ARTESANATO EM CONTORÇÃO PARA ALÉM DA ROTA

Mônica Restelatto (UCS/CAPES)

  

Uma rota turística é um mecanismo que acaba por direcionar o olhar do sujeito a um lugar que faz sentido numa estrutura harmoniosa e organizada. O presente trabalho busca avistar o que parece velado pela rota. É a partir da Análise de Discurso pecheutiana que, faz-se possível, compreender os sentidos que são mobilizados pelos sujeitos que produzem um enunciado. A rota em questão é desenvolvida na cidade de Antônio Prado – RS, que dispõe de um acervo de casas tombadas pelo IPHAN, trazendo um aparato de comidas típicas, eventos, artesanatos, entre outros. O trabalho artesanal demonstra ser o adereço mais marcante e mais comercializável do turismo da cidade. Entre variados tipos de artesanatos surgem as bonecas feitas de palha de milho com vestidos, aventais, chapéus imitando as vestimentas das imigrantes italianas. Estas bonecas com rostos tímidos e recatados e feições introspectivas seriam os brinquedos das meninas daquela época. Atualmente as bonecas são parte do aparato que emoldura o discurso meritocrata da árdua história da imigração italiana. No fugidio olhar, encontra-se o que não encaixa com a formatação pronta proveniente desta história (re)contada. Em um local, além rota, dá-se o estranhamento. Numa comunidade próxima à cidade, em frente a residência de uma família de agricultores de descendência italiana algo foge da guarnição estabelecida do evidente. Bonecos, possivelmente de cimento, com feições fortes e arranjos fálicos. Os bonecos dispostos numa composição com outros materiais de diversas origens, objetos sem mais serventia, agora peças de uma obra a céu aberto que, por não ser parte do pacto social é desconhecido.