Todxs falam sobre a língua: imaginários implicados numa alteração gráfica

Laís Virginia Alves Medeiros

UFRGS

 

 

Nos meios virtuais de militância feminista, chama atenção um recurso que passou a ser usado para a não marcação de gênero: a substituição das vogais de desinência “a” e “o” pela consoante “x”. Este trabalho, com suporte teórico da Análise do Discurso pecheuxtiana, analisa os imaginários de língua que são mobilizados para justificar essa mudança nas palavras. O conceito de imaginário de língua aqui trabalhado é o proposto por De Nardi e Grigoletto (2001) como “um conjunto de dizeres que, sedimentados, apresentam-se para o sujeito como ‘a verdade’ sobre a língua” (p. 123). No mesmo sentido, é trazida a distinção apresentada por Orlandi (2009) e sistematizada por Lorenset (2013) entre língua fluida e língua imaginária: enquanto esta seria fixada por modelos de gramática e de escrita, aquela não poderia ser contida nesses sistemas rígidos e poderia ser observada na análise dos processos discursivos em seu contexto de produção. Para observar como esses dizeres se articulam em relação à não marcação de gênero pelo uso do “x”, são analisados dois textos publicados em 2013 na revista virtual Geni, centrada no debate de gênero, sexualidade e temas afins. Os textos, de diferentes autores, ambos identificados como feministas, apontam para direções diferentes: enquanto um defende o uso da consoante, outro argumenta a favor da manutenção das vogais. As argumentações fornecem pistas sobre duas posições-sujeito (INDURSKY, 2008) dentro da mesma formação discursiva – a feminista. Foi possível constatar que o debate, ainda que centrado no feminismo, é permeado fundamentalmente pelos imaginários de língua mobilizados pelos autores.