Exposição “Céus da Minha Varanda”, por Pimenta (RJ)





Céus da Minha Varanda

Todas as crises trazem consigo boas oportunidades, além dos problemas normalmente associados a elas. Foi essa a experiência que tive durante o período mais agudo da recente pandemia de covid-19, quando emergiu e cresceu a ideia para uma eventual exposição virtual intitulada “Céus da Minha Varanda”, aproveitando que a reclusão se tornou uma obrigação necessária e o modo remoto tomou conta das minhas formas de comunicação e contato com o outro. Acordo invariavelmente cedo, tanto por hábito, quanto por necessidade, já que além de artista fotográfico, sou também professor de Fotografia de escola particular e, como muitos dos meus encontros com as turmas se iniciam nos primeiros horários das manhãs, há muitos anos sou testemunha dos primeiros raios de luz que irrompem do horizonte. E o apartamento que habito com minha família há mais de trinta anos no bairro das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, fica voltado para o leste, justamente a direção de onde nasce o sol, que sempre invade quase todos os cômodos quando brilha, especialmente a varanda.

Essa parte da casa sempre foi meu recanto favorito, se tornando minha área de escape físico e mental, por me propiciar contato mais próximo com plantas ornamentais cultivadas nela e com todas as demais que existem em seu entorno. O apartamento fica nos fundos do prédio, numa rua muito movimentada e poluída sonora e visualmente, por ser a via de ligação norte-sul entre os bairros da cidade. Mas, por não ter outros imóveis altos construídos nas redondezas e ainda por ser vizinho de uma vila de casas e de duas escolas, sendo uma delas tradicional, cujo casarão em estilo eclético é cercado por enorme área verde, ele se tornou habitável. Por conta de tudo isso, os espaços livres existem e eu me acostumei a aproveitá-los como minha maior possibilidade de expansão visual diária. Apesar desse visual não ser propriamente belo, especialmente se comparado com outras locações de uma cidade que tem paisagens extraordinárias e conhecidas mundialmente, ao menos ele sempre me propiciou a sensação de liberdade visual e espiritual, que eu tenho procurado aproveitar fotograficamente da melhor maneira possível.

Tal qual nós humanos somos seres únicos, cada dia que nasce é absolutamente original, diferente de todos os demais, com personalidades próprias. Alguns fotógrafos mais ansiosos do que eu, já acalentaram a ideia de fotografar as vistas de suas janelas diariamente, tentando maximizar com esses registros constantes e seguidos uma aproximação inglória com a continuidade inalcançável da completa passagem do tempo. De minha parte, venho tentando fazer algo que tangencia essa ideia, numa forma bem mais restrita, mas quando percebo um nascer do dia com algo a mais, pego a câmera que esteja à disposição no momento e faço o registro, sempre procurando deixar bem evidentes as referências visuais da paisagem vista da minha varanda. Curiosamente, no outono que se sucedeu ao decreto de reclusão pela aceleração da pandemia e provavelmente por conta de alguns fatores climáticos especiais, os amanheceres se sucediam na época com incríveis projeções de luzes, transições de cores e texturas. E foi um período de muita produção, não só pela descoberta repentina da disponibilidade de tempo ganho com o escritório transferido para dentro de casa, quanto pela necessidade de manutenção da sanidade mental através de atitudes criativas, que me afastassem de outros males, além daquele trazido pelo vírus. Eram no fundo, momentos de renovação que se sucediam trazendo esperança.

“Céus da Minha Varanda”, portanto, é a minha tentativa de mostrar alguns desses momentos especiais que tive a benção de poder testemunhar e agora procuro compartilhar através dessa proposta de exposição virtual. Espero que esses momentos que tanto fizeram brilhar meu olhar, quanto aliviaram minha mente ao longo do tempo, me trazendo sempre altas doses de esperança, possam também exercer algum efeito sobre outros espectadores. E tal qual meus pássaros preferidos, os Bem Te Vis que passam voando em alta velocidade e estridência sonora pela área livre que circunda minha casa, meu olhar atento também possa continuar fluindo solto pelos céus da minha varanda.


Ricardo Pimentel

Graduado em Comunicação Social, com ênfase em áudio visual, pela Universidade/RJ, pós-graduado em Comunicação com o Mercado e Mestre em Gestão da Economia Criativa, ambos pela ESPM/RJ. Formou-se fotograficamente fazendo assistência por dois anos para o renomado fotógrafo americano Dick Welton. Fotógrafo titular e gerente do Imagemagia Estúdio, atuante no mercado fotográfico desde 1984, com serviços prestados as mais diversas empresas do mercado, cujo portfólio completo encontra-se em www.imagemagia.com. Iniciou carreira docente na Universidade Estácio de Sá, de 1999 até 2007. Lecionou no curso de Comunicação do IBMEC entre 2013 e 2014. Ingressou na ESPM em 2003, onde leciona desde então nos cursos de Publicidade e Propaganda, Design e Cinema até o presente momento. Artista independente, tendo nos últimos anos assinado artisticamente como Pimenta, tem intensa e permanente produção no meio fotográfico, participando de diversas exposições no Brasil e no exterior.








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Instagram: @pimentel_imagemagia




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