As entrevistas jornalísticas e a Análise do Discurso: um lugar de tensão dos sentidos

Mônica Ferreira Cassana

UFRGS

 

Neste trabalho, procuramos discutir o estatuto que as entrevistas jornalísticas veiculadas na televisão adquirem no âmbito da Análise do Discurso de linha francesa, uma vez que esse discurso se situa em um lugar de entremeio, entre o discurso oral e o discurso escrito, não podendo ser classificado como nem um nem outro. Ignorando essas concepções estanques e acreditando que algumas categorias conhecidas não são suficientes para dar conta dessa forma de materialização do discurso, procuramos discutir a questão da autoria e da memória nesse processo discursivo. Ainda que levemos em consideração que a entrevista jornalística seja um espaço vigiado de produção de sentidos, já que está submetida ao recorte ideológico-midiático, acreditamos que há sempre espaço para alguma transformação de ordem discursiva, que culmina no deslocamento do sujeito entrevistado em sujeito autor. Para isso, levando em consideração os trabalhos de Gallo (2008) e Orlandi (2012), discutimos como a entrevista jornalística veiculada na televisão, ainda que esteja instituída de elementos tanto do discurso da escrita com do discurso da oralidade (GALLO, 2008), afasta-se dessas concepções, inaugurando uma nova compreensão do discurso, onde sujeito entrevistador e sujeito entrevistado revezam suas posições através de uma reversibilidade discursiva na qual, cada um a sua vez, toma a palavra, estabelecendo um jogo polissêmico de dizeres, fazendo com que esse discurso se torne um lugar privilegiado de tensão de sentidos.