Exposição "Tempo Comum", de Rafael Vilarouca (CE)

Tempo Comum

Tempo Comum constitui um exercício cartográfico pelas estradas que cruzam o estado do Ceará. Na série, as placas publicitárias são retratadas como as ruínas de uma civilização em declínio, arquitetura utilitária do capitalismo que se apresenta ineficaz sem as imagens promocionais que lhe dão sentido. As formas das placas são recortadas contra o azul do céu, enfatizando o olhar para cima; o firmamento é reiterado como espaço de fuga e projeção ambígua de medos e desejos coletivos. Nas bordas das imagens, surgem sinais do percurso, de um caminho não falado e que não possui destino.

As imagens propõem uma atmosfera de reflexão ou introspecção para as verticalidades urbanas, como epifanias sob o solo urbano caótico. Instaura-se, dessa forma, um inventário de documentações visuais portadoras de temporalidades em transe por meio das quais busca-se retratar o que sobrou dos modos de habitar deformados por entre desmontes do capital especulativo, resquícios de formas de vida em convulsão, maneiras pelas quais construímos e desconstruímos nossa existência material. O trabalho debruça-se sobre questões tais como arquitetura e urbanismo, sociedade de consumo e cultura do espetáculo, memória social e ruína material. Visualidade que amplia o debate perante possibilidades da arte frente a políticas de memória e regimes de esquecimento: enunciação que nos indaga acerca de nossa organização política estabelecida por marcos espaciais que a um só tempo dividem e unem comunidades por repetição e diferença. Uma experiência imagética para evidenciar as condições de aproximação e afastamento como fatores de reconhecimento dos símbolos urbanos, uma busca em diminuir o tempo tumultuado das cidades para repensar nosso repertório pictórico através de paisagens condensadas e artificiais.