Arte e Museu – das ruas para a rede: uma leitura discursiva

Paula Daniele Pavan

UFRGS

 

Este trabalho mobiliza as noções de arquivo e formação discursiva (FD) para tecer uma leitura sobre o Projeto Arte fora do Museu, o qual objetiva fazer com que grafites, murais, esculturas, arquiteturas – espalhados pelas ruas, despercebidos e/ou vistos como parte da paisagem das cidades – passem a ser interpretados como arte. Procuramos compreender o modo como as concepções de arte e de museu desencadeiam certos efeitos de sentido e em que medida se atribui o sentido de obra de arte a alguns objetos simbólicos. Quanto à concepção de arte, observamos que há sempre direcionamento para o que é, para o que não é e/ou não pode ser considerado arte. Já a concepção de museu desencadeia o efeito de lugar de curadoria oficial, com a tarefa de efetuar tal direcionamento, através da leitura dos objetos e da constituição de arquivos. As duas concepções são ressignificadas no Projeto, visto que os gestos de interpretação são feitos não por curadores, mas pelos organizadores do site; e os objetos simbólicos, ao entrarem para a coleção virtual, passam a ser significados como obras de arte, sendo discursivizados a partir de uma outra posição-sujeito inscrita em determinada FD. Referência que engloba, no entanto, uma arte denominada/diminuída, pois não é da arte erudita que se fala, mas da arte popular que não tem espaço dentro do museu, mas o ganha na rede digital. Nesse sentido, o jogo de forças entre o popular e o erudito materializa-se já no nome do projeto: se há arte fora do museu, há uma arte que está dentro do museu. Ademais, museu e arte – concepções já forjadas no seio da cultura erudita – no Projeto são redirecionadas, incorporando elementos periféricos-populares, levando-nos a refletir sobre as relações de poder como constitutivas da produção de alguns sentidos em detrimento de outros.