Leia o texto a seguir para responder os exercícios
A Revolução Russa de 1917
Antecedentes da Revolução Russa.
Em 1917, o povo russo, liderado pelo Partido Bolchevista, derrubou o governo Autocrático de Nicolau II. Esse partido assumiu o poder, instalando no país o regime socialista.
O Czar (rei) Nicolau II exercia o poder de forma absolutista, com uma aristocracia ociosa e corrupta, indiferente aos problemas do povo.
A população da Rússia era de aproximadamente 175 milhões de habitantes. Os camponeses representavam 85% dessa população e viviam miseravelmente.
O preço das terras era muito elevado e os camponeses não tinham condições de adquiri-las ou cultivá-las e ocorriam constantes revoltas no campo.
Nas cidades, os operários enfrentavam condições bastante precárias, com jornadas de trabalho de até 14 horas, salários baixos e sem nenhuma legislação trabalhista.
O descontentamento fez o povo aderir às idéias socialistas divulgadas por estudantes e intectuais das universidades. Eles organizaram os operários para lutar por seus direitos.
Num congresso realizado pelo Partido Operário Social Democrata, em 1903, surgiram dois grupos: os Bolcheviques e os Mencheviques.
Os bolcheviques (que significa Maioria) defendiam a tomada do poder pelo proletariado, o qual, aliado aos camponeses, instalaria um governo socialista.
Os mencheviques (que significa minoria) defendiam que, antes de chegar ao socialismo, o país deveria passar por uma fase capitalista, na qual o governo seria exercido pela burguesia.
Em 1904, a Rússia entrou em guerra com o Japão pela disputa de territórios na Manchúria e na Coréia, na qual o exercito russo foi derrotado.
A situação financeira da Rússia agravou-se, e as criticas a administração do governo aumentaram. Em janeiro de 1905, o povo realizou uma grande concentração diante do Palácio de Inverno para reivindicar uma constituição, eleições, redução da jornada de trabalho e aumento de salários.
As tropas do governo reagiram com violência, e muitas pessoas foram mortas. Esse acontecimento ficou conhecido como Domingo Sangrento.
Protestos, greves e levantes militares explodiram em várias regiões, e o Czar, pressionado, prometeu uma constituição e criou a Duma, assembléia eleita por voto censitário.
As promessas do Czar não acalmaram os bolcheviques, levando-os a criar os Sovietes, assembléia de operários, soldados e camponeses, em várias regiões do país, e a ativar o movimento revolucionário.
O Czar não conseguiu conviver com a Duma e voltou a sua posição autoritária. Dissolveu também os sovietes, e seus lideres foram presos e deportados.
A crise interna agravou-se com a entrada da Rússia na Primeira Guerra Mundial, contra a Alemanha e o Império Austro-húngaro, levando ao movimento revolucionário.
Com a guerra mundial, todos os recursos do governo russo passaram a ser usados na industria de armamentos.
Por causa da convocação de trabalhadores para compor o exercito, a produção agrícola declinou. Mal preparado, o exercito russo sofreu inúmeras derrotas nas fronteiras.
A destruição de plantações fez o preço dos produtos subir, e a fome atingiu duramente o povo. A fuga de soldados dos campos de batalha foi incentivada pelos bolcheviques.
Do exterior, os lideres Lênin e Trotski continuaram orientando os revolucionários. As greves, os levantes nas forças armadas, a luta dos camponeses pela terra e a invasão do palácio de Inverno pelos revolucionários fizeram com que o Czar abdicasse.
O que foi a Revolução Russa de 1917?
Como era a situação da Rússia antes da Revolução de 1917?
Num congresso realizado na Rússia pelo Partido Operário Social Democrata, em 1903, surgiram dois grupos quais?
O que defendiam os Bolcheviques?
O que defendiam os Mencheviques?
O que foi o Domingo Sangrento?
O que eram os Sovietes?
Qual o fato que aumentou a crise interna da Rússia e fez crescer o movimento revolucionário?
Quais os fatores que levaram o Czar Nicolau II, da Rússia, a abdicar em 1917?
Leia o texto a seguir para responder os exercícios.
A Revolução Russa de 1917
O poder nas mãos dos Mencheviques
Formou-se na Rússia um governo liberal burguês liderado pelo menchevique Kerenski. Pressionado pelos sovietes, o governo anistiou os presos e exilados políticos. Lênin e Trotski, bolcheviques, retornaram ao país, assumindo a direção dos sovietes.
Iniciaram uma campanha, sintetizada no slogan “Pão, terra e paz”, que significava:
Entrega da direção das fabricas aos operários;
Distribuição de terras aos camponeses;
Retirada da Rússia da guerra.
Trotski organizou a Guarda Vermelha, milícia revolucionária. Entretanto, o governo mantinha a Rússia na guerra, alegando que a indenização exigida pelos alemães para sua saída era muito alta.
Com isso, os bolcheviques fortaleceram-se e ganharam adeptos nos sovietes.
Os Bolcheviques tomam o poder
Em outubro de 1917, formou-se o Partido Bolchevique (comunista), que tomou o poder e instalou um governo socialista presidido por Lênin.
As grandes propriedades foram abolidas, as fabricas foram nacionalizadas e os operários assumiram a sua direção.
Lênin negociou a paz com os inimigos e, pelo Tratado de Brest Litovski, a Rússia saiu da guerra, com grande perda territorial.
A burguesia russa levantou-se contra o novo regime. Foi apoiada pelas nações capitalistas europeias, interessadas em impedir a implantação do socialismo.
A guerra civil dos brancos (opositores) contra os vermelhos (comunistas) tomou conta do país. O governo viu-se obrigado a destinar todos os recursos para a defesa das fronteiras, confiscando a produção rural. Esse período foi chamado de Comunismo de Guerra.
Em 1921, derrotados os brancos e afastada a ameaça externa, o país estava arruinado. Lênin decidiu recuar no processo de socialização e adotou uma nova política.
A Nova Política de Lênin
Lênin definiu a nova política, a NEP (Nova Política Econômica), com a frase: Um passo atrás para dar dois à frente. Tratava-se de um recuo necessário no processo de socialização.
Liberou a venda do excedente das colheitas e o funcionamento de pequenas manufaturas. Concentrou os recursos na produção de energia, matérias-primas e na importação de maquinas para a industria e organizou cooperativas de comerciantes e agricultores. A produção cresceu.
Em 1922, Lênin fez acordo com as várias regiões que formavam o império russo, criando a União das Republicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Com a morte de Lênin, em 1924, o poder foi disputado por Trotski e Stalin, que tinham posições divergentes, Trotski defendia a revolução permanente, isto é, achava que a Rússia deveria ajudar na implantação do socialismo em outros países, Stalin era favorável a estabilização don regime para depois expandi-lo.
Vitorioso Stalin expulsou Trotski do Partido Bolchevique e autorizou sua deportação. Trotski viveu no México, onde foi assassinado, em 1940, por um agente da policia política de Stalin.
Em 1927, Stalin aboliu a NEP e, por meio de planos econômicos, os Planos Qüinqüenais, continuou o processo de socialização. A Rússia cresceu rapidamente com o desenvolvimento da industria pesada, a redução do analfabetismo e o progresso técnico e cientifico.
Stalin perseguiu violentamente seus opositores e realizou os expurgos, expulsando do Partido Comunista seus adversários, alem de prender todos os que reagiram ao seu autoritarismo.
Quem liderou a Rússia logo após a abdicação de Nicolau II?
Quais eram os pontos básicos da campanha dos bolcheviques em 1917? Qual o slogan que sintetizava esses pontos?
Quais foram às primeiras medidas do Partido Bolchevique quanto tomou o poder na Rússia?
Como a burguesia russa reagiu quando o Partido Bolchevique tomou o poder?
O que foi a NEP?
O que ocorreu na Rússia após a morte de Lênin?
O imperialismo é caracterizado por uma política de expansão de uma nação sobre outra, e sua manifestação no século XIX é chamada também de neocolonialismo.
O termo imperialismo é utilizado para referir-se às práticas da política em que uma nação buscava promover uma expansão territorial, econômica e/ou cultural sobre outra nação. A utilização da palavra imperialismo pode ocorrer em contextos atuais como, por exemplo, quando um país resolver intervir militarmente em outro.
O termo “imperialismo” também é muito utilizado para fazer referência ao processo de colonização da África, Ásia e Oceania, que se iniciou na segunda metade do século XIX. Esse processo também é conhecido entre os historiadores como neocolonialismo. Durante o neocolonialismo, cerca de 25% das terras do planeta foram ocupadas por alguma potência imperialista.
As seguintes potências imperialistas tiveram um aumento significativo no tamanho de seus territórios e isso foi motivado pela dominação e a criação de colônias na Ásia, África e Oceania.
Segue os dados abaixo:
· Inglaterra: teve um aumento de 10 milhões de km2 em seu território.
· França: teve um aumento de 9 milhões de km2 em seu território.
· Alemanha: teve um aumento de 2,5 milhões de km2 em seu território.
· Bélgica e Itália: teve um aumento de 2 milhões de km2 em seu território.
Além dessas, outras nações como Portugal, Espanha, Rússia, Estados Unidos, Japão etc. foram enxergadas como praticantes de políticas imperialistas. A influência do imperialismo sobre o planeta foi tamanho, e continentes como a África, até hoje, colhem as consequências desse processo de dominação colonial.
O imperialismo, na definição dada acima, surgiu como consequência das transformações causadas pela Revolução Industrial. Essa revolução foi iniciada pioneiramente na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII, e causou transformações profundas. A partir dela, houve o surgimento da indústria, e mudanças nos modos de produção e nas relações patronais aconteceram.
A Revolução Industrial resultou no surgimento de novas máquinas, novos meios de comunicação, novos meios de transporte e foi responsável pela utilização de combustíveis fósseis. Com o desenvolvimento da indústria, o comércio transformou-se, não somente em nível local, mas também em escala global.
Essa expansão do comércio por meio da Revolução Industrial aconteceu, porque o processo de produção de mercadorias cresceu consideravelmente. Com o crescimento na produção de mercadorias, as nações industrializadas precisaram ampliar seu acesso às matérias-primas utilizadas na produção e também de ampliar a sua capacidade de venda, isto é, eram necessários novos mercados consumidores.
Uma causa que explica, em grande parte, a expansão colonial da segunda metade do século XIX é a busca por novos mercados consumidores e fontes de matérias-primas. Isso porque acreditava - se que a grande quantidade de mercadorias produzidas seria absorvida com a expansão dos mercados consumidores.
O ‘novo imperialismo’ foi o subproduto natural de uma economia internacional baseada na rivalidade entre várias economias industriais concorrentes, intensificada pela pressão econômica dos anos 1888. Motivadas pela expansão econômica, as nações européias, principalmente, iniciaram o processo de expansão territorial.
Dentro do processo neocolonialista que aconteceu no século XIX, a ocupação do continente africano teve grande destaque. Isso porque o continente africano foi amplamente impactado pelo imperialismo, uma vez que, no auge do ciclo imperialista (entre 1884 e 1914), o continente teve apenas dois territórios que não foram ocupados: Libéria e Etiópia.
O historiador Valter Roberto Silvério aponta que três acontecimentos entre 1876 e 1880 foram cruciais para iniciar a corrida de ocupação do continente africano:
1. A Conferência Geográfica de Bruxelas, encontro promovido por Leopoldo II, rei da Bélgica, com o objetivo de desenvolver os interesses dos belgas na região do Congo;
2. As ações de Portugal para expandir seu domínio sobre as regiões do interior de Moçambique;
3. A política francesa para promover sua expansão colonial em regiões da África como Egito, Tunísia e Madagascar.
Esses acontecimentos deram início a uma corrida pela ocupação do continente africano que resultou em uma série de atritos entre as nações européias. Em decorrência disso, Otto Von Bismarck, chanceler alemão, buscando defender os interesses da Alemanha e pôr fim a essas disputas, organizou a Conferência de Berlim, entre 1884 e 1885.
Algumas das pautas debatidas na conferência foram às questões relativas à navegação dos rios Congo e Níger, a questão do mapa cor-de-rosa proposto por Portugal, e também foi organizada a divisão do continente africano, isto é, estabelecidas as fronteiras entre as regiões e estipulado quais nações teriam direitos sobre os territórios.
A ocupação do continente africano ocorreu sob a justificativa de ser uma “missão civilizatória”, na qual as nações européias levaram a civilização para os povos “atrasados” da África. A exploração do continente para fins econômicos também utilizava – se de missionários. Todas essas justificativas utilizadas partiam de ideais racistas, como o darwinismo social, que estipulava que o homem branco era “superior”.
Hoje, sabemos que as justificativas utilizadas não passavam de disfarce para os reais interesses que eram de promover a exploração econômica do continente africano. A ocupação do continente africano, por sua vez, não aconteceu de maneira pacífica, pois os povos africanos lançaram dura resistência contra a presença européia.
O imperialismo foi muito forte no mundo, durante o período citado (entre 1884 e 1914), mas a presença de europeus como colonizadores na África e na Ásia ocorreu até a segunda metade do século XX. O imperialismo deixou graves consequências nesses locais, como:
· A demarcação de fronteiras artificiais gerou impactos negativos até hoje na África e causou inúmeras tensões entre as nações africanas.
· Durante o neocolonialismo, surgiu uma série de disputas étnicas influenciadas por ação européia. Um dos casos mais notáveis aconteceu em Ruanda, região que havia feito parte do Congo Belga. Em 1994, um massacre de grandes proporções aconteceu no país, e Hutus foram responsáveis pela morte de aproximadamente 1 milhão de Tutsis.
· A exploração econômica deixou marcas profundas e, até hoje, a maioria absoluta dos países africanos sofre com economias instáveis.
· Os nativos foram sujeitos a uma violência escabrosa. Um caso notável foi no Congo Belga, quando 10 milhões de pessoas morreram fruto da violência colonial dos belgas.
“A colonização portuguesa e espanhola do século XVI havia se limitado quase que exclusivamente à América. No século XIX, porém, a necessidade de expansão dos mercados consumidores de produtos manufaturados e de controle sobre as regiões fornecedoras de matéria-prima deu início a nova corrida colonial, empreendida principalmente pelas potências industriais da Europa.” (Piletti, Nelson / Arruda, José Jobson de A. Toda a História: História Geral e História do Brasil. Ed. Ática – São Paulo, 2006.p, 298.)
1.Explique a diferença fundamental entre o colonialismo europeu exercido no século XVI e o neocolonialismo exercido no século XIX.
(UERJ – RJ) “Se tivéssemos de definir o imperialismo da forma mais breve possível, diríamos que ele é a fase monopolista do capitalismo”. (LENIN, V.I. O imperialismo: fase superior do capitalismo. São Paulo: Global, 1987.)
2. Indique, tomando como ponto de referência o texto acima, dois fatores que estimularam a expansão imperialista.
PROF. SERGIO ALENCAR
Imperialismo: discurso racista no Brasil.
Prezados alunos,
Segue o tema da aula dessa semana. Está baseada na vídeo aula exibida no Centro de Mídias, em 12 de maio. Caso você não tenha assistido, segue abaixo o link da aula no Youtube.
Veja a aula, anote as dúvidas. Todos os slides apresentado na aula estão copiadas nesse texto.
Se cuidem e fiquem em casa!!!
Link da aula:
Importante: Após a lei Aurea, deveria ter sido feita uma lei de integração do negro na sociedade.
As teorias racistas
Na virada do século XIX para o XX, uma série de teorias racistas (darwinismo social, eugenia, branqueamento) circulava entre alguns meios intelectuais e procurava definir certos grupos étnicos como inferiores, defendendo que sua condição social e econômica estava atrelada a características naturais e que, portanto, nada poderia ser feito para alterar sua situação socioeconômica.
Alguns teóricos acreditavam que a responsabilidade do homem branco seria levar o modelo de civilização europeia para as outras partes do mundo. Esse movimento desconsiderava e procurava suprimir aspectos culturais de outras sociedades.
A Redenção de Cam. Pintura de Modesto Brocos, 1885. A obra aborda teorias racistas do século XIX, como o “branqueamento gradual das gerações pela miscigenação”.
Descrição da imagem: Uma família brasileira que a cada geração se torna “mais branca” (avó negra do lado direito da imagem, no centro a mãe, mulata com seu bebê branco no colo, e o pai da criança do lado esquerdo, um homem branco). Coleção do Museu de Belas Artes, RJ.
Vamos criar um slogan?
• Por meio de um “folheto”, elabore um slogan que contemple os preceitos de igualdade da
Constituição Brasileira de 1988, quando explicita que as pessoas são iguais, possuem os mesmos direitos, independentemente de sua cor, raça ou etnia. Você pode enviar seu slogan para seus colegas de sala ou mesmo para seu professor!
Para isso, considere: a construção histórica sobre as supostas raças “superiores” e “inferiores” deixou raízes que se refletem na desiguladades étnicas, sociais e econômicas no mundo. O Brasil, que como colônia portuguesa, também escravizou povos africanos, sendo hoje o maior país com população negra fora da África, também possui permanências adivindas da escravidão, revelando uma profunda desigualdade em nossa sociedade.
Democracia racial é o estado de plena igualdade entre as pessoas independentemente de raça, cor ou etnia. No mundo atual, apesar do fim da escravização e da condenação de práticas e de ideologias racistas, ainda não existe democracia racial, visto que há um abismo imenso que segrega populações negras, indígenas e aborígines da população branca.
Quando falamos em democracia em sentido amplo, não estamos falando apenas de possibilidade de participação política, mas também de igualdade de direitos, igualdade social, igualdade racial e liberdade garantida a todas as pessoas.
Pensar em democracia racial requer, portanto, pensar em uma sociedade em que todas as pessoas, independentemente de sua origem étnico-racial e da cor de suas peles, sejam livres e tenham direitos iguais.
Devido ao passado de escravidão, racismo e exploração de territórios africanos por parte de nações européias que deixou uma imensa cicatriz de preconceito e discriminação em nossa sociedade, além do terrível holocausto que sentenciou à morte injusta milhões de judeus, a Organização das Nações Unidas (ONU) promulgou, em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. A declaração enfatiza a igualdade de direitos entre todos os seres humanos, independentemente de raça, cor, religião, nacionalidade ou gênero.
Segundo o art. 2 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, “todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição”|1|. O reconhecimento de direitos iguais por parte da ONU consiste num importante passo para o estabelecimento da democracia racial no mundo.
A Constituição da República Federativa Brasileira de 1988 também enfatiza o estabelecimento de direitos iguais entre pessoas independentemente de qualquer elemento distintivo. O art. 5 da Constituição diz o seguinte: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”|2|. Apesar de não mencionar diretamente a questão étnico-racial, o trecho citado do documento atesta que não pode haver discriminação de qualquer natureza, ficando implícito que discriminação racial não é permitida.
Os documentos citados são ferramentas importantes para a construção de uma nação onde haja democracia racial, no entanto, não basta a promulgação da lei, sendo necessário que ela seja cumprida. Para além da discriminação e do preconceito racial, muito precisa ser feito para que um país seja, de fato, considerado uma democracia racial.
Devido ao fato de existir um racismo estrutural que segrega negros e brancos em classes sociais diferentes, que dificulta o acesso da população negra a serviços básicos de educação, saúde, segurança e ao emprego digno, faz-se necessária à tomada de medidas de reparação histórica para que uma nação seja, de fato, uma democracia racial.
A resposta imediata à pergunta iniciada no tópico é “não”. Não existe democracia racial no Brasil, como não existe democracia racial em qualquer lugar do mundo. Existe, no máximo, um mito de uma democracia racial pelo fato de o racismo aqui não ser tão evidente quanto é nos Estados Unidos, na Europa ou na África do Sul.
Os Estados Unidos e a África do Sul mantiveram sistemas legais de segregação racial que perduraram, no caso dos Estados Unidos, até a década de 1960 e, no caso sul-africano, até a década de 1980. Nesses casos, a população negra era tratada como cidadã de segunda categoria, tendo acessos restritos a serviços públicos e direitos civis restritos ou até negados.
Desde a abolição da escravatura no Brasil, nunca houve lei restritiva que segregasse oficialmente a população negra da população branca. No entanto, há uma ideologia racista que perdura até hoje e, sobretudo, há um racismo velado, estrutural, que mantém a população negra à parte da plenitude de seus direitos em nosso país.
Segundo Kabengele Munaga, congolês naturalizado no Brasil e professor emérito de Antropologia da USP, “a democracia só será uma realidade quando houver, de fato, igualdade racial no Brasil e o negro não sofrer nenhuma espécie de discriminação, de preconceito, de estigmatização e segregação, seja em termos de classe, seja em termos de raça. Por isso, a luta de classes, para o negro, deve caminhar juntamente com a luta racial propriamente dita”|3|. Desse modo, o racismo estrutural brasileiro é um impedimento para que haja ascensão social dos negros, e, enquanto houver distinção de classes sociais marcada também pela cor da pele, é impossível falar-se em uma democracia racial.
O racismo estrutural é aquele que não é explícito em um preconceito e uma discriminação claras e distintas, ele está enraizado na sociedade. O racismo estrutural finca-se nas bases da sociedade brasileira e só é perceptível por um olhar apurado que veja a discrepância de renda, de empregabilidade e de marginalização da população negra em relação à população branca. Pelo fato de o Brasil não ter apresentado um projeto oficial de segregação entre negros e brancos, houve aqui a disseminação de uma ideologia (ou mito) da democracia racial.
Mito é algo irreal, inexistente, uma narrativa fantasiosa. Falar em “mito da democracia racial” leva-nos a interpretar que a democracia racial não existe. De fato, atualmente, sobretudo no Brasil, a democracia racial é uma lenda. Boa parte do senso comum afirma que no Brasil não há racismo, que nele há uma democracia racial pelo fato de não haver uma divisão de raças tão forte quanto há nos Estados Unidos atualmente.
A origem mais forte e sociologicamente descrita do mito da democracia racial aqui no Brasil advém dos escritos do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre. Freyre foi um estudioso da sociologia e da antropologia no Brasil, no século XX. Apesar de situar-se no período pré-científico da sociologia brasileira (quando os sociólogos eram intelectuais e eruditos com formações em outras áreas, como o direito e a filosofia, mas dedicavam-se a estudar sociologia), o pensador pernambucano graduou-se e doutorou-se em ciências sociais nos Estados Unidos, desenvolvendo uma tese sobre a organização social do Brasil colonial.
Em Casa grande e senzala, a obra mais difundida desse autor, ele vai na contramão das teorias do chamado racismo científico do início do século XX, que defendiam a pureza racial e o “branqueamento” do povo brasileiro como ponto de partida para chegar-se a um estágio de maior evolução social. Para o sociólogo brasileiro, era a miscigenação que gerava um povo mais forte e capaz de maior desenvolvimento. O problema da tese de Freyre é que ela considerava como certa a existência de uma relação cordial entre senhores e escravos no período colonial brasileiro.
Segundo o sociólogo, os senhores mantinham uma relação de cordialidade com seus escravos e escravas, mantendo com estas, muitas vezes, relações sexuais. O problema dessa visão é que ela não enxerga que a cordialidade do escravo para com o seu senhor advém do medo e que as relações sexuais entre escravas e senhores brancos eram, na maioria das vezes, estupro ou consentidas por elas por conta do medo que tinham de sofrer castigos ao negarem-se a tal ato. O mesmo fenômeno aconteceu com as índias brasileiras e os brancos.
Esse ciclo de abusos sexuais resultou nos primeiros casos de miscigenação no Brasil ainda no século XVI e intensificou-se até o fim da escravidão. Não podemos dizer que toda a miscigenação do período seja fruto de abuso e de estupros, mas a maior parte foi. Acontece que em outros países, como os Estados Unidos, que também tiveram grande parte da mão de obra da época baseada na escravização de povos africanos, quase não houve miscigenação. Esse fato, arriscamos dizer, não aconteceu por falta de cordialidade entre povos negros e colonos nos Estados Unidos, mas por conta da moral protestante de origem anglicana (a Igreja anglicana era a mais forte entre os colonos ingleses nos séculos XVII e XVIII), que condenava veementemente e de maneira mais severa qualquer ato sexual que não fosse para a procriação dentro do casamento.
De fato, dado o fim da escravidão, pode-se constatar no Brasil a grande miscigenação entre negros de origem africana, brancos de origem européia e índios nativos das terras brasileiras, o que difere nosso país de todos os outros territórios colonizados no Ocidente. No entanto, o racismo persistiu ainda por muito tempo de maneira descarada, pública e impune e, ainda hoje, persiste nos âmbitos privado e público de maneira velada e estrutural.
Autores como Kabengele Munaga, o saudoso sociólogo brasileiro e professor da USP Florestan Fernandes, o artista e político Abdias do Nascimento, a escritora Conceição Evaristo, entre outros nomes, são os responsáveis por desmistificar a idéia da existência de uma democracia racial no Brasil.
O racismo estrutural e a crença de que não há racismo no Brasil são grandes inimigos na luta por uma sociedade mais justa. Assim como a homofobia e a misoginia, o racismo é um entrave para que se forme uma sociedade brasileira baseada nos pilares democráticos e republicanos da igualdade e da liberdade.
Notas
|1| DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, ONU, 1948.
|2| BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988. 53. ed. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2018, p. 9.
|3| Discurso de Kabengele Munaga, em matéria do portal GGN,
1- (UENP) Do ponto de vista sociológico, o Brasil se constituiu sobre o mito da democracia racial principalmente depois da publicação de Casa grande e senzala de Gilberto Freyre (2003). De acordo com Florestan Fernandes (1965) o ideal de miscigenação fora difundido como mecanismo de absorção do mestiço não para a ascensão social do negro, mas para a hegemonia da classe dominante. O mito da democracia racial assentou-se sobre dois fundamentos: 1) o mito do bom senhor; 2) o mito do escravo submisso. Analise as afirmações:
I. A crença no bom senhor exalta a vulgaridade das elites modernas, como diria Contardo Calligaris, e juntamente com uma espécie de pseudocordialidade seriam responsáveis pela manutenção e o aprofundamento das diferenças sociais.
II. O mito do escravo submisso fez com que a sociedade de um modo geral não encarasse de frente a violência da escravidão, fez com que os ouvidos se ensurdecessem aos clamores do movimento negro, por direitos e por justiça.
III. As proposições legislativas sobre a inclusão de negros vão desde o Projeto de Lei que reserva aos negros um percentual fixo de cargos da administração pública, aos que instituem cotas para negros nas universidades públicas e nos meios de comunicação.
Assinale a alternativa correta:
a) todas as afirmações são verdadeiras.
b) apenas a afirmação II é verdadeira.
c) as afirmações I e III são verdadeiras.
d) as afirmações I e II são falsas.
e) todas as afirmações são falsas.
2- É correto dizer que Gilberto Freyre procurou pensar a formação da sociedade patriarcal brasileira,a partir da publicação de Casa Grande & Senzala, influenciado:
a) pelas teorias raciais do nazismo.
b) pela antropologia de Franz Boas.
c) pelo marxismo britânico dos anos 1920.
d) pela teoria crítica da Escola de Frankfurt.
e) pelo pensamento autoritário do fascismo italiano
3- (UNICENTRO) “Quando se menciona o trabalho escravo no Brasil, a primeira lembrança é a da escravidão negra. Realmente, foi ela a mais marcante, a mais longa e terrível; mas o trabalho escravo se inicia no Brasil com a escravidão indígena” (Tomazi, Nelson Dácio (coordenador). Iniciação à Sociologia. São Paulo: Atual, 2000, p.62). Considerando a realidade estabelecida pela implantação do trabalho escravo dos negros africanos trazidos ao Brasil, assinale a alternativa incorreta.
a) As condições de vida dos escravos africanos eram terríveis, razão pela qual a média de vida útil deles não ultrapassava os quinze anos.
b) Os negros africanos reagiram à escravidão das mais diversas formas: através das fugas, dos quilombos, da luta armada, da preservação dos cultos religiosos, da dança, da música.
c) O negro é parte integrante da história brasileira, apesar dos muitos preconceitos que ainda persistem contra eles.
d) O Brasil figura entre os primeiros países latino-americanos a declarar por meio de muitas leis, até a promulgação da lei áurea, a libertação de seus escravos.
e) O fim do tráfico de escravos, no Brasil, ocorreu em meados do século XIX, quando começaram algumas experiências com a mão de obra assalariada de estrangeiros.
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL: ANTECEDENTES
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ORIENTAÇÃO
Prezados alunos.
As atividades dessa semana referem-se aos conteúdos referente a vídeo aula sobre os antecedentes da Primeira, Guerra Mundial.
Você pode assistir a aula por meio do link:
https://www.youtube.com/watch?v=ufOMnak7Czo
Anote suas dúvidas e faça as atividades para serem entregue em 08 de junho. Envie suas respostas por um dos e-mails a seguir: profpaulogeo@gmail.com ou paulorobertoandrade@prof.educacao.sp.gob.br
Dica: faça as questões ao mesmo tempo que assiste o vídeo.
Bons estudos e se cuidem!!!
Aqui você tem acesso as telas que foram apresentadas no vídeo, mas é importante que você assista para entender o conteúdo.
Prezado(a) Aluno(a),
Por gentileza, sempre que realizar uma atividade e enviar para o seu respectivo professor, é obrigatório o seguintes dados abaixo;
Nome:
Turma:
Nº:
Duvidas enviar no seguinte e-mail: Profpaulogeo@gmail.com;
INSERIDO EM: 04-06-20
Imperialismo na África e Ásia e seus desdobramentos
História – 3ª série C
Prezados alunos,
Segue o tema da aula dessa semana. Está baseada nas vídeo aulas exibidas no Centro de Mídias, em 7 e 8 de maio. Caso você não tenha assistido, segue abaixo o link da aula no Youtube.
Veja a aula, anote as dúvidas. Todos os slides apresentados na aula estão copiados nesse texto.
Envie a atividade final (produção do slogan) e as eventuais dúvidas para paulorobertoandrade@prof.educacao.sp.gov.br
Se cuidem e fiquem em casa!!!
Link da aula: https://www.youtube.com/watch?v=hSWd7U-4Jog&list=PLwmdoOBGElh7_rkGtla_O80waj9K1tGd
Temas importantes:
• Período do imperialismo: final do século XIX e início do século XX.
• Não havia uma potência mundial importante. Há países fortes, mas não hegemônicos.
• Características: Pan-eslavismo / Pan-Germanismo e o Pan-americanismo.
Lousas feitas pelo professor no vídeo:
Primeira Guerra Mundial
A Primeira Guerra Mundial foi um conflito que ocorreu entre 1914 e 1918 e ficou muito conhecida em razão dos combates que aconteciam nas trincheiras.
A Primeira Guerra Mundial foi um marco na história da humanidade. Foi a primeira guerra do século XX e o primeiro conflito em estado de guerra total – aquele em que uma nação mobiliza todos os seus recursos para viabilizar o combate. Estendeu-se de 1914 a 1918 e foi resultado das transformações que aconteciam na Europa, as quais fizeram diferentes nações entrar em choque.
O resultado da Primeira Guerra Mundial foi um trauma drástico. Uma geração de jovens cresceu traumatizada com os horrores da guerra. A frente de batalha, sobretudo a Ocidental, ficou marcada pela carnificina vivida nas trincheiras e um saldo de 10 milhões de mortos. Os desacertos da Primeira Guerra Mundial contribuíram para que, em 1939, uma nova guerra acontecesse.
Causas
As causas da Primeira Guerra Mundial são extremamente complexas e envolvem uma série de acontecimentos não resolvidos que se arrastavam desde o século XIX: rivalidades econômicas, tensões nacionalistas, alianças militares etc.
De maneira geral, os principais fatores que contribuíram para o início da Primeira Guerra Mundial foram:
· Disputas imperialistas; o enfoque pode ser dado ao temor que a ascensão da Alemanha gerou em nações como Rússia, França e Grã-Bretanha. Os alemães haviam passado pelo processo de unificação na segunda metade do século XIX e, após isso, lançaram-se à busca de colônias para seu país. Isso prontamente chamou a atenção da França, por exemplo, que via seus interesses serem prejudicados com o fortalecimento alemão.
· Nacionalismos; envolveu diferentes nações. A Alemanha encabeçava um movimento conhecido como pangermanismo. Esse movimento nacionalista servia como suporte ideológico para o Império Alemão defender os seus interesses de expansão territorial no começo do século XX. O pangermanismo ainda se expressava nas questões econômicas, pois os alemães pretendiam colocar-se como a força econômica e militar hegemônica da Europa. Na questão nacionalista, havia também o revanchismo francês. Essa questão envolvia os ressentimentos que existiam na França a respeito do desfecho da Guerra Franco-Prussiana, conflito travado entre Prússia e França em 1870 e 1871. A derrota francesa foi considerada humilhante, principalmente por dois fatores: a rendição ter sido assinada na Galeria dos Espelhos, no Palácio de Versalhes, e pela perda da Alsácia-Lorena. Após o fim desse conflito, a Prússia auto proclamou-se como Império Alemão.
· Alianças militares;
· Corrida armamentista.
A questão nacionalista mais complexa envolvia os Bálcãs, região no sudeste do continente europeu. No começo do século XX, os Bálcãs eram quase inteiramente dominados pelo Império Áustro-Húngaro, que estava em ruínas por causa da multiplicidade de nacionalidades e movimentos separatistas que existiam em seu território.
A grande tensão nos Bálcãs envolvia a Sérvia e a Áustria-Hungria na questão referente ao controle da Bósnia. Os sérvios lutavam pela formação da Grande Sérvia e, por isso, desejavam anexar a Bósnia ao seu território (a Bósnia era parte da Áustria-Hungria desde 1908 oficialmente). Esse movimento nacionalista de sérvios era apoiado pela Rússia por meio do pan-eslavismo, ideal em que todos os eslavos estariam unidos em uma nação liderada pelo czar russo.
Tendo em vista todo esse quadro de tensão e rivalidades, as nações européias meteram-se em um labirinto de alianças militares, que acabou sendo definido da seguinte maneira:
· Tríplice Entente: formada por Rússia, Grã-Bretanha e França.
· Tríplice Aliança: formada por Alemanha, Áustria-Hungria, Império Otomano e Itália.
Esses acordos militares incluíam cláusulas secretas de cooperação militar caso uma nação fosse atacada por outra nação adversária. Por fim, toda essa hostilidade deu a garantia para todas as potências e chefes de Estado na Europa de que a guerra era apenas questão de tempo. Por essa razão, as nações européias iniciaram uma corrida armamentista com o objetivo de se fortalecer para o conflito que ocorreria.
O que faltava para que a guerra tivesse início era um estopim, que aconteceu em 28 de junho de 1914, durante a visita do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austríaco, a Sarajevo, capital da Bósnia. A visita do arquiduque foi entendida como uma provocação e colocaram em movimento os grupos nacionalistas que existiam na Sérvia e Bósnia.
O resultado da visita do arquiduque foi que Gavrilo Princip, membro de um movimento nacionalista bósnio chamado de Mão Negra, armada de um revólver, meteu-se à frente do carro que levava Francisco Ferdinando e sua esposa, Sofia. Ele abriu fogo, assassinando ambos. A consequência direta do ato foi uma crise política gravíssima que ficou conhecida como Crise de Julho.
Como não houve saída diplomática para a Crise de Julho, a consequência final foram declarações de guerra acontecendo em cadeia. Em 29 de julho, a Áustria declarou guerra à Sérvia; no dias 30, russos (em defesa da Sérvia), alemães e austríacos mobilizaram seus exércitos. Em 1º de agosto, a Alemanha declarou guerra à Rússia e, no dia 3, à França. No dia 4, o Reino Unido declarou guerra à Alemanha. Era o começo da Primeira Guerra Mundial.
Países envolvidos
Como mencionado no texto, os dois grupos que lutaram entre si na Primeira Guerra Mundial ficaram conhecidos como Tríplice Aliança (as principais forças eram a Alemanha, Áustria-Hungria, Império Otomano e Itália) e Tríplice Entente (as principais forças eram a Rússia, Grã-Bretanha e França). No caso da Itália, o país fazia parte da Tríplice Aliança, mas recusou-se a participar da guerra quando ela se iniciou. Em 1915, a Itália aderiu à Tríplice Entente.
Naturalmente, a Primeira Guerra Mundial não se resumiu ao envolvimento desses países, pois diversas outras nações envolveram-se no conflito. No lado da Entente, países como Grécia, Estados Unidos, Canadá, Japão e até mesmo o Brasil entraram no confronto. No lado da Tríplice Aliança, houve a participação da Bulgária e de outros povos e Estados clientes, como o Sultanato de Darfur.
Onde ocorreu a Primeira Guerra Mundial?
Os combates da Primeira Guerra Mundial, em sua maioria, aconteceram no continente europeu. Na Europa, destacaram-se a Frente Ocidental, em que os alemães lutaram contra franceses e britânicos, e a Frente Oriental, em que os alemães lutaram contra sérvios e russos. Durante a guerra, houve também batalhas no Oriente Médio, isto é, nas regiões que estavam sob domínio do Império Otomano.
Fases da Primeira Guerra
Utilizando a classificação do estudioso Luiz de Alencar Araripe, a Primeira Guerra Mundial pode ser dividida em duas grandes fases1. A primeira fase ficou conhecida como Guerra de Movimento e aconteceu entre agosto e novembro de 1914. A segunda fase ficou conhecida como Guerra de Trincheiras e ocorreu entre 1915 e 1918.
Da primeira fase da guerra, destacou-se o plano alemão de invasão da França pelo território belga, o chamado Plano Schlieffen. Esse plano foi elaborado pelo conde Alfred Von Schlieffen e consistia basicamente em uma manobra para envolver as tropas francesas e conquistar Paris, a capital da França.
Poucos meses depois que os franceses conseguiram impedir os alemães de conquistar Paris, iniciou-se a segunda fase da guerra, caracterizada pelas trincheiras. As trincheiras eram corredores subterrâneos construídos para abrigar os soldados e separar os exércitos que lutavam entre si. Muitas vezes, a distância entre uma trincheira e outra era mínima.
O espaço entre as trincheiras era conhecido como “terra de ninguém” e era preenchido com sacos de areia, arames farpados e tudo que fosse necessário para garantir a proteção das tropas e para informar que tropas inimigas aproximavam-se. Durante a guerra de trincheiras, foram utilizadas pela primeira vez armas químicas. Os alemães inicialmente utilizaram gás clorídrico, que, com o tempo, também passou a ser utilizado por franceses e britânicos. Por fim, o gás clorídrico foi substituído pelo gás mostarda.
A respeito dos horrores da Guerra de Trincheiras travada na Frente Ocidental, vale ressaltar o relato feito pelo historiador Eric Hobsbawm:
Milhões de homens ficavam uns diante dos outros nos parapeitos de trincheiras barricadas com sacos de areia, sob as quais viviam como – e com – ratos e piolhos. De vez em quando seus generais procuravam romper o impasse. Dias e mesmo semanas de incessante bombardeio de artilharia […] “amaciavam” o inimigo e o mandavam para baixo da terra, até que no momento certo levas de homens saíam por cima do parapeito, geralmente protegido por rolos e teias de arame farpado, para a “terra de ninguém”, um caos de crateras de granadas inundadas de água, tocos de árvore calcinadas, lama e cadáveres abandonados, e avançavam sobre as metralhadoras, que os ceifavam, como eles sabiam que aconteceria2.
Na Frente Ocidental, destacaram-se batalhas como Verdun e Somme em que a luta nas trincheiras causou a morte de milhões de soldados de ambos os lados. Na Frente Oriental, os alemães conseguiram impor pesadas derrotas aos russos em batalhas como a de Tannenberg, garantindo grandes conquistas territoriais.
A violência da guerra também foi destacada durante os combates que aconteceram na Sérvia. No Oriente Médio, destacou-se a perseguição que o Império Otomano promoveu contra os armênios, o que levou ao Genocídio Armênio. A Primeira Guerra também registrou combates aéreos e uma disputa acirrada entre alemães e britânicos no mar.
Em 1917, os Estados Unidos, presididos por Woodrow Wilson, entraram na guerra quando uma embarcação britânica foi atacada por alemães, causando a morte de mais de uma centena de americanos. Nesse mesmo ano, os russos, fragilizados por tantas derrotas e por uma crise econômica duríssima, retiraram-se da guerra, e a Revolução Russa consolidou o socialismo no país.
A Primeira Guerra Mundial encerrou-se como resultado do esfacelamento das forças da Tríplice Aliança. Bulgária, Áustria-Hungria e Império Otomano renderam-se, sobrando apenas a Alemanha. O Império Alemão, arrasado pela guerra, também se rendeu após uma revolução estourar no país e levar ao fim da monarquia alemã. Aqueles que implantaram a república no país (os social-democratas) optaram por um armistício para colocar fim à guerra após quatro anos.
Consequências
Como consequência do armistício e da derrota alemã, foi assinado em junho de 1919 o Tratado de Versalhes. A assinatura desse tratado aconteceu exatamente no mesmo local onde os franceses haviam ratificado sua derrota em 1871. Dessa vez, os derrotados eram os alemães, que assinavam um tratado que impunha termos duríssimos à Alemanha.
A Alemanha perdeu todas as suas colônias ultramarinas, além de territórios na Europa. Foi obrigada a pagar uma multa pesadíssima, que arrastou o país pra uma crise econômica sem precedentes na sua história. Suas forças militares foram restritas a 100 mil soldados de infantaria. A rigidez dos termos do Tratado de Versalhes é entendida pelos historiadores como a porta que deu abertura para o surgimento e crescimento do nazismo.
O fim da guerra também marcou a reconfiguração do mapa europeu por causa do esfacelamento dos Impérios Alemão, Austro-húngaro e Otomano. Diversas novas nações surgiram, como Polônia, Finlândia, Iugoslávia etc.
Segunda Guerra Mundial
Os termos que os franceses e britânicos impuseram à Alemanha foram encarados pelos historiadores como paz punitiva. O objetivo era enfraquecer a Alemanha de tal maneira que outra guerra da magnitude da Primeira Guerra Mundial não acontecesse. Britânicos e franceses fracassaram nesse objetivo, já que vinte anos depois uma nova guerra começou na Europa: a Segunda Guerra Mundial.
Resumo
A Primeira Guerra Mundial foi um conflito que aconteceu entre 1914 e 1918, e os principais cenários de guerra ocorreram no continente europeu. Foi resultado de inúmeros fatores, como a rivalidade econômica, ressentimentos por acontecimentos passados e questões nacionalistas. Teve como estopim o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando e sua esposa, Sofia, em Sarajevo, na Bósnia, em junho de 1914.
Estendeu-se por quatro anos em duas fases distintas: Guerra de Movimento e Guerra de Trincheira. A última fase é a mais conhecida por ter sido a mais longa (de 1915 a 1918) e por ter sido efetivamente caracterizada por um alto grau de mortalidade dos soldados envolvidos. O saldo do conflito foi, aproximadamente, 10 milhões de mortos e uma Europa totalmente transformada.
1 ARARIPE, Luiz de Alencar. Primeira Guerra Mundial. In.: MAGNOLI, Demétrio (org.). História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2013, p. 332.
2 HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 33.
EXERCÍCIOS SOBRE A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
1) (PUC- Campinas) Em relação às causas da Primeira Guerra Mundial é correto afirmar que:
a) A incapacidade dos Estados liberais em solucionar a crise econômica do século XIX colocou em xeque toda a estrutura do sistema capitalista. A instabilidade política e social das nações europeias impulsionaram as disputas colonialistas e o conflito entre as potências.
b) A desigualdade de desenvolvimento das nações capitalistas européias acentuou a rivalidade imperialista. A disputa colonial marcada por um nacionalismo agressivo e pela corrida armamentista expandiu os pontos de atrito entre as potências.
c) O sucesso da política de apaziguamento e do sistema de aliança equilibrou o sistema de forças entre as nações européias, acirrando as lutas de conquista das colônias da África e da Ásia.
d) O expansionismo na Áustria, a invasão da Polônia pelas tropas alemãs assustaram a Inglaterra e a França, que reagiram contra a agressão declarando guerra ao inimigo.
e) O desequilíbrio entre a produção e consumo incentivou a conquista de novos mercados produtores de matérias-primas e consumidores de bens de produção reativando as rivalidades entre os países europeus e os da América do Norte.
2) Qual era e como funcionava o plano que os alemães prepararam para a Primeira Guerra Mundial?
3) Aponte as justificativas que explicam a entrada dos EUA na Primeira Guerra Mundial, em 1917.