Vida, saúde, ciência e educação: re(in)sistindo!

Stela Rattes (UFRGS)

Resistir a que, a quem? Insistir em que? Na base, penso que o ser humano resiste a si mesmo e insiste em si mesmo, apesar de si mesmo, desde sempre. A civilização é um mosaico de potencialidades humanas intrínsecas e antagônicas, apontadas por Edgar Morin, o altruísmo e o egoísmo; uma história de dominação. Apostar nessa trajetória é insistir e resistir. Ter filhos é um grande ato de resistência e insistência.  Resistência a um desamparo e uma descrença que se adensam, na medida em que o presente se mostra tão obscuro em nosso país, no mundo. É insistir na espécie humana. Ter filhos conscientemente - desejá-los - é desejar a continuidade e, por consequência, assumir um compromisso imediato e inalienável com as novas gerações. Não por acaso nasceu assim a Bioética, como um compromisso com a continuidade da vida. E as novas gerações precisam ser educadas para o entendimento. O trabalho em educação, em ciência e na promoção da saúde é uma grande via de resistência, a possibilidade de libertação para uma continuidade onde possa predominar o altruísmo, a expansão da consciência humana e o respeito à vida e ao viver, em suas diferentes formas e expressões. No Brasil atual, na área da saúde e ciências biomédicas, penso que o maior ato de resistência é a defesa ferrenha do Sistema Único de Saúde, do acesso universal aos serviços públicos destinados à promoção, à proteção e à recuperação saúde. Mas, acima de tudo, penso que a mais fundamental resistência e necessária insistência se realizam na educação:  educar a todos, em todos os níveis e âmbitos - sobretudo as crianças - para o entendimento da ciência como um bem, da saúde como um direito, da equidade como um ideal, do conhecimento como a porta para a realização e a preservação da espécie humana e da vida.