Passeio de Moto pelas Terras de Dom Quixote

2020 08

Por Terras de Dom Quixote e dos Pueblos Brancos 

Parte I – Dom Quixote

Num ano em que o Covid alterou quer os nossos hábitos quer as nossas atitudes, esta viagem, considerada um pouco ousada por alguns e um pouco louca por outros, também foi diferente e foi feita num registo de Lobo Solitário ...

Há anos que andava a perseguir este trajeto, pelo menos parte, mas depois de ler um pouco de Cervantes decidi que era ... agora ou nunca.

“...A liberdade, Sancho, é um dos dons mais preciosos, que aos homens deram os céus; não se lhe podem igualar os tesouros que há na terra, nem os que o mar encobre; pela liberdade, da mesma forma que pela honra, se deve arriscar a vida, e, pelo contrário, o cativeiro é o maior mal que pode acudir aos homens...”                        

Miguel De Cervantes @ D. Quixote


Neste contexto e inspirados no site Motorcycle Diaries, no Best Biking Roads, no livro “1001 Drives you must Experience before you die”e em vários sites que por aí existem divulgando locais interessantes para se viajar, delineie um percurso que me fez Rolar Pelo Asfalto por locais singulares,  quer ao nível cultural e gastronómico quer ao nível paisagístico. 

Foram horas de árduo trabalho planificando esta viagem que, devido às regras impostas pela OMS, teve alguns ajustes de última hora. 

Houve quem me chamasse louco, corajoso ou aventureiro, mas depois de tudo ter sido completado, o balanço não podia ser mais positivo.

Recomendo-a a todos quer seja de moto, de carro ou de outro meio de transporte mais alternativo.

Um roteiro a não perder...

Apesar da viagem ter sido ousada, nunca pudemos esquecer que, “Quem perde seus bens, perde muito; quem perde um amigo, perde mais; mas quem perde a coragem, perde tudo.”  Miguel De Cervantes @ D. Quixote


Trailer da viagem AQUI


Ao Encontro da Rota de Dom Quixote

Fiz-me à estrada e La Alberca foi o primeiro lugar eleito para tranquilamente ser contemplado.

Assim saindo de Braga e, sem história para contar, segui até Vilar Formoso onde aproveitei para abastecer, com preços espanhóis que são bem mais simpáticos (0,314€ por litro de diferença....é muita coisa).

Depois de um percalço tecnológico no GPS devido à passagem da fronteira, segui pela SA220 e seguidamente pelo Parque Natural De Las Batuecas em direção a La Alberca.

Trata-se de uma estrada secundária, com zonas bem cuidadas  (outras nem por isso!), onde a beleza da paisagem é uma constante.

A aldeia é arquitetonicamente invulgar e justifica um passeio pedestre de forma descontraída.

Para além da beleza urbana a aldeia é forte no que diz respeito ao comercio de compotas, enchidos e peças de artesanato.

Nesta altura não apanhei muito turismo devido às regras impostas e, o não uso de máscara (mesmo na rua) para aqueles locais representa 100€ de multa como mínimo, podendo chegar aos 600 euros.

Voltei à viagem e foi Rolar Pelo Asfalto enganado pela tecnologia. 

Assim, fui seguindo caminho pela Ca 201, que recomendo quer pela paisagem quer pela estrada, contudo estava em sentido inverso (tinha o modo inversão de marcha desativado no GPS).

Após identificar a falha lá corrigi o trajeto e segui novamente até Alberca e depois até Mogarraz seguindo posteriormente pela SA225 até Granadilla.

Mogarraz é uma vila medieval e bastante diferente do que normalmente conhecemos. A razão principal da sua diferença reside no facto de ter pendurado nas fachadas das casas e da igreja quadro pintados com os rostos dos antigos moradores da região. 

É obrigatório visitar e contemplar o local numa das esplanadas centrais junto à igreja...mesmo muito interessante e relativamente perto.

Já Granadilla é uma vila “fantasma”.  

Tendo estado planeado a sua imersão, a sua povoação foi forçada a sair do vilarejo que, na sua entrada, apresenta um castelo do século XV.

Não consegui visitar Granadilla e agradeço ao turismo local não colocar informação devida na internet. A vila encontra-se fechada devido à pandemia e não tem data prevista para abertura.

Se tivessem colocado a informação no site...pouparia um bom par de quilómetros, enfim! (a paisagem que nos leva lá compensou a perda!)

Com um sorriso no rosto, segui caminho e, passei por Plasencia, que pela beleza exterior, justifica uma paragem numa outra altura. 

Talavera de la Reina foi o local escolhido para descansar os cavalos e o cavaleiro. Pelo que vi é um local sem grande beleza, muito embora tenha uma bonita ponte romana sobre o rio Tejo. É uma cidade onde se come bem!

Optei por uma recomendação do TripAdvisor e da informação do recepcionista do hotel Roma (só escolha este hotel se não tiver alternativa!!).

Optei pelo Solomillo de ternera  e os Deuses desceram à terra na primeira garfada. 

O Restaurante o Mingote justifica quer pela qualidade da comida quer pela decoração.

Posso dizer que é uma excelente recordação que levo de Talavera de La Reina.

Rota de Dom Quixote

Recarregadas as baterias e de um pequeno almoço sofrível, segui para a tão desejada rota de D. Quixote.

Face à tipologia do passeio apenas elegi os locais que eu considerei mais emblemáticos, contudo muito ficou por visitar.

Não há duvida que Cervantes ainda hoje se mantem muito atualizado....

 Apesar das regras começarem novamente a apertar em Espanha, lá me fiz ao caminho sabendo que é necessário ter cuidados acrescidos neste momento.

“...A liberdade, Sancho, não é um pedaço de pão...”

 No que diz respeito a Dom Quixote, apesar de não ter conhecimento de uma rota específica e de existirem várias disponíveis na internet, para mim o seu início iria ser em Toledo, muito embora, depois de ter Rolado Pelo Asfalto com valentia na zona dos gigantes monstruosos, me ter despedido dela em Argamasilla de Alba.

A cidade de Toledo fica a sensivelmente uma hora de viagem de Talavera de La Reina.

Aqui fiz a primeira paragem do dia num dos seus miradouros para tirar umas fotografias da praxe e contemplar o magnífico rio Tagus.

Não entrei no interior de Toledo muito embora seja uma cidade que merece ser visitada de forma tranquila e cuidada (2 dias é bem necessário) contudo, como já a conhecia de outras andanças, optei por descobrir outras paragens com mais tranquilidade. 

Fica o registo do que achei interessante noutra visita:

Passeio pedestre pela cidade

Catedral de Toledo

Iglesia de los Jesuitas

Ponte San Martin

Ponte de Alcantara

Monasteriro de San Juan de los Reyes

Puertas de Toledo

Puerta de Bisagra

Alcazar

Iglesia de Santiago del Arrabal

Museu de Santa Cruz

Foi aqui que morreu Domenikos Theotocopoulos, mais conhecido como “El Greco” pintor, escultor e arquiteto grego do século XVI que, de várias obras famosas, se destaca a Desnudação de Cristo que se encontra por cima do altar de mármore da Catedral de Toledo.

Há ainda a destacar, na Catedral de Toledo, a Custódia que se encontra no tesouro. Trata-se de uma obra gótica, de prata, datada do século XVI e que conta com cerca de 3 metros de altura. Uma obra magnífica e sem igual.

Segui viagem pois o destino ainda estava longínquo.

“Em um lugar de La Mancha, de cujo nome” me vou recordar durante muito tempo, fiz uma paragem para uma sessão fotográfica. 

Consuegra foi o local escolhido.

Excelente enquadramento paisagístico entre os moinhos, o castelo, os cavalos e o cavaleiro que, nas fotos aqui colocadas ficou a descansar.

Este também foi um dos locais eleitos por D. Quixote para travar, com a sua valentia, uma batalha inigualável contra os gigantes monstruosos enquanto Sancho o informava que se tratavam de Moinhos de Vento.

Esta localidade de origem romana convida a um passeio pelo Monte Calderico, onde se pode avistar os “tais” moínhos de vento que se tornaram um icon neste local. 

É aqui que se ergue o Castelo de La Muela que foi construído durante a Reconquista e nele morreu em 1097, Dom Diego, filho de El Cid.

El Cid foi um nobre guerreiro castelhano que viveu no século XI, na altura em que Hispânia estava dividida entre cristãos e mouros.

De Consuegra a Puerto Lápice, local onde Dom Quixote foi armado cavaleiro,  são  22 Km e cerca de 20 minutos pela E5. Uma estrada plana e sem história para contar.

Puerto Lápice tem o seu encanto no que à rota de Dom Quixote diz respeito.

A Plaza de la Constitucion é o ponto alto daquele singular local e Quijoteworld um lugar que dizem obrigatório para quem, como eu, se dedicou a fazer esta rota que atravessa a história... contudo, estava fechado!!

Segui viagem até ao Campo da Criptana pela Cm 3165 e em Alcazar de San Juan fiz uma pausa técnica para registar mais umas das inúmeras estátuas que avistei do célebre Cavaleiro da Triste Figura.

O Campo da Criptana é um local onde existem 10 moinhos onde outrora existiam 32 e que o tornavam o maior conjunto de La Mancha. Um dos moinhos funciona como posto de turismo que justifica uma breve visita.

Por entre vinhas e pomares passei ao largo do complexo de moinhos de San Juan onde uma das iguarias que se pode adquirir é o famoso queijo manchego que é o queijo de ovelha de La Mancha. Aqui definitivamente não é a minha praia e só o cheiro agonia.

De San Juan, por ente vinhedos e oliveiras, passei por Tomelloso e segui para a Cueva de Medrano.

Foi neste local, em Argamasilla de Alba, que Miguel de Cervantes esteve preso e iniciou a sua obra, que perdura para além dos séculos, Dom Quixote de La Mancha.

Depois de passar pelo local que defende com orgulho ser o lugar de La Mancha de cujo nome Cervantes não se quis lembrar (primeira frase de Dom Quixote), segui em direcção a Baeza (património mundial) pela A4.

Trata-se de uma auto estrada grátis, muito movimentada mas com um enquadramento paisagístico muitíssimo interessante. 

A uns bons 20 km de Baeza, avistam-se olivais a perder de vista bem como locais de produção e venda de azeite. O Cheiro a azeite pairava no ar.... interessante e agradável!

Baeza é uma pequena cidade invulgarmente rica em arquitetura renascentista. Denominada Beatia pelos Romanos foi a capital de um feudo mouro.

Baeza foi consquistada por Fernando III em 1226 e povoada por cavaleiros castelhanos.

Por aqui podemos visitar vários locais de interesse histórico como por exemplo o Palácio de Jabalquinto, a Puerta de Jaén, a Fuente de Santa María, a Catedral, a Torre de los Aliatares e o Ayuntamento.

Foi uma agradável e excelente surpresa. Muitíssimo interessante. Recomendo.

É um local a não perder para quem vem para estes lados.

Foi um dia cheio de história e prazer, muito embora a temperatura aqui para baixo tenha atingido os 40ºC o que fez com que os pneus “gemessem” e se desgastassem por caminhos Andaluzes.

Fiquei numa zona excelente, mesmo no centro histórico e o hotel era fantástico.

Trata-se do Hotel Puerta de La Luna e, assim como todos os que utilizei na viagem, tinha garagem (paga) para guardar todos os cavalos que transportava.

Recomendo quer pela localização quer pelo espaço propriamente dito.

E assim foi a minha aventura pela minha Rota do Dom Quixote

A viagem seguiu de Baeza até aos Povos Brancos, mas essa será outra história para contar.


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Até à próxima e boas curvas