estados Unidos e suas relações com outras nações, além de documentos e relatórios sobre os recentes conflitos e guerras (Iraque, Afeganistão, Síria, etc.) ganharam e ainda ganham destaque na imprensa mundial. O Wikileaks, tratado por nós como um arquivo, nasce de uma falha, ou seja, é pela falha do funcionamento de outros arquivos que ele se torna possível. Cria-se, assim, uma nova forma de acesso e circulação do arquivo. Questionamos, desse modo, como se constitui esse arquivo em suas regularidades específicas, formado pela tomada de discursos provenientes de outros espaços, discursos que formam uma rede de sentidos nascidos a partir mesmo de sua constituição, e que são possíveis de deslocamentos. Através do discurso da imprensa, as vozes desse arquivo ganham diferentes efeitos de sentido, provocando deslizamentos, deslocamentos e silenciamentos que, através de um gesto de leitura, podem ser rastreados e analisados. É este caminho desde a constituição do arquivo do Wikileaks até os efeitos de sentidos produzidos pela divulgação de seus conteúdos pela imprensa que percorremos, considerando os deslocamentos como a própria possibilidade de interpretação desse processo discursivo.