DA DETERMINAÇÃO À AUTORIA

Michele Teixeira Passini

UFRGS

Autoria não é uma noção unânime no campo dos estudos discursivos. Para Foucault (1992), por exemplo, nem todo o texto possui autoria, mas sim função-autor, a qual relaciona-se com a circulação e forma de existência dos discursos em uma sociedade. Orlandi (1993), por outro lado, considera que todo texto é dela dotado, uma vez que a autoria refere-se à inscrição de um sujeito no já dito. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo lançar um olhar para essa noção conceitual buscando compreender sua relação com a ideologia, noção basilar na teoria discursiva pecheutiana. Partindo do pressuposto de que a ideologia interpela os indivíduos em sujeito (Pêcheux, [1975] 2009), procuramos entender de forma a autoria poderia acontecer para este sujeito, isto é, de que forma um sujeito determinado pela ideologia pode ser autor. Assim, o sujeito é determinado pela ideologia e não pode dela furtar-se, uma vez, que ela é a sua própria condição de existência. Entretanto, quando Pêcheux afirma que o sujeito é “livremente” assujeitado, nos permite pensar que há uma zona na qual o sujeito pode tomar posições, assujeitando-se, desse modo, a uma ou a outra formação ideológica. Desta forma, temos o intuito de observar a prática da autoria, entendendo-a como um espaço de tomada de posição do sujeito, o qual embora não esteja alheio às injunções históricas oriundas da formação social na qual insere-se,  é capaz de promover nela certas transformações.