Exposição "Pequenas Dores Cotidianas", de Sonia Gouveia (SP)



Pequenas Dores Cotidianas

O tema da série são as frustrações que enfrentamos em nosso dia-a-dia. De forma metafórica, as imagens representam sentimentos de impotência, perda, decepção, insatisfação, desencanto e fracasso.

“Pequenas Dores Cotidianas” surgiu em um dia particularmente árduo, em que havia mais perguntas que respostas, mais dúvidas que certezas, mais fracassos que sucessos. Haveria alternativas para reverter o desencanto? Não encontrar estas alternativas evoca a sensação de prisão, de estar acorrentado. Ou ainda, a comparação com um aparelho elétrico plugado a uma tomada: uma vez desconectado, perde sua fonte de energia. Esta seria a síntese visual que traduziria aquele sentimento doloroso. Uma dor. Uma pequena dor, que nos visita com frequência. Uma entre tantas outras pequenas dores.

E como um turbilhão, dezenas de outras dores cotidianas começaram a ser identificadas: perda de tempo, falta de coragem, incomunicabilidade, desejos reprimidos, limitações, finitude. Juntas, compõem um mosaico de situações triviais: ficar nervoso com as notícias, não encontrar a chave para sair, derrubar um copo cheio de água, quebrar um ovo ou perder-se no conteúdo do celular. Todas as situações invocam algum grau de decepção e amargor, cujas metáforas e referências se fortalecem como conjunto. A identificação com os sentimentos expressos nas fotografias é natural. No fim, o silêncio é incômodo, mas surge uma nova sensação: a de que estas pequenas dores são comuns a muitos. Não estamos sozinhos.


FICHA TÉCNICA

1 - Tentei me soltar, mas estava plugada na tomada.

2 - Tentei alcançar, mas estava amarrada.

3 - Que atire a primeira pedra quem nunca fez ... Resolvi guardar a pedra.

4 - Quis escrever, mas a tinta acabou.

5 - Encarei o abacaxi, procurando um jeito de descascá-lo.

6 - Quis o filão, mas só sobraram as migalhas.

7 - Queria abrir a porta, mas não encontro as chaves.

8 - Queria sair, mas a porta não abre.

9 - Olhei no celular, e me perdi.

10 - Fiquei sem memória. Não consigo guardar, nem me lembrar.



11 - Tentei ler as notícias. Não aguentei. Amassei o jornal.

12 - Contei os trocados, mas a conta não fecha.

13 - Quis guardar a flor, mas ela secou.

14 - Tentei remendar. Mas as partes se separaram para sempre.

15 - Derramei, e no fim não sobrou nada para mim.

16 - Não se faz nada sem quebrar os ovos. Eu quebrei, mas continuei não fazendo nada.

17 - Não se faz nada sem quebrar os ovos. Eu quebrei, mas continuei não fazendo nada.

18 - Tentei ser vista, mas as sombras me cobriram.


Sonia Gouveia

Arquiteta e Urbanista pela FAUUSP (2003), onde também concluiu o Mestrado (2008) com pesquisa sobre a documentação fotográfica de arquitetura, resultando na dissertação “O homem, o edifício e a cidade por Peter Scheier”. Paralelamente à arquitetura, desenvolve pesquisa e trabalho autoral em fotografia. Participa de cursos livres em artes visuais em instituições como Instituto Moreira Salles e Museu da Imagem e do Som.









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Instagram: @soniammgouveia




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