Língua e cultura em rede: entre regulação e resistência

Paula Daniele Pavan (UFRGS/CAPES)

 

A apropriação do ciberespaço ao mesmo tempo em que possibilita a circulação de discursos de resistência, permite a propagação de discursos reguladores – é, pois, sobre esse jogo entre regulação e resistência em seus desdobramentos nas ordens da língua e da cultura que me detenho neste trabalho. De início, trago brevemente as perspectivas histórica, antropológica e discursiva sobre cultura, observando sobretudo o modo como enquanto sob a ótica antropológica os efeitos de sentido para cultura remetem à totalidade e à homogeneidade, e sob a perspectiva discursiva a cultura materializa-se pela incompletude e heterogeneidade. Gesto teórico semelhante realizo com a noção de língua ao observar que, no âmbito da linguística tradicional, a língua se apresenta como um sistema fechado e autônomo; e no seio da Análise do Discurso pecheutiana possui autonomia relativa abrindo-se para a história que passa a lhe ser constitutiva. Essa introdução teórica das noções nos ajuda a refletir a respeito da regulação que incide sobre elas no âmbito do ciberespaço, espaço que, ao contrário do que se pensava quando de seu surgimento, não só pode levar a abertura para o diferente, o divergente e o contraditório, mas também pode servir para a manutenção, a repetição e a conservação dos saberes já-lá (cfe. Mittmann, 2013). E é essa tendência reprodutiva que observamos incidir sobre a língua e a cultura, pois através de discursos que circulam tanto em redes sociais, quanto em sites de notícia há uma tentativa de regular o que, no imaginário dos sujeitos, seria delas legítimo, e o que precisaria ser banido, expurgado, rejeitado. Assim, observamos que as ciberferramentas são apropriadas para, contraditoriamente, resistir ao diferente, ao múltiplo e ao diverso. Ou seja, a resistência trabalha ao avesso, pois ao invés de apontar para a transformação, aponta para a reprodução de saberes dominantes e sedimentados historicamente.