* - Serviço de Proteção ao Voo

SERVIÇO DE PROTEÇÃO AO VOO

Nós moramos no Pau Alho, sul da Bahia, até cinqüenta e nove, em Guaratinga até sessenta e três, e fui servir a Aeronáutica, em Salvador. Na época, para se fazer o Ginásio era preciso ir para uma cidade grande, como Almenara, em Minas, Vitória do Espírito Santo ou Salvador, e meu pai não pôde me mandar estudar. A caserna foi meio tumultuada pelo regime militar no combate aos guerrilheiros do Araguaia, seguido do curso de cabo, em Recife.

Cabo radiotelegrafista, a única profissão no Brasil que era proibida de sindicalizar, porque podia tomar o país em cinco minutos, fui transferido para Caravelas e depois para Ilhéus. Convivi com meteorologistas e controladores de vôo, e como cabo, atendi aeronaves em pousos, decolagens e posições de tráfego, e fiz boletins meteorológicos, chamados pelo código "Q" de QAM’s. Fatos pitorescos ocorreram, cujas narrativas estarão no final.

De Recife para Caravelas, por pouco não conheci o Braguinha, irmão do Roberto Carlos, sargento, também radiotelegrafista, que estava sendo transferido para Noronha. Por incrível que pareça, foi só uma questão de desencontro das aeronaves que viajávamos.

Em Ilhéus, conheci o sargento Sabino, filho do seu José, da farmácia, controlador de vôo e odontologista. Grande mestre!... Das nossas conversas nasceu uma ótima amizade e as informações que passou sobre os assuntos das provas para o Artigo 99, antigo Ginásio, foram de vital importância.

Ele contou-me que os sargentos que saem da Escola de Especialistas da Aeronáutica são chamados de novinhos, e assim o trataram no Galeão, quando para lá foi transferido. Estranhou o comportamento dos colegas e disse que já tinha dez anos de serviço, mas informaram:

– Nos outros aeroportos você é antigo, mas no Galeão, os aviões que decolam, cruzam com os que pousam no Santos Dumont. Se a gente não cuidar rigorosamente do radar, eles vão colidir!

Na época, as aeronaves trafegavam por verdadeiras estradas aéreas, as aerovias, com trinta quilômetros de largura, cortando o planeta em todas as direções, com pontos de apoio em determinadas estações, via rádio. Sobre a BR-101 ficava a Verde Uno ou G1 (green one), a G2 sobre a BR-116 ou, ainda, a Azul Onze ou B11 (blue eleven) sobre a BR-040, para Belo Horizonte, além das altitudes, mesmo o tráfego aéreo na década de sessenta sendo bastante escasso. Uma aeronave de norte para sul, era nível de vôo ou flight level par, quarenta, sessenta, etc, correspondendo a quatro mil, seis mil ou mil e duzentos pés, mil e oitocentos metros. De sul para norte, ímpar ou sejam cinqüenta, setenta, correspondendo a cinco mil, sete mil pés ou mil e quinhentos ou dois mil e cem metros. É de se notar que duas aeronaves no mesmo sentido, norte/sul ou sul/norte mantinham uma superposição de seiscentos metros e em sentidos contrários de trezentos metros.

Na época, o SPV funcionava com precisão cronológica, apesar de as comunicações serem VHF e telegrafia. As mensagens administrativas prioridade LL, desde que não passassem de vinte e quatro horas. As urgentes, JJ, as meteorológicas, GG e as de tráfego aéreo, ATS, eram FF. Quando ocorria um fato muito especial, era DD. Atraso de aeronaves por trinta minutos era, SOS (...---...), acidentes comprovados, SVH (Salvamento de Vidas Humanas) e Segurança Nacional ou Militar, SNM.

Em Caravelas, apesar de cabos, Nemias e eu tirávamos serviços noturnos. Os horários eram das seis ao meio-dia, do meio-dia às dezoito horas e um turno das dezoito às seis, porque o aeroporto fica a catorze quilômetros da cidade e tinha um ônibus da Viação Itapemirim que saía às cinco e meia para Nanuque e voltava às dezenove, e um da Viação Itanhém que saía às seis e meia da manhã e retornava às catorze e trinta, quase sempre britanicamente. Quem não fosse em um dos dois, tinha de fretar a rural do seu Alcino ou o jipe do sargento Vicente. Eu comprei um cavalo, mas dava mais trabalho pegá-lo no pasto do que fretar um carro. Daí, comprei uma bicicleta.

No início, eu ficava no destacamento e, de folga, todas as noites ia para Caravelas e pegava carona de volta com o capitão Caldas, no jipe. Certa vez, com sua voz pausada, ele disse:

– Ééééé!... Tem gente dormindo no serviço! Depois que eu der uma incerta e punir alguém, vão dizer que o capitão Caldas não presta!... – Ao que respondi:

– Capitão, se um dia o senhor quiser me pegar, eu fico acordado até as quatro, recebo os QAM’s até as quatro e vinte e tiro um cochilo debruçado na máquina de escrever até as quatro e quarenta. Antes ou depois desse horário, é tempo perdido querer me pegar, porque estou sempre acordado!...

Este período durou de vinte e quatro de abril de sessenta e seis a catorze de outubro de sessenta e sete. Hoje, no final da primeira década do século XXI, quando colisões como a do voo 1907, da Gol, em setembro de dois mil e seis, na divisa do Mato Grosso com o Pará, ocorrem por falta de apoio do radar, suscitam dúvidas quanto à evolução da tecnologia, que deveria primordialmente ser empregada na aviação. A Amazônia está monitorada via satélite, e quando ocorre um incêndio, bastam poucos minutos para se detectar o foco, em Brasília. Se é assim, por que o INFRAERO não adquire esses equipamentos? Impressionante a quantidade de computadores sucateados na Zona Franca de Manaus, vendidos como ferro velho para a Europa. Vendo na TV os dramas dos controladores, retornam-me à mente aqueles tempos, e fico imaginando o que as elites pensam do pessoal do SPV, com os superiores militares ou políticos ameaçando em atitudes escravagistas, com transferências e cadeia, por não suportarem a carga imputada.

Supondo que uma aeronave comporta trezentos passageiros e um aeroporto tem tráfego diário de cem aeronaves, quer dizer que as equipes tiveram sob suas responsabilidades diretas as vidas de trinta mil pessoas em um único dia, população de uma pequena cidade. E não se diga que a responsabilidade da tripulação é maior que a dos controladores, porque sem eles o tráfego aéreo seria um verdadeiro caos, como ficou muito bem provado no acidente, a mil quilômetros de Cuiabá (Evaristo Costa disse no Jornal Nacional que foram quase mil metros – se ele fosse controlador, hein?...), pela falta de radares e no aviso paternal que fizeram à tripulação do vôo 3054, de 17 de julho de 2007 (“– Cuidado para não pousar depois dos trezentos metros, porque a pista está escorregadia!”). E, a propósito, me pergunto: O que foi que aqueles americanos estavam fazendo em altitude diferente da permitida, se deviam ter ascendido para o nível autorizado desde muito tempo antes?... Pensaram, ser verdadeira a história dos caubóis do cinema e que a Aeronáutica no Brasil não tem regulamento?... Pois tem!... E, lamentável, para provar, foi necessário o sacrifício de tantas vidas pela irresponsabilidade de dois ditos aviadores, liberados para sair do país e recebidos como heróis, quando, pela atitude inconseqüente, não passam de meros assassinos. E os jornais americanos divulgam que o tráfego aéreo no Brasil está caótico!... Os aviadores deles, que são heróis porque matam pessoas, deram o pontapé inicial!... Quem sabe estas mortes sejam benéficas para ser feita justiça a esses verdadeiros heróis anônimos, como os médicos, bombeiros, enfermeiros e policiais, guardiões incógnitos de uma sociedade elitizada, cujo desejo é ver os seus problemas resolvidos, e o resto que se exploda.

Se, por outro lado, analisarmos a situação do ponto de vista ecológico ou como deve ser chamado, vamos encontrar um ponto positivo na paralisação dos controladores, em trinta de março de dois mil e sete, porque se um dia tem vinte quatro horas, um mês tem setecentas e vinte, e as pesquisas indicam que será necessária uma redução de trinta por cento na emissão dos gases na atmosfera, eles contribuíram mesmo indiretamente com três vírgula trinta e três por cento e para completar os trinta por cento, só na aviação, ainda ficam faltando vinte e seis vírgula sessenta e seis por cento, porque trinta por cento de trinta dias são nove dias ou duzentas e dezesseis horas, período em que todas as fábricas e motores deveriam ser desligados. Daí, não consigo entender por quê os controladores estão sendo vistos como os grandes vilões da história do planeta. Por exemplo, pôde-se observar no domingo de páscoa, em 2007, os membros do GREENE PEACE usando um motorzinho HONDA para inflar a bóia do protesto, em Copacabana, quando deveriam ter usado apenas a força dos pulmões, a menos que todo o empenho que está sendo feito não passe da mais refinada balela, e o que se pretende, seja acelerar a PRECESSÃO DOS EQUINÓCIOS, terceiro movimento do planeta que ocorre a cada ciclo de vinte e cinco mil anos, relatada por ALLAN KARDEC no livro A GÊNESE, página 207, no ano de 1868, quando não se falava em aquecimento global nem equilíbrio ecológico, excetuando-se, talvez, o romântico fog londrino, causado pelas minas de carvão. Conforme escreveu o Dr. Drauzio Varella na revista CARTA NA ESCOLA de março de 2007, à página 20, “Embora haja algum desencontro a respeito da velocidade em que ocorre o degelo, todos os estudos mostram que ele tem ocorrido tanto na Groenlândia quanto na Antártida nos últimos cinco a dez anos. Na Groenlândia, a perda é de 100 gigatoneladas por ano. Na Antártida, pelo menos de 10 gigatoneladas.” Se uma tonelada são mil quilogramas, um quilotonelada são um milhão de quilogramas, uma megatonelada são um bilhão de quilogramas e uma gigatonelada são um bilhão de toneladas, então, 100 gigatoneladas são 100 bilhões de toneladas ou 100 trilhões de quilogramas de gelo derretido por ano, correspondendo a oito bilhões e quinhentos milhões de toneladas por mês ou duzentas e oitenta milhões de toneladas por dia, ou, ainda, onze milhões de toneladas por hora, duzentas mil toneladas por minuto ou três mil toneladas por segundo. Se na Antártida ocorre apenas dez por cento do degelo da Groenlândia, trezentas por segundo, é que fica no Pólo Sul, bem distante dos maiores poluidores do planeta. O ideal seria que todos os motores e fábricas fossem desativados imediatamente, quer dizer, trancados e jogadas as chaves no fundo do oceano, e teríamos a certeza de que nossos filhos viveriam num planeta sem os riscos do aquecimento global, a menos que estejamos preparando para eles um tipo de WATERWORLD ou A.I. ou FUGA DE LOS ANGELES. Como estou em Rondônia, acho que não devo me preocupar quando a água subir, exceto que minha mãe mora no Rio de Janeiro com minhas irmãs. A propósito, como será o MUNDO DE VALENTINE, O EMOCIONAL, É CLARO, sabendo-se que é real a informação de que a criança no útero materno recebe TODAS as sensações vividas pela mãe, em contato com o mundo exterior? Estão preparando assistência PSICOLÓGICA para ela, ou numa brutal e irresponsável violação ao ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, simplesmente violentam-lhe a inocência e transformam um estudo sensacionalista em notícia para a MÍDIA? Acaso, será considerada uma garotinha neurótica, produto da violência da cidade grande?

Tamanha incoerência faz-me lembrar do rei envolvido por dois alfaiates com um maravilhoso tecido invisível para confeccionar suas roupas reais. Toda a corte se empenhava em elogiar as padronagens, e após o término das confecções, saiu para desfilar. E eram os mais efusivos elogios, até que um garotinho gritou: O rei está nu!... e foi a gota d’água para traduzir o que todo mundo via.

Assim, imaginei como seria a definoção bíblica do pecado, que é chamado de iniqüidade, antônimo de eqüidade. Se eqüidade é sinônimo de coerência, então iniqüidade é sinônimo de incoerência, e concluí que a falta de eqüidade no que está ocorrendo, só pode ser pecado. Como bem definiu o grande Stanislaw Ponte Preta, autor do Samba do Crioulo Doido, na crônica do soldado estudante da Revolução que de dia era policial e metia o malho nos estudantes. À noite era estudante e entrava na porrada. Uma manhã, diante do espelho, descobriu ser as duas coisas e meteu a peia em si próprio.

O que diria o índio Seatle, que escreveu ao presidente dos Estados Unidos na carta resposta da proposta de compra das terras indígenas (contaminai a vossa cama, e vos sufocareis numa noite, no meio dos vossos próprios excrementos), (o fim do viver e o início do sobreviver), etc, ao presenciar a produção de onze milhões de carros por ano, a disputa entre carro e motorista para saber quem é o grande vilão da poluição e o carro do futuro avaliado em centenas de milhares de reais, ainda no protótipo?

Lamentável, as campanhas e pinturas ecológicas serem simulacros de atitudes que deveriam ser verdadeiras e não acusações contra os outros, pois quem são os outros, senão nós mesmos, lobos em peles de cordeiros? como faremos o LIVE EARTH (. . . – – – . . .), se não marchamos nós na vanguarda, não mais do SOS, mas do SVH (. . . . . . – . . . .)?

Por tais incoerências ou iniquidades, foi-me suscitada no poema "A MATEMÁTICA DE DEUS" a inspiração:

Grandes guerras entre os povos,

Mas quem são os bons e os maus?

Disse Einstein certa vez

Que vivendo neste caos,

Trogloditas nós seremos

E, na quarta guerra, iremos

Lutar com pedras e paus...

Donde concluí que a razão deve estar na historinha do Mogli, com o urso Balu, do Walt Disney, quando cantava:

Eu uso o necessário,

Somente o necessário,

O extraordinário é demais,

Eu digo: necessário,

Somente o necessário,

Por isto é que esta vida eu vivo em paz.

Assim é que eu vivo,

E melhor não há,

Eu só quero terrrrrrr

O que a vida me dá...

Naquela época, como relatei, no sul da Bahia não havia Ginásio e tive muita dificuldade nos exames de seleção para a ESPAER , porque eram em média oito mil candidatos para oitocentas vagas, numa proporção de dez por cento de aprovação. Foi uma época em que ser aluno da Escola de Especialistas da Aeronáutica era a coroação dos sonhos de qualquer rapaz. Ser aluno da EPCAR (cadetes do ar) era a glória, era a realização dos sonhos mais impossíveis, era alcançar o céu.

A aviação evoluiu em progressão geométrica, mas parece que a tecnologia do SPV cresceu em progressão aritmética. Quando o ápice do fluxo era o Galeão, hoje, no Centro Oeste que tinha baixíssima densidade demográfica, apresenta um congestionamento de seis aeronaves para cada controlador, e Guarulhos é prova incontestável disso .

Lamentável é o Sr. Alexandre Garcia que disse ter aprendido com Lula na campanha com o Collor a importância de estudar a Constituição brasileira, inflar o peito e declarar frente às câmeras, ter dito a um controlador de vôo: Se você não está satisfeito com o que ganha, vá procurar outro serviço!..., como se fosse fácil a transposição, depois de todo o treinamento, assim como o foram os senhores Antonio Brito, Hélio Costa e Franklin Martins do jornalismo para a política, que não ocorreram necessariamente por opção, mas por acidente de percurso ocasionado pelos bons serviços prestados. Outro qualquer que venha a tentar, provavelmente não tenha o mesmo sucesso que eles, por mais que se esforce. Bom que se diga, para não haver surpresa. Mas como disse o Fausto Silva: Quando se está com um microfone, a gente fica corajosa e diz o que tem vontade! Mas, onde fica a ética do opinar com equilíbrio e informar com objetividade?... Ademais, um controlador que mude de profissão não irá resolver a problemática da aviação, porque os outros estarão ainda insatisfeitos, a menos que o referido senhor tenha a fórmula mágica de substituí-los em tempo recorde e ainda dar-lhes a opção vocacional adequada. Eles não são metalúrgicos!... Será que ele pensa ser possível, com uma pequena bolinha de chiclete tampar um buraco da peneira e carregar água?... Mas para quem disse estar a Reserva Roosevelt, dos índios Cintas Largas, nos confins da Amazônia, tudo pode ser possível. A propósito, Espigão do Oeste é na divisa de Rondônia com o Mato Grosso, bem distante de Roraima com a Venezuela. Tais considerações deveriam ser feitas sempre pelo Sr. Arnaldo Jabor, que invariavelmente são equilibradas, coerentes e respeitosas, além do senso de humor, que, mesmo amargo, conforme o caso, agrada. Quem sabe, talvez ele esteja, como o presidente, dando créditos excessivos ao que dizem os CASSETAS e tomando para si as falas deles. Aí, realmente, estaria a GRACINHA...

Devo dizer ao Sr. Alexandre Garcia que os controladores de vôo não se lamentam dos salários, porque têm consciência de que um sargento deve ganhar como um terceiro, ou segundo, ou primeiro, ou suboficial, conforme o caso, porque é padrão salarial do militar. O que eles querem é condições de serviço, respeito ao ser humano, consciência do dever a ser cumprido e transferência para o quadro civil. Eles querem satélites rastreando as aeronaves, como as carretas nas estradas ou os mosquitos da dengue, ou, on line, nos serviços secretos, ou, ainda, as patrulhas, no PAN, ao invés de obsoletos radares.

Impressionante é que aparentam existir adeptos da teoria da cera de chiclete, porque se cinco controladores são punidos em nome da disciplina militar, ou é para servir de exemplo para os outros ou pagarem pelo erro cometido por quem deveria ter adquirido equipamentos condignos à grandiosidade do serviço. Irônico é que exatamente três meses depois, em trinta de junho, houve outro apagão, mas por causas meteorológicas. Todo mundo sabe que as chuvas só caem quando São Pedro abre as torneiras do céu. Como ele levou dois mil anos sendo acusado de trair Jesus e era judeu, deve ter dado a parcela de colaboração no SEU DIA em favor dos pobres controladores, com mais três vírgula trinta e três por cento de colaboração no combate ao efeito estufa. Resta saber se farão um Judas com ele ou, respeitosamente, vão me chamar de herege, ateu ou sei lá mais o quê... Afinal, fica mais fácil punir um só culpado do que toda uma categoria, com centenas de participantes.

Enquanto os passageiros, parlamentares, turistas, executivos, jornalistas, políticos, atletas, governantes, ou outras categorias repousam confortavelmente nos vôos para a Europa ou para os Estados Unidos, nas torres de Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro ou num incógnito aeroporto de Roraima ou do Amapá, estão eles em grupos ou isolados, como eu estive na década de sessenta, em Caravelas e Ilhéus, zelando amorosamente, paternalmente, pelos passageiros a fim de que cheguem aos recessos dos seus lares, ao aconchego das suas famílias, sãos e salvos. O que eles querem é ter a paz de Espírito necessária para executar condignamente as suas funções, sem o fantasma da ameaça de uma transferência ou cadeia, porque ser militar não é ser um encabrestado nem um lambe-botas. Ser militar é, muito ao contrário, ter dignidade e, acima de tudo, censo de responsabilidade. A continência é a saudação do militar e não um símbolo de subserviência. O Regulamento Militar permite que uma ordem mal dada somente seja executada se for por escrito, podendo ser contestada. O que eles fizeram, não foi nada mais do que o esturro de um leão no seu habitat e alguém vai cutucá-lo com uma vara curta, sem saber o que poderá vir em seguida, conforme a quantidade dos leões aborrecidos. Por quê os jornalistas possuem imunidade mas os controladores devem ser expostos? Eles querem, sim, ter a tranqüilidade de exercer as suas funções profissionais sem as pressões exteriores, tendo em vista que um segundo de descuido pode ocasionar a morte de centenas de passageiros, que não é o caso dos jornalistas. Mas para isto acontecer, necessário se faz antes de tudo que tenham equipamentos adequados e assistência técnica permanente, como ocorria no meu tempo com as manutenções preventivas e corretivas padronizadas, mas o que se pôde ver foi o tratamento irreverente de quem nunca viu nem de longe o que é ser um controlador de vôo e compará-los ao maior dos traidores de todos os tempos, que foi Judas. E a mídia exibiu como um grande feito. Por quê UM SÓ JORNALISTA não se digna de entrevistar UM SÓ CONTROLADOR DE VÔO em UM SÓ DIA DE SERVIÇO/LAR , como fez com os bombeiros, para depois julgar? O bombeiro é mais importante, ou o controlador é menos importante?... Depois do SPV, passei para a EDUCAÇÃO, e com professor não é diferente!... Seria muito bom!... Bom, demais, até!... Qual foi o controlador, por exemplo, que já teve a mordomia de viajar para a Europa ou Estados Unidos com passagens aéreas e hotéis caros, patrocinados pelo empregador? Mas, quem ficou, aqui, em terra, zelando pelo bem estar dos que se foram? Vamos ser coerentes, bolas!...

A parte irônica desta história, se não fosse trágica, foi a confirmação após décadas da extinção da telegrafia, não os telegrafistas, mas os controladores de voo, realmente tomaram o país em poucos minutos, causando no meu ego não o sentimento da mesquinha vingança e nem mesmo de amarga vitória, mas uma mescla de alívio e dor, por ver que o ser humano só tem os seus direitos respeitados depois de escandalosas pressões, exceto que se houve sabotagem em Manaus, foi covardia. Estou muito triste!... Muito triste, mesmo!...

Waldir Pires, o ídolo do meu pai que tem atualmente oitenta e oito anos, caiu.

Foi a teoria da cera?...

O brigadeiro não acha que alguém deva ser punido.

Espero que sim!...

Raul Santos

(início)

Abunã,

Porto Velho,

RO,

25 de março

de 2007.

(final)

Abunã,

Porto Velho,

RO,

25 de julho

de 2007.