Os Museus e os Deslocamentos de Sentidos

Mirella de Jesus Honorato

UCS 

A instituição Museu tem se transformado durante sua trajetória histórica em suas especificidades conceituais. Uma de suas principais funções é criar um espaço onde o visitante possa conhecer e estabelecer uma relação com o objeto musealizado. Vista com aporte da Análise de Discurso (A.D.), a definição do que será acervo pode ser considerada sob o aspecto da autoria. Na autoria, com o deslocamento da atribuição de sentido de um objeto de cotidiano para um objeto artístico/histórico, o Museu seria o autor de um novo sentido para cada peça que incluí em sua coleção: um sentido sacralizado de objeto museológico. Mas este sentido também tem seu lugar arbitrário, se for levado em consideração que o espaço museológico é o lugar das memórias coletivas e um grupo restrito de profissionais decide o que deve ser guardado, podemos nos perguntar: qual a representatividade dessa escolha? Trazendo a análise para o campo de interlocuções entre a A.D., a Museologia e o Turismo, utilizarei o exemplo de uma exposição intitulada “Capelinhas: memória e fé” que montei no Museu dos Capuchinhos, em Caxias do Sul, no ano de 2012, com oratórios domiciliares itinerantes. A mostra teve um aumento de público de  70% em comparação a exposição anterior. Como explicar essa procura do público, por um objeto já tão conhecido, levando em consideração que a pesquisa feita pelo Museu apontou que a maior parte dos visitantes eram católicos?  Gastal e Moesch (2007) consideram como Turista aquela pessoa que, ao sair do seu cotidiano tem uma experiência de estranhamento. Para Freud (apud CAMPOS 2012) o estranhamento é algo da ordem do familiar, algo tão corriqueiro e banal, que ao ser re-visto, re-olhado é estranhado. Ao trazer as Capelinhas para o espaço museológico consagrado como espaço da arte, o Museu foi o autor do deslocamento de seu sentido.