Exposição "Corpo-Resistência", de Mariana Arndt (MS)



Corpo-Resistência

Iniciei a leitura do texto de Judith Butler - Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade - por indicação de Mariana Arndt, e lá me deparei com uma reflexão sobre a valoração negativa atribuída a problemas, responsável por expressões como... “não crie problemas, não seja rebelde”... que fizeram parte da infância de muitas(os) de nós, com uma carga amenizadora de conflitos e repressiva de possíveis insurgências. Butler afirma ter aprendido depois que problemas são inevitáveis na nossa vida, cabendo-nos escolher a melhor maneira de criá-los, de tê-los. A arte, que no campo da referência e dos significados estende-se e aprofunda-se ao longo da história de modo variado, ainda que irredutível a qualquer procedimento, não se abstém de um diálogo íntimo com fenômenos que são dados a princípio – e muitas vezes involuntariamente - como problemas, que nos afetam e em relação aos quais instintivamente criamos afeto, algumas vezes duradouro, movedor das idas e vindas entre arte e vida. Refletir sobre essas questões é essencial para entender a arte de Mariana e a de muitos artistas a quem não é dado acomodar-se em crenças que sentem dissociadas das suas vivências. A nossa cultura submetida ao modelo do heterossexual masculino, que inclui o feminino como subalterno e tende a excluir a diversidade de sexos e de gêneros, envolve muitos conflitos. Um lugar onde inevitavelmente eles ocorrem é certamente o corpo; é nele que as imposições agem, tentando controlar seu discurso, reprimir a expressão, o livre, o novo, que acaba por aparecer como enfrentamento... o corpo torna-se um “campo de batalha”, parafraseando Bárbara Kruger. A arte de Mariana detecta o fenômeno ... é afetada por e afeiçoa-se a ele... vive-o... opta pelo corpo-resistência e assume posicionamento crítico. Encontra no performático a expressão inicial, alia-se a outros artistas que fotografa, faz conversar sua arte com a deles. A fotografia, além de se oferecer como registro e revelar outro domínio da artista nas linguagens da arte, medeia esse processo com uma grande potência! Une-se à performance para emprestar dramaticidade e concretude à expressão do corpo que se impõe, que fala conosco, convida o olho, os sentimentos, as ideias...

Eluiza Bortolotto Ghizzi Docente do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens da UFMS



FICHA TÉCNICA

1 - “S/ título”; Registro da performance “Alógeno” (Renan Braz); Fotografia 30 x 45 cm; Políptico; Mariana Arndt; 2017.

2 - “S/ título”; Registro da performance “Alógeno” (Renan Braz); Fotografia 30 x 45 cm; Políptico; Mariana Arndt; 2017.

3 - “S/ título”; Registro da performance “Alógeno” (Renan Braz); Fotografia 30 x 45 cm; Políptico; Mariana Arndt; 2017.

4 - “S/ título”; Registro da performance “Alógeno” (Renan Braz); Fotografia 30 x 45 cm; Políptico; Mariana Arndt; 2017.

5 - “S/ título”; Registro da performance “Alógeno” (Renan Braz); Fotografia 30 x 45 cm; Políptico; Mariana Arndt; 2017.

6 - “S/ título; Série “Carne de segunda” 30 x 45 cm; Mariana Arndt; 2017 (fotografia: Paulo Henrique da Silva).

7 - “S/ título”; Série “Carne de segunda” 60 x 90 cm; Mariana Arndt; 2017(fotografia: Paulo Henrique da Silva).

8 - “S/ título”; Série “Carne de segunda” 60 x 90 cm; Mariana Arndt; 2017 (fotografia: Paulo Henrique da Silva).



9 - “S/ título”; Registro da performance de Lucilene Moreira; Fotografia 30 x 45 cm; Mariana Arndt; 2017.

10 - “S/ título”; Registro da performance de Lucilene Moreira; Fotografia 30 x 45 cm; Mariana Arndt; 2017.

11 - “S/ título”; Registro da performance de Lucilene Moreira; Fotografia 60 x 90 cm; Mariana Arndt; 2017.

12 - “S/ título”; Registro da performance de Lucilene Moreira; Fotografia 60 x 90 cm; Mariana Arndt; 2017.

13 - “CLT” Díptico 30 x 45 cm; Mariana Arndt; 2019. (fotografia: Juliana Bordão).14 - “CLT” Díptico 30 x 45 cm; Mariana Arndt; 2019. (fotografia: Juliana Bordão).

15 - “Quem quiser vir fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”; Fotografia Políptico 20 x 30 cm; Mariana Arndt; 2019. (performance: Juliana Bordão).

16 - “Eu sou imbrochável” Fotografia Políptico 20 x 30 cm; Mariana Arndt; 2019. (performance: Juliana Bordão).


Mariana Arndt

Licenciada em Artes Visuais (UFMS/2013). Especialista em Culturas e História dos Povos Indígenas (UFMS/2015). Mestre em Estudos de Linguagens pela UFMS. Formada em Processos Fotográficos no SENAC – MS. Realizou diversas exposições individuais e coletivas, sendo as últimas “Agora é que são elas” TVE (2020); “Todo ar que há em mim” (2021); Mostra Residência Oriente - RJ (2022); II Salão Vermelho de Artes Degeneradas – Atelier Sanitário online (2022); “Corpo-Resistência” – MARCO (Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul) (2019); “Portunhol Selvagem Feminista” (2022); Realizou residência artística e é ganhadora do 1º lugar na categoria fotografia no II Festival de Artes Plásticas de Campo Grande (2018); 2º lugar no “Urban Photographer of the Year’ (2019).









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Instagram: @marianaarndt




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